Turma Formadores Certform 66

Friday, November 29, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 305

Esta semana que está prestes a terminar foi fértil em acontecimentos que mostram a degradação a que o nosso país chegou. Depois da "invasão" que a polícia fez das escadarias da AR - o termo é aquele que foi gritado na manifestação - em que mostraram bem a quem estamos a confiar a nossa segurança, as coisas não pararam por aí. Depois desta "invasão" dos polícias, os sindicatos não quiseram ficar atrás, e vai daí, também "invadiram" quatro ministérios. Não houve reação da polícia que por lá estava. Será porque foram apanhados de surpresa, ou tinham a consciência pesada e acharam que os sindicatos tinham tanto direito como eles para invadir o que quer que seja? Na sequência desta "invasão", os ministros talvez assustados fizeram o impensável que foi, perante a exigência dos sindicatos de marcarem reuniões, e elas foram marcadas logo na hora, sem mais demoras. Erro crasso. Que marcassem as reuniões achamos que era correto, marcá-las na hora e sobre pressão, dá a ideia dum Estado acossado, com medo, o que leva ao desrespeito das próprias instituições. Não sabemos se por esta sequência de acontecimentos ou não, o PR, sempre tão defensor do governo, acabou por mandar o diploma do corte das pensões para o TC, ou então porque se viu atingido por ele. Qualquer uma das respostas é sempre possível no estado de anarquia em que Portugal está a mergulhar. Mas as coisas não ficariam por aqui. Ontem mesmo, ou melhor esta noite e madrugada, a polícia tão determinada em fazer "invasões" quando se trata dos seus direitos, acabou por tratar duma forma bem pouco cordial, os trabalhadores do CTT que estão em greve a lutar, - eles também -, pelos seus direitos. A esta intervenção musculada não escaparam nem trabalhadores, sindicalistas e até deputados que, como se sabe, gozam, de imunidade parlamentar. O acontecimento que, ao que sabemos, será hoje levado à AR. É neste estado de aparente anarquia que Portugal está a viver este dias de ira. Depois das mentiras que o ministro da defesa andou a contar aos trabalhadores dos Estaleiros de Viana, acabou por colocar no desemprego mais de 600 e estes só souberam disso pela comunicação social e, embora ontem tenha sido recebida a CT dos Estaleiros de Viana, isso não corrige de todo a "gaffe" - mais uma - deste governo. Este desnorte que o governo mostra - e dele já falamos por diversas vezes - diz bem do estado de desgraça em que o executivo se encontra. As pessoas precisam de âncoras a que se agarrar, âncoras que não lhe foram dadas, ou melhor, aparecem nos partidos da oposição que, dada a sua desfragmentação, não têm ainda condições de ter uma maioria absoluta para contrariar esta política desastrosa que nos (des)governa. Este governo, que apenas cumpre ordens de Merkel, nunca foi capaz de defender os interesses de Portugal como fez a Irlanda em devido tempo. E o PR não deixa de ser a capa que vai abrigando o executivo. Talvez por consciência pesada também. Porque foi Cavaco Silva - para aqueles que já esqueceram - que, deslumbrado com a Europa e com o dinheiro a jorros que entrava no país, convenceu os pescadores a destruírem os seus barcos a troco de 10 mil contos (ainda não havia o euro), o mesmo que fez com os agricultores. E vai daí o peixe que comemos é quase todo vindo do estrangeiro. Agora apelam em sinal contrário mas é um erro grave. (Ao contrário da Espanha que não se deixou levar pelo canto da sereia). Isso já era afirmado nas Faculdades de Economia deste país à época, mas ninguém quis ouvir. O "El Dorado" estava ali à mão como o poderíamos deixar escapar? E ainda por cima, como era incentivado pelo homem que se autodenominava como sendo aquele que "nunca se enganava e dificilmente tinha dúvidas" as populações não desconfiaram. Agora aí está a realidade a demonstrar o grande equívoco político que o atual PR liderou. Ele também a seu tempo, foi um pau mandado de Bruxelas, como o é este governo. Será uma maldição do PSD? De tudo isto, reafirmamos aquilo que já atrás dissemos, Portugal está a viver um momento de anarquia que favorecerá a curto prazo o aparecimento dum qualquer "salvador" com todas as consequências que daí advirão. Porque as sociedades rejeitam o vazio, e é no vazio que estamos a viver. E quando se vê uma reunião das esquerdas na Aula Magna, quando assistimos à homenagem a Ramalho Eanes, não podemos deixar de sentir o que anda no ar. Keynes dizia que no médio/longo prazo "estamos todos mortos", e não era de morte física que ele falava, mas sim que o capitalismo ia-se regenerando após cada crise, mas haveria um momento em que tal não iria acontecer. Será que estamos a chegar a esse momento? Será que um dia Marx ainda pode vir a ter razão?

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