Turma Formadores Certform 66

Thursday, February 06, 2014

Equivocos da democracia portuguesa - 320

Vieram ontem a lume as estatísticas sobre o desemprego em Portugal divulgadas pelo INE. E desde logo as opiniões se cruzaram entre aqueles que são a favor ou contra a governação. Daí que achemos por bem trazer à colação algumas opiniões sobre tais números. A trajetória de melhoria do desemprego seria sempre bem vinda, uma boa notícia para todos. Contudo, tal não é exatamente o caso. Porque a feitura das estatísticas são complexas e a sua interpretação também. Desde logo, é preciso conhecer o modelo, depois a maneira como as variáveis são distribuídas, os graus de liberdade, a margem de erro, para se poder aferir o resultado. Não entraremos aqui numa análise detalhada, dada a complexidade matemática envolvente, mas, a título de exemplo, gostaríamos de colocar um caso. Se uma pessoa está desempregada e na semana em que se faz a recolha dos dados para a estatística esteja a trabalhar, nem que seja por uma hora, auferindo um qualquer rendimento, será considerado um ativo empregado naquele momento, logo induz o abate ao número de desempregados. Mas se essa mesma pessoa deixou de procurar emprego, porque acha que já não tem hipótese de o arranjar, essa pessoa deixou de ser um ativo, não sendo considerado desempregado. O mesmo se passa com pessoas que não acreditando serem capazes de obter um emprego em Portugal trilham os caminhos da emigração. Desde logo se constata a distorção que estes números podem encerrar. Então, dirão os leitores, para que servem as estatísticas? Elas são muito úteis, mas devem ser lidas com cuidado e com alguns esclarecimentos de como os dados foram obtidos para que não se caia no erro duma análise linear que pode ser muito útil aos políticos mas desfasadas da realidade que as populações sentem no dia a dia. Como ontem vimos, até parece que agora tudo está a correr bem, que o desemprego está a implodir. Só que os valores, e sobretudo as percentagens não são tão claras assim. Ontem falava-se num valor ligeiramente acima dos 15%, o que daria um número de desempregados à volta dos oitocentos e tal mil. Só que se juntarmos aqueles que já não aparecem nas estatísticas porque deixaram de procurar emprego, teremos que lhe juntar mais uns duzentos mil aproximadamente o que eleva o número de inativos para mais de um milhão. Mas se a estes ainda incluirmos os que saíram do país porque já não acreditarem que nele arranjem emprego, este valor andará acima do milhão e duzentos mil. Isto é, a percentagem de pouco mais de 15% afinal já subiu, por efeitos destes ajustamentos, flutuando acima dos 20%. Esta é a verdadeira realidade que temos pela frente. Isto não quer dizer que não nos sintamos bem com a tendência de queda da percentagem do desemprego, só que estamos a falar de coisas um pouco diferentes. A leitura política dos números, - estes ou outros -, podem encerrar em si mesmo alguns alçapões onde podem cair alguns incautos, embora vindo do foro político tal será usado sempre cantando laudas (os apoiantes do governo) ou ensaiando críticas (os que se lhe opõem). Provavelmente, nem uns nem outros terão razão, ou melhor, terão razão em função do ponto de vista da análise de que partem e que melhor serve os seus interesses. Mas o mais importante é que as pessoas tenham a consciência de que a situação é bem mais gravosa do que aquilo que se crê, infelizmente para todos nós. E com uma economia com crescimento incipiente, até recessiva, não criará emprego. Uma economia só é capaz de criar emprego quando cresce acima dos 2 a 3%, potenciando o efeito de alavancagem. E, mesmo quando isso se verificar, as pessoas não o notarão de imediato, porque entre o efeito potenciador e o efeito repercutido ainda mediarão 12 a 18 meses. Ora com uma economia recessiva ou com crescimento débil, como é o nosso caso, nunca será capaz de criar emprego líquido. Pode dar a ilusão de criar postos de trabalho, mas esquecem-se dos outros que foram destruídos, o que feitos os respetivos ajustes, dará um saldo negativo. Só para ilustrar o que aqui dizemos, basta pensar que no 4º trimestre de 2013 por cada 3,2 desempregados que desapareceram apenas se criou um posto de trabalho! É que quando se fala de criação de emprego é bom pensar em emprego líquido, para que ninguém se sinta defraudado, nem ninguém tenha a tentação de deitar foguetes, sobretudo, em anos eleitorais.

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