Turma Formadores Certform 66

Thursday, January 31, 2013

Conversas comigo mesmo - CXXVI

Noite escuro, amena. Lá fora a chuva faz a sua aparição. Céu cinzento como cinzento anda o meu coração. Sem perspetivas, com medos que se vão entranhando no corpo. Sem futuro, sem esperança. A chuva continua a cair lá fora, a noite está amena. Mas o coração sofre, chora lágrimas como os pingos que continuam a cair, sofre de dor, de desesperança, de infelicidade. Quando a porta da vida se fecha com estrondo face aos nossos olhos, é costume dizer-se que se abre uma janela. Mas não se abriu. Ou melhor, abriu-se refletindo a noite escura que se faz sentir, com a chuva a deixar cair as suas lágrimas como as que o meu coração não pode reter. A janela que se abriu é para uma noite escura e chuvosa. Não sei se o dia aparecerá e se será de sol ou de tempestade. Só sei que estou no escuro e choro. Sem sentir apoio, sem obter misericórdia. Choro tão só lágrimas como a chuva que se faz sentir lá fora, na noite escura tão escura como o meu coração.

Sunday, January 27, 2013

Claudio Monteverdi (1567-1643)

De novo na rota do barroco, resolvi hoje falar sobre um dos seus máximos expoentes de seu nome Claudio Monteverdi. Claudio Giovanni Antonio Monteverdi nasceu em Cremona, foi batizado a 15 de Maio de 1567 e viria a falecer a 29 de Novembro de 1643 em Veneza. Italiano de nacionalidade, foi um conceituado compositor, maestro, cantor e grande instrumentista que se notabilizou na viola da gamba. Mas é seguramente como compositor que ele é conhecido e celebrado. A sua careira foi-se notabilizando, sobretudo, ao serviço da corte do duque de Vincenzo I Gonzaga em Mântua, onde foi músico, vindo mais tarde a assumir a direção musical da bela Basílica de São Marcos em Veneza. Foi um grande compositor de madrigais e de óperas. A ele se deve a passagem da polifonia do Renascimento para um estilo mais livre, sobretudo ao nível da monodia e do baixo contínuo, bem como da harmonia vertical, muito caraterísticas deste período da história da música e do maneirismo a ele associado. Monteverdi foi um marco muito importante nesta transição musical e foi considerado - ainda hoje se olha para ele assim - como um dos músicos mais influentes da história da música ocidental. Curiosamente, ele não inventou nada que já não existisse no seu tempo, mas deu-lhe uma força e uma pujança que até aí nunca se tinham visto. A sua música é duma expressividade impressionate e duma força ímpar. Poderia aqui falar da sua grande produção musical, sobretudo ao nível dos madrigais, mas quero aqui destacar uma obra que sempre me impressionou - e continua a impressionar - pela sua grande densidade. Trata-se das famosas "Vésperas". Desta obra deixo aqui um pequeno extrato para se deliciarem no link: http://www.youtube.com/watch?v=ITNFt5Si48I . Obra de grande fôlego, sempre me marcou pela sua grandiosidade. Espero que também quando escutarem este pequeno extrato que aqui vos trago, vos sintais com curiosidade de descobrir a obra deste grande mestre do barroco.

Saturday, January 26, 2013

Agostino Steffani (1654-1728)

Regresso à minha viagem ao barroco. Viagem sempre apetecível. Hoje trago-vos um nome muito pouco conhecido desse período como é o caso de Agostino Steffani que pouco dirá até a muitos melómanos. Agostino Steffani  nasceu em Castelfranco Veneto a 25 de Julho de 1654 e viria a falecer Frankfurt am Main a 12 de Fevereiro de 1728. Agostino Steffani foi cantor, compositor, organista, diplomata e bispo tutelar católico de Itália. Desde cedo que mostrou a sua aptidão pela música, arte que viria a pôr de lado durante muito tempo sacrificada pela sua carreira diplomática. Quando passou a trabalhar para o eleitor do Palatinato junto da sua corte em Dusseldorf. Mas quis o destino que viesse a retomar essa sua antiga paixão pela música para, dessa forma, nos deixar algumas das mais belas páginas de música do barroco. Em 1724 a Academia de Música Antiga de Londres elegeu-o membro honorário vitalício, e em agradecimento ele dedicou-lhes um grande Stabat Mater e três madrigais, que exibem características vanguardistas para a época. Algumas das suas óperas foram famosas no seu tempo e os triunfos musicais sucederam-se ao ponto do papa Inocêncio XI o sagrar bispo de Spiga em agradecimento pelos serviços prestados. Lembrei-me de hoje vos trazer este nome tão pouco conhecido, até com uma certa aura de mistério, pelo redescobrimento de que foi alvo - ele e a sua obra - pela mão de Cecília Bartoli que viria a editar um CD e um DVD sob o título de "Mission" que já aqui vos recomendei e que atrevo-me a fazê-lo de novo dada a altíssima qualidade do produto final, já para não falar da extraordinária voz duma das maiores sopranos do nosso tempo. Como exemplo deixo-vos aqui um trecho que pode ser escutado no link: http://www.youtube.com/watch?v=8baWTJdqpbc . Espero que gostem e se deliciem tanto quanto eu. Porque vale a pena, porque é um produto duma qualidade que já não vi-a à muito no mercado. Imperdível. Mas também pela redescoberta deste nome esquecido dum dos períodos mais ricos da música como foi o período barroco.

