Turma Formadores Certform 66

Tuesday, October 31, 2017

Intimidades reflexivas - 1119

"Cozinhar é o mais privado e arriscado acto. No alimento se coloca ternura ou ódio. Na panela se verte tempero ou veneno. Cozinhar não é serviço. Cozinhar é um modo de amar os outros." - Mia Couto

E viva o Halloween!...

Esta festividade de índole pagã acabou por entrar no nosso léxico desde há uns anos para cá, fruto da tradicional importação de hábitos e costumes doutras paragens. O Halloween (dia das Bruxas por cá) celebra-se sempre antes do dia de Todos os Santos da liturgia cristã. Acredita-se que muitas das tradições do Halloween originaram-se do antigo festival celta da colheita, o 'Samhain', e que esta festividade gaélica foi cristianizada pela Igreja primitiva. (Embora a Igreja tenha uma leitura bem diferente na atualidade). O 'Samhain' - bem como outras festas - também podem ter tido raízes pagãs. Alguns, no entanto, apoiam a visão de que o Halloween começou independentemente do 'Samhain' e tem raízes cristãs, algo que não está demonstrado de todo. De qualquer modo, esse rito tem a ver com a tradicional travessura pelas crianças e recolha de doces juntos das pessoas que são abordadas, numa tradição ritualizada, sobretudo, nos EUA, e que tem um impacto bem maior do que o próprio Natal. Por cá, e incentivado até nas escolas, os mais pequenitos lá vêm com os seus trajos 'horrendos' assustar a vizinhança, sempre na expectativa de receberem as costumeiras guloseimas. E assim se vão fundindo culturas, que atravessaram os oceanos e que regressam bastante mais fortes e mais alargadas. Isto também é uma consequência da chamada globalização! Mas deixe-mo-nos de teorias e vamos mas é divertir-mo-nos com o Halloween.

Monday, October 30, 2017

Intimidades reflexivas - 1118

"Ninguém tira um pedaço de uma roupa nova para a coser em roupa velha, pois romperá a nova e o remendo não condiz com a velha. E ninguém deita vinho novo em odres velhos; de outra sorte o vinho novo romperá os odres, e entornar-se-á o vinho, e os odres se estragarão; Mas o vinho novo deve deitar-se em odres novos, e ambos juntamente se conservarão. E ninguém tendo bebido o velho quer logo o novo, porque diz: Melhor é o velho." - Excerto do Capítulo 5, do evangelho segundo São Lucas.

Sunday, October 29, 2017

Intimidades reflexivas - 1117

"... mais vale ser criança que querer compreender o mundo." - Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa (1890-1935), in 'Sou eu'.

Não havia nada!...

Quando cheguei ao abrigo não havia nada! (Ver foto). A gata já lá estava à minha espera. Afinal já era mais tarde para ela. Abasteci as taças e ela quase que não me deixava fazê-lo. Estava esfomeada. Logo foi comer com avidez. Quando de lá saí ainda ela comida. Antes, e como é habitual, passei no lavrador. O Repinhas não apareceu como de costume. Achei estranho e fiquei preocupado. Mas quando saí do carro logo o vi deitado ao lado de um outro. Chamei-o e ele logo veio. Correu para mim com satisfação. Comeu a costumeira caixa de paté. Não quis mais nada. Foi embora para junto dos seus amigos. Este dois já têm algum coisa. O siamês não o vi. Nem sei se ainda anda por lá.

Repinhas - Uma saga sem fim

Queria agradecer a todas as pessoas que desde ontem se interessaram pela situação do Repinhas. Moro bastante longe do local, e não consegui reunir os consensos necessários para alterar esta situação. Ele ficará entregue à sua sorte, (embora o continue a alimentar sempre que possa), como até aqui tem acontecido, e só espero que não tenha uma morte horrível num canil onde entrará cheio de medo. Com a idade que tem será esse o destino: a morte certa. Encerro aqui este assunto. Não voltarei a falar dele, reservando-me esse direito, - e se assim o entender -, para o dia em que souber que ele já não está entre nós. Até lá nada mais direi, nem me envolverei neste caso. O destino parece que assim o quer e nada posso fazer para o alterar. Isso não significa que não envie aqui, (de novo), os meus mais sinceros agradecimentos a todos os que tentaram de algum modo solidarizar-se com este caso. Um sincero e profundo muito obrigado bem lá do fundo do coração. Bem hajam.

Saturday, October 28, 2017

Mudança da hora

Em conformidade com a legislação, a hora legal em Portugal continental: será atrasada 60 minutos às 2 horas de tempo legal (1 hora UTC) do dia 29 de Outubro. Na Região Autónoma da Madeira será também atrasada 60 minutos às 2 horas de tempo legal (1 hora UTC) do dia 29 de Outubro. Na  Região Autónoma dos Açores o mesmo sucedendo, isto é, será atrasada 60 minutos à 1 hora de tempo legal (1 hora UTC) do dia 29 de Outubro. Entramos assim, oficialmente, no chamado horário de inverno.

O último abencerragem

Este é o Repinhas, o último cão da chamada matilha de Rio Tinto. Apesar de ter tentado durante anos a sua adoção, nunca tal veio a acontecer. O Repinhas deixou o local onde nasceu e viveu durante anos e trocou-o por um lavrador das proximidades onde ele tem a companhia de outros animais. Sente-se feliz ao que parece, mas o senhor que detém o espaço, quer ver-se livre dele. Tem ameaçado chamar o canil. Nem sei se já o fez entretanto. Sempre que vou ao abrigo, passo neste espaço. Mesmo de noite, logo o Repinhas vem ter comigo. Vê-se que não tem fome, mas come qualquer coisa mais por gulodice ou para ser simpático para comigo, embora ache que ele me vem cumprimentar. Se até hoje não foi adotado, agora será difícil. O Repinhas terá próximo de 14 anos, mas ainda com muita agilidade. Será que alguém estaria disponível para lhe dar um fim de vida digno? Ele precisa de ter espaço. É um cão de liberdade, afinal foi sempre assim que viveu. Fica aqui o apelo, um entre muitos outros, que fiz durante anos. Se alguém puder e quiser, aqui fica. Obrigado.

Dentro da normalidade!...

