Uma estória triste
No domingo passado, tive uma tarde e fim de dia muito tristes. Perto do local onde vivo, existe uma família que tinha um cachorro. Essa família já teve vários ao longo da vida sem problema algum. Este estava preso com um cadeado curto em condições precárias. No domingo passado, por volta das 13,30 horas, o cachorro ferrou no "dono". Há quem diga que este lhe bateu - ou pelo menos tentou - pela sensação de desespero do animal que era audível. O "dono" foi para o hospital, o cachorro foi levado para o canil. O "dono" regressará, o cachorro não. É a lei do nosso triste país, sem que alguém avergoe o que de facto se passou. Mais um outro caso semelhante ao do Zico. Uma estória que se vai repetindo pelo nosso país fora. Até quando permitiremos que pessoas tenham cães em condições precárias que lhes vai aumentando o sentimento de revolta? "O desenvolvimento dum país prende-se também com a maneira como trata os seus animais" afirmava Ghandi. Por isso, somos o que somos e isto não tem nada a ver com a crise. Mas eu queria saber mais sobre este caso. Vi-a da minha casa que ele fazia a todo o momento uma busca pelo alimento. Vim a saber que o pobre animal passava muita fome e sede. Aliás, ouvia-se o arrastar dos recipientes de comida em busca de algo para comer. Um vizinho é que lhe arranjava de comer e foi esse vizinho que no passado domingo lá foi dar-lhe um saco de comida. O "dono" apareceu para rasgar o saco - que o cão já tinha rasgado - e, apesar dos avisos do vizinho, insistiu em ir fazê-lo. O cão pensou que lhe ia tirar a comida e atacou. Mesmo ferido, este energúmeno ainda foi a casa buscar uma faca que cravou no focinho do cão. (É ainda hoje visível a quantidade de sangue no passeio do pobre animal). O "dono" veio ontem do hospital depois de tratado aos ferimentos nas mãos e nos pés, o cão muito ferido aguarda o seu fim anunciado. (No momento que escrevo neste espaço ele já deve ter sido abatido por ir para além das 48 após o incidente). O vizinho que levou o comer ao cão assume que a culpa foi do "dono". Mas em Portugal o criminoso é sempre o animal. Ninguém quer saber o que se passou, apenas abatem o cão. Este é o nosso miserável país, com leis impróprias duma sociedade civilizada e evoluída. Num povo estupidificado por crendices e futebol este é o país que somos. O nosso país não cuida, não protege, por isso, somos o que somos, um dos últimos da velha Europa. Contudo, e neste caso, espero que o jovem cachorro - tinha apenas 2 anos - tenha já sido abatido, visto o estado de sofrimento em que estava depois de esfaqueado. A morte será para ele uma libertação. Como anunciei num outro espaço, peço a quem ler estas linhas que dedique uns segundos do vosso dia à memória de mais esta vítima da ignomínia humana. Especialmente àqueles que, como eu, se revêm na proteção dos animais. Que na hora derradeira ele tenha tido uma mão que o tenha auxiliado a passar a ponte de arco-íris e que agora, finalmente liberto, corra alegre e feliz por prados floridos. Não sei sequer se tinha nome, - talvez o "dono" não lhe tivesse dado sequer essa dignidade -, mas sei que era um sofredor desde que veio para esta casa ainda bebé. Tinha cerca de dois anos - como já atrás fiz referência - e uma vida pela frente. Mas dado o sofrimento em que estava, melhor que ela lhe tenha sido encurtada, com vista à sua própria redenção. Sobre o "dono" - as aspas que venho usando não são por acaso - não farei quaisquer comentários, mas o que tenho escrito sobre ele diz bem daquilo que penso... Por isso, só hoje resolvi trazer a este espaço esta crónica, pelo que este caso me tem trazido de sofrimento nos últimos dias, e também, por uma foto que me tocou sobremaneira e que aqui reproduzo para ilustrar estas minhas palavras. Pelo seu simbolismo acho que é apropriado trazê-la aqui uma vez
mais. Trata-se duma foto de Jorge Mario Bergoglio, o atual Papa Francisco, que
honrando o nome que adotou como papa em homenagem a S. Francisco de Assis, se
curva perante um cão. Se S. Francisco aqui estivesse certamente faria o mesmo.
Este santo que para muitos foi/é um “santo ecológico”, defensor dos animais e
da natureza que tanto prezava. (Valores que pretendo transmitir à minha
afilhada Inês, e se ela os apreender já partirei descansado, com o sentimento do
dever cumprido quando os meus dias se esgotarem, para além do amor
incondicional que lhe tenho). Gesto simples este, como o são os do Papa
Francisco, mas com um profundo simbolismo. Nesta imagem quero aqui homenagear
todos os animais que morreram, agonizam ou simplesmente aguardam a hora
derradeira no corredor da morte. Nestes dias em que tenho vivido com o coração
apertado é, sem sombra de dúvida, uma imagem redentora. Nela também quero
homenagear todos os animais que povoam este nosso planeta, que coloram as
nossas vidas, neste mundo desalinhado em que vivemos. Poucos se lembram deles,
mas eles são importantes para a vida e já cá andavam muito antes de nós
chegarmos a este planeta belo que o ser humano – felizmente nem todos –
transformamos num mundo de ódios, de invejas, de guerras fratricidas, de
incompreensões, sentimentos baixos que um animal não é capaz de ter porque simplesmente é
muito mais perfeito. Dia após dia o Homem vai erigindo um totem à sua própria
estupidez. Falta saber até quando!...
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