Equivocos da democracia portuguesa - 51
Ontem foi o dia do debate do estado da nação. Todos sabemos que a nação vai mal, não por culpa do governo - embora este também tenha as suas responsabilidades - mas, sobretudo, por culpa desta malfadada crise que assola todos os países ocidentais. Mas é certo que, como é normal em democracia, a oposição culpe o governo, e este apresente o seu melhor para justificar o desempenho. Mas este debate serviu, sobretudo, para tornar claras as clivagens que existem entre o governo e a oposição. Nada de substancialmente novo foi dito para além aquilo que já é conhecido. Contudo, o debate ficou marcado pela intervenção final de Paulo Portas, já quase no fim do debate, a propor que o primeiro-ministro se demita e, logo de seguida a apresentar uma solução dum governo alargado em que o CDS-PP fizesse parte!!! Que se peça a demissão do primeiro-ministro, é normal em democracia, mas que se tenha o descaramento de se pôr em bicos de pés para entrar no governo é algo de extraordinário. Paulo Portas tem-nos habituado a um discurso de "sound-byte" que o tornou famoso, mas nunca pensamos que teria o desplante de se auto-propor para o governo. É algo de insólito e toca as raias do desaforo. Paulo Portas gosta de dar nas vistas, mas aqui pensamos que o deu da pior maneira. Sócrates apressou-se a sair do hemiciclo para comentar o desaforo, e fê-lo com substância, acusando o líder do CDS-PP de não olhar a meios para ir para o governo, "não olhando a arranjinhos" (sic). Já antes Luis Montenegro do PSD tinha comentado, ainda durante o debate, esta ideia peregrina de Paulo Portas, dizendo que "o PSD só iria para o governo quando os eleitores assim o desejassem". À noite na SIC Notícias, Passos Coelho questionado por Mário Crespo, afirmaria o mesmo e indo ainda mais longe, dizendo que "o problema do país não era o primeiro-ministro". Apesar de fortemente influenciado pelo jornalista da SIC - que odeia Sócrates - Passos Coelhos não tergiversou e manteve a sua ideia. Ainda na Assembleia da República, - onde assistimos ao debate -, uma jornalista no fim dos trabalhos, nos dizia que Paulo Portas está sedento de poder e, possivelmente pressionado pelas sondagens. Estas dão o PSD próximo da maioria absoluta, o que a verificar-se, excluiria o CDS-PP do arco governamental, vindo até, possivelmente, a perder votos para o próprio PSD, sentindo-se esmagado entre este e o PS. Passos Coelho tem-se vindo a revelar um homem com ideias muito consistentes e interessantes, apesar de neo-liberal, mas isso, não pode ser considerado um estigma. É um político da nova geração, que poderá ser um bom contra-poder à situação actual. Embora a "guerrilha" pública que vem travando com o PS, para depois, no recato dos gabinetes, vir a formar com este maiorias para apoiar certas políticas mais impopulares, nos faça lembrar velhos hábitos de velhos políticos. Somos dos que defendem a renovação dos políticos em Portugal, para que nos reencontremos com novas políticas e novas ideias. Mas temos sempre que ter cuidado quando atacamos desenfreadamente os políticos - e nós tê-mo-lo feito por diversas vezes - duma forma gratuita. Porque este comportamento faz-nos lembrar o que aconteceu com a República de Weimar, e as trágicas consequências que daí advieram, com a ascensão do nazismo. Mas que isso, por outro lado, não nos impeça de sermos críticos (construtivos), daquilo que se passa no nosso país, porque é a vida de todos nós que está em causa e, sobretudo, a vida das gerações futuras. Já agora, porque não seguimos o exemplo inglês de propor aos seus concidadão que lhes forneçam ideias para reduzir a despesa do Estado? Até para isso utilizaram o "facebook"!!! Não há dúvida de que por aqui se vê o que é uma velha democracia face a uma outra que, apesar de ter mais de trinta anos, ainda pode ser considerada muito jovem.
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