Turma Formadores Certform 66

Thursday, September 24, 2009

Equivocos da democracia portuguesa - 18

Temos assistido a uma campanha eleitoral onde pouco se tem esclarecido, e onde o insulto e a malidicência têm sobejado. Parece que os grandes temas que deveriam interessar a todos estão arredados ou estão escondidos na agenda secreta dos partidos. Quanto à cultura nem é bom falar. Num país onde a cultura ainda é um luxo, onde a maioria da população tem uma baixa ou nenhuma cultura, (outra coisa, bem diferente, é a escolaridade), os políticos nada dizem sobre este tema. A semana passada decorreu nas ruínas do Convento do Carmo uma conferência proposta pela Sociedade de Arqueologia, sobre o tema da cultura. Como aqui dissemos, todos os partidos enviaram segundas ou terceiras linhas para abordar este tema e durante o mesmo, ficou um sabor amargo no deserto de ideias que foram transmitidas, o que só amplia a noção de que a cultura não dá votos, e por isso, não interessa perder tempo com ela. Aliás, durante os sucessivos governos, sempre nos interrogamos sobre a necessidade de ter um Ministério da Cultura, visto dele não se ter visto qualquer acção digna desse nome. Esta não-cultura que reina no nosso país, é bem patente ao nível dos líderes partidários, onde a política do "fuck you" defendida por Portas, parece ser aquilo que de melhor tem para apresentar. Mas enfim, é comum dizer-se que, cada país tem os políticos que merece, e nós não fugimos à sina. Mas este deserto de ideias, e golpes baixos, podem ter um efeito contra-producente. No fim-de-semana passado, José Miguel Júdice, conhecido jurista, um homem ligado à direita, escrevia isto: "...Tudo medido, e nesse pressuposto, vou dar o meu voto ao PS - pela primeira vez em eleições legislativas". Cada vez mais, a política é o emprego de quem não sabe fazer mais nada, não é já a comissão de serviço que era um dos indicadores nobres da democracia. Quanto actuais são as palavras de Albert Schweitzer, Prémio Novel da Paz em 1952 quando afirmava: "Eu não sei qual será o nosso destino, mas uma coisa eu sei: os únicos entre nós que serão realmente felizes são aqueles que procuraram e descobriram como servir". O que assistimos não é o servir o país e a sua população, mas o servir-se deles, causa menos nobre, e bem longe dos designos democráticos que defendiam os seus pioneiros. Desde logo, Sócrates (o filósofo!) e Platão, na longínqua Grécia Antiga. Mas enfim, depois de tudo isto, numa campanha suja e sórdida a que assistimos, fica pouco para além do ataque suez e maledicente. Tal não dignifica desde logo quem o faz, nem o(s) partido(s) a que pertence(m), e sobretudo, não dignifica a democracia. Independentemente de tudo isto, achamos que a campanha do CDS/PP foi a melhor. Com verbas reduzidas, os cartazes tinham frases curtas, mas cheias de significado, onde se encerravam as linhas força da campanha. Não tivesse sido Paulo Portas jornalista, ele que é o rei do "sound-bite", e apesar de tudo, o CDS/PP é concebido à sua imagem. Enquanto nos outros partidos se andam a negociar estratégias com facções internas, Paulo Portas não tem nada disso. Mas, apesar de tudo, quer gostemos ou não, o CDS/PP foi aquele que, no nosso entender, melhor apresentou as suas propostas. Veja-se o "marketing" político, onde o amarelo desaparece e o azul é mais suave, mais intimista. Estes são pequenos promenores que em política fazem a diferença. Mas eis-nos chegados ao período em que temos que decidir. Os "media" também têm a sua quota parte do não esclarecimento, porque isso não vende. Neste caso, recorro a Lipovetsky referência incontornável de quem reflecte sobre estes assuntos, diz ele: "... (Os "media") degradam a democracia, convertem a política em espectáculo, destacam os factos secundários, atentam contra a vida privada, fazem e desfazem arbitrariamente notoriedades, superficializam os espíritos...". Que retrato tão fino e actual sobre o que assistimos em Portugal. É com estas questões em mente que somos chamados a escolher uma nova Assembleia da República, não sei se todos os que se apresentam a sufrágio são dignos do nosso voto, mas não temos escolha. E a abstenção simboliza apenas a indiferença, não altera nada mais do que isso. E quando falamos de indiferença, vem-nos à memória o grande Garrett, que também se bateu, até de armas na mão, para que Portugal fosse livre, disse um dia que "o indiferentismo é o maior inimigo da liberdade".

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