Equivocos da democracia portuguesa - 3
Estamos a assistir às várias "rentrées" dos principais partidos que se preparam para as eleições. Alguns, quase todos, já começaram as suas pré-campanhas, mas a partir de agora vai ser a doer. Hoje, assistimos na Madeira, aquilo que já se designou por "campanha negra". Penso que todos os partidos têm direito às suas opções, e estamos certos, as picardias acontecem sempre, aqui ou ali. Mas a grosseria de Alberto João, francamente, é demais. Nem Jean-Marie Le Pen em França consegue ir tão longe. Todos conhecemos o passado desse senhor, nomeadamente antes de Abril de 74, mas que ele alardeie tão má criação, que se pavoneie na Madeira como um verdadeiro cacique, um "coronel" para usar as palavras de Jorge Amado, é francamente de mais. Continuo a dizer, como já o fiz anteriormente, que é estranho aos portugueses em geral, que o PSD permita estas atitudes, mostrando depois um sério embaraço quando são confrontados com elas. Porque será que assim é? Que trunfos possui esse senhor, que leva a que os seus correligionários não o metam na ordem? Não é só o ser um vencedor, tem que haver mais alguma coisa. No fundo é tão só uma questão de boa educação, que esse senhor não sabe o que é. Mas para além disso, verificamos que este Verão é fértil em "fais-divers", muitas vezes para desviar as atenções dos reais problemas do país. Tal prende-se com as alegadas escutas aos assessores da Presidência da República. Não sei se tal tem ou não substância, mas não deixa de ser estranho que essa situação tenha aparecido a lume em vésperas de eleições, e o próprio Presidente da República já tenha afirmado que pode vir a falar se assim o entender. Por enquanto vai gerindo mais um "tabú", ele que é conhecido como o homem dos "tabús". Esta situação prejudica claramente o PS, o que leva a pensar que não foi aí que surgiu a questão, ou então alguém "pôs o pé na poça". E o que se dirá se, não existirem escutas, mas sim, uma fuga de informações dos próximos do PR? O clima de confronto entre a PR e o Governo tem aumentado de tom, (a fotografia publicada é um sublime exemplo demonstrativo desse clima), o que não deixa de ser sintomático, e parece que não pára de crescer à medida que as eleições se aproximam. Esta questão foi desvalorizada até pelo PGR, o que indicia que existe algo no "bás-fond" político-partidário. Sei que é difícil ser isento nestas alturas, mas que a falta de isenção seja tão clara, começa a parecer doloroso. Dir-me-ão que todas estas questões acontecem em todas as democracias, que fazem parte do "folclore" político. Não deixa de ser verdade, mas temo que tal venha a desacreditar um regime junto das populações que têm sofrido tanto nos últimos anos. Não percamos as lições da História. Para aqueles que não são muito familiarizados com estas questões, peço-vos que não deixem de analisar o que aconteceu durante a I República e a forma como ela se foi auto-destruindo até chegar a uma ditadura que nos regiu durante quase meio século. Sei que alguns políticos têm a consciência disto, mas quiçá, nada possam fazer. Os aparelhos partidários têm tentáculos fortes aos quais nem todos resistem.
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