Equivocos da democracia portuguesa - 52
Estamos quase a partir de férias, com metade do país já a banhos, mesmo assim, ainda existe quem queira que partamos com a consciência em ebulição para o merecido descanso. Desde logo, o projecto de revisão constitucional que foi divulgado pelo PSD. A trapalhada é monumental e, como dizia ontem Manuel Alegre, "o reforço dos poderes presidenciais parecem feitos à medida". Mas a confusão desde logo instalou-se com a facilidade de mexidas a nível do emprego, o que despoletou um coro de protestos. Já o reforço dos poderes do PR o tinham causado, mesmo dentro do PSD, desde logo por Santana Lopes e João Jardim, mas Paulo Rangel não deixou de ser muito crítico relativamente a tudo isto. A fuga de informações sobre este projecto, provocou desde logo, um desconforto nas hostes laranja. Na quinta-feira passada, no Jornal da Noite da SIC, António Arnaut - figura destacada do PSD - dizia que "esta fuga levava a que ele, bem como o líder do seu partido, andassem a apagar fogos, para estancar o desconforto que estas informações causaram". Não pensávamos que Passos Coelho, apesar de liberal, levasse tão longe as suas teorias. O estilhaçar do estado social é uma evidência, quer a nível do ensino e da saúde, onde a iniciativa privada emerge com toda a força. Veja-se o que se passou em França, quando Sarkozy ameaçou o estado social, que lá é bem mais forte do que entre nós. Desde propostas que nos levam aos tempos do PREC - reforço dos poderes do PR - até às mais retrogradas posições que nos conduzem ao mais desenfreado neo-liberalismo - destruição do SNS e do ensino público. Propostas inaceitáveis que poderão ter custos políticos para o próprio PSD, como o próprio líder do PSD já o admitiu, o que conduziu a que se fizessem alguns ajustes - embora insuficientes - para atenuar o coro de críticas que surgiu dos mais variados quadrantes. Enfim, o contínuo círculo das trapalhadas e dos equívocos, parece que se pegou à nossa democracia como sarna. Depois são as SCUTS que ora têm portagens, ora não têm. Num emaranhado de confusões em que o PS se envolveu com o acordo do PSD, que entretanto se afasta, já desgastado com o processo de revisão constitucional. Depois foi o alargamento dos horários dos hipermercados ao domingo. Algo que nunca deveria ter acabado, porque quem trabalha é ao fim-de-semana que tem mais disponibilidade para fazer compras. O que desde logo vai criar mais postos de trabalho que bem carentes deles andamos. A Sonae já anunciou a criação de mais dois mil postos de trabalho fruto desta decisão. Mas, por mais surpreendente que parece, foi o episcopado que veio a terreiro contestar tal medida!!! O mesmo episcopado que acusa o governo de estar a ir por caminhos duvidosos, vem agora acusá-lo de apelar ao consumismo... Todos sabemos que alargando os horários, vai haver necessidade de criar novos postos de trabalho e, mesmo que levem ao consumismo, tanto melhor, porque se as pessoas compram - para além de terem dinheiro -, leva a que as empresas produtoras tenham que produzir mais, o que conduz a nova criação de postos de trabalho, dinamizando assim a economia portuguesa que tanto carente anda de dinamismo. Quando se diz que a pobreza aumenta dia a dia - o que é verdade - é incompreensível esta tomada de atitude por parte Igreja, a menos que esta também já tenha sido contaminada pelos equívocos em que nos vamos enredando dia após dia. Enfim, vamos para férias com um sentimento amargo de que muito ainda falta fazer e que tempos bem difíceis nos esperam. Seria bom que estas trapalhadas dessem lugar ao bom senso para que possamos todos, serenamente, pensar a situação difícil em que estamos e o modo de a ultrapassar. Seria mais útil do que a permanente crítica sues que vemos todos os dias nos "media" que em nada contribuem para a melhoria da situação, contribuindo apenas para maior instabilidade e falta de discernimento que não é boa conselheira.
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