39 anos depois do 25 de Abril
Hoje comemoramos mais um 25 de Abril, 39 anos depois de tão glorioso e auspicioso dia. Como se dizia na época tinha terminado "a longa noite fascista". 39 anos volvidos que nos resta ainda desse tão auspicioso dia, aquele dia que julgávamos redentor e libertador que iria resolver todos os nossos problemas? Depois de termos democratizado o ensino e criado a verdadeira escola pública, depois de termos criado o Serviço Nacional de Saúde, depois de termos dado a dignidade perdida a um povo esmagado pelo analfabetismo, com o medo entranhado face a uma polícia política feroz, depois de termos criado condições para que as novas gerações tivesse um futuro bem melhor do que o nosso, depois de tudo isto, - e não foi pouco -, Portugal vê-se esmagado pela tutela estrangeira que os desvarios facilitaram, ampliada por um governo ultraliberal subserviente onde as pessoas são as que menos contam, com a escola pública e o SNS à beira da rutura, enfim, todas as portas que Abril abriu se vão fechando uma após outra, colocando o país aos níveis anteriores a 74, onde a miséria campeia, o ensino volta a ser para as elites, a saúde para quem tem dinheiro para a pagar, as reformas e pensões cada vez mais curtas, o futuro dos jovens incerto, para não dizer inexistente. Quando o ministério da cultura passou a secretaria da Estado, percebeu-se logo o que iria acontecer ao nível da cultura e do ensino. Quanto mais ignorantes forem os povos mais facilmente se deixam instrumentalizar! Quando vemos velhos que não têm dinheiro para os medicamentos ou para as taxas moderadoras percebeu-se logo que a saúde seria cada vez mais para quem tem dinheiro para a pagar. Quando o emprego começou a faltar e se foi criando aquilo a que Marx chamou "o exército de reserva", percebemos que tal levaria a um abaixamento de salários, a um poder de compra cada vez mais reduzido, a uma estagnação económica. Neste ponto, o ciclo recessivo aparece duma forma inevitável, a espiral recessiva funciona como o cone dum tornado que arrasa tudo por onde passa. 39 anos volvidos sobre aquela manhã de Abril auspiciosa e solarenga, apenas as cinzas restam, apenas a memória daqueles que como nós viveram esses momentos. Por vezes, até parece que foi um sonho face ao Portugal que temos hoje. 39 anos depois temos um país destroçado, alvo da perfídia alheia, vendido ao metro quadrado, sem esperança e sem futuro. Um país que já não tem espaço para mais, doente e moribundo, arrasado pelo ultraliberalismo feroz que impera nesta Europa sem rumo e sem pudor. 39 anos depois as canções de Abril passam a ser de novo atuais. 39 anos depois voltou de novo "a longa noite" que pensavamos já afastada, para nos cobrir de novo sem que dela consigamos vislumbrar uma qualquer réstia de luz por mais fraca que seja. Se as portas que Abril abriu se estão a fechar, compete a todos evitar que tal aconteça. Se os cravos de Abril foram murchando com o tempo, está na altura de os regarmos de novo de os fazermos renascer e com eles a esperança sempre renovada num Abril libertador que nos devolva de novo a dignidade perdida.
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