Equivocos da democracia portuguesa - 322
A nova disputa que agora se trava é a de saber se saímos do pós-"troika" com o sem programa cautelar. (Como não há fome que não traga fartura, como diz o povo, agora até já temos direito a uma terceira via!) Como se isso fosse uma determinação dum país pequeno, pobre e periférico como o nosso. Depois da Irlanda ter saído sem recorrer a nenhuma programa cautelar, Portugal ficou sem rede nesta matéria. Agora temos que nos desenvencilhar sozinhos. Dentro do próprio executivo, tanto quanto é percetível, parecem existir duas correntes, uma a favor e outra contra o dito programa cautelar. Mas como alguns países da UE, desde logo, os países nórdicos, seguidos da Alemanha e Holanda, se opõem a que Portugal tenha o tal programa, parece que aqui a nossa opinião vale de muito pouco. Se os credores não a equacionam, o problema está resolvido por natureza. É certo que na política tudo é efémero, tudo muda a uma velocidade estonteante. Mas mesmo assim, parece que o destino está traçado. Não será por acaso que o governo já se está a preparar para financiar até 2015, ano das eleições legislativas, se não forem antes, e depois logo se verá. Quem vier a seguir que se "desenrasque". Isto diz bem do que se pensa ao mais alto nível, isto é, que o programa cautelar seria bom como rede no futuro imediato logo que a "troika" saia do país, mas tal parece ser muito difícil de alcançar. Se existir, o governo virá dizer que é melhor assim para termos uma espécie de seguro, se não acontecer assim, aparecerão logo alguns a dizer que afinal fomos bem sucedidos e que até saímos "à irlandesa". Esta é mais uma questão, que se nos afigura bizantina, que vai entretendo as pessoas, os comentaristas e quejandos, enquanto o país vai continuando a ser delapidado, vendido a preço de saldo, empobrecido, sem empregos e com uma emigração ao nível da que vimos nos anos 60, só que desta vez, a saída é da geração mais qualificada que alguma vez Portugal teve, e não já de pouco mais do que analfabetos como era então. Porque afinal o tal "milagre económico" não é tão milagre assim, quem o reconhece é o próprio ministro da economia, Pires de Lima, pai da tão infeliz expressão. É que depois da saída da "troika" os problemas ficam por cá e a austeridade vai continuar. Agora que começou a 11ª avaliação já se vai falando num novo corte para 2015 de 2 mil milhões de euros! No fim de contas, Portugal não está hoje melhor do que o que estava antes da "troika" e quanto às populações, nem é bom falar. Usando as palavras de Manuela Ferreira Leite: "Nem toda a euforia é muito sincera. Há algum teatro.” Como costumamos dizer, aqui como noutras circunstâncias, a História repete-se, mas nunca da mesma maneira.
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