Equivocos da democracia portuguesa - 325
Assistimos ontem a mais uma manifestação das forças de segurança. De novo vimos agentes - felizmente poucos - a tentarem invadir as escadas da Assembleia da República de pois de, mais uma vez, terem derrubado as barreiras de segurança e posto em causa inclusive os colegas que estavam de serviço. No meio de quem o fazia, viam-se muitos agentes com o rosto tapado. Porquê? Eles que atuam duma maneira por vezes brutal contra pessoas embuçadas são os mesmo que recorrem a tal estratagema. Se estavam ali para reivindicar melhores condições de vida, contra a política de arrasto deste governo, porque não darem o rosto como os seus colegas. Afinal porque vinham embuçados? Mais tarde veio-se a saber que um dos mais "nervosos" na manifestação foi identificado e, surpresa, usa pulseira eletrónica por uma condenação de violência doméstica! Quando olhamos para tudo isto, apetece-nos perguntar, a quem estamos a confiar a nossa segurança? Um agente não faz uma instituição, mas é preciso que a instituição saiba lidar com este tipo de agentes. Apesar de tudo, não queremos deixar de realçar aqui a justeza da luta das forças de segurança. Todos temos que fazer o nosso reajustamento, o nosso sacrifício, face aos dias que correm. Mas cortes sobre cortes a esmo, sem critério algum, apenas o de encolher os encargos do Estado, parece-nos algo de muito grave. Os mais ricos são-no cada vez mais. O número deles até aumentou. Porque não pedir um pouco mais a esses em vez de esmagar aqueles que, embora mais numerosos, já têm a sua vida rapada ao limite do concebível? Mas esta atitude das forças de segurança conduz-nos a uma outra reflexão. As manifestações de polícias com esta dimensão aconteceram sempre (e talvez não seja por acaso) com governo de direita em funções. Todos nos lembramos do triste confronto entre polícias quando Cavaco Silva era primeiro-ministro, e que ficou conhecida pela manifestação dos "secos e molhados". (Nessa altura não havia crise. Bem pelo contrário, Assistia-se a dinheiro a entrar no país às passadas, o que nos deu a ilusão de estarmos a viver num verdadeiro "El Dorado". Foi aqui que tudo começou. Foi aqui que o endividamento começou a ganhar forma fruto de dinheiro fácil e barato). E estas coisas não acontecem por acaso. Parece que os governos de direita têm alguma dificuldade em conviver com a democracia. Veremos o que daqui sairá. Como reagirá o governo face a mais esta contestação. Esta país, como há dias afirmava Pacheco Pereira (PSD), está a tornar-se irrespirável para pessoas sérias e decentes. Nós vamos mais longe. Corremos o risco de estar a resvalar para a anarquia. E quando ontem ouvimos repórteres das televisões a dizerem que foram ameaçados e injuriados por alguns agentes da polícia, talvez devamos pensar com muito cuidado no que está a acontecer neste país, independentemente dos seus atores momentâneos. A democracia parece estar realmente muito doente.
0 Comments:
Post a Comment
<< Home