Equivocos da democracia portuguesa - 91
Continuamos a sentir uma profunda desilusão perante um Passos Coelho que nos vai surpreendendo - negativamente - a cada momento que passa. Agora foi a ideia bizantina do "plafonamento" da Segurança Social. Todos sabemos que a sustentabilidade da Segurança Social é de fio de navalha, mas parece estar assegurada, segundo alguns. O "plafonamento" conduzirá a que, quem tem maiores rendimentos, deixe de contribuir para a Segurança Social e passe a fazê-lo para instituições privadas, criando uma dificuldade de financiamento à própria Segurança Social. Isto levará a quebras enormes de contribuições que iriam pôr em causa o financiamento futuro, bem como, o assumir de compromissos que são a expectativa dos portugueses no fim duma vida de trabalho. (Tal já constava do programa que Passos Coelho apresentou para a revisão constitucional). Contudo, será justo dizer que, esta visão ultra-liberal, não nasceu com Passos Coelho. Já Bagão Félix, no governo de Durão Barroso, tinha falado sobre isso, mas estranhamos que um líder jovem, com outra visão do mundo, perfilhe ideias tão pouco construtivas. Todos sabemos da sua simpatia pelo léxico ultra-liberal, mas que isso vá tão longe, é de facto, lamentável. Esta é a visão ultra-liberal, de que falavamos na crónica anterior, que reina no seio da UE, com as consequências visíveis para todos nós. Essa falta de solidariedade da UE face aos seus membros, é aquela que vemos defendida por Passos Coelho, face aos portugueses, nomeadamente, aos mais desfavorecidos. Porque os outros, aqueles que ganham enormes ordenados, têm rendimentos para aplicar em esquemas privados, que os restantes não podem fazer. É caso para dizer que as desilusões sobre o líder do PSD não param, veremos até onde elas vão, porque se assim é, quando ainda não é mais do que o líder da oposição, o que nos reservará quando for o PM de Portugal, se para isso colher o voto dos portugueses. Soubesse, entretanto, aquilo que já à muito se suspeitava, é que a Madeira do todo-poderoso João Jardim, escondeu 184 milhões de euros de dívida, segundo o Tribunal de Contas, informação veículada pelo DN. Afinal Alberto João que passa a vida a acusar os outros de falta de honestidade é apanhado na rede. Este é o verdadeiro PSD que actualmente existe e que se vai apresentar aos portugueses nas próximas eleições. Longe vão os tempo dos verdadeiros estadistas com sentido de Estado que já por cá passaram e que, alguns deles, eram membros do então chamado PPD. A mudança de nome do partido, para além de enganadora, trouxe uma série de personagens de opereta que por aí andam a candidatar-se a estadistas, que nunca serão, porque nem "curriculum" têm para isso. Mas as surpresas não ficam por aqui. O vice-presidente do PSD, Diogo Leite Campos, veio defender o cartão de débito para os utentes da saúde, que representa "um retorno à Idade Média" segundo o PS. Sabemos que nem tudo são rosas neste domínio, mas aquilo que Leite Campos quer, é a verdadeira desconfiança para com todos os portugueses. Vindo de quem vem, com a responsabilidade que tem, não deixa de ser preocupante. E as palavras de Passos Coelho para tentar desvalorizar as afirmações do seu vice-presidente, não são suficientes para amenizar as preocupações com que todos ficamos após tão insanas afirmações. (Mais uma vez, achamos que devem consultar o projecto de revisão constitucional que o PSD apresentou, porque lá encontraram algo sobre esta matéria). Tinhamos chamado a atenção para a recusa de muitas das figuras importantes do PSD para integrarem as listas de Passos Coelho. Dissemos numa outra crónica que as desculpas que davam eram pouco consistentes. Agora temos a confirmação disso pela carta que António Capucho enviou aos seus amigos do PSD de Oeiras a justificar a recusa de ser o segunda na lista por Lisboa atrás de Fernando Nobre. Estas derivas de Passos Coelho que se tornam incompreensíveis para os seus pares, mais perplexidades causam no eleitorado, e a última sondagem da Markest divulgada a semana passada são disso exemplo, colocando o PS à frente embora por uma pequena diferença. É certo que ainda falta muito tempo para as eleições, mas os avisos estão dados às hostes laranja. Enquanto a crise se desenrola, um grupo de notáveis apresentou um manifesto que se chama "Um Compromisso Nacional" - e que pode (e deve) ser, subscrito no site do jornal Expresso - que reune pessoas como António Barreto e Mário Soares. Este manifesto já foi apresentado ao PR, e nele se busca um alargado consenso político para enfrentar os tempos difíceis que por aí vêm. Soubesse até que Mário Soares terá tido um encontro discreto com Passos Coelho para tentar influenciar o líder laranja para isso. A isto chama-se "sentido de Estado" que infelizmente tão arredio anda da nossa classe política. Depois vêm os "fait-divers" habituais, porque estando o país em campanha, tudo vale. Desta feita, foi as afirmações dos representantes dos patrões sobre a ponte na Páscoa! Sabemos das dificuldades do país, mas também sabemos das tradições que por cá existem. Afinal, Portugal está mal e deu a ponte habitual, como outros já o deram - como o PSD - e em tempos de recessão, é bom não esquecer. E não sabemos se a Igreja partilhará desse arremedo patrótica dos representantes patronais. (Já agora, que se dirá da Espanha que não está em melhor situação e que dá uma semana inteira de férias como é já tradicional à muitos e longos anos?) Representantes patronais que na conversa com a "troika" fizeram afirmações surprendente e irresponsáveis - tanto quanto se sabe. Ir discutir com estas pessoas a necessidade de uma revisão da Constiuição com vista a flexibilizar os despedimentos é extraordinário! E sobretudo, quando à dias assinaram um compromisso com o governo!!! Enfim, o Portugal no seu melhor aí está, desta feita protagonizado pela CIP, duma forma desastrosa e bem pouco inteligente. Ressalva-se, contudo, a entrevista dada pelo Cardeal Patriarca de Lisboa - D. José Policarpo - com a sua habitual argúcia intelectual e a sua serenidade, inculcando esperança aos portugueses sem deixar de colocar o dedo nas feridas. No mesmo registo, surgiu a entrevista de Ramalho Eanes, embora mais surpreendente, porque acaba por vir a fazer afirmações sobre Sócrates, em contra-ciclo com o que até agora ouviramos. Dizendo que o PM tem defeitos conhecidos, mas também tem virtudes, que por vezes são escamoteadas. Não deixa de ser curiosa esta entrevista - que podem rever no site da RTP - baseada, seguramente, em afirmações de bastidores ou quiçá no Conselho de Estado, e que não são do domínio público. Achamos curioso, porque seria esta a última pessoa de quem esperavamos esta afirmação. Mas, certamente, não terá sido por acaso que foi feita. Contudo, esta instabilidade que faz com que o país esteja nervoso e depressivo, não é um bom registo para o futuro que por aí vem. As afirmações de Otelo Saraiva de Carvalho são disso um exemplo - já o tinhamos citado na crónica anterior - sobretudo, quando afirma que "Portugal precisa dum homem inteligente como Salazar"!!! Todos sabemos da inconstância de Otelo - o revolucionário romântico da nossa Revolução - mas este comentário deve deixar-nos a pensar. Já o afirmamos noutra altura. Os tempos vão difíceis, e as dificuldades se não forem bem explicadas aos portugueses, são terreno fértil para certos "salvadores" que por aí andam, sempre benvindos num país que continua à espera do seu D. Sebastião... à séculos.
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