Turma Formadores Certform 66

Tuesday, March 11, 2014

Equivocos da democracia portuguesa - 326

Hoje foi conhecido o manifesto subscrito por 70 personalidades dos mais variados quadrantes políticos que pretendem refletir sobre o nosso futuro. Nele se realça aquilo que aqui por diversas vezes vimos afirmando, a saber, a necessidade de renegociar a dívida, isto é, pagar a dívida sim, mas mais lentamente do que aquilo que tem sido pretendido. Como é do conhecimento geral, a dívida tem vindo a aumentar, já atingiu 130% do PIB(!) o que mostra bem o caminho de empobrecimento que estamos a seguir dentro duma estratégia ultraliberal, a mesma que até agora, tem conduzido os destinos europeus. Dirão alguns, mas afinal as coisas não estão melhor? Não está a Europa a reconhecê-lo? Pura ilusão. A situação está degradada e o governo vai seguindo os passos da Europa, apenas e só, porque é necessário que Portugal tenha sucesso, e a própria Europa não está em condições de suportar uma nova crise. Aliás, se lerem os discursos que ontem foram proferidos na reunião do Eurogrupo ficamos com a sensação de que estamos perante discursos consertados e que bastariam que apenas existisse um que seria lido por diversas pessoas em diversas línguas, tal é a enorme concordância. Isso diz bem do que se está a passar entre nós, bem como do "sucesso" das várias avaliações de que temos sido alvo, embora isso sirva de autoelogio para alguns, a verdade é bem mais perturbadora. Aqui não defendemos - nunca o fizemos - que não se pague a dívida, mas por diversas vezes afirmamos que tal deve ser feito com prazos mais dilatados para que o empobrecimento cíclico não seja aprofundado. Personalidades como Bagão Félix ou Luís Braga da Cruz, como João Cravinho, Gomes Canotilho ou Manuela Ferreira Leite, pessoas oriundas dos mais diversos quadrantes e credos, da direita à esquerda, afinal põe o dedo na ferida, e vêm afirmar aquilo que muitas, há muito tempo, vêm defendendo, a reestruturação da dívida. O Dr. Silva Lopes - ex-ministro das Finanças - há dias num fórum afirmou que "a dívida é para ser reestruturada mas os políticos não gostam de falar disso". E é isso mesmo que aqui está em causa, só que agora, e com personalidades de vários quadrantes (até gente do quadrante ideológico do governo) as coisas ficam mais claras para a população e incómodas para os atuais governantes. Porque se fala tanto em consenso nos dias que correm quando ele foi desbaratado durante três anos? Porque apela Cavaco Silva duma forma tão dramática ao tal consenso, quando não foi capaz de o defender há 3 anos quando foi derrubado o governo anterior com uma dívida de 90% do PIB, bem longe dos atuais 130%? Afinal porque se fazem tantos apelos com tanto dramatismo? Se tudo estivesse a correr bem acham que se dariam a esse trabalho? Acham que estariam dispostos a repartir os louros por outros? Não sejamos ingénuos. Um povo que sempre foi massacrado, que suportou uma ditadura de quase meio século, que foi capaz de vir para a rua e fazer uma revolução, que foi capaz de se armar, de se bater, de se prender, de cada um gritar a sua própria alienação, mas que nunca foi capaz de matar uns aos outros, não terá sabedoria para entender isto? Desenganem-se aqueles que acham que os portugueses são ingénuos, que já não perceberam a embrulhada em que nos meteram a todos e da incapacidade de lá nos fazerem sair. Não subestimem as pessoas porque são elas que serão o motor da recuperação e não um grupo de políticos sem cultura, sem experiência de vida, que há bem pouco tempo, não passavam duns meros coladores de cartazes. 

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