Thursday, January 24, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 235

Afinal, e contrariamente ao que tínhamos prognotiscado, os "media" foram mais contidos do que se esperava no tão anunciado "regresso aos mercados". Isso não significa, conforme aqui o dissemos ontem, que não foi importante este teste à credibilidade do estado poruguês. O que aqui dissemos é que era preciso descodificar o que de facto estava a acontecer face a um estardalhaço que alguns políticos por aí queriam fazer crer. E o seu comedimento diz bem que afinal não era o tempo ainda de embandeirar em arco. Dir-se-á que a operação foi um sucesso. É verdade, mas fadada ao sucesso já ela estava desde o início. E o seu sucesso deriva desde logo por ter a cobertura dum sindicato bancário. O verdadeiro teste de fogo será em Setembro. Aí se verá o que de facto pensam os mercados de Portugal. Mas neste dia também se soube que a dívida teve um aumento relativamente ao que se esperava e fixa-se agora em 120,5% do PIB! Triste recorde para quem tinha a solução para resolver todo este problema num espaço temporal de dois meses! (Será que ainda se lembram de quem o afirmou repetidas vezes na AR?) Pois não foi esse o caso, infelizmente para todos nós. E quando se tenta passar a mensagem de que tudo está a correr bem e como o previsto, vemos que as coisas parecem andar um pouco ao sabor da corrente, isto é, ao sabor de desejos ultramontanos que não os de Portugal e das suas gentes. Depois do "folclore" de ontem, vemos que a economia está estagnada, o desemprego bate recordes sobre recordes pelas piores razões, a carga fiscal avassaladora vai esmagando todos, ou melhor, a maioria, os juros da dívida vão aumentando, levando Portugal a um incumprimento porque, simplesmente, não terá capacidade para fazer face a tão enorme volume de encargos. Daí o se vir defendendo, desde à muito, a renegociação da dívida. Ela até já começou, embora duma forma pouco noticiada, quando Vítor Gaspar pediu ao Eurogrupo que fosse concedido mais tempo a Portugal. Mas falta, como ontem dizíamos, que se negoceiem os juros. Se tal não vier a acontecer, mesmo com mais tempo para liquidar a dívida, Portugal terá imensas dificuldades e a austeridade prolongar-se-á por tempo ainda não claramente definido. É certo que dentro em breve se falará duma qualquer "vitória" menor porque estão a chegar as eleições autárquicas e é preciso cativar votos. Mas a dura realidade, que é aquela que sentimos todos no dia-a-dia, essa continuará porque não se abrirão nenhumas janelas de esperança para o futuro próximo. Referímo-nos às verdadeiras janelas de esperança com consequências efetivas, não àqueles postigos que o momento político eleitoral imporá por força do seu calendário. Ontem, João Almeida, dirigente do CDS/PP, partido da coligação, não deixou de colocar o dedo na ferida ao afirmar na AR, - tal como nós ontem o tínhamos já escrito -, que "se não houver crescimento da economia, dinheiro injetado na economia, então de pouco valeu ter-mos ido aos mercados". Assim, claramente. E o tom que utilizou, como se pode verificar, era dum homem mais preocupado do que eufórico pelo momento vivido, e isso é bem sintoma daquilo que se passa nos bastidores. Afinal, só houve uma classe que ficou satisfeita com o que se passou ontem. Foram os banqueiros. Esses sempre ficam satisfeitos com estas coisas, e era ver os sorrisos rasgados e o discurso em sintonia que todos utilizavam. Eles são, de facto, os beneficiados. São os que terão condições de se financiarem no exterior, coisa que estava a ser difícil nos últimos tempos. E quando se diz que se estão a criar condições de injeção de dinheiro na economia, penso que só os ingénuos acreditarão. Os bancos têm sofrido muitas perdas - não que sejam prejuízos, mas essencialmente, menos lucros - e enquanto estes senhores não recuperarem o que perderam não haverá dinheiro injetado na economia. E o que houver, será necessariamente para os grandes colossos económicos e não tanto para as pequenas e médias empresas  ou para as micro empresas. Essas continuarão a sofrer na pele a crise, a encerrarem as portas, a lançarem mais pessoas no desemprego. Quando um certo banqueiro num momento de infelicidade (e não é o primeiro), afirma que o povo português aguenta mais austeridade com o enfático: "Ai, aguenta aguenta!", diz bem daquilo que eles pensam, só que este, por infelicidade ou ingenuidade, afirmou em público o que todos pensam no recato dos seus gabinetes. Por isso, ainda estamos muito longe da meta que temos que atingir. Com certeza que haverá quem nos venha propôr novos oásis já daqui a pouco, os mesmos que já nos tinham proposto outros que nunca chegaram. Os tempos difíceis estão, infelizmente, longe do fim. Este ano e o próximo serão anos que, na nossa ótica, serão de dificuldades acrescidas. As coisas não estão a correr tão bem quanto nos querem fazer crer. Basta olhar para os relatórios que existem, para as estatísticas que andam por aí. O maná celestial, o leite e mel a escorrer pelas paredes ainda são uma miragem. Para já, só temos as paredes nuas, bem altas e frias...