Fui ao lavrador ver o Repinhas. Ainda noite, mas ele logo apareceu. Comeu a caixa do paté e nada mais quis. Depois dirigi-me ao abrigo. Tudo estava normal. (Ver foto). Quase nenhuma ração de cão e alguma de gato. Abasteci as taças e logo a gata apareceu. O siamês não o vi. Vim-me embora ainda com noite. A gata ficou a comer. Ela e o Repinhas já têm alguma coisa no estômago por hoje.

Friday, October 27, 2017

Intimidades reflexivas - 1116

"A história ver-me-á com bons olhos, pois tenciono escrevê-la." - Winston Churchill (1874-1965)

Descanse em paz, Dr. Renato Arantes!

Fui agora surpreendido com a notícia do falecimento do meu amigo, Dr. Renato Arantes. Já aqui falei deste grande homem neste espaço. O Dr. Arantes era médico patologista no hospital central do Rio de Janeiro. Conheci-o à muitos anos em Genève, na Suíça. Fizemos amizade e com ele viajei por muitos continentes. O Dr. Arantes era um excelente conversador, homem de trato fácil, piada a preceito, mas com quem se podia ter uma conversa com a máxima elevação. Detentor de enorme cultura, sempre me senti privilegiado com a sua amizade. Era um dos grande admiradores da minha afilhada Inês. Nunca a conheceu pessoalmente, mas as fotos que lhe enviava corriam o prédio do Leblon onde vivia e de que era proprietário. O Dr. Renato Arantes, apesar de ser um homem detentor de fortuna considerável, nunca disso fazia alarde. Amigo sincero, tinha todos eles numa elevada consideração. Homem simples, homem do povo, a quem a sorte sorriu, nunca enjeitou a sua condição original. A quem lhe pedia ajuda nele tinha, seguramente, um bastião a que se apoiar. Apesar da sua elevada condição, nunca confundiu isso com a amizade. Mesmo nos tempos em que chegou a ser percetor dos filhos do antigo presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek de Oliveira, o Dr. Arantes nunca disso se serviu para cavalgar sobre ninguém. Ainda tive o privilégio de o receber em minha casa na sua última visita a Portugal, das muitas que fazia regularmente. A foto que publico foi tirada em minha casa com a minha mulher em agosto do já longínquo ano de 2008. Entretanto, apesar da saúde o ir traindo aqui e ali, sempre acalentou o desejo de voltar ao nosso país. Coisa que nunca mais fez. A dias de fazer 94 anos, o Dr. Arantes partiu, deixando a todos aqueles que, como eu, tiveram o privilégio de conviver com ele, uma enorme saudade. À sua esposa, restante família e aos seus muitos amigos nos quatro cantos do mundo, aqui quero deixar as minhas mais sinceras condolências. Descanse em paz, Dr. Renato Arantes!

Thursday, October 26, 2017

Intimidades reflexivas - 1115

"Sucesso é a capacidade de avançar de um fracasso para o outro sem qualquer perda de entusiasmo." - Winston Churchill (1874-1965)

Wednesday, October 25, 2017

Intimidades reflexivas - 1114

"As sombrias religiões retiraram e a doce ciência reina." - William Blake (1757-1827)

Tuesday, October 24, 2017

72º aniversário da ONU

Passam hoje 72 anos sobre a criação da ONU, que se constituiu em 24 de outubro de 1945. Hoje com o português António Guterres à frente, os desafios são enormes. Das alterações do clima, ao terrorismo, há de tudo um pouco. Mas a instituição tem sido, mesmo em situações de grande turbulência no mundo, a guardiã do diálogo entre nações. Por isso, é altura para dar-mos os parabéns à ONU.

Intimidades reflexivas - 1113

"Se admitirmos uma Causa Inicial, a mente ansiará por saber de onde veio e como surgiu." - Charles Darwin (1809-1882)

Monday, October 23, 2017

Intimidades reflexivas - 1112

"O único meio de conservar a liberdade do homem é estar sempre disposto a morrer por ela." - Edgar Allan Poe (1809-1849)

Sunday, October 22, 2017

Intimidades reflexivas - 1111

"Se soubéssemos quantas e quantas vezes as nossas palavras são mal interpretadas, haveria muito mais silêncio neste mundo." - Oscar Wilde (1854-1900)

Nada no abrigo!...

Quando cheguei ao abrigo não havia nada. Nem ração, nem comida. (Ver foto). Abasteci as taças e a gata logo veio comer. Quando vim embora ainda ela lá continuava a sua refeição. Antes passei no lavrador como tenho feito ultimamente, e ele logo apareceu. Comeu a caixa de paté, lambeu um pouco da comida de lata que lhe levei, mas não quis. Logo foi embora para junto dos seus amigos. Apesar da temperatura baixa e noite cerrada, ele parece estar sempre à minha espera. O Repinhas e a gata comeram. O siamês não o vi.

Saturday, October 21, 2017

Intimidades reflexivas - 1110

"Não há nem justiça, nem liberdade possíveis enquanto o dinheiro for rei." - Albert Camus (1913-1960)

Não havia nada!...

Quando cheguei ao abrigo, não havia nada. (Ver foto). As taças estavam todas vazias. A gata logo apareceu a miar. Estava cheia de fome. O siamês andou por lá a fugir de mim. Com fome também, mas com muito medo à mistura. Abasteci as taças e a gata quase que não me deixava fazê-lo tal era a fome. Apesar de ser de noite e estar um nevoeiro cerrado, ela lá andava à espera de algo para comer. Tal qual o siamês. Quando me vim embora ela lá ficou a comer. Antes passei no lavrador. E logo o Repinhas fez a sua aparição. Comeu o que quis e foi-se embora. Ouvi o relinchar do pónei mas não o vi. A neblina era densa e o lavrador colocou uma grade junto à parede onde o Repinhas salta, talvez para evitar que lá se coloque comida para o pónei e para os porcos. Confesso que o fiz algumas vezes. Mas, mais uma vez, não vi rigorosamente ninguém.

