Turma Formadores Certform 66

Saturday, July 20, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 269

A morte anunciada do acordo dito de salvação nacional aí está. Com as diferenças profundas, com as clivagens existente entre os partidos, com o discurso no dia anterior de Passos Coelho na comissão política do PSD, era evidente que o desfecho de tudo isto não poderia ser outro. Amor com amor se paga, dirão alguns, lembrando-se daquilo que o PSD fez ao anterior executivo a quando da discussão do PEC IV, numa estranha coligação que contemplou até a esquerda mais radical. Passados dois anos, parece cada vez mais claro que Sócrates tinha razão. Se ele tivesse continuado talvez não tivéssemos chegado aqui. A Alemanha não queria ter uma segunda Grécia em Portugal, e Merkel já tinha acordado com Sócrates a estratégia do PEC IV. Os políticos não o quiseram, o país não o quis também. Agora temos isto. O sonho da direita de uma maioria, um governo, um presidente deu nisto, um pântano de dimensões colossais. Será que quando Cavaco fez o discurso de posse do segundo mandato, atacando ferozmente o PS tinha bem a dimensão daquilo que estava a engendrar? Talvez não. O apadrinhamento deste governo moribundo por parte do PR é confrangedor, e mesmo assim, não se consegue aguentar. O governo está desacreditado, a prazo - quem o colocou assim foi o próprio PR -, um governo de gestão onde os portugueses já não se revêm. Será que o cenário de eleições antecipadas poderá clarificar isto? As sondagens mostram que talvez não seja bem assim, contudo, e apesar dos riscos inerentes, parece-nos que é esse o caminho a seguir. E não nos venham falar da estabilidade, dos mercados financeiros, da "troika" ou seja lá do que for. A crise está aí bem mais profunda do que aquela que existia à dois anos quando este governo tomou posse. O país foi destruído, o estado social verdadeiramente espoliado, o país vendido aos pedaços a preço de saldo, num cortejo de imaturidade, impreparação, incompetência que não têm par na política portuguesa. Assim sendo, porque não enfrentar os factos com clareza e caminhar no sentido do óbvio que são as eleições antecipadas? Ou será que Cavaco tem medo que a maioria se esboroe, o governo se esfume - de facto, já se esfumou -, e que depois o presidente também siga o mesmo caminho? Esta crise é da direita, criada pela direita, fomentada pela direita. Não nos esquecemos que com a saída de Gaspar - que percebeu que não era este o rumo certo - o governo abanou, mas foi, sobretudo, a saída e posterior entrada de Portas que criou todo este pântano em que estamos a viver. Agora os partidos da ainda maioria (mas só parlamentar) dirão que a culpa foi do PS. Virão cantar laudas, choros contidos e sofridos, queixas subliminares. Mas, meus amigos, isso não servirá para iludir - mesmo os mais distraídos - da verdadeira causa desta situação. A saída de Gaspar e a saída irrevogável de Portas que afinal depois já não era tão irrevogável assim. Estes são os causadores de tudo isto. Curiosamente, os mesmo causadores da situação caótica do país, dos portugueses, do estado de miséria e de desencanto a que chegamos, onde a esperança é sentimento que não tem aqui lugar para aportar.

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