Equivocos da democracia portuguesa - 9
Hoje venho a terreiro com a notícia do dia. Ontem, fez manchete nos "media" o cancelamento do "Jornal de Sexta" da TVI. Não sou um auditor da TVI, nem me revejo na sua linha editorial, contudo, é grave aquilo que se passou. Conforme parece estar confirmado pela administração da estação (PRISA), sediada em Madrid, foi de lá que terá partido a ordem, sem outro fundamento senão, aquele que uma administração em funções ache por conveniente, na estação que é a sua, inclusivé com o apoio dos accionistas. Contudo, não faltaram os golpes baixos, nomeadamente do PSD. Este partido que tantas telhas de vidro tem, passa a vida a atirar pedras ao telhado do vizinho. Aguiar Branco foi o porta-voz do dixote, esquecendo-se que ele, enquanto ministro da justiça, num governo PSD/CDS, viu o seu governo tudo fazer para afastar, também da TVI (que ironia!), um seu militante, tão destacado, quanto incómodo, que dá pelo nome de Marcelo Rebelo de Sousa. Não devemos apontar a terceiros atitudes, que poderão ser semelhantes aquelas que praticamos, sobretudo se não temos provas do que dizemos. Ainda por cima, criando um clima de suspeição, que é o que o PSD pretende, já que nada tem para apresentar ou dizer, aos eleitores. À falta de melhor, e porque não sabemos que fazer, enlameamos os nossos adversários. Não creio que o PS esteja envolvido, até porque ele seria a primeira vítima de si próprio, como estamos a ver, mesmo sem provas de coisa nenhuma. Mas para além disso, é o degradar da "coisa pública" que mais me preocupa. São atitudes como estas que afastam as pessoas da política, criam um mal-estar e uma desconfiança na classe política, que a ninguém interessa, desde logo, ao país. Ontem, já Pacheco Pereira, também destacado dirigente do PSD, ia dizendo que os eleitores estavam zangados com a classe política. Creio que ele não é o único a ver, embora seja o único, até agora, a colocar o dedo na ferida. Talvez seja bom ele influenciar o seu partido para não seguir por este caminho de lodo e lama, que à força de a querermos atirar a outros, acabamos, também, por nos sujar. A ERC, e muito bem, decidiu prontamente abrir um inquérito, o governo já desmentiu a sua influência nessa decisão, solicitando até, que fossem publicadas as "cachas" que a TVI diz ter sobre o caso Freeport. Nada é mais incómodo e perigoso do que a insinuação, por isso, acho que se têm algo a dizer que o digam desde logo, a menos que também queiram gerir um "tabú" muito em moda em alguns sectores políticos em Portugal. Contudo, a decisão da administração da TVI é grave, sobretudo pelo momento que escolhe, a três semanas das eleições legislativas, mas imagino um administrador em Madrid a achar que somos todos locos. Ele não compreenderá o burburinho, porque como é sabido, o alinhamento dos "media" com os partidos políticos é uma norma em Espanha, como noutros países, caso da França, da Bélgica ou da Inglaterra, mesmo dos EUA. Apesar disso, em Portugal não temos essa cultura, daí alguns dizerem que se trata dum atentado à liberdade de imprensa, vindo dum país estrangeiro. Esta é uma polémica que nos levará longe, que encherá os meios de comunicação, mas se calhar, a administração da TVI, sem que disso se apercebesse, até nos fez um favor em prol da sanidade mental dos portugueses. Mas ainda voltando à campanha eleitoral, verificamos que estamos a cair numa campanha "à americana", a campanha do "vale tudo", como já em tempos denunciamos. E isso, é que não estamos habituados, como referia ontem Mário Bettencourt Resende sub-director do DN. A baixa política pode trazer dividendos no imediato, mas a curto prazo, revelar-se-á muito nefasta, porque está a criar junto dos portugueses um sentimento de amargura que poderá ter repercussões nas urnas. Não esqueçamos as palavras de Manuel Pinho (mais uma vez) na sua despedida, quando dizia que Portugal estaria proventura a perder alguns bons políticos jovens e com outras ideias, porque cada vez mais os jovens se desinteressavam da política. É assim, que as democracias se degradam, é assim, que se criam situações que podem levar a simpatias por ideais mais perigosos como a História sobejamente nos mostra. Mais uma vez, vos lembro um livro que vos trouxe à algum tempo "As luzes brancas de Paris", leiam e reflictam, para que a História não se volte a repetir.
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