Friday, October 20, 2017

"Origem" - Dan Brown

Mais uma obra de Dan Brown apareceu nas nossas livrarias, este com o Título 'Origem'. Dan Brown sempre tem pisado os caminhos da simbologia, essencialmente religiosa, sobretudo, e talvez por isso mesmo, desde o seu famoso 'bestseller' 'O Código Da Vinci', que é considerada a sua obra maior. Este novo livro não foge à regra, mas confronta-nos com algo bem mais atual, que se prende com a evolução tecnológica. Esse novo deus que vai ocupando cada vez mais espaço nas nossas vidas. Basta sair à rua e ver como as pessoas andam agarradas aos seus 'smartphones', quase indiferentes ao mundo que as rodeia. Esse 'Technium' que vai ocupando os nossos espaços pode vir a ter consequências perigosas. (Assumindo-se até como uma nova era). Já há muito tempo que se fala da evolução da chamada Inteligência Artificial (IA). Muito já até foi avançado pelas artes, nomeadamente, pelo cinema. Alguém me dizia há um bom par de anos, que a indústria cinematográfica era uma espécie de campo para se ir fazendo a transformação das mentalidades dos seres humanos. E posso dizer que até subscrevo isso mesmo. Muitos de vós terão certamente visto um filme muito interessante que a RTP 1 passou na passada segunda feira sobre o chamado grupo de Bilderberg. O filme chamava-se 'Bilderber - o filme'. (Filme que aqui fiz referência na passada terça feira). Nele se falava numa nova ordem mundial que este clube vem defendendo, tanto quanto se sabe, dentro do seu habitual secretismo. E nesse filme - baseado num livro que se tornou famoso há alguns anos - falava-se na maneira como a inteligência artificial será cada vez mais evoluída ao ponto de superar o próprio ser humano que passa a ser descartável. Esta ideia está desde a década de 70 presente na saga da famosa 'Guerra das Estrelas' que tantos seguidores tem em todo o mundo. Desde os robôs que compõem os exércitos, às naves ultrasónicas, tudo aquilo a que estamos a assistir hoje, parece um 'déjà-vu' dessa saga. Ainda me lembro de na minha juventude me questionar sobre algumas coisas que ali se viam como fantasias, e que muito rapidamente, entraram no nosso dia a dia. É disto que nos fala Dan Brown. Dum mundo onde os computadores adquirem uma certa 'vida própria' - veja-se o 'Winston' - superando em muito o ser humano, pela maneira rápida e ágil de fazer aquilo que um ser humano faria em muito mais tempo. E essa IA está entre nós, sem que dela nos apercebamos devidamente, - banalizando-a até -, sem que entendamos que cada vez mais o ser humano é substituído por uma máquina que é fria, racional e, sobretudo, eficiente. Essa assunção do tecnológico que nos esmagará um dia. Alguém dizia que 'enquanto os computadores não forem racionais, não me preocupo', mas o certo é que cada vez mais eles são racionais parecendo, aqui e ali, adquirirem vida própria. As novas gerações, que hoje idolatram as novas tecnologias, poderão ser as principais vítimas delas próprias, sem que se apercebam disso. Este livro interroga-nos muito sobre tudo isto. Um verdadeiro alerta nos nossos dias. Quanto ao autor, dispensa apresentações. O seu palmarés já é por demais conhecido e cada livro seu é sempre esperado com ansiedade. A edição é da Bertrand Editora. Um livro que recomendo vivamente. Mais do que um romance, um 'thriller', este é um livro que nos interpela e nos faz pensar. E é com esse espírito que deve ser lido, na minha opinião.

Intimidades reflexivas - 1109

"Quem luta contra monstros tem de evitar tornar-se um monstro nesse processo." - Friedrich Nietzsche (1844-1900)

Thursday, October 19, 2017

Intimidades reflexivas - 1108

"Quem vive pela espada morre pela espada." - Ésquilo (523 a.C.-456 a.C.)

Wednesday, October 18, 2017

Intimidades reflexivas - 1107

"Deus está morto. Deus continua morto. E foi morto por nós. Como nos reconfortaremos nós, os assassinos de todos os assassinos? Não será a grandeza deste ato demasiado grande para nós? Não teremos nós de nos transformar em deuses só para parecer estar à sua altura?" - Friedrich Nietzsche (1844-1900)

Tuesday, October 17, 2017

Intimidades reflexivas - 1106

"Nada é inventado, dado estar escrito primeiro na natureza. A originalidade consiste no regresso à origem." - Antoni Gaudí (1852-1926)

Bilderberg - o filme

Ontem a RTP 1 exibiu um filme para quem peço a vossa melhor atenção. Trata-se de "Bilderberg - o filme" baseado no livro 'O Clube Bilderberg' de Daniel Estulín. (Podem ver na RTP Play clicando aqui: Parte 1 - https://www.rtp.pt/play/p3970/bilderberg-o-filme; Parte 2 - https://www.rtp.pt/play/p3970/e311084/bilderberg-o-filme/608909 . Estará disponível durante os próximos sete dias). Nele se faz referência ao poder secreto duma certa ordem mundial que vai dominando o mundo a seu belo prazer, definindo as condições dos povos. Defensores da chamada 'crise benéfica', este grupo de pessoas vai criando e desenhando o mundo a seu bel-prazer, alinhado com os seus interesses. Ao fim e ao cabo, estão de ambos os lados da equação. Paulatinamente vão destruindo o chamado estado-nação para dar origem a um governo supranacional mundial, este grupo que agrega no seu seio políticos, banqueiros, militares, jornalistas, vai impondo uma certa visão e orientação das nações e dos povos. (Alguns  políticos portugueses por lá também têm passado e até tínhamos um representante para Portugal ligado aos 'media'). A propósito do livro que deu origem ao filme - embora este é mais abrangente e vem até aos nossos dias - já aqui dele fiz eco e até travei algumas discussões interessantes com pessoas que quiseram dar o seu contributo. Se leram o livro, não deixem de ver o filme. Se viram o filme, consolidem as vossas opiniões lendo o livro. Sempre me tenho interrogado sobre a nossa missão no mundo e se, aquilo a que chamamos de livre arbítrio, existe de facto ou não. Se não somos todos governados (quais marionettes) por poderes que estão muito para além do que imaginamos. Será que os governos que nos governam têm de facto poder? Será que os 'media' que nos informam o fazem livremente ou, por outro lado, nos condicionam dentro de certas baias? Afinal o que é a nossa dita 'liberdade'? Será que afinal vivemos numa espécie de matrix? Se sim, o que advirá daí? Perguntas perturbadoras que temos que fazer e para as quais as respostas não são imediatas. Depois de ler o livro, confesso que me senti perturbado. Depois de ver o filme não fiquei mais tranquilo. Este é um tema para olharmos de frente e refletirmos com profundidade. Se somos alienados todos os dias pelo mundo que nos rodeia, talvez seja tempo de pararmos e pensarmos no que realmente interessa. Afinal, é a bíblica demanda da separação do trigo e do joio. Aproveitem a oportunidade e não deixem de ver. Talvez encontreis algumas respostas que até agora vos perturbaram e para as quais não tínheis uma resposta imediata. 

