Equivocos da democracia portuguesa - 90
Estamos todos focados - e bem - na crise económica e financeira que nos abala o nosso dia-a-dia. Contudo, isto pode vir a ser o início de algo mais profundo e devastador. Quem o afirma é o presidente do Banco Mundial - Robert Zoellick - quando afirma que "a crise económica pode resultar numa grave crise humana e social, com implicações políticas". Tudo isto se prende com o que está a acontecer com o aumento imparável do preço do petróleo conjugado com o aumento dos produtos alimentares. No início desta crise já assitimos ao fenómeno conjugado destes dois factores, embora posteriormente, quer um, quer outro, tenham vindo a recuar. Contudo, nada impede que o mesmo volte a acontecer, duma forma mais duradoura, com impactos muito sérios para a Humanidade. Zoellick vai mais longe quando diz que "a recuperação económica vai tardar e quando acontecer será de baixa intensidade, porque a indústria não tem escoamento e o desemprego vai continuar a crescer". Daí a grande aposta que faz na urgente criação de emprego. Afirma ainda que "poderemos estar perante uma crise semelhante à dos anos 30, o que a acontecer, teria efeitos devastadores". Todos temos a sensação de que o mundo anda um pouco à deriva e que os políticos não sabem bem o que fazer. A realidade vai-os desmentindo a cada dia que passa. Vemos, por proximidade, o que está a acontecer com a UE. Esta tem hesitado e tardado no seu apoio aos seus países membros. Veja-se a ajuda tardia que deu à Grécia, o tempo que levou a discutir o assunto, e quando o fez, todos temos a sensação de que foi tarde e que, no entretanto, se foram criando condições para que a situação grega contagia-se outros países, entre eles Portugal. Isto diz bem do desnorte que se verifica no seio da UE, sem que se saiba bem o que fazer, (com medidas avulsas), acrescido dos interesses particulares - e por vezes mesquinhos - de cada um dos países. Como motor desta UE, está a Alemanha, que tantas dificuldades tem criado aos restantes países, nomeadamente aos periféricos do sul, esquecendo-se de que, tem no seu seio a chave para ultrapassar o problema. Para isso, basta aplicar a política dos "landers" que foi aplicada - com sucesso - pela então Alemanha Ocidental, para absorver a Alemanha Oriental, mais pobre e atrasada. Esta política teve o seu sucesso e é pena que Angela Merkel se tenha esquecido dela, até porque é oriunda da antiga Alemanha de Leste, e sabe bem o que beneficiou desta política. Há uma necessidade urgente de pôr freio a este capitalismo selvagem que vai destruindo tudo à sua volta duma forma desenfreada. Desde logo, regulamentando os "edge funds", fundos que são transaccionados duma forma especulativa, sobretudo nos "offshores", para quem se reclama também mais controlo. O mesmo se passa com a Finlândia, que também já se esqueceu que recebeu ajuda externa (até de Portugal) num momento de grande aflição - inclusivé existe uma carta dirigida ao embaixador português a agradecer aquilo que Portugal fez pela Finlândia - mas parecem que já se esqueceram disso. Os países são como as pessoas, quando estão na mó de cima rapidamente se esquecem dos que estão a passar dificuldades, bem como, daquilo porque passaram e da ajuda que tiveram para sair das dificuldades. Se há país que tem que ter isto bem presente, é a própria Alemanha, que muito beneficiou da UE, visto à alguns anos atrás ter muitas dificuldades com a sua economia incluindo déficit nas contas públicas. E isso não é só fruto do trabalho dos alemãs. A memória é, por vezes, curta demais, ou então, não gostam de lembrar aquilo por que já passaram. Nesta crise em que estamos mergulhados, muito derivou da crise da economia mundial, embora não possamos ignorar que, internamente, já havia sinais duma outra crise que se lhe sobrepunha. A crise mundial teve (tem) impactos muito sérios em economias tradicionalmente fortes como a economia americana. Esta semana a Standard & Poor's, baixou o "rating" da economia dos EUA(!) colocando-a num nível negativo e sob observação. Todos sabemos o que são as empresas de notação financeira, e os interesses que as movem, bem como, a opinião que temos sobre elas, mas convenhamos que estavamos longe de pensar que isto ia acontecer e logo numa das economias mais fortes do mundo. Sob este signo de profunda instabilidade que estamos a viver, e com o cenário exterior com que nos deparamos, é importante que cerremos fileiras em torno do essencial, - e o essencial -, é salvar Portugal e minimizar os impactos que as medidas restritivas têm (terão) sobre as populações, e que caminhemos todos no mesmo sentido, com vista a sairmos rapidamente da situação em que nos encontramos. Tudo o resto não passam de "fait-divers" eleitorais que, embora legítimos em campanha eleitoral, não se podem sobrepor ao interesse nacional. À que cerrar fileiras, à que pôr de lado aquilo que nos divide, priveligiando aquilo que nos une, sob pena de perpetuarmos este sofrimento às populações que não compreenderão o porquê de tanto desentendimento. É fundamental criar emprego, para que as pessoas tenham o mínimo de sustentabilidade de vida, eliminando factores de perturbação social que, a acontecerem, serão muito maus para o nosso país. Para isso, é preciso crescer economicamente, sendo fundamental que os políticos façam sentir à UE que não basta corrigir o déficit a qualquer preço, porque se não crescermos, dificilmente poderemos assegurar os nossos compromissos financeiros com o exterior. Isto implica que a UE abdique de taxas de juro tão elevadas de penalização a Portugal, muito para além daquelas definidas pelo FMI, que parece mais interessado no crescimento da economia portuguesa do que a própria UE. (Isto é o reflexo das políticas de ortodoxia liberal que se fazem sentir no seio da UE - hoje dominantes - e que levaram ao pôr de lado o sentimento de solidariedade para com todos os países membros). Sem crescimento não haverá criação de riqueza, não haverá criação de postos de trabalho, não se conseguirão cumprir os compromissos que estamos a assumir com os nossos credores, não sairemos tão cedo desta situação em que nos encontramos. Mas para isso, precisamos de falar a uma só voz, não com esta dispersão que temos mostrado para o exterior, que nos enfraquece, nos torna mais frágeis e que é o nosso descontentamento.
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