Equivocos da democracia portuguesa - 43
As últimas semanas têm sido férteis em acontecimentos, e esta, que ora termina também não deixa de o ser, e logo pelas piores razões. Desde logo, pelo alarde feito por Paulo Rangel em Bruxelas sobre a falta de liberdade de expressão em Portugal. Foi algo que muito humilhou o nosso país, logo num momento em que, por outras razões, o nosso país está sobre observação internacional, como é do conhecimento geral. Mas a afirmação tinha tanto de despropositado como de misterioso, tendo criado um certo desconforto mesmo nas hostes do PSD. A razão disto veio a lume um pouco mais tarde, é que Paulo Rangel, se preparava para anunciar a sua candidatura à liderança do PSD. E para estes políticos tudo vale, nem que seja afundar num atoleiro o nome do seu próprio país. Esperamos que os militantes do seu partido lhe dêem a resposta que ele merece. Ele que tanto atacou os outros candidatos, como foi o caso do Prof. Vital Moreira, dizendo que este não iria cumprir o seu mandato até ao fim, e ele só tinha o pensamento em Bruxelas. Que baixeza, e ainda têm coragem de chamar mentiroso ao primeiro-ministro. Mas como se isto já não fosse suficientemente grave para a imagem de Portugal, começou a verificar-se nos meios de comunicação a criação dum facto político, eles - os jornalistas - que tão bem sabem como fazê-lo, em torno, mais uma vez da falta de liberdade de expressão em Portugal. A bandeira desta vez, foi o semanário Sol, que publicou uma alegadas escutas que deveriam ser do foro privado, conforme a determinação dos tribunais. Mas aos tribunais e à justiça ninguém liga - ou melhor dizendo - os poderosos destes país nem lhe "passam cartão". E assim, depois dum rocambolesco episódio para a entrega duma providência cautelar, o jornal lá foi para as bancas com a manchete de "O Polvo". O argumento foi que não receberam qualquer providência cautelar a tempo, depois daquilo que as televisões tinham mostrado no dia anterior. Analisamos esta questão. Se a providência cautelar fosse dirigida a qualquer de nós - cidadão comum - e se por qualquer motivo tivéssemos entrado no jogo ignóbil que vimos ontem, já tínhamos à porta, em casa ou noutro sítio qualquer, um batalhão de polícias, normalmente fortemente armados e, se possível, encapuçados para dar um ar mais dramático - e sempre fica bem na televisão - mas se por acaso, ainda assim, tivéssemos publicado o que quer que fosse, arriscaríamos a prisão imediata, a apresentação a um juíz que decerto não aplicaria o termo de "identidade e residência" mas sim a "prisão preventiva", dado o perigo que esse cidadão representaria para a comunidade. Esta é a justiça que condenamos, esta é a justiça que não queremos em Portugal e que a todos envergonha. Ontem, aproveitaram as cenas rocambolescas da providência cautelar, e entrevistaram o presidente do sindicato dos magistrados do ministério público. Ele que é sempre tão firme quando se trata de atacar terceiros, - leia-se o governo, - acabou por dizer, por trás dum sorriso cúmplice, que as leis são para se cumprir. Estas pessoas que se encostam aos sindicatos para nada fazer e viver à custa deles - e sabemos bem do que falamos, porque já negociamos com vários - terão que ter a consciência de que têm contribuído e muito, para a degradação da justiça. Como um conhecido sociólogo - António Barreto - afirmava à dias na rádio, "o sindicato dos professores tem ajudado a criar uma imagem negativa dos professores, sendo um motor de degradação dos professores, da escola, em suma, do ensino". Já por várias vezes afirmamos neste espaço que, somos claramente contra os sindicatos em alguns tipos de classes profissionais, como a polícia, forças armadas, justiça, bombeiros. Não pensem que somos contra os sindicatos "in liminé", não se trata disso, mas existem corporações onde o trabalho que desempenham é mais nefasto do que benéfico. Esta é a imagem triste que Portugal está a dar ao mundo, e à Europa, à qual pertence. Há assuntos que, como nas famílias, devem ser dirimidos entre portas e não na praça pública. Quando se ataca um governo e um primeiro-ministro despudoradamente como tem acontecido com Sócrates, sem que até à data nada tenha sido provado, é um suicídio, desde logo para o país que devia estar concentrado na resolução dos seus graves problemas e atrair sobre si as atenções do mundo por outros motivos mais convenientes. Temos dificuldade em perceber que, um único homem, tenha concentrado em si, em determinado momento, todo o mal do mundo. O que está a acontecer é que aqueles que, apesar do que têm feito contra ele, não o conseguiram derrubar, o povo volto a confiar nele, e agora querem tentar ganhar fora da refrega eleitoral aquilo que não o conseguiram em eleições livres e democráticas. Ontem vimos Mário Crespo, na apresentação do seu último livro de crónicas, de braço dado com Manuela Moura Guedes. Que amigos que eles são!!! Quem os viu e quem os vê... Será que o Sol até tem razão quando fala do polvo. O que falta é pôr os nomes aos tentáculos, e pelo que vemos, até nem é difícil, embora possa não ser conveniente.
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