Regressados do inferno

Logo pela madrugada fui surpreendido por uma publicação dum grande amigo meu sobre este inferno dos incêndios que nos tem assolado. Na sua publicação, esse amigo dizia algo como: 'Que venham depressa mais eleições, porque durante esse período não há incêndios'! Esta frase motivou a minha reflexão sobre este tema de tão trágica atualidade. A afirmação deste amigo sugere a ligação da política aos incêndios duma forma mais ou menos velada. Nada que seja novidade. Os menos jovens devem-se lembrar que, ainda em tempos de ditadura, se dizia que os incêndios - também os havia nesse tempo, mas a censura impedia que fossem mediatizados como hoje - era culpa dos opositores. (Normalmente, quando se falava de opositores, queria-se dizer 'comunistas').  E com esse rótulo logo os 'progroms' começavam, a torto e a direito, legitimados por essa asserção. Depois veio o tempo da democracia, - e os incêndios continuaram -, mas agora dizia-se que eram os saudosistas do anterior regime que os perpretavam para dificultar a consolidação do novo regime. Mais tarde, - os incêndios continuaram - e agora dizia-se que, era a esquerda, quando a direita estava no poder; ou era a direita, quando a esquerda estava no poder. Sempre foi assim, e assim continuará a ser, seja qual for o regime ou partido da moda. A afirmação do meu amigo vai neste sentido o que, face à situação vigente, até tem a sua legitimidade. Mas chegado aqui, quero introduzir mais uma questão, que se prende com as alterações climáticas. Mais uma vez apelo aos menos jovens que quase diariamente viam entrar por suas casas dentro a figura do Professor Anthímio de Azevedo quando vinha dar a informação meteorológica. Mas Anthímio de Azevedo para além dessa função mais visível, tinha uma série de estudos sobre o clima que eram alertas que ninguém levou a sério. Durante décadas, ele afirmava que isto ia acontecer, sobretudo na bacia do Mediterrâneo, face às alterações do clima. Pregou no deserto durante todo esse tempo, - ainda me recordo que antes de falecer, ele alertava para esta problemática, e lamentava-se que ninguém queria acreditar no que dizia -, talvez agora seja tempo de recuperar esses estudos e fazer justiça à sua memória. Ainda ontem foi divulgado por alguns canais televisivos um mapa sobre os incêndios na Europa, e era claro que os países da, ou próximos da, bacia do Mediterrâneo, estavam a braços com este problema. Parece que agora, e dada a gravidade da situação, se começa a olhar para algo de que se fala à imenso tempo, mas que até agora não tem tido efetivação prática, que se prende com a reestruturação das florestas. Mas tal não pode andar ao sabor dos governos - tenham eles a matiz que tiverem - mas será urgente um pacto de regime sobre esta questão. A comissão independente que foi criada para analisar esta matéria - por sugestão do PSD e aceite pelos outros partidos - apresentou o seu trabalho. Talvez agora, seja importante que, todos os partidos - os que apoiam a governação e a oposição - dêem finalmente as mãos no sentido de se definir uma política para as florestas. Isso é mais importante e construtivo do que passarem o tempo a gritar e esbracejar sobre possíveis demissões que nada resolvem. (Aliás, esta é uma pecha da política portuguesa que tem muito poucos seguidores na Europa comunitária, felizmente). Assim, será mais construtiva e consequente uma atuação que não será para uma legislatura mas para um período longo, seja qual for o governo que esteja nessa altura em funções. Essa sim, será uma estratégia que os portugueses perceberão, bem longe do vil aproveitamento político que se está a fazer, e que só desqualifica quem vai por aí. Essa estratégia poderá de certo modo, abarcar os pressupostos que aqui trouxe. Uma possível motivação política - que também não excluo -, as alterações do clima - que são uma evidência -, e, como corolário disso, a ordenação do território - tarefa tão urgente e sempre adiada, para a qual um pacto de regime é urgente. Não nos podemos esquecer que CDS, PSD e PS são responsáveis por tudo isto, porque queiramos ou não, têm sido ele que governaram nos últimos quarenta anos, e não podem daí lavar as mãos como Pilatos. Todos são responsáveis por mais que se ponham em bicos de pés a gritar por demissões inconsequentes, a não ser motivados por um certo e pobre aproveitamento partidário, à falta de agenda política para se manterem à tona de água. Mais do que tudo é preciso uma reflexão séria e um empenhamento de todos. De todos mesmo. Sem jogos de bastidores ou amuos de circunstância. É altura de regressarmos do inferno.

