Turma Formadores Certform 66

Thursday, February 04, 2010

Equivocos da democracia portuguesa - 38


A nossa democracia e os nossos políticos não deixam de nos surpreender. Como se isso não bastasse, agora são os jornalistas que fazem a manchete. Isto tem a ver com o caso "Mário Crespo". Ninguém nega ao jornalista as suas qualidades, mas por vezes, pensamos que vai muito para além do razoável, sabendo que tem nas mãos um poder imenso que não é praticamente controlado. Isto não se aplica só ao jornalista da SIC, visto haverem muitos outros a fazer coisas verdadeiramente execrandas todos os dias. Nós que até somos admiradores de Mário Crespo e vemos religiosamente o seu "Jornal das Nove", temos assistido a entrevistas verdadeiramente demolidoras, para não dizermos outra coisa, efectuadas sobretudo, a membros do governo. Sabemos que Mário Crespo tem alguns assuntos não resolvidos quando foi "despejado" da RTP, feridas que pelos vistos ainda não sararam, se é que vão sarar alguma vez. Já o vimos entrevistar membros de outros governos sem a sanha avassaladora que ele tem posto em relação aos membros do anterior e actual executivos. Seria bom lembrar o mirabolante governo de Santana Lopes que foi criticado por todos os quadrantes, e nunca assistimos a nada que se parecesse. Quanto a Medina Carreira, que é um brilhante fiscalista, que até já foi ministro de governos PS, mas ultimamente tem aparecido com um discurso que não o credibiliza de todo. Será que será amargura por não ter sido convidado para ministro? Mas ainda voltando a Mário Crespo, que em tudo isto tomou uma posição sibilina, não deixa de ser estranho que o seu director Nuno Santos tenha vindo ontem a público dizer que as coisas não aconteceram exactamente como o seu jornalista as disse. Todos sabemos que José Sócrates tem, por vezes, alguns tiques autoritários, mas também temos que considerar que uma pessoa como ele, que tem sentido na pele uma perseguição implacável, apenas e só, porque abalou o "status quo" de algumas corporações, não é fácil resistir a tanta pressão. Sem o querermos justificar, até porque não conhecemos a fundo o problema, achamos que estamos perante mais uma tentativa de atentado à imagem, que se tem vindo a repetir desde à cinco anos. Neste assunto, como o conhecemos, fez-nos lembrar o regime anterior, onde uma simples conversa de café, por mais inocente que fosse, levava à prisão e ao degredo, por vezes até, à morte. Pensavamos que esses tempos já tinham passado, pelos vistos não, parece até que há quem os tente ressuscitar de novo. Mas esta semana tem sido fértil em acontecimentos que vão muito para além destes pequenos problemas. Desde logo, a discussão da Lei das Finanças Regionais. É do conhecimento público que a Madeira tem ultrapassado desavergonhadamente todos os limites de endividamento, e cada vez mais reivindica mais e mais dinheiro. O despesismo de Alberto João é conhecido de todos, mas isso não significa que venha a todo o momento pedir aos contribuintes do Continente - ele que tanto diz desprezar o Continente - para financiar as suas extravagâncias. Somos dos que achamos que a lei deveria ficar como está, embora saibamos bem, que os arranjos políticos não são assim tão cristalinos. E depois da convocação do Conselho de Estado pelo Presidente da República, parece que a tempestade amainou um pouco. Achamos que Cavaco Silva esteve bem, antecipando o Conselho, para evitar uma crise política que a ninguém interessava, desde logo, ao país. Mas os equívocos vão mais longe, tendo três deputados do PS apresentado um execrando projecto de publicação na internet dos rendimentos dos contribuintes. É inadmissível esta situação de "voyeurismo" fiscal como já alguém lhe chamou. Estamos profundamente contra esse projecto de lei, e parece que os três deputados estão isolados mesmo no seio do grupo parlamentar, a acreditar nas declarações do seu líder parlamentar, Francisco Assis. Lamentamos ver o deputado Afonso Candal, filho dum grande socialista e advogado de Aveiro, Carlos Candal já falecido, associado a este projecto de lei. Seu pai deve estar a revolver-se no túmulo com tudo isto. Mas, como diz o povo, no melhor pano cai a nódoa. Só nos resta esperar que esta semana que tem sido muito agitada, venha a acalmar, e que se busquem os consensos que melhor sirvam o país e a liberdade dos cidadãos.

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