Wednesday, January 23, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 234

Hoje iniciar-se-á o dia como se de uma grande vitória se tratasse. Os "media" encherão páginas, as televisões farão grandes parangonas. Afinal tudo isso pelo tão propalado "regresso aos mercados" de Portugal. E quando colocamos as aspas não o fizemos inocentemente. Mas descodifiquemos a situação. Contrariamente ao que se possa pensar, esta não é uma emissão regular de dívida, mas sim, uma reformulação duma operação já existente e que se vencerá em 2017. É, ao fim e ao cabo, uma reforma de dívida. A este tipo de operações chama-se tecnicamente "operação de incremento". Logo o tão falado "regresso aos mercados" começa a parecer outra coisa. Qual o risco desta operação? Neste caso ele é nulo, porque se não existirem compradores para os títulos, - estas operações são preparadas no mercado primário com antecedência -, o sindicato bancário formado por quatro bancos para esta operação, assume ficar com ela dividida em partes iguais, ou seja 500 milhões de euros para cada um. Isto é uma espécie de jogo em que sabemos antecipadamente quem vai ganhar. Mas não faltarão pessoas a clamar esta grande vitória como se todos os nossos males acabassem hoje! Isto não significa que não seja importante para Portugal esta operação, até para testar a reação dos mercados, mas longe do embandeirar em arco que por aí se vê e ouve. Hoje também será conhecido o défice do Estado que, segundo Vítor Gaspar, ficará nos 5% acordados, embora haja sinais de que fique um pouco mais abaixo. (À hora que escrevemos ainda não temos conhecimento desses dados). Contudo, e a verificar-se essa situação, será importante sem dúvida, mas que carece de algum cuidado de análise. Primeiro, porque esta situação está a ser atingida com mecanismos extraordinários, nem sempre muito evidentes, com operações de rearranjo financeiro e vendas apressadas e ao desbarato de património. Não é caso único, nem Portugal é o único país a recorrer a estes expedientes, que embora dentro dos limites legais, não deixam de enviesar o resultado final. Mas que efeito prático terá sobre cada um de nós? Zero! Porque enquanto a economia não começar a crescer e o desemprego a diminuir, não conseguiremos sair da situação em que estamos. Agradamos aos credores e à "troika" pelo objetivo do défice, mas quanto a todos nós, nada se passará para minorar a situação em que vivemos. Uma coisa é a finança outra a economia. Dentro deste cenário, ainda tivemos o pedido de renegociação do prazo da dívida. Para um governo que dizia que nunca pediria mais tempo, não deixa de ser curioso. Já aqui o defendemos por diversas vezes, bem como, muitos economistas reputados que, aparentemente, iam contra a corrente oficial. Afinal não era assim! Ignorância ou má fé, cada um tirará as suas ilações. E porquê deste pedido? Porque Portugal tem, nos próximos 4 anos, que pagar 50.000 milhões de euros, isto é, cerca de um quarto do PIB! Mas como seria isso possível sem que a economia cresça? Uma falácia colossal. E, como vimos insistindo desde há muito, porque não renegociar os juros. Uma coisa sem a outra pode ter um efeito preverso no médio prazo. Com o seu abaixamento até se poderia aliviar um pouco a austeridade, embora é nossa convicção que o atual executivo não seguiria esse caminho. O "timing" desta operação prende-se, assim, com o abaixamento dos juros (yields) que se está a verificar nos mercados. Trata-se assim, duma "jogada" do governo antes que as coisas comecem a correr menos bem, como é nossa convicção, durante 2013 e 2014. E não tenhamos dúvidas. Isto é uma renegociação da dívida, embora o governo tente passar uma mensagem diversa. Para que fique claro, existem três tipos de renegociações de dívida: Por aumento de prazo, por diminuição de juros e, por perdão parcial da dívida, a que tecnicamente se dá o nome de "haircut", situação que já vimos a ser aplicada na Grécia. Assim, este pedido de mais tempo, não é mais nem menos, do que uma renegociação, que fique bem claro. E se o pedido foi feito às instâncias europeias, estranha-se