Monday, October 16, 2017

62 anos é muito tempo

Há 62 anos atrás a minha família era, certamente, uma família feliz. Nascia um filho, um novo membro da família fazia a sua aparição. Todos os vaticínios do que seria, eram válidos. Afinal quando nascemos somos uma espécie de folha em branco que vamos escrevendo dia após dia. E aí começou mais uma estória. Ao longo de 62 anos muitos foram os momentos bons, mas também os menos bons; houve tempos de glória e de submissão; percorri estradas planas e verdejantes mas também as pedregosas a ferir os pés na caminhada. Tudo é a aprendizagem da vida. Esse ciclo que nos mostra que toda a rosa tem também os seus espinhos e que não é por estes existirem que deixamos de apreciar o seu perfume. Nestes tempos já longos de vida, muito foi dedicado ao estudo. Mas também aos animais e à natureza. Sempre! Sempre incentivado pela família a ir mais longe do que eles foram, na sua modesta condição. Sempre me disseram que os segundos eram os primeiros dos últimos, lema que me ficou para a vida e que tento transmitir aos mais jovens. Sei que quando somos muito jovens, somos aliciados para outros terrenos e o estudo fica um pouco para trás. Tal também foi a minha condição. Mas a persistência familiar, o mostrar as vantagens que isso representaria na minha vida, acabaram por me fazer entender que esse era o caminho. E percorri-o com gosto. Porque podemos não ter a profissão para a qual nos qualificamos, mas a qualificação é importante para a maneira como olhamos para o mundo. Como o vemos. Como vamos empurrando as fronteiras do impossível à medida que o nosso conhecimento aumenta. Fiz o percurso académico em Portugal. Mais tarde, vim a especializar-me no estrangeiro. Conheci o mundo. Conheci outras culturas, outras gentes. E isso foi um outro curso que a vida me deu. 62 anos depois, já com a carreira a caminhar para o ocaso, continuo a estudar, a aprender, porque só assim nos libertaremos da ignorância, deusa tão adorada nos nossos dias pelos mais jovens. Mas vou caminhando. Porque o caminho faz-se a caminhar. Nunca perdendo de vista os meus ancestrais, os meus maiores, que já não se encontram entre nós. Neste dia, como em tantos outros, vou homenageá-los. Porque eles foram o alfa duma vida que caminha para o seu ómega. Eles foram o princípio daquilo que, inexoravelmente, terá um fim. Deles recebi o facho que ilumina a minha estrada. Sempre cioso de não trair aqueles que apostaram em mim. Honrar-lhes a memória será o mínimo que posso fazer por eles a título de retribuição. 62 anos passaram na escada da vida. Agora que cada vez a vida vai passando dum outono nostálgico para um inverno frio e profundo, só me resta a esperança de ter feito o melhor possível por ter uma vida digna. Com certeza, nem tudo foi como quereria, mas certamente não foi tão mau quanto poderia ter sido. A reflexão aqui fica, o pensamento aqui flui sem prisões, grilhetas ou barreiras. Assim, simplesmente, como simples tem sido o meu percurso pela existência. Um obrigado a todos os que me desejaram um feliz aniversário. Sejam eles amigos reais ou virtuais. Vós também, se calhar sem terdes disso o sentido, sóis muito importantes para mim. Porque, cada um a seu modo, abrilhanta dia após dia, o meu caminho. A todos um muito obrigado.

Sunday, October 15, 2017

Intimidades reflexivas - 1105

"Tem inimigos? Ótimo. Isso significa que foi capaz de defender qualquer coisa." - Winston Churchill (1874-1965)

Tudo na mesma!...

Logo que me aproximei do lavrador, o Repinhas faz a sua aparição, vindo de nenhures. Não sei onde ele está para me ver à distância. Ainda noite serrada, lá o alimentei. A princípio fez-se rogado, mas logo atacou a refeição. Estava com bastante apetite. Daí que no abrigo deixei menos comida, porque ela pouca sobrou. No abrigo estava tudo bem. Ainda havia ração de cão e de gato. Apenas abasteci uma das taças com o paté que levo. O restante já tinha sido comido pelo Repinhas. Talvez por ainda ser de noite, a gata não apareceu. Espero que vá comer. O Repinhas, pelo menos, já tem uma boa refeição.

Saturday, October 14, 2017

Intimidades reflexivas - 1104


"Temos de estar dispostos a abandonar a vida que tínhamos planeado para podermos ter a vida que nos espera." - Joseph Campbell (1904-1987)

Tudo normal!...

Estava tudo bem no abrigo. Pouca ração de cão, ainda alguma de gato. (Ver foto). Apenas faltavam recipientes. A Paula anda a portar-se mal. A gata apareceu mas andou a dar voltas. Não veio ao abrigo. Só se foi depois de eu vir embora. Antes tinha passado no lavrador. O Repinhas logo apareceu ainda eu rolava na estrada. Não sei onde ele está que me vê à distância. Comeu o que quis e ainda ficou comida para o pónei e os porcos. Uma festa.

Friday, October 13, 2017

Atenção, sexta feira, 13

Hoje é sexta feira, dia 13, não esqueçam. Para além do calendário, há uma montanha de ignorância em torno destas datas. Cuidado com a doação de animais. Muitos acabarão em sacrifícios macabros, vítimas do obscurantismo mais serôdio e do lado mais negro do ser dito humano. Em muitos locais muitos infelizes terão uma morte horrenda nesta noite. E não pensem que são só gatos e pretos. Infelizmente, hoje essas práticas estão bem mais alargadas. Tomem cuidado e não esqueçam!

Intimidades reflexivas - 1103

"Os homens são como os vinhos: a idade azeda os maus e apura os bons." - Cícero (106 a.C.-43 a.C.)

Thursday, October 12, 2017

No 6º aniversário da nossa afilhada Inês

Seis anos passaram e parece que foi à pouco que nasceste e te tive nos meus braços. Mas, apesar da tua pouca idade, já muito passou por ti. Experiências vivenciadas, amores cruzados, amizades feitas. Tudo tem sido a tua experiência de vida. Ainda curta é certo, mas tudo tem um começo e o teu é agora. Das casas partilhadas com os pais, avós, padrinhos, onde apesar das diferenças, todas tinham uma coisa em comum, o amor que te dedicaram e dedicam. Fostes crescendo e aprendendo que o saber tem muitas formas e se adquire em diferentes lugares. Passaste pelo infantário, o teu primeiro encontro com uma realidade diferente da família que até aí, tinha sido a única que tinhas percecionado até então. Nem sempre foi fácil, tudo era estranho para ti. Mas foste habituando. Depois veio a pré-escola onde te sentiste mais confortada. Gostavas de ir ter com os teus amigos. Aqueles amigos que passaste a trazer para a tua casa. Era o corolário de brincadeira que te foi moldando. Aprendendo coisas novas a brincar. E isso te ajudou a crescer. Agora, uma nova etapa da vida estás a enfrentar. A escola básica aí está. Mais a sério, com menos brincadeira, mas que parece estar moldada à tua medida. Tens gostado da experiência e nem sabes o quanto isso me deixa feliz. O saber é muito importante. Agora ainda não sabes o que isso quer dizer, mas o tempo se encarregará de te mostrar. Nunca te esqueças daquela frase logo à entrada da tua escola "um homem culto é um homem livre". E que orgulho temos em ti. Volta e meia, estes teus padrinhos babados, lá vão na hora de almoço, ver-te ao recreio. Saber como estás, sentir o que pensas. E que alegria a tua de nos ver e como corres para nós. E nem sabes como enches estes corações de alegria, já envelhecidos pelos anos, mas sempre jovens para acamaradarem com o teu. Seis anos passaram desta tua tão curta experiência de vida. Mas para nós a alegria é sempre a mesma, renovada minuto a minuto com a tua jovial presença. Sentimos o retorno do grande amor que te dedicamos e isso nos basta. Disse-te desde o dia em que nasceste, que caminharemos sempre a teu lado enquanto o pudermos fazer e tu o quiseres. Mantemos esse compromisso. Porque as promessas são para cumprir. Terás sempre nos teus padrinhos uma parede sólida onde te apoiares. Hoje celebramos mais um teu aniversário, o sexto. Já passaram seis anos desde aquele dia em que tive uma das mais entusiasmantes experiência de vida. O teu sorriso ao meu colo. Aquela luz brilhante que iluminava o teu rosto. Aquela fragilidade de quem chega ao mundo caminhando silenciosamente sobre nuvens. Que tenhas sempre uma vida feliz, luminosa, são os votos dos teus padrinhos. Que a estrada da tua vida sempre seja plana e de veredas verdejantes, como costumamos dizer. Que esse sorriso lindo e luminoso que tens nunca se apague, nunca esmoreça. Afinal tu és um ser de luz. Daquela luz que ilumina, mas que também encandeia. Farol que previne, mas também que indica o caminho. És a luz, nunca te esqueças. Nunca deixes apagar esse facho dentro de ti. Se o conseguires serás sempre feliz. E a tua felicidade será também a nossa. Tem um feliz aniversário, Inês!

