Equivocos da democracia portuguesa - 25
Terminou um ciclo eleitoral, longo de três eleições, e esperamos que a partir de agora estejam criadas as condições para que a poeira assente e nos concentremos nos problemas do país. Neste ciclo eleitoral houve um pouco de tudo, desde o caricato ao insólito, desde a agressão verbal à agressão física, enfim, algo que esperavamos que, após 35 anos de democracia, estivesse afastado do nosso seio. Desde logo, a agressão física ao Prof. Vital Moreira nas eleições europeias, por parte de elementos afectos ao PCP, numa atitude provocatória digna do PREC (processo revolucionário em curso). Depois nas legislativas, foi a agressão verbal muito forte, baixa e rasteira, digna duma américa-latina entre todos os partidos. "Sócrates é como um filho que mata os pais para se afirmar orfão" (MFL dixit). Foram afirmações como estas que descredibilizaram o PSD, desde logo a sua líder, que nunca soube a que ritmo andar, muito menos o que dizer, algo que, como já noutra ocasião afirmamos, nos deixou perplexos, visto Manuela Ferreira Leite já ter passado pelo governo, o que lhe daria uma "endourance" política que afinal não tem. Depois assistimos à maioria dos partidos, que em vez de apresentarem as suas propostas ao eleitorado, tiveram como objectivo último - como os próprios diziam -, retirar a maioria absoluta ao PS. Pobre argumento para quem não tem propostas, no mínimo credíveis, para apresentar ao eleitorado. Como também já o afirmamos, por diversas vezes, parece que voltamos aos tempos revolucionários de 1975, sendo que aí ainda havia a desculpa da falta de prática política democrática, mas agora, esse argumento já não colhe. Ainda a semana passada, ouvimos MFL dizer que "o PS não deve contar com o PSD para formar governo e aprovar propostas, que deve fazer acordos com aqueles que tinham por objectivo retirar-lhe a maioria absoluta". MFL continua a dar tiros no pé, mesmo depois de descredibilizada internamente. Longe vão os tempos de Mário Soares (PS) e Mota Pinto (PSD), em que o sentido de Estado era um facto, agora, nem acreditamos que MFL saiba o que isso significa. Mas não temos que nos preocupar com isso, restam-lhe apenas alguns meses à frente do PSD, enquanto as facas se afiam, como temos constatado nos meios de comunicação social, quase diariamente. Nas eleições autárquicas tivemos mais do mesmo, com a provocação de Isaltino Morais aos elementos do PS em Oeiras, ele que até está condenado, embora tenha apresentado recurso, mas continua a ser o "herói" para muita gente. Não deixa de ser sintomático que todos aqueles que foram indiciados pela justiça, acabem por ganhar folgadamente, enquanto outros, também independentes, mas que nunca tiveram a justiça na peugada, não o tenham conseguido. Parece que o lado "romântico" do meliante, do delinquente, acaba por fazer escola e por grangear simpatias. É caso para dizer, se quiserem ter visibilidade política, nada melhor, do que ter um "processozito" na justiça, para dar colorido. A eleição é certa. É a nossa veia latina, marialva e sub-desenvolvida no seu melhor. Até parece que estamos no país de Berlusconni, para não dizer na Madeira de Jardim, que inaugurou um novo estilo político, o da cacetada. Pelo meio, ainda tivemos as "trapalhadas" de Cavaco Silva, primeiro com o tristemente famoso discurso das "escutas" que afinal não o eram; depois com a não ida à Câmara de Lisboa nas comemorações da República; como se não bastasse, no dia seguinte, à que esclarecer o porquê de não ir, de ter feito um discurso em Belém - que dizia que não faria -, e não o ter feito na Câmara, e ainda a pseudo-perturbação das eleições autárquicas já perturbadas com o discurso inicial. Enfim, parece que o PR anda mal aconselhado. Será sina de alguns PSD's terem algum problema com o "sentido de Estado"? Aqui fica a questão, pelo menos para reflectirmos. Já sabemos que na nossa original democracia, não à derrotados, todos proclamam vitória, e regressam aos seus retiros satisfeitos. Mas depois de tudo isto, concentremo-nos no essencial, isto é, nos problemas do país que são muitos e graves. Esperemos que assim seja, e que o sentido de Estado e de responsabilidade das forças políticas, se concentre no essencial e deixe de lado o acessório. Os portugueses não iriam compreender se assim não fosse.
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