que tenha ficado de fora o FMI. Lagarde tem dito que não, mas será importante que o FMI entre na operação neste momento em que tudo parece correr bem, porque a muito curto prazo, ainda em 2013 e como atrás já referimos, tornar-se-á visível que não será assim, infelizmente para todos nós, a menos que muita coisa aconteça ao nível da economia no curtíssimo prazo, o que nos parece pouco provável. Assim, o dilema de Gaspar é mais do que evidente. Com um cenário aparentemente benéfico, quando passamos a uma análise mais fina vemos que tal não se aguenta por muito tempo. Nada de novo para um ministro das finanças. Já vimos, o anterior ministro da pasta, homem de grande competência técnica, - tal como Gaspar -, a ter que aumentar os salários dos funcionários públicos quando todos os indicadores apontavam para o inverso, situação que depois, logo após as eleições, teve que ser corrigida. O dilema dum homem que ocupe esta pasta, e se ele é altamente competente, como é o caso, é sempre este dividir de atitudes entre aquilo que tecnicamente se impõe e aquilo que a agenda política determina. As autárquicas estão aí à porta. Não é inocente o tempo em que tudo isto acontece. Mas o dilema de Gaspar, - o sacrificar o técnico ao político -, esse manter-se-á, sobretudo, quando se começar a ver que nem tudo são rosas, mas que estas estão pejadas de espinhos.

Tuesday, January 22, 2013

Conversas comigo mesmo - CXXV

Hoje cumprem-se 23 anos sobre a morte de minha avó Margarida. A minha avó materna foi uma pessoa sempre presente na minha vida. Ela e o seu marido, - o meu avô José -, foram as pessoas com quem eu cresci, com quem eu fui educado. Eles me transmitiram os valores duma vida, hoje quase fora de moda, mas para a geração deles eram a coisa mais importante. Valores como o respeito pelos outros, valores como o respeito pelo mundo que nos cerca, assuma ele a forma que assumir, valores do trabalho, do estudo, da cultura. A minha avó tal como o meu avô eram gente simples, de cultura básica, mas com uma visão de futuro muito aguçada. Eles já tinham surpreendido alguns quando colocaram o seu filho a estudar numa altura em que as pessoas nem o básico faziam por completo. Depois comigo, assumiram a mesma postura. Recordo neste dia, com que carinho e até algum sacrifício ela me ia levar à escola. Participava da minha educação conforme podia e sabia, mas estava sempre presente. Cresci com ela, era a minha sombra tutelar. Com ela tinha os meus desabafos, dela recebia os incentivos para ir em frente quando as situações me faziam esmorecer. Hoje tenho para ti avó, um forte pensamento. Sei que estás aqui, como sempre estiveste presente na minha vida, com a mesma força e determinação que sempre vi em ti. Passados todos estes anos, ainda me recordo dos teus últimos dias. Tinhas tido uma indisposição - não se podia chamar doença porque nunca estiveste doente para além dumas gripes ou constipações! -, mas foi o alarme para todos. Deixaste de comer como habitualmente, e neste dia à 23 anos atrás, tomaste um bom pequeno-almoço e um bom almoço. Quando todos pensavam que estavas a recuperar, partiste. Soube da notícia a meio da tarde quando estava a trabalhar e a confusão de sentimentos que tive foi avassaladora. Tinha perdido o meu alter ego. Tinha perdido a minha referência. Tinha perdido aquilo que de melhor a minha vida me tinha dado. A minha vida nunca mais foi igual. Faltavas tu! Hoje celebro esse dia, já longínquo no tempo, mas tão próximo na memória. E o simples facto de estar aqui a recordar-te, - e a fazê-lo publicamente -, é disso testemunho. A minha memória está hoje (sempre) contigo. Curvo-me à grande mulher que foste, à grande mãe, mas sobretudo, à grande avó. De ti recebi sempre carinho e compreensão. Força quando ela me faltava. Alento quando este me abandonava. Hoje venero a tua memória. A memória duma das mais emblemáticas ausentes que povoam a minha já vasta galeria. Hoje tenho este pensamento forte focado em ti. Lá onde estiveres que estejas em paz pelo que foste, pelo que fizeste, que disso dou testemunho. Descança em paz, avó!

