Equivocos da democracia portuguesa - 35
Ontem realizou-se a abertura do ano judicial. Como habitualmente, um grande número de personalidades acorreu ao evento. Cavaco Silva foi um deles, e fez segundo nós, um dos mais bem conseguidos discursos sobre a justiça em Portugal. Cavaco foi duma contundência pouco habitual. Acusou, e muito bem, em nosso entender, os legisladores, que fazem leis apenas por interesse conjuntural, inteligíveis para a maioria dos cidadãos, muitas vezes motivadas por interesses políticos. Disparou em muitas e variadas direcções, não deixando ninguém de fora. Os representantes dos sindicatos, - quer dos juízes, quer dos magistrados do Ministério Público, - lá enfiaram o barrete, e até disseram - brada aos céus - que ele tinha razão e denotava um profundo conhecimento da situação. Esses senhores, eles mesmos, que grosseiramente, disseram não ter ouvido o discurso do bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto. Basicamente as acusações não eram muito diferentes, mas era difícil dizerem o mesmo do Presidente da República. Esses representantes sindicais que deveriam estar calados, visto os sindicatos terem, eles mesmo, contribuído para esta confusão. Há sectores em que não concordamos com a existência de sindicatos, desde logo os juízes, procuradores, polícias e forças armadas. Estes são sectores que deveriam (deverão) estar acima de jogos rasteiros e politiquices baratas. Mas não é assim, e os portugueses sentem na pele uma justiça que não funciona, quando funciona é tardia, onde os julgamentos são feitos na praça pública, nos "média", onde criminosos são presos e libertados de seguida, mesmo em frente às autoridades que os deteviram, apenas alguns, com termo de identidade e residência, porque não existe nenhum grau mais leve. Marinho Pinto colocou o dedo na ferida, que vem incomodando muita gente, caso da questão do segredo de justiça, "que é uma farsa", segundo ele. De facto, não se percebe como as notícias saem, cirurgicamente, em determinados momentos. Como aparecem inclusivé, no You Tube, como aconteceu recentemente, e no fim, ninguém é culpado. As informações sairam sozinhas!!!. Os portugueses são tratados como criaturas menores, como inépcios, face aos rebuscados caminhos da justiça. Culpados nunca existem, sobretudo, se são gente poderosa, enquanto um pequeno delinquente que muitas vezes rouba para comer é condenado com pesada pena. Nem na Roma antiga se foi tão atribilionário. Leia-se Séneca e Cícero, talvez encontremos lá alguma coisa útil. No entretanto, os portugueses só não riem de tudo isto, porque o assunto é demasiado sério, e cada vez mais optam pela justiça pelas próprias mãos; e, no exterior, é o descrédito. Cada vez mais somos olhados como um país menor, um país periférico, que se vai afastando da grande roda dos países civilizados. Não pensem que é só pela economia. E ainda dizem que o Haiti não tem estruturas? E nós, temos?...
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