Equivocos da democracia portuguesa - 323
Assistimos neste fim-de-semana a mais um congresso dum partido político, desta feita o PSD. Aparentemente era um congresso sensaborão com alguns participantes zangados com os seus companheiros de jornada, gritando até com eles. e não foi nem um, nem dois os casos. Quando tudo parecia arrumado, eis que aparecem alguns dos barões e ex-líderes do partido. Morais Sarmento, Marques Mendes, Marcelo Rebelo de Sousa, Pedro Santana Lopes. Tudo ficou mais animado, e até expectante, porque nunca se sabe o que é capaz de sair de turma tão pesada. Todos eles são gente não alinhada com o presidente do partido, ou pelo menos eram-no até hoje. Mas, apesar de tudo isso, aqui gostaríamos de salientar duas figuras a de Morais Sarmento e a de Rebelo de Sousa. Ao primeiro coube talvez o mais brilhante discurso da noite, coisa bem distante dos restantes congressistas que não lhe têm o verbo. Até aqui se nota o estiolar das grandes figuras da nossa democracia. Onde antes tínhamos um lote de grande oradores, que arrastavam multidões, que inflamavam com o seu verbo, agora temos apenas umas pessoas que fazem uns discursos comum, de gente comum. A Assembleia da República é bem o exemplo disso mesmo. Assim, aqui deixamos a nota máxima para Morais Sarmento. Podemos gostar ou não dele, podemos divergir ou não das suas ideias, mas temos que reconhecer que ele ainda representa um lote de políticos que já fizeram escola entre nós, antes dos politiqueiros que temos hoje. A segunda nota vai para Rebelo de Sousa. Não por ter aparecido, não por ter feito o discurso que fez. Porque homens como Marcelo Rebelo de Sousa podem aparecer a qualquer altura porque só enobrece quem o recebe, e também, pode chegar e dizer o que lhe apetecer porque está a cima da mediocridade e tudo o que disser, nem que seja contar anedotas, arranca aplausos face a tão pobre gente que está na plateia. Mas o extraordinário da sua presença foi a ideia, que aliás ele próprio acabou por apadrinhar não fosse outros aproveitarem a deixa, de que ele se "estava a fazer ao piso" (sic) para ser candidato a Belém. E aqui é que está toda a diferença. Porque depois da rejeição da sua possível candidatura feita por Passos Coelho à dias, não deixou de ser surpreendente que Marcelo fizesse tal coisa. Se calhar nem era essa a intenção, mas foi a ideia que passou, ideia que ele próprio reconheceu na sua intervenção. Achamos que uma figura como Marcelo Rebelo de Sousa não precisava de ter feito o que fez. Porque se quiser ser candidato, com ou sem o apoio do PSD, é-o com certeza e se calhar até causará muito embaraço ao candidato do seu próprio partido, caso fosse o caso. Quem não quer ser lobo não lhe veste a pele é usual ouvir-se. Aqui Marcelo vestiu a pele do lobo o que não deixa de ser curioso se pensarmos em alguns comentários que tem feito sobre a atual situação política nacional. Pensamos que Marcelo não precisava disso. Achamos que a atitude que tomou não foi a melhor. Deu bem a ideia da ânsia do poder, a ânsia da Presidência da República de que há muito se fala. Mas mesmo que tal seja o caso, um pouco mais de discrição não lhe ficaria mal. Até neste caso, o PSD deve estar grato. Porque se não fosses essas pessoas tudo não teria passado dum marasmo. Porque não havia nada para dizer, a não ser o que já conhecemos desde à três anos a esta parte.
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