Monday, January 21, 2013

Antonio Vivaldi (1678-1741)

Hoje resolvi voltar ao barroco. Um período da história da música que me encanta e fascina. Não sei explicar porquê, mas este período enleva o meu espírito, aprofunda o meu pensamento. Já vários compositores deste período trouxe aqui, mas hoje trago-vos aquele que é, seguramente, o mais conhecido e celebrado, Antonio Vivaldi. Antonio Lucio Vivaldi nasceu em Veneza a 4 de Março de 1678 e viria a falecer em Viena a 28 de Julho de 1741. Vivaldi foi um compositor e músico italiano daquilo que se chama o "barroco tardio". Tinha a alcunha de il prete rosso ("o padre ruivo") por ser um sacerdote católico de cabelos ruivos. Compôs 770 obras, entre as quais 477 concertos e 46 óperas. É sobretudo conhecido popularmente como autor da série de concertos para violino e orquestra Le quattro stagioni ("As Quatro Estações"). Mas também escreveu motetos, música de câmara, música sacra, etc. Foi um compositor muito eclético que percorreu, praticamente, todos os géneros de música que estavam em uso na época. Queria aqui recordar um filme de título "António Vivaldi - Um Príncipe em Veneza" de Jean-Louis Guillermou. Neste filme é retratada a vida de Vivaldi e a sua extraordinária influência na sociedade veneziana da época. Filme com uma grande fotografia e com momentos musicais da obra de Vivaldi, gravados em 5.1, que fazem do filme uma obra de particular interesse que passou quase despercebida entre nós. Deixo-vos aqui um link: http://www.youtube.com/watch?v=nGdFHJXciAQ sobre "As Quatro Estações", neste caso, o "Inverno", com as imagens sempre belas e pungentes do carnaval de Veneza. Um deleite para os olhos e um encanto para os ouvidos. Espero que gostem de mais esta figura, talvez a maior e mais conhecida, do período barroco, um dos períodos da história da música mais fascinantes, não só do ponto de vista musical, mas também cultural.
 

