A Europa indecisa
Temos vindo a assistir em algo que parecia erradicado da tão evoluída Europa, refiro-me ao problema ucraniano. Para muitos ucranianos a Europa ocidental é o "El Dorado" face ao atraso dum país que tende a cair ciclicamente nos braços da Rússia. Não esqueçamos que a Ucrânia já foi uma parte integrante da antiga União Soviética. Ainda hoje, quem demanda esse território longínquo, ainda se confronta com as duas línguas base, o ucraniano e o russo. Mas se muitos ainda sonham com os tempos da ex-URSS outros já pensam nos benefícios que o ocidente, bem mais evoluído e rico, lhes pode proporcionar. No meio de tudo isto, está a UE que, mais uma vez, parece não saber bem o que fazer. A falta de estratégia face a problemas na sua proximidade das suas fronteiras, ou mesmo dentro da própria UE, são por demais evidentes e tendem a tornar-se crónicos. Todos nos lembramos do que se passou há alguns anos atrás a quando do conflito dos Balcãs, que ainda hoje mostra, duma forma pujante, as suas cicatrizes. Aí, então, a UE também andou dum lado para o outro, sem saber bem o que fazer, numa falta de estratégia que não pode esconder. Depois não deixa de olhar para o outro lado do Atlântico e ver a posição que os EUA vão tomar. A UE que apareceu como mercado único para fazer face à hegemonia dos EUA e do Japão, vê-se assim, numa dependência confrangedora. E tal como no Kosovo, agora assistimos ao retalhar de vidas, numa orgia de sangue que pensávamos banida do nosso continente. E só depois de muitas existências ceifadas, de muito sangue correr pelas ruas, é que parece que a UE acorda do seu usual torpor para fazer alguma coisa. O mesmo se diga do que está a acontecer com os conflitos em África que tornam a Europa numa enorme Lampedusa. A falta de estratégia, talvez provocada pela não existência dum exército comum, levam a que a Europa acabe sempre por ficar para trás, navegando a reboque doutros países, ou doutros continentes, caucionando políticas que, na maioria dos casos, não são as europeias. A UE não pode ser só um espaço económico-financeiro, sempre pronta a chamar à razão os países que se desviem da sua estratégia, sempre pronta a esmagar esses países, que são seus membros também, com a mais vil austeridade conduzindo os seus povos ao limiar da pobreza que era a razão primeira da sua existência. Vemos nesta mesma Europa, crescer as sementes dos nacionalismos que tanto mal já causaram à Humanidade, como aconteceu agora com a Suíça, na limitação da circulação de pessoas. Mas a Suíça não é membro da UE, e quando for a Alemanha que, ao que parece, se prepara para fazer o mesmo? Sabemos do ganhar de terreno das forças de extrema-direita na Europa. Sabemos como é possível a sua vitória na tão próxima França. Vemos uma Hungria fascista, a Bulgária próxima da extrema-direita, duma Holanda a seguir o mesmo caminho. Mas também sabemos que, esses não são os valores que nortearam a formação desta UE, que tem servido de tampão aos conflitos em que a Europa sempre foi fértil ao longo da História. E isso deve-nos fazer refletir. Que caminhos está a trilhar a Europa? Esta Europa ultraliberal que se transformou num imenso gabinete de contabilidade, perdendo os seus valores que foram a sua matriz ao longo dos tempos. Uma Europa indecisa, uma Europa sem rumo, sem saber para onde vai e o que deve fazer, sem projeto social, não é seguramente a Europa que gostaríamos de ver, nem seguramente é a Europa pela qual muitos ucranianos estão a dar a vida.
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