Reflexões em torno da relatividade humana
Muitas vezes perde-mo-nos em discussões académicas e esquecemos o duro chão da vida que, por vezes, faz brotar as maiores e melhores respostas. Passamos o tempo a falar do outro, o próximo, nem sempre para o glorificar, e esquece-mos que o Próximo é todo aquele que está ao nosso lado; todo aquele que encontramos em apuros na estrada da vida; todo aquele - indivíduo, grupo, instituição, comunidade - cujos problemas, anseios, necessidades, estão à frente dos nossos olhos e não pudemos ignorar nem passar adiante como se não nos dissessem respeito. Falamos também do bom samaritano, e quase nunca fazemos nada para o imitar, e esquecemos que o Samaritano é todo aquele que se compadece com a dor alheia e não "lava as mãos" nem inventa desculpas para passar ao lado...; é todo aquele que é capaz de alterar o seu "programa", o seu fim-de-semana, para se entregar aos gestos fecundos da participação e da colaboração, da ajuda fraterna e da fraternidade; é todo aquele que não pergunta apenas o que é que os outros podem e devem fazer por ele, mas interroga-se, também, sobre o que ele mesmo pode e deve fazer pelos outros; é todo aquele que não se sente justo só pelo facto de não fazer mal a ninguém mas está atento a todo o bem que pode realizar e o realiza; é todo aquele que tem consciência de que a indiferença também mata, e que só o amor faz viver; é todo aquele que vive em harmonia com a natureza e a respeita; é todo aquele que é amigo dos animais, num mundo cada vez mais desumano e não solidário para com estes seres que são vítimas da tirania de alguns de nós; é todo aquele que respeita o mundo em que vive, em que todos vivemos. Como dizia S. Francisco de Assis, "irmão lobo", irmã árvore", "irmã água", num respeito profundo por tudo o que preenche este mundo que pensamos ser só nosso e nos esquecemos que o partilhamos com outros seres vivos. Dois meses após o falecimento do meu sogro que hoje se cumprem, dou comigo a pensar sobre a relatividade da Vida. Após a exumação dos restos mortais de alguns familiares muito próximos, pensamos que afinal, para além da importância que cada um tem na vida, acabamos tristemente humildes, com uma humildade que nem sempre sabemos ter enquanto vivemos. Nas lutas do dia-a-dia pela sobrevivência, na luta contra o outro, na luta egoísta de estarmos acima do outro. Só quando nos vemos confrontados com a realidade da vida, diria melhor, da morte, é que pensamos na inutilidade de sobrevalorizarmos o acessório em detrimento do essencial. Penso, neste momento, em Mahatma Gandhi, o grande Apóstolo da Paz, que disse: "Não há caminho para a Paz. A Paz é o caminho! Não há fórmulas mágicas para se chegar à Paz, mas há que se viver uma luta contínua pela Paz que é inseparável da Justiça. Há que começar a caminhar. Comecemos por pequenos passos: uma reconciliação, um perdão, uma aproximação carinhosa, um serviço delicado, uma palavra e um diálogo, uma denúncia límpida, uma luta corajosa. Mais vale um gesto pacífico do que muitos discursos sobre a Paz... O Caminho da Paz nunca termina. Mas com os teus gestos no Mundo haverá mais Paz."
0 Comments:
Post a Comment
<< Home