Tuesday, January 15, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 233

Ontem passamos a ser um país de ricos! Ontem passamos a ser todos, ou quase todos ricos! Ontem foram publicadas as novas tabelas do IRS e ficamos a saber que quem ganha mais de 595 euros passou a ser enquadrado pelos novos escalões, isto é, uma pessoa que ganhe mais de 595 euros passou a ser considerada rica! Se a este ingrediente juntarmos os outros que constam do OE 2013, de facto, somos um país de ricos miseráveis. Numa sociedade em que nem o salário mínimo é respeitado talvez quem ganhe 595 euros seja de facto considerado rico. Ontem também se ficou a saber que uma soma muito apreciável de portugueses estão a ganhar salários de 300 euros ou menos.  E o seu número cresce cada vez mais. Sujeitam-se a isso porque têm famílias para sustentar. Assim se justifica o novo significado que o termo "rico" encerra para os nossos governantes. Do crescimento nem se fala porque simplesmente não existe, do emprego não se fala porque cada vez se vão batendo recordes pelas piores razões, da saúde não se fala quando parece haver hospitais a racionar certo tipo de fármacos, do ensino não se fala porque as condições deste são cada vez piores empurrando os jovens para o privado ou para o abandono escolar. E depois de tudo isto ainda vemos o PM nos Açores incentivar os portugueses a pensar para além da "troika"! Depois da "troika" que restará? Não estaremos todos mortos como dizia Ferreira Leite? E não vamos entrar sequer no relatório do FMI, porque achamos que não está clara a sua aparição, bem como, o seu propósito. Sobre ele aguardamos para ver. Embora achemos que nem tudo de mal vem do FMI ou da "troika", mas temos todos a perceção de se usam estas entidades porque dá jeito a estas políticas. Esta é a fotografia do Portugal atual, do Portugal onde os milhões existem não para a economia mas sim para os bancos, como foi agora o caso do Banif, e como todos sabemos, estes não estão interessados em investir ou em conceder crédito à economia. Mas esta é também a fotografia da Europa, duma Europa que tem conduzido este processo, como o dos outros países resgatados, duma forma inábil, desprendida, irresponsável. Se o objetivo era a desagregação da Europa ou o seu enfraquecimento, pois parece que os objetivos estão a ser atingidos. Não esqueçamos que entre a Europa do Norte e a do Sul, o fosso tem-se vindo a ampliar nestes últimos anos, já com uma diferença de 1,5% que já é um valor apreciável. Hoje no Público, Eduardo Lourenço escreve sobre "o crepúsculo da Europa" e afirma que "as três maiores potências europeias, Alemanha, França e Reino Unido, estão mais interessadas em evitar que qualquer delas seja o motor de desenvolvimento europeu do que ajudarem a Europa a sair desta situação". Esta é a realidade europeia, esta é a realidade portuguesa, afinal ainda fazemos parte da Europa. Dirão alguns que já que falamos em "crepúsculo" isto mereceria ser sublinhado por uma música heróica, épica até, talvez Wagner, que escreveu uma ópera sobre o tema. Mas como as coisas estão, achamos que é mais adequado uma marcha fúnebre, ou mesmo um "Te Deum" dos muitos que por aí proliferam.

Monday, January 14, 2013

Zico e o complexo de Édipo




Reproduzo aqui um texto que me chegou através do CHV - Centro Hospitalar Veterinário, sobre o Zico, o cão que pertensamante, terá morto uma criança a semana passada. Pela sua importância aqui o reproduzo:

"Terá sido aos 93 anos que o grego Sófocles retomou a história de Édipo, uma tragédia que fere gerações atrás de gerações. Quando tudo se tornou uma catástrofe, Édipo foi atirado para o exílio, onde vagueou sozinho, penitente, durante muitos anos. Só pelo seu sofrimento, ele atingiu um relacionamento humilde com os deuses e, quando morreu em Colono, foi abençoado por eles.

E assim o cego, mas redimido Édipo, aquele que alcançou um nível sublime de sabedoria, está apto a confessar: "O sofrimento e o tempo, o vasto tempo, foram instrutores em contentamento" (Sófocles, in: Édipo em Colono).

Antes deste exílio, Édipo era um rei que lutava por todas as suas vontades, fazendo pleno uso da maior garantia de evolução que possuímos: o livre-arbítrio. Contudo, o seu erro foi o de ceder aos condicionamentos e prisões do passado.

Vem isto a propósito das recentes agitações sociais – empoladas pelo efeito do Facebook – que abanaram o país. Numa semana em que uma deputada é detida alcoolizada, um dirigente de uma juventude partidária urina num carro da PSP porque diz estar “protegido”, em que o FMI dá ordem ao governo para mais uma série de despedimentos e cortes sociais, o alvo da pontaria intelectual e de indignação dos portugueses foram: uma miúda que quer uma mala como sua maior conquista pessoal para 2013 e o abate do Zico, um pitbull apanhado nos enredos humanos. Em menos de 1 semana, a petição contra o abate de Zico já conta 13 mil assinantes -
agora mais de 50 mil! - e uma força nas redes sociais que é obra!

A constante insistência na solução de abate de cães etiquetados como ‘potencialmente perigosos’ parece esquecer dois aspetos básicos:

1) Todos os cães aprendem algo quando existe uma mudança significativa no seu comportamento. Temos, porém, que distinguir entre as mudanças que se devem à aprendizagem das que resultam de outras causas. Se um cachorro procura comida num local, e horas antes não o fazia, isso pode dever-se a que agora esteja com mais fome do que antes e, portanto, mudou o seu estado motivacional. Existem vários tipos de aprendizagem (não associativa, associativa, latente, súbita e social). A mais comum, como Pavlov evidenciou, é a associativa (instrumental ou operante). Assim, talvez a solução de abate de cães, a que gratuitamente se optou por chamar de «perigosos», é capaz de resolver situações como a do Zico tanto como a detenção de jovens tem resolvido a questão dos adolescentes atiradores, nas escolas dos EUA.