Wednesday, October 11, 2017

Intimidades reflexivas - 1102

"Somos o que somos e se somos é porque somos parte da soma daquilo que nós somos." - Afonso Costa (1871-1937)

Tuesday, October 10, 2017

Equívocos e preconceitos - III

Desde domingo que venho publicando algumas reflexões sob este mesmo título com vista a dar uma perspetiva da importância da leitura da Bíblia para além do seu aspeto mais conhecido: o da religião. As mensagens que tenho recebido e os e-mails, dão-me bem a dimensão do interesse que o tema despertou. Espero ter contribuído para um aprofundar do tema e despertado o interesse pela leitura e, sobretudo, a predisposição à análise às entrelinhas, dum livro tão famoso como a Bíblia. Se para alguns esta abordagem é redutora, para outros ela vai no sentido da descoberta, sentido último da nossa caminhada na vida. Todos sabemos que pela religião e em nome dela, muito se fez, e nem sempre pelo lado mais construtivo. Muitos conheceram as prisões mais abjetas, a tortura mais horrenda, a morte mais ignóbil. A simples abordagem que aqui vos proponho duma leitura alternativa, seria mais do que suficiente para que, num outro tempo, fosse queimado num qualquer auto de Fé. O que prova que, apesar de tudo, muito caminho se fez desde então. Sempre as religiões se combateram mesmo nos dias de hoje, o que me parece um absurdo. Cada uma delas parece tentar demonstrar com esses atos, qual a mais verdadeira, qual aquela que apresenta, e representa, o 'verdadeiro' Deus. Confesso que em pleno século XXI me custa aceitar tal, embora saibamos todos, que nem sempre é assim, em locais onde a intolerância religiosa é definitiva. E isso leva necessariamente aos radicalismos que tanto sofrimento tem espalhado pelo mundo, como é bem visível nos nossos dias. Curiosamente essa intolerância acontece nos mesmos locais que à séculos atrás eram os pilares da ciência e do conhecimento. Coisas estranhas, que a Humanidade vai produzindo ciclicamente, e com isso vai espalhando mais dor, sofrimento e luto, pelo mundo, já tão massacrado por situações bem pouco construtivas. Enquanto o conhecimento é relegado para as trevas. Mas o debate foi lançado e parece que produziu os seus frutos. Não pretendo aqui desrespeitar as crenças de ninguém, até porque se o fizesse, estava a desrespeitar as minhas próprias crenças. Mas gostava de ver espíritos mais abertos a analisarem um livro fundamental no mundo, com a abertura para aprofundar conhecimento e interpretar com mais lucidez. O aceitar ferreamente o discurso oficial pode ser confortável, mas não é de todo o melhor para a descoberta e a compreensão duma realidade transcendental que as religiões encerram em si mesmas. E reafirmo aqui o que já venho a dizer à três publicações atrás: a Bíblia tem muitas leituras possíveis e delas se pode tirar grande conhecimento dum período particularmente importante da história da Humanidade. Enquanto escrevo estas linhas, vem-me à memória a frase de Frei Fernando Ventura quando afirmou: "Felizmente, Deus não tem religião". Este homem que tanto aprecio, um dos maiores biblistas dos nossos dias, é bem o exemplo daquilo que vos proponho. A leitura desprendida e sem preconceitos. De espírito aberto e grande latitude intelectual no sentido de compreenderemos o que de importante esse livro magnífico encerra e nos pode oferecer. E o que nos pode dar está muito para além da crença religiosa.

Intimidades reflexivas - 1101

"Todas as minhas experiências me provaram que não existe outro deus a não ser a verdade." - Mahatma Gandhi (1869-1948)

