Turma Formadores Certform 66

Thursday, February 27, 2014

Equivocos da democracia portuguesa - 324

A "troika" está a um passo de sair de Portugal, mas desenganem-se aqueles que pensam que com ela irão todos os nossos problemas, dramas e angústias. Não. Esses permanecerão e por muitos anos. Há dois anos atrás numa conferência que pronunciamos no ISCAP afirmamos que a recuperação iria ser lenta e com o espaço temporal duma geração. Algumas pessoas do corpo docente dessa Instituição acharam que estávamos a ser pessimistas. Uma professora abordou-nos no fim da conferência para dizer que era preciso dar um sinal de otimista e que a nossa visão era muito redutora. Como gostaríamos de estar enganados. Já nessa altura era evidente que esta situação se iria perpetuar no tempo. E vai porque a dívida é impagável e se não a renegociarmos estaremos agrilhoados a esta situação para sempre. Aliás, a atitude da "troika" neste fim de ciclo, e a acreditar nas afirmações ontem proferidas por diversos parceiros sociais, é bem evidente disso mesmo. A "troika" sai mas continua a mandar no país, enquanto o ferrete da dívida não esmorecer. Hoje há uma recompra da dívida por parte do governo. É uma boa notícia mas não deixa de ser uma gota num imenso oceano. Aliás, a tentativa do governo de ir empurrando para a frente algumas das decisões mais complexas, como foi o caso da troca de dívida feita o ano passado, é uma forma de deixar um presente envenenado a quem vier a seguir. Só que, como esta situação se vai perpetuar no tempo ainda por muitos anos, quem sabe se a bomba relógio rebenta nas mesmas mãos que a prepararam. Isso não é de todo motivo de júbilo para ninguém porque, em última instância, quem vai sofrer com tudo isto seremos todos nós. E não basta entrar no discurso populista de que o anterior governo é que criou esta situação. Não nos devemos esquecer que tudo começou na banca e que todos estes sacrifícios, em boa medida, têm servido para a ajudar e não tanto as populações. Quem criou este imbróglio foram todos os governos desde o 25 de Abril de 1974, sobretudo, os governos de Cavaco Silva que mais potenciaram esta situação. E todos os que se lhe seguiram, independentemente do partido que momentaneamente assumiu o poder, apenas foi juntando pedra sobre pedra a um muro já de si elevado mas que ninguém pareceu ver até então. Por isso, este jogo de passa culpas entre os partidos do chamado arco governamental, não passa disso mesmo, dum jogo e, sobretudo, duma consciência muito pesada. Mas em momentos eleitorais tudo vale, infelizmente. Aparecerão alguns a dizer que são os salvadores da Pátria culpando os outros pelo descalabro, mas ninguém está de mãos limpas neste processo. Os partidos que foram governo ao longo destes quarenta anos têm, quer queiram quer não, a responsabilidade e a sua quota-parte em tudo isto. Não queremos dizer com isto que o fizeram intencionalmente, mas que não souberam avaliar os riscos é por demais evidente. Ou então houve situações que a tal conduziu e que não são conhecidas do público. Sempre os meandros tortuosos da política. A indefinição é a norma, mesmo quando os políticos se apresentam com um discurso firme e aparentemente bem fundamentado. O embaraço que ontem assistimos de Miguel Frasquilho ao dizer que o PSD tinha sugerido à "troika" uma saída com programa cautelar e vindo nega-lo duas horas depois, mostra bem que tudo ainda é muito volátil e como tal com piso pouco firme sobre o qual caminhar. Mas a situações dessas iremos assistir no futuro, com este ou outro governo. Porque tudo é ainda muito precário, embora nos queiram fazer crer o contrário. A "arrogância" da "troika" de que ontem ouvimos falar pode ser bem o sinal de que muito caminho ainda há para fazer. No entretanto, são os representantes dos credores que vão ditando as leis, quer queiramos quer não. Tudo o resto não passa duma cantilena bem afinada para iludir os eleitores. Os problemas cá estão. Os problemas cá permanecerão e por muitos anos. Disso que ninguém tenha dúvidas para depois não vir a sofrer mais uma nova desilusão.

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