2) O cão portou-se mal, logo o cão é perigoso. O cão é perigoso, logo vamos abater o cão. Este simplismo de raciocínio invoca um facilitismo recorrente: a crença cega no «BEM» e no «MAL» como forças. Ora, nem um nem outro são forças inevitáveis e opostas, pois, se o fossem, teríamos de inventar uma terceira força para desempatar a disputa. Tal como Édipo mostra e compreendeu, o mal ou o bem só existem no nosso livre-arbítrio. Assim, é sabido que os animais não têm livre-arbítrio, obedecem à sua natureza e não há naturezas boas ou más, já que estas dependem sempre da vontade e da escolha. E esta capacidade de escolha não é o mal nem o bem. Há, sim, maus usos do livre-arbítrio e más escolhas. E quando isso acontece, nasce o medo. E quando nasce o medo, abatem-se cães."

Para todos aqueles que apoiam o Zico, como eu, aqui fica a reflexão, para os outros, que são contra e até recorrem ao insulto mais suez porque à falta de melhores argumentos, aqui o deixo também para reflexão, talvez que ao lê-lo se tornem seres humanos melhores.
 

Conversas comigo mesmo - CXXIV

Desde que assumi ser padrinho da minha afilhada Inês, sempre me ficou a bailar no pensamento a responsabilidade que daí adeviria, bem como, se estaria à altura do acontecimento. Normalmente, as pessoas vão batizar sem se colocarem a si próprias algumas questões que, na minha ótica, são fundamentais. Nesta sequência, chegou-me às mãos um documento que reputo de suprema importância, que nos obriga a pensar, a refletir, no que é o batismo, na sua essência, no que ele encerra, que é bem mais do que uma roupa nova, uma bela festa ou uma mesa recheada. Esse documento chama-se "Carta dos pais no dia do batismo dos filhos" e o que nela é dito poderia muito bem ser aplicada aos padrinhos, tal como eu, que me revejo muito neste texto, onde se lê o seguinte: "Meu filho, nesta carta, que poderás ler mais tarde, ficam as razões pelas quais nós, hoje, te fizemos batizar: Não foi para te marcar ou impor um caminho, nem para te prender a um credo ou a uma doutrina. Quisemos batizar-te para que te possas sentir não apenas nosso filho, mas também, e sobretudo, filho de Deus; pois temos a consciência de que a tua vida e o teu destino nos ultrapassam e só encontram o seu verdadeiro sentido em Deus, nosso Pai. Quisemos batizar-te para que além da nossa pequena família, tenhas uma grande família: a igreja de Jesus Cristo que é a comunidade dos que crêem n'Ele e seguem o seu caminho de amor e de fraternidade sem fronteiras, rumo à Casa do Pai. Quisemos batizar-te para que o Espírito de Jesus seja a tua luz, o teu guia e a tua força: Luz e guia para andares sempre no caminho do bem, força para superares as dificuldades e poderes contribuir para um mundo melhor. Quisemos batizar-te pensando que poderás compartilhar com os outros a fé, o amor e a alegria de que todos precisamos. Isto tudo na esperança de que um dia assumirás, livremente e com alegria, o batismo que hoje pedimos para ti." Um excelente texto que nos coloca alguns pensamentos muito para além da esfera estritamente religiosa indo muito para além dela. Um bom tema de reflexão para quem é ou pretende vir a ser padrinho de alguma criança. Sei que nos dias que correm de imediatismo, de vida apressada, nem sempre temos tempo(?) para a reflexão. Mesmo sabendo disso, ou talvez por isso, vos trago este texto para que dele façais o melhor uso possível.