Monday, October 09, 2017

Equívocos e preconceitos - II

Pela reação que tive ao texto que ontem publiquei, - por mensagem privada e/ou por e-mail -, vejo-me na contingência de ir um pouco mais longe. Aqui reafirmo de novo que a Bíblia é um excelente manual de História. Da História duma época precisa na fita do tempo, que está muito para além do entendimento da nossa época. (Há até quem diga que a época em que esta foi escrita, será certamente, um dos períodos da História mais estudados e aprofundados, dada a quantidade de informação que a Bíblia nos transmite). Mas se algumas consciências se sentiram 'ultrajadas' - aquelas que vêm na Bíblia apenas e só um livro religioso -, outras há, que fizeram bandeira até com alguns arremedos sem sentido e, em alguns casos, esses sim, ultrajantes - aqueles que tudo põem em causa, sobretudo, aquilo que não entendem mas que julgam o contrário - uns e outros, mais uma vez, barricados nas suas trincheiras ideológicas, não são capazes de saltarem o muro dos preconceitos. Mas voltemos ao tema. A Bíblia como ontem afirmei, tem na sua génese muitas e saudáveis leituras. E, reafirmo, pode até ter uma leitura 'economicista'! (Aprendi algumas das coisas inerentes à Ciência Económica com Mestres que a utilizavam para nos mostrar a evolução do pensamento e da 'praxis' económica e, eu mesmo, mais tarde, quando dou formação a quadros superiores da banca e das empresas, a utilizo também com o mesmo propósito. E não tentem ver aqui um qualquer herege, digno duma qualquer fogueira, duma qualquer Santa Inquisição, dum tempo de antanho. Sou crente como sabem, mas isso não me tira a capacidade de olhar para as coisas com sentido crítico. Sempre fui capaz de dar uma latitude larga ao pensamento intelectual, goste-se ou não). Mas já agora, se para além da leitura histórica, filosófica, política, económica, social, se lhe juntar uma outra mais controversa, e dizer que até uma leitura 'erótica' é possível, podem crer que assim é. Sei que alguns 'puritanos' já se estão a erguer com a face ruborizada perante tamanho 'sacrilégio', perfilando-se de dedo erguido, condenatório de tamanho desaforo, mas antes de dizerem alguma coisa - que até se pode virar contra vós - tentem ler o Cântico dos Cânticos. Os Cânticos de Salomão - como também é conhecido - são um livro dum erotismo enorme e até, de certo modo, explícito. Talvez julguem que não porque a linguagem usada é dum outro tempo, e as sucessivas traduções e adaptações foram feitas para amaciar as coisas face aos tempos seguintes. Mas, talvez com algum esforço, consigam perceber o que lá se diz e duma forma explícita. Explícita para a época, sem dúvida, mais torneada para os nossos tempos que usam uma outra terminologia, disso não existem dúvidas. Esse aliás, tem sido um dos temas que normalmente se passa ao largo. Num conceito assexuado que se pretende impor - embora quando legitimado pelo 'contrato' de casamento até passa a ser uma benção - pois tudo isto são algumas das muitas contradições que o desenvolvimento das religiões têm, seja as de inspiração cristã, seja a de outras matizes. Daí que o conceito filosófico de abordagem dum livro tão importante como a Bíblia seja fundamental. E não tenham medo de o fazer. Não tenham receio dum qualquer 'pecado' induzido por um qualquer demónio que ande por aí. As coisas são bem assim e até já o foram ensinadas de forma clara. Coisas que os tempos hodiernos - sempre tão viciados em tudo - tentam escamotear. Vejam a filosofia do caterismo, e da maneira sangrenta como foi reprimido, até à nova abordagem de Maria Madalena. Coisas dos textos apócrifos, dirão os puristas. Mas que eles existem é um facto. E não devemos ter medo de os estudar. (Como se costuma dizer é a escutar o diabo que melhor podemos apreciar a voz de Deus). Só assim compreenderemos a(s) religião(ões) na sua verdadeira amplitude. Sem preconceitos. Se calhar é por aí que se irá um dia buscar o tão ansiado diálogo civilizacional que todos falam, mas para o qual tão poucos contribuem.

Intimidades reflexivas - 1100

"O cofre do banco contém apenas dinheiro. Frustar-se-á quem pensar que nele encontrará riqueza." - Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

Sunday, October 08, 2017

Equívocos e preconceitos

Quando se fala de Bíblia a alguém, logo olham para isso como religião. Uns para a enaltecer, outras para a denegrir. Seja como for, ambos estão errados. Para além da religião, a Bíblia oferece-nos um verdadeiro manancial de leituras as mais diversas. É talvez, o melhor livro para se analisar a vida numa época já remota, bem como a maneira como se constituía a sociedade, as relações de poder e até as relações económicas. Como era a circulação fiduciária à época, como a moeda circulava e como era cunhada. Hoje lembrei-me de fazer um certo exercício que vos proponho. Tentem ler o livro de Isaías com algum distanciamento e sem preconceitos de nenhuma espécie. Tentem comparar com a sociedade dos nossos dias. Isaías aponta com clareza e veemência os "agraços" da sociedade do seu tempo: Uma sociedade onde uns poucos acumulam "campos e casas" insaciavelmente, tornando-se os únicos proprietários da terra. Uma sociedade toda entregue a excessos consumistas, sem respeito algum pelas gritantes carências dos pobres. Uma sociedade sem valores sólidos, onde cada um fabrica, a seu gosto, a sua ética, chamando bem ao que é mal, e mal ao que é bem. Uma sociedade onde se nega a justiça aos inocentes e se absolvem os culpados, a troco de dinheiro e de favores. Uma sociedade insolidária e desumana, geradora de miséria, degradação, ódios, violência, opressões e sofrimentos. Uma sociedade de flagrante atualidade, pois a atual continua a causa por ele apontada. Como vêem, as diferenças parece não serem nenhumas, bem pelo contrário. Afinal a evolução do ser humano não foi assim tão grande aos longo de milénios. Um bom tema de reflexão para este domingo.

Não havia nada!...

Quando cheguei ao abrigo não havia nada. (Ver foto). Embora alguma da comida posa ter sido roubado, estou convicto pelo que vi ontem, que outros animais por lá passam e comem a comida que lá deixo. Abasteci as taças e pus água fresca. A gata logo apareceu para o repasto. Quando me vim embora, ainda lá ficou a comer. Antes tinha passado no lavrador. Logo o Repinhas veio comer a habitual caixa de paté, e ainda comeu mais uns pedaços de carne que lhe levei. Logo o pónei e os porcos apareceram. A todos dei um pouco do que levava. Hoje todos tiveram o seu quinhão. E quando assim é, fico feliz.

Saturday, October 07, 2017

Intimidades reflexivas - 1099

"O amor é uma tela fornecida pela Natureza ... E bordado pela imaginação …" - Voltaire (1694-1778)

Tudo bem!...

Fui ao lavrador e até estacionei mais afastado, mas isso não impediu que o Repinhas viesse a correr pelo meio da rua ao meu encontro. Não sei como ele me viu! Comeu a habitual caixa de paté e não quis mais nada. Alguma comida foi para o pónei e os porcos que logo apareceram também. No abrigo tudo estava normal. Havia ração de gato e um pouco da de cão. (Ver foto). Abasteci as taças e logo a gata fez a sua aparição. Falei com um amigo da empresa de lá, e ele disse-me que o Repinhas não tem aparecido. A ração de cão que vai desaparecendo, bem como o paté, deve ser comido por um cão muito grande que por lá apareceu com o seu dono, um senhor já de certa idade. Pela maneira como o cão foi para o local, deve ser habitual cliente do abrigo. A gata que, entretanto, tinha vindo comer, fugiu e ficou à espera que o cão se fosse embora. Como eu estava ali com o outro senhor, a pessoa que trazia o cão logo o levou dali porque percebeu que estávamos a olhar e a ver a reação dele. Quando me vim embora, passei pelo sujeito e pelo cão na rua. É pessoa dali perto de certeza. Nunca tinha visto lá esse cão, nem conheci o senhor. Enfim, a comida parece não ser roubada, mas comida, só que não por quem eu desejava. É o risco que se corre nestas situações.

