
Crónica satírica: “A Nova Constituição Chegana – escrita à cabeçada” (versão revista)
Então é assim, meus caros: o grande pensador da legalidade democrática — Dr.
André Ventura, presidente, moralista, tele-justiceiro e especialista em direito constitucional de algibeira — veio agora acusar Jorge Miranda de ser “esquerdelho” e agente da seita Woke™.
Sim, Jorge Miranda. Aquele senhor que praticamente ajudou a fundar o edifício constitucional português — agora é descrito como uma espécie de woke infiltrado do PCP ou do Bloco de Esquerda, com missões secretas para minar os valores sagrados da família tradicional e da tourada.
E o plano maquiavélico, segundo Ventura, já está a ser cozinhado nas traseiras da República: a LIS (Lista da Iniciativa Socialista), em conluio com o PS, o PSD e o próprio Chega (isto é o plot twist), vão todos juntos escrever uma nova Constituição.
Sim, senhoras e senhores: basta, diz Ventura, prometer um “taxinho” ao PS — quem nunca trocou um lugar na CP por uma reescrita integral da Lei Fundamental, não é?
E assim nasce a ideia luminosa:

A Constituição Chegana
Escrita à pressa num café de Loures, entre um galão e uma tosta mista, com supervisão direta de um senhor de bigode a gritar “ordem!” de meia em meia hora.
Os direitos sociais são opcionais e só válidos com certificado de bom comportamento.
A liberdade de expressão termina onde começa a primeira piada sobre o Chega.
A habitação pública transforma-se num parque temático chamado “Bairro Limpo”.
O artigo 13º sobre igualdade passa a dizer: “Todos são iguais, mas uns são mais portugueses que outros.”
E quem discordar desta epifania constitucional? Cabeçada.
Com jurisprudência recente.
Com selo de Loures.
Com aplauso matinal nas redes sociais.

Epílogo: Um chá de realidade
E o povo, entre indignado e anestesiado, assiste a este teatro com um misto de medo e resignação. Porque, como sempre, Ventura não está a falar de leis. Está a fazer aquilo que faz melhor: ruído, divisão, espetáculo, e acima de tudo, oportunismo.
Mas deixemo-lo sonhar com a sua Constituição Chegana.
Com capítulos escritos em letras maiúsculas e subtítulos como:
“Dos bons costumes”,
“Das marchas de apoio à autoridade”
e “Do banimento da ideologia do género, da liberdade de consciência e de qualquer ideia estrangeirada.”
Enquanto isso, os que ainda pensam, lutam, resistem — seguem a lembrar que uma Constituição não é um panfleto eleitoral. É um contrato coletivo. E não se rasga por birra.

Título: “A Nova Constituição Chegana – Redação em Curso”
(Ecrã negro. Letreiro em branco surge com música épica de fundo tipo trailer de filme político)

“Em 2026, a democracia portuguesa enfrenta o seu maior desafio: a criação de… uma nova Constituição. Chegana. Sem direitos, mas com muitas opiniões.”

Narração (voz grave e solene):
“Lisboa. Edifício secreto. Sala B-33. A Comissão Redatora da Nova Constituição reúne-se pela primeira vez. O futuro do país está nas mãos de… bem, das mãos erradas.”

Cena 1: Reunião da Comissão Redatora Chegana
Mesa oval. Atrás dela:
André Ventura, com uma Constituição antiga rasgada em cima da secretária e um megafone.
Miguel Sousa Tavares, com um copo de vinho e ar de quem está ali só para se ouvir a si mesmo.
Cristina Ferreira, com caderno cor-de-rosa, pronta para “dar um toque humano à nova Constituição”.
Comentador random da CMTV, em direto, porque isto é transparência democrática.

Diálogo (ficcional e satírico):
Ventura:
“Proposta para o Artigo 1º: Portugal é um país sério. Quem não gostar, pode apanhar o avião.”
“Proponho que se retirem todas as referências a direitos sociais. São um excesso de 1976. E que se reinstaure o latim. Para dar classe.”
“Acho que devíamos ter um artigo sobre autoestima nacional. Tipo, ‘todo o português tem direito a sentir-se incrível’. Podemos até criar o Dia da Autoestima Constitucional.”
“Breaking news: Ventura quer substituir o Tribunal Constitucional por um grupo de senhores no Facebook.”
“Sim, e o novo preâmbulo da Constituição começa assim: ‘Em nome da ordem, da autoridade e do bacalhau com grão…’”

Narração:
“A Constituição Chegana vai mais longe: exclui minorias, privatiza o oxigénio e define o fado como religião oficial.”

Cena final: Apresentação ao público
Cristina Ferreira apresenta em direto na TVI:
“Hoje estreia-se a nova Constituição portuguesa — mais simples, mais firme e com receitas de família no anexo.”
“É a Constituição mais bonita que já vi. Tem muito de mim. E pouco de Jorge Miranda, graças a Deus.”

Encerramento – Letreiro:

“A Nova Constituição Chegana: escrita à pressa, assinada em direto, revogada à primeira crítica.”

“Este programa foi aprovado por 12 mil bots e 3 comentadores indignados. Qualquer semelhança com a realidade… é pura coincidência. Ou talvez não.”