A crise financeira e a recessão - XXXIV
Voltamos ao ciclo infernal da análise das agências de "rating". Hoje a Moody's reviu em baixa o "rating" da República Portuguesa de Aa2 para A1. Significa isto no imediato que, os custos que o Estado tem que enfrentar são mais elevados, e a banca terá que reajustar - uma vez mais - os preçários do crédito. Mas mais grave do que isto, Portugal fica ao nível de Malta e da Eslovénia, estando apenas acima da Grécia. Isto é por demais importante, embora esta notação não tenha surpreendido os mercados que já estavam à espera que isto acontecesse, fechando a sessão sem dramatismos. Contudo, há que pensarmos que entramos no ciclo inevitável da pobreza, assunto para o qual já tínhamos falado em anteriores crónicas. Com a economia despedaçada, com a situação política muito crispada, começa a desenhar-se um cocktail explosivo que pode eclodir a qualquer momento. Daí o saudarmos a afirmação do ex-ministro Manuel Pinho - que muito admiramos - para que se pensasse rapidamente numa solução de bloco central para levar em frente as medidas que são necessárias para fazer frente ao problema. Já aqui, também, o tínhamos defendido, embora tenhamos a consciência de que o PSD, com a ideia, - que as sondagens vão confirmando -, de que pode vir a ser governo a curto prazo, não nos pareça que esteja interessado em aparecer colado ao actual governo do PS. Não sabemos sequer, se esta seria a melhor solução, mas criaria condições para um amplo espectro de apoio que seria boa para a estabilidade política que se deseja nos próximos tempos. Já Cavaco Silva o insinuou ontem, e todos sabemos o quão ouvido é o actual PR dentro do PSD. Embora estejamos a pensar que se estivesse-mos na pele do primeiro-ministro, como gostaríamos de sair de cena rapidamente, antes que as coisas piorem ainda mais. Também não deixemos de apontar um dedo à actual UE, que com as medidas restritivas que impõe aos diversos Estados, para fazer face à dívida, contribui para o aumento do número de desempregados, sacrificando o crescimento económico ao controlo do déficit. A defesa do euro, sem dúvida que é importante, até porque dela depende, quiçá, o futuro da própria UE. Paul Krugman alertava à dias para a possível crise dentro da UE se Grécia e outros países, nomeadamente, Portugal tivessem que abandonar a zona euro. Embora esta seja uma visão dum liberal, - ainda por cima americano -, a juntar a outros liberais que hoje dominam a Comissão, não podemos deixar de pensar que se o euro fosse posto em causa, seria a própria União Europeia a sê-lo, e nem saberíamos se esta sobreviveria a tal situação. Podemos não ter a certeza sobre o futuro, mas que dias especialmente difíceis por aí vêm, pensamos que ninguém tem dúvidas. A revisão em baixa feita para 2011 pelo Banco de Portugal que hoje foi tornada pública, é bem o sinal dos tempos difíceis que estamos a viver e que se agravarão ainda em 2011 com o aumento inevitável do número de desempregados. O ciclo da pobreza, tão conhecidos dos economistas, aí está com toda a sua força. Veremos quem vai resistir a esta avalancha que parece esmagarmos a todo o momento. As especulações começam a aparecer - veja-se o que se disse sobre o Millenium BCP no passado fim-de-semana - que em nada vêm ajudar uma situação já de si caótica. Mas é nestes momentos que temos que ter a determinação para ir em frente, para não baixarmos os braços, para ficarmos sentados na berma da estrada a ver passar este cortejo de miséria que já nos percorre dia após dia. Tudo o resto não passa de verborreia política que já nos vai cansando por ineficaz e balofa.
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