Equivocos da democracia portuguesa - 135
Ontem assistimos à primeira entrevista de Passos Coelho como primeiro-ministro, entrevista que decorreu na RTP1. Desde logo ficamos a saber que o PM não tem ideias claras para o futuro que nos espera. Tudo está a ser estudado e, por isso, não pode dar informações, foi sempre a fórmula recorrente em que se refugiou quando alguma pergunta era formulada duma forma mais directa e incisiva. A única coisa que ficou desta entrevista é que Passos Coelho não irá fazer campanha ao lado de Alberto João Jardim na Madeira. O que era de todo previsível depois do que aconteceu no arquipélago digno dum caso de polícia. Depois da pressão a que foi sujeito, de todos os quadrantes, era natural que o PM se afastasse do turculento líder madeirense. Contudo, a confiança política não foi retirada, nem se disse como é que os portugueses do continente, os açoreanos e os madeirenses vão pagar mais uns impostos para tapar o colossal buraco - buraco que, soubesse ontem, poderá ainda ser maior do que este que já é conhecido. Se tal se tivesse verificado nos Açores, estamos certos que as consequências seriam outras e duma forma bem mais musculada. Como se vê, o que ficou da entrevista de quase uma hora prende-se com isto e nada mais. A curiosidade ainda residia sobre a TSU e o TGV. Como dizia o director-adjunto do Expresso, Ricardo Costa, "cada um fala e faz o seu contrário. O PS dizia que queria o TGV e não avançava, o PSD diz que não o quer e, afinal, vai avançar. O mesmo se diga relativamente à TSU". E acrescentou: "É triste que os políticos em Portugal e os partidos, que até têm muita gente bem formada à sua volta, não estudem os dossiers antes para depois não fazerem esta figura e até darem o dito por não dito". De facto, é isso a que temos assistido ao longo dos anos, sejam quais forem os partidos no poder. Há o culto da ignorância, ficando a ideia de que o eleitor fica satisfeito com o acto de votar e não se preocupa com mais nada, dando espaço para tudo o mais por parte dos políticos. E o tempo parece que vem dando razão a quem defende esta via. No entretanto, Alberto João continua a fazer inaugurações com dinheiros que hoje sabemos que foram desviados doutros organismos com vista a perpetuar-se no poder. Com ou sem a presença do PM, este populista continuará a contar com a maioria dos votos, quer estes sejam verdadeiros ou não, como alguns já vieram afirmar. O colossal buraco será tapado com mais impostos que todos nós teremos que pagar e quanto ao pequeno ditador nada lhe vai acontecer como é normal neste país. Se fosse um pobre que roubasse um pão para comer, seria logo condenado em processo sumário, para servir de exemplo para outros. Quanto a estes poderosos nada lhes acontece, parecendo que a justiça tem medo de os afrontar, ou haverá outras razões que nos escapam para que tal aconteça. Este triste espectáculo que pôs em causa, mais uma vez, as fragilidades de Portugal na senda internacional, afectando-lhe a imagem que se vinha construindo com vista a separar-nos da Grécia. Embora quanto a este país - a Grécia -, parece que a UE não sabe sequer o que fazer. Se a deixar cair, cairá o projecto europeu e o euro, para a manter terão que ir ao arrepio de algumas vozes dentro dos seus países. Não sabemos se o projecto é destruir a Europa, se é, estão a trabalhar no bom sentido. Mas o problema começa a ser mais vasto. É preciso não esquecer que ontem a Fitch desceu o "rating" de Itália de A+ para A. E agora, quando não se tratam de países periféricos, mas sim de economias com um peso importante na UE, veremos o que vai acontecer. Ou se segue na senda que vêm trilhando, e será o fim a prazo da Europa, ou alteram a sua visão e começam a pensar numa maior integração e interajuda entre as várias nações suas componentes. Aqui a asserção federalista não deixa de se colocar, porque será seguramente aquela que melhor pode dar resposta aos problemas que afligem a UE neste momento, sem que se consiga vislumbrar o remédio a curto prazo. Mas será que a actual UE está vocacionada para isso? Será que os ultra-liberais vão por aí? Será que a manutenção duma Europa forte lhes interessa? Estas são questões que se colocam e para a quais ainda não existem respostas. Veremos como se irão comportar no futuro, agora que a Itália começou a ser afectada e a França andará lá muito perto.
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