Equivocos da democracia portuguesa - 20
Terminadas as eleições à que retomar a normalidade possível - não nos esquecemos que existem eleições autárquicas dentro de duas semanas - porque o país o exige, e os problemas que temos que enfrentar são muitos e difíceis. Contudo, não queríamos deixar de fazer aqui um reparo ao que hoje se passou. O PS acabou por ganhar, como se esperava, numa campanha negra e suja, que foi, porventura, a pior desde o 25 de Abril de 1974. Os portugueses souberam responder aqueles que fizeram desta campanha um lodaçal, onde o golpe baixo, a intriga e a insinuação, foram palavras de ordem. José Sócrates, apesar de ter perdido a maioria absoluta, tem razões para estar satisfeito. Ele que foi alvo das campanhas mais sórdidas, que o tentaram envolver em suspeições, nunca confirmadas, acabou por resistir a tudo e a todos, e acabou por ganhar. Como dizia Marcelo Rebelo de Sousa, na quinta-feira passada, na RTP1, "estas eleições foram, para Sócrates o combate de uma vida", combate que travou e ganhou. No PSD já se começam a "afiar as facas", numa tradição incompreensível que faz escola em alguns dos nossos partidos, que é, líder que perde é substiuído, não dando espaço à consolidação de ideias e estratégias para o futuro. E o PSD nisso tem uma grande experiência, cinco líderes em cinco anos(!) diz tudo. Veja-se na vizinha Espanha, onde Mariano Rajoy que perdeu as eleições e continua a ser o líder do PP espanhol. Pensamos já ser tempo de olharmos para a política de maneira diferente daquela com que olhamos para os treinadores de futebol. Contudo, à que não esquecer que o PSD não apresentou nenhum programa credível, alimentou a sujeira que se viu, e no fim, acabou por ser vítima de si próprio e dum seu militante ilustre, Cavaco Silva, que apesar de tudo trouxe engulhos para o PSD. E nem a presença nos comícios, - os tais que não eram comícios - do director do Público, ajudou à festa, se calhar até veio ainda piorar tudo isto.O CDS/PP é, porventura, a força política que mais satisfeita tem que estar, porque cresceu muito, ultrapassando os 10%. Mais uma vez uma surpresa se analisarmos pela óptica das sondagens. É certo que, estamos seguros, o voto no CDS/PP foi um voto útil, e talvez um voto de protesto contra o PSD que, não apresentando propostas credíveis, acabou por muito tardiamente fazer apelo ao voto útil. O Bloco de Esquerda estará a viver um sentimento de confusão. A alegria de ter duplicado os seus deputados, em contraponto com a tristeza de não ter sido a terceira força política, como esperava ser. Embora, estamos certos, o fenómeno é idêntico ao do CDS/PP, porque parte da ala esquerda do PS, e não só, terá votado BE, quanto mais não seja como voto de protesto. O interessante será saber, se o BE e o CDS/PP, serão capazes de fixar este eleitorado. Temos algumas dúvidas que o consigam. O futuro o dirá. A CDU fixou o seu eleitorado, dentro daquilo que era já esperado, não havendo aqui nenhuma nota especial, a não ser, a passagem do terceiro para o quinto lugar, se é que isto pode ser medido desta maneira. Apesar das dificuldades, que a governação do país, irá apresentar daqui para a frente, pensamos que a melhor solução será a dum governo minoritário, que negociará as suas propostas com os diferentes partidos. Um governo de coligação parece-nos complicado, porque a fazer-se com um só partido, só será possível com o CDS/PP. Estamos convictos das profundas diferenças programáticas, e o CDS/PP, animado com estes resultados, iria impôr condições que seriam de todo inaceitáveis para o PS. Vamos aguardar para ver, o importante é que se resolvam estes problemas o quanto antes, porque o país não pode ficar mais tempo à espera, refém de estratégias partidárias, enquanto a situação na rua se agrava dia-a-dia. Assim, à que arregaçar as mangas e voltar ao trabalho quanto antes.
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