Turma Formadores Certform 66

Friday, January 29, 2010

Equivocos da democracia portuguesa - 36

Ontem, a revista Visão publicou uma extensa entrevista com o empresário Belmiro de Azevedo. Nela, o empresário nortenho, espalhou críticas a torto e a direito sobre tudo e todos. Apelidou Cavaco de ditador, por ter despedido quatro ministro que, segundo ele, eram os melhores e seus amigos pessoais, Sócrates é acusado de lhe telefonar muitas vezes e mandar telefonar outras tantas. Mas convenhamos que, gostemos ou não de Belmiro de Azevedo, ele não deixa de ter razão em algumas das críticas que faz. Que Cavaco é um autoritário, todos o sabemos, basta olharmos para os anos em que foi primeiro-ministro; se Sócrates lhe telefona não sabemos bem a razão, mas que estamos num momento em que a democracia pode ser aprofundada, lá isso estamos. Os governos de maioria têm o condão de serem mais estáveis mas, como vimos, têm o outro lado, o de serem arrogantes e autoritários. Mesmo os de bloco central que, ainda segundo o empresário, é "uma ditadura a dois". Já neste espaço falamos sobre os governos de maioria e, como se devem lembrar, ficamos sempre entre o jogar entre a estabilidade - governo maioritário - ou, o aprofundamento da democracia - governo minoritário - com uma intervenção maior do parlamento. Mas Belmiro Azevedo, embora sendo um empresário muito independente, não pode deixar de se lembrar que no início do Grupo Sonae, beneficiou e muito do poder político que muito o apoiou, desde logo, Mário Soares. Mas Belmiro de Azevedo também não se pode esquecer do que se passa entre portas. Todos sabemos como gere o seu grupo com mão de ferro e, embora retirado, não deixa, mesmo assim, de transmitir muito receio aos seus colabores. Admiramos muito o grande empresário que é Belmiro de Azevedo, mas nunca quisemos trabalhar com ele, apesar dos convites que nos foram endereçados. É que entre a "praxis" e o discurso vai ainda uma grande distância. Sabemos que Belmiro de Azevedo é um homem desassombrado, que pode dizer tudo o que quiser porque, para além da sua independência, está acima dos favores de quem quer que seja e detém um império e uma fortuna pessoal que o coloca numa situação privilegiada. Contudo, o seu discurso sempre cáustico, tem o condão de agitar as águas e pôr toda a gente a comentar as suas declarações, como aconteceu ontem e, certamente, continuará nos próximos dias. Mas apesar disso, achamos que, dado o clima de crispação existente na sociedade portuguesa, talvez não fosse de todo mau haver mais algum tempero naquilo que se diz, sobretudo, quando quem o diz, sabe que é escutado por todos. O presidente da CIP optou por esta linha que pensamos ser razoável, mesmo que a CIP, ela mesma, não tenha escapado ao discurso ácido do empresário nortenho. Apesar de tudo, achamos que muitas vezes é necessário este desempoeiramento da nossa vida pública, para que percamos um pouco de tempo a olhar para aquilo que somos e aquilo que queremos ser no futuro. Mas não deixemos de reflectir numa questão que Belmiro Azevedo disse, que são necessários "melhores e maiores salários" para motivar os trabalhadores. Sabemos que no seu grupo nem sempre é assim, mas esta é uma visão Keynesiana que é interessante explorar, sobretudo num momento em que tanto se fala de Keynes e tão poucos o conhecem verdadeiramente.

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