Turma Formadores Certform 66

Monday, November 11, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 301

É sina dos portugueses apenas considerarem algo depois de ouvirem essa ideia repetida por alguém estrangeiro enquanto a foram ignorando quando era um português (ou vários) a expô-la. Vem isto a propósito da entrevista que o economista belga Paul de Grauwe deu sobre a austeridade em Portugal. Atacando a teoria do "bom aluno", passando pela "austeridade excessiva", de Grauwe passou em revista os temas mais determinantes do nosso percurso dos últimos dois anos e meio dentro da linha do que muitos já vinham afirmando há demasiado tempo. Nós também já tínhamos feito eco destas ideias vai para mais de um ano - ver crónicas anteriores - porque era por demais evidente o caminho que as coisas estavam (estão) a tomar. E isso não significa que quem o fez fosse um génio assumido, um vidente de provas dadas, bastava para isso estar atento à realidade e saber um pouco de economia e finanças. Era por demais evidente que a receita já tinha falhado há muito, e quem disso fez eco foi o anterior ministro das finanças, Vítor Gaspar, na sua carta de demissão. (Já aqui por diversas vezes dissemos que seria bom que lessem com atenção essa carta, sobretudo, quem tem responsabilidades governativas. Parece que não levaram a sério o conselho e vai daí o abismo profundo para que Portugal está a ser empurrado é claro, sem que nada pareça evitar o colapso. E não basta umas décimas para que se diga que tudo está a correr bem. Porque não é verdade e, ainda por cima, porque fica mal a quem tais afirmações profere. “O governo português fez o grande erro de tentar ser o melhor da turma no concurso de beleza da austeridade. Não havia razão para Portugal fazer isso, podia não ser o melhor da turma, podia ser mesmo o pior e isso seria melhor para economia”, afirmou Paul de Grauwe na entrevista que deu à Lusa. E sem papas na língua afirma: “O capitalismo é um sistema fantástico, mas muito instável, que produz altos e baixos, períodos de otimismo e pessimismo, e nos baixos o Governo tem de juntar as peças e os défices necessariamente aumentam. Precisamos de Governos que protejam os cidadãos, que os ajudem. Se não o fizerem, a legitimidade dos Governos fica em causa”. Assim, sem mais, o economista belga diz aquilo que muitos de nós pensamos de tudo isto. E enfatiza aquilo que muitos andam a afirmar há demasiado tempo: “Não acho que consiga sair do problema hoje sem uma reestruturação da dívida”. Mas Paul de Grauwe não se fica pelas críticas e adverte: “Dizem aos portugueses que têm de fazer mais sacrifícios. Para quê? Para pagar a dívida aos países ricos do Norte [da Europa]. Isto será explosivo, os portugueses não vão aceitar isso indefinidamente”,  e ainda reforça mais a ideia quando diz: “Um novo programa de austeridade vai empurrar Portugal para a insolvência”. Agora é caso para perguntar como vai o governo lidar com isto? E o presidente da República que tem sustentado esta estratégia? Será que o professor da London School of Economics ao afirmar que há uns anos Portugal era um país solvente, mas que, as políticas de austeridade levaram à recessão económica e aumentaram de tal forma o endividamento que agora corre o risco de não conseguir pagar a sua dívida, passou a ser não um eminente economista, mas mais um elemento de perturbação, um qualquer líder duma qualquer oposição com interesses mesquinhos e com ganas do poder? Será que este conselheiro da União Europeia passou a integrar a lista, cada vez maior, dos "masoquistas" à la Cavaco Silva? Será que ainda o governo não percebeu o caminho errado que está teimosamente a percorrer? Que interesses estão por trás de tudo isto? “Vocês [em Portugal] fizeram reformas estruturais, flexibilizaram, reformaram o mercado trabalho e não resultou. Porque o problema está do lado da procura”, e será que isto é tão difícil de entender? Ou será que este economista belga que tem um pensamento coincidente com o de Joseph Stiglitz, prémio Nobel da Economia em 2011 e antigo vice-presidente do Banco Mundial, afinal nada percebe disto e apareceu a dar esta entrevista a pedido de qualquer "inimigo" do governo! Meus senhores, na política como na vida é preciso decoro. Coisa que não vemos há muito entre nós. Será que agora, à boa maneira lusa, alguém presta atenção a estas palavras ou, pelo contrário, virá alguém desvalorizá-las em nome duma qualquer estratégia salvadora digna dos deuses? Podemos ter as leituras que quisermos sobre tudo isto, mas quando estas políticas mexem com a vida das pessoas e destroem um país o caso é mais grave e não se pode ficar indiferente e muito menos silencioso.

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