Friday, October 06, 2017

"Gloriana" - Benjamin Britten

Resolvi partilhar convosco um disco, que gosto muito, e que assume particular relevância na música composta por compositores ingleses. A obra dá por título "Gloriana" e o compositor é Benjamin Britten (1913-1976). 'Gloriana' foi inicialmente uma ópera. Mas não é desta que estou a falar, mas sim, da 'Suite Sinfónica Opus 53a', que, como a própria designação indicia, é uma 'suite', isto é, uma espécie de súmula desta. Música pungente mas carregada de sensibilidade muito ao jeito de Britten. Música arrebatada, mas também, com laivos duma ternura deslumbrante. Existe em Portugal uma gravação com selo da EMI Records que ainda se encontra disponível, embora seja cada vez mais difícil encontrá-la por cá, fora do circuito de importação. Aqui deixo ficar a nota para os interessados. Para os apreciadores do género, será um excelente presente para o Natal que se aproxima.

"A Cabeça de Velho" de José Malhoa

Como é do vosso conhecimento, para além da minha atividade profissional, dedico-me a outros áreas que, talvez com impropriedade, chamo de 'hobbies'. Da literatura à música, da escultura à pintura, das viagens à fotografia, enfim, das ciências às letras e outras áreas fins, tudo vai perpassando pela minha vida. Sempre fui assim, nesta ânsia de aprender e de saber ultrapassando em muito as nossas áreas de aprendizagem e especialização. Posto isto, aqui vos quero trazer uma das peças mais impressionantes para mim da pintura portuguesa. Trata-se da obra 'A Cabeça de Velho', 1903, da autoria de José Malhoa. Do muito que a pintura tem para nos oferecer, sempre me centrei nesta obra. Não por um qualquer nacionalismo balofo, mas porque sempre me impressionou, embora não saiba a razão, nem tenha explicação sólida para tal. Esta obra de José Malhoa sempre mexeu com os meus sentidos duma forma profunda e definitiva. Algo que tem a ver com o mais íntimo sentimento que se pode sentir por algo ou alguém. Quero aqui partilhar convosco, uma imagem do quadro, para que aqueles que não o conheçam o apreciem em toda a sua dimensão. Por vezes, existem coisas assim. Momentos e sentimentos que são atingidos sem que percebamos bem porquê, mas que nos marcam duma forma indelével.

"A Sétima Praga" - James Rollins

Mais um livro de James Rollins para alegrar os admiradores. Este tem por título "A Sétima Praga", uma ameaça bíblica pode por em causa o futuro de toda a humanidade. Pegando nas sete pragas do Egito que terão sido profetizadas por Moisés, James Rollins desenrola um interessante enredo que nos mantém sempre em suspenso ao longo de todo o livro. "Dois anos depois de desaparecer no deserto do Sudão, o professor Harold McCabe aparece a cambalear, saído das areias do deserto, mas morre antes de contar o que aconteceu. A autópsia revela que alguém tinha começado a mumificar o professor em vida. Não tarda que todos os médicos envolvidos na autópsia adoeçam e morram, e uma estranha epidemia atinja o Cairo. Painter Crowe, diretor da Força Sigma, é chamado a agir. O professor McCabe desapareceu enquanto procurava vestígios das dez pragas de Moisés. Será que as pragas estão a ganhar vida de novo? A filha do arqueólogo, Jane McCabe, ajudará a desvendar o mistério que remonta a milénios atrás. A Força Sigma terá de enfrentar uma ameaça do passado tornada possível pela ciência moderna, que poderá causar uma vaga de pragas conduzindo à morte de todos os seres humanos." Mais um livro da série 'Força Sigma' que tanta fama tem trazido ao seu autor. Um 'thriller' intenso que nos agarra até ao fim. Um livro a ter em conta para os admiradores do género- A edição é da Bertrand Editora.

Thursday, October 05, 2017

107 de República

107 anos já são passados sobre a implantação da República. Na altura, uma das formas de governação mais avançadas na Europa do início do século XX. Com muitos atropelos, muitas indefinições, muita instabilidade é certo, mas fruto da sua juventude. De todos quererem o melhor e na sua busca, por vezes, entrarem em conflito com terceiros, dentro duma democracia que ainda o era só para alguns, e esses eram muito poucos. Mas o tempo consolida tudo. Os regimes e as ideologias não fogem a esse desiderato. E o tempo deu razão a esses aventureiros e sonhadores de antanho. Eles também fazem parte da História. Eles também são História. Apesar de muitas tergiversões a República foi encontrando o seu caminho, o seu rumo. Nem sempre o melhor ou o mais fácil. Mas um caminho apesar de tudo. O que prova que os saltos da História valem sempre a pena. Aliás, a História é isso mesmo saltos epistemológicos em busca dum futuro ideal, por vezes, desconhecido. Foi assim, é assim e, será sempre assim. Estes são os caminhos da História. Viva a República!

Intimidades reflexivas - 1098

"Talvez eu seja enganado inúmeras vezes... Mas não deixarei de acreditar que em algum lugar, alguém merece a minha confiança." - Aristóteles (348 a.C.-322 a.C.)

Tudo na mesma!...

Como tem sido habitual, antes de ir ao abrigo fui a lavrador ver o Repinhas. Ainda estava a fazer a curva já ele estava a saltar a parede e a correr na rua em direção a mim. Comeu a caixa de paté, mas sem grande apetite. Ainda tive que andar atrás dele para ele comer. Penso que mais do que a comida, ele vem ter comigo para me saudar. O pónei e os porcos logo vieram também e ainda comeram alguma comida que sobrou do Repinhas. Depois fui ao abrigo. Tudo na mesma. Nada de anormal! Havia ração de gato, mas a de cão era quase inexistente. Abasteci de ração as duas taças, do cão e da gata, e ainda deixei paté. Logo a gata apareceu para comer. A princípio desconfiada, mas lá se foi aproximando. O siamês também veio, mas a atiude agressiva da gata manteve-o à distância. Ele só virá comer depois de ela ir embora. Quando de lá saí ainda a gata permanecia a comer. Apesar do lusco fusco e duma certa neblina, eles ali estavam à minha espera. Confesso que, quando assim é e os vejo comer, venho de lá com o coração cheio. Hoje foi um desses dias.