Turma Formadores Certform 66

Wednesday, September 30, 2009

Equivocos da democracia portuguesa - 21


E a montanha pariu um rato... Isto é o que nos apráz dizer depois de ter-mos ouvido, à minutos, a comunicação do Presidente da República. "E se pelo menos tivessemos entendido o que disse...!" Foi a síntese mais eloquente feita minutos após pelos "Gato Fedorento". Cavaco Silva prometeu muito e disse pouco. Disse e desdisse as mesmas coisas, as mesmas ideias, num discurso que ruçou o patético. Afinal ficamos a saber que as escutas nunca existiram. Já é alguma coisa. O que Cavaco não explica é o famoso e-mail que seria bom que ficasse esclarecido. Porque, a acreditarmos no que disse, o afastamento de Fernando Lima nada tem a ver com o e-mail, mas sim, porque falou em nome do Presidente e não estava autorizado para tal. Mas afinal, continua a trabalhar em Belém. Para citar Lampedusa "é preciso que algo mude, para que tudo fique na mesma". Mas que o e-mail existe é um facto. Então como aparece? O Público diz que havia uma pessoa (Fernando Lima) que teria dito que falava em nome do Presidente quando entregou o dossier a este jornal. (O próprio director do Público participou na campanha do PSD! É que, parafraseando Margarida Rebelo Pinto, "não há coincidências".) Afinal em que é que ficamos? Francisco Louçã num daqueles programas mais descontraídos da SIC sobre os políticos, já tinha afirmado que Fernando Lima estaria na génese de tudo isto. Será que Francisco Louçã, qual 007 do burgo, esteve a escutar a conversa atrás duma porta? Depois disto, ficamos ainda com mais questões, além daquelas que tínhamos e que permanecem. Manuel Alegre dizia à dias, que Cavaco era um "bom gestor do silêncio, mas que era altura de falar". Ficamos a saber hoje, que de facto, Cavaco gera bem o silêncio, mais do que a palavra. Temos a sensação de que se falou muito e não se disse nada, e que as razões deste mal-estar são outras. Na semana passada, Miguel Sousa Tavares dizia na TVI que "Cavaco ainda não tinha falado porque, segundo ele, não tinha nada para dizer". Palavras sábias que se vieram a confirmar hoje. Vimos uma unanimidade enorme entre os partidos e, sobretudo, entre os vários comentadores das mais variadas tendências, sobre o que Cavaco queria de facto dizer. Nalgumas coisas ele tem razão, desde logo no estatuto dos Açores, que quebrou a "cooperação institucional". Quanto aos assessores da presidência colaborarem na feitura do programa político do PSD - e já agora do CDS/PP na área da agricultura - nada tem de mal. São conhecidas as colaborações de assessores do então Presidente Mário Soares com o PS. Mas parece que foi isto, de facto, que irritou Cavaco. O homem dos "tabús", que está acima de qualquer suspeita, acabou por ver os seus próximos envolvidos em questões que ele não gostaria, e quiçá, não saberia que estavam a acontecer. Afirmar que ficou hoje a saber da existência de vulnerabilidades dos sistemas informáticos, pensamos que é pobre, e não dignifica quem faz este tipo de afirmações. Qualquer jovem sabe que os sistemas informáticos são todos vulneráveis, até os da Casa Branca. Pelos vistos, Cavaco não sabia... Mas ainda falta uma questão central em tudo isto, que é o "timing" da comunicação. Cavaco sempre disse que não queria interferir nas campanhas, e vai falar no arranque das autárquicas!!! Porque não falou à dezassete meses atrás? Porque ainda não tinha vindo a lume a questão, ou porque não sabia nada sobre isso? Porque não falou em Agosto, antes das legislativas, para que os votantes fossem a sufrágio esclarecidos sobre esta questão? Para não condicionar as eleições? Se sim, porque está a condicionar as autárquicas? Para ver se inverte a tendência de queda do PSD de Manuela Ferreira Leite, ou para manter MFL, um dos seus bastiões, à frente do PSD? Estas são interrogações com que ficamos, e que, pelos vistos, Marques Guedes do PSD deixou sibilinamente no ar, a quando da sua intervenção, à minutos. Cada vez mais, recordamos as palavras de Marco António Costa, que a seguir às legislativas dizia, que "era preciso limpar o PSD dos restos do cavaquismo e assumir um novo rumo". Penso que aqui está muita coisa dita, e vinda de dentro do próprio PSD. Não nos recordamos já, da troculência de Cavaco, Primeiro-Ministro, com Mário Soares, Presidente da República? E até, com o seu apoiante Ramalho Eanes? Mas nunca no tom que Cavaco usou. É questão para perguntamos, como alguns comentadores já fizeram, se terá Cavaco condições para continuar no cargo? Estará a altura do cargo depois do que disse, e como o disse? Depois de ouvirmos o Presidente da República algumas questões se nos colocam. Desde logo como vai conviver com o Governo, caso seja o PS a formá-lo, como é normal na nossa democracia, numa altura em que a figura do Presidente assume mais visibilidade face a um governo minoritário? Como vai gerir os inevitáveis conflitos que surgem, ele que quer aparecer como vítima? Não será que esta postura já indicia uma estratégia para uma futura reeleição? Afinal, quem estaria interessado em escutar Belém, quando os relatórios das "secretas", e não só, são enviados também ao Governo? Que interesse havia nisso, perante um presidente que não tem poderes, sendo pouco mais que uma figura representativa do Estado? Pensamos que este é o primeiro de muitos episódios a que vamos assistir. Hoje ficamos com a sensação de estarmos a viver, não num país europeu, mas num qualquer país latino-americano, onde tudo é possível. Ficamos com a sensação... mas se as coisas vão continuar neste tom, teremos mesmo a certeza de estarmos perante uma "república das bananas".

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