Equivocos da democracia portuguesa - 29
Temos vindo a assistir a uma degradação profunda do nosso sistema democrático duma maneira impensável desde à algum tempo a esta parte. Como já vimos alertando, a maneira como vimos assistindo áquilo que se vem passando no Portugal político toca as raias do impensável. Isto prende-se com a infeliz, grosseira e reles intervenção de Maria José Nogueira Pinto ontem na comissão de saúde. Todos sabemos que os apartes em política são comuns, gostemos deles ou não, para isso temos que ter a capacidade e poder de encaixe para estarmos nesses lugares. Acusar um deputado de "palhaço" é reles e ordinário, vindo de quem vem e, sobretudo, no local onde foram proferidos. Pensamos que estamos a assistir a uma degradação do debate político mais do que é admissível. Para além de "palhaço", Maria José Nogueira Pinto, ainda foi mais longe, e acusa o seu par de "inimputável". Como pode uma pessoa destas continuar no parlamento com atitudes dignas duma qualquer república latino-americana, bem longe duma democracia europeia? Todos nos lembramos da atitude que levou o ex-ministro da economia, Manuel Pinho, depois de achincalhado pelo deputado comunista Bernardino Soares. Só que na altura, todos acharam que o ministro devia demitir-se, ou ser demitido, pela atitude que tomou. E a senhora deputada - agora do PSD, amanhã não sabemos de que outro partido -, não devia ter tratamento semelhante? Ou os deputados estão acima, - melhor dizendo -, abaixo disso tudo? É certo que o seu opositor não foi mais brando, atitude que não dignifica o parlamento, nem a figura de deputado, que é sustentada por todos nós. Cremos que se está a criar uma espécie de governo parlamentar, cujo único objectivo é paralisar a política do país, ou quiçá, algo mais. Não nos esqueçamos, repetimos, de quem veio defender a "suspensão da democracia". O que não deixa de ser problemático, é que sempre que existem polémicas, há figuras do PSD envolvidas, mesmo, como neste caso, apenas mercenários que nada têm a ver com a social-democracia. Perante tudo isto, o Presidente da República faz de conta que não vê, não ouve, nada é com ele, não vindo a terreiro tomar posição, escusando-se quando interpelado, como aconteceu ontem, refugiando-se no seu palácio. Perguntamos se incomodado, ou conivente, com o que se está a passar. E a pergunta é tanto mais pertinente, quando ele também, é militante do PSD. Não temos nada contra o PSD, mas sim, a ver um partido de alternância governativa, mergulhado neste lodaçal em que parece estar e sem vontade, ou força, para dele sair. As últimas sondagens da Universidade Católica dão-nos bem a ideia daquilo que pensam os portugueses de tudo isto, e da política. O que fica cada vez mais claro, derivando dessa sondagem, é que os portugueses começam a ver que não existe alternantiva política ao actual governo, continuando a dar-lhe a maioria, enquanto o PSD se vai paulatinamente afundando. Será que o PSD está a optar - tal como as baleias - por uma suicídio colectivo? Francisco Pinto Balsemão já o foi insinuando, mas a cegueira política parece que não deixa ver para além da ponta do nariz. É pena, e assim vai a nossa democracia, não sabemos até quando.
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