Sunday, January 13, 2013

Leonardo Leo (1649-1744) - Ainda a propósito do barroco

Trago-vos hoje mais um compositor do período barroco, trata-se de Leonardo Ortensio Salvatore de Leo que nasceu em San Vito dei Normanni a 5 de Agosto de 1649 e viria a falecer em Nápoles a 31 de Outubro de 1744. Foi mais um dos grandes compositores do período barroco italiano que pertence aquilo que se denomina como escola musical napolitana. Leonardo Leo é um compositor muito pouco conhecido entre nós, embora a Antena 2 - a nossa rádio clássica - tenha vindo a revelar a sua música através de discos que vão chegando às bancas. Da sua muita obra produzida destaco aqui ao nível da ópera "Le nozze di Psiche e Amore" (composta para o casamento entre Carlos III de Espanha e Maria Amália da Saxónia, 1738) e "La clemenza di Tito" (1735). Na oratória é de sublinhar as suas duas grandes obras "La morte di Abele" (1732) e "Sant'Elena al Calvario" (1732). Mas Leonardo Leo também andou pela música sacra, coisa usual no seu tempo, onde se salientam as obras "Ave Maria" e "Miserere". Na música instrumental temos os "6 concertos para violoncelo" (1737-38), o "Concerto para 4 violinas", os "2 concertos para flautas" e a "Toccate per cembalo". É precisamente do seu concerto para flauta, cordas e baixo contínuo in G major, que trago aqui a primeira parte. Para ouvir basta clicar em http://www.youtube.com/watch?v=1vO-kes7AmA . Podemos assim apreciar o ritmo, a luminosidade, alegria da música de Leonardo Leo. Quando falamos do barroco, por vezes, associamos esta música a um certo melancolismo, até a uma certa religiosidade. É verdade que esses items estiveram/estão presentes na música barroca, mas também, estiveram/estão presentes muitas obras cheias de alegria, vitalidade, apelando à dança. É o caso deste concerto que vos proponho, apenas a parte 1, das duas que o integram, que mostram bem aquilo que disse atrás. Bom, não resisto e coloco aqui o link da parte 2, porque acho que vale bem a pena http://www.youtube.com/watch?v=c6NOjXfHYM4 . Este é um período dos que mais aprecio dentro da música. Não sei porquê, mas há uma certa mística que a isso me conduz. Ouçam estão esta peça de Leonardo Leo, música barroca, melhor, música intemporal com sabor a barroco. Disfrutem e tentem ir à descoberta deste período, que é um dos mais ricos, fascinantes e prolíficos da história da música. Espero que gostem.

Friday, January 11, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 232

O presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, esteve entre nós. Ele que já tinha criticado o FMI por estar sempre a exigir mais e mais austeridade fruto de políticas erradas, que o próprio FMI assume como tal, diz que assim não vamos lá. "Só austeridade sem crescimento não tirará o país da crise em que se encontra" acrescentou. Mas Schulz foi mais longe, quando viu da varanda da AR os feirantes a manifestarem-se quis saber o que se passava e logo quis vir junto deles e falar-lhes. Contou a sua experiência de vida, emocionou os manifestantes, e foi-se embora sob uma chuva de aplausos. Quão distantes estão estas atitudes daquelas que vemos do nosso tirânico governo! Tirânico, sim, e para quem tenha dúvidas, não deixem de escutar a entrevista que o Prof. Adriano Moreira deu à Antena 1, hoje mesmo. "A matriz deste governo é ultraliberal com laivos de autoritarismo", assim preto no branco, sem papas na língua, o Prof. Adriano Moreira sintetizou aquilo que muitos de nós já tínhamos visto e escrito, sobre este grupo de pessoas que agora nos governa. Para os defensores do executivo - será que ainda os há? - o Prof. Adriano Moreira deve ter vestido a pele dum perigoso comunista, extremista de metralhadora em punho, qual Rambo, a lutar contra estas pessoas que se dizem de bem. Mas não. O Prof. Adriano Moreira é um eminente catedrático, ex-ministro dos negócios estrangeiros do Estado Novo, com quem saiu em rutura, por não concordar com a política salazarista para as colónias. Foi também uma figura de proa do CDS, antes de este ser PP, de populista e co-responsável pela destruição dum país, empobrecimento dum povo, destruição de empregos e de muitas famílias. Por mais que Paulo Portas e seus seguidores queiram buscar a quadratura do círculo, penso que todos já vimos o embuste que nos querem impingir. Hoje, quer dentro de fronteiras, como na Europa, já ninguém acredita nesta política e neste governo. Descredibilizado, desonesto, com um programa que pretende fazer passar à socapa, bem diferente daquele que foi referendado a quando das eleições. Basta ver o que aconteceu com a fuga de informação do relatório do FMI que é bem disso exemplo. (E Paulo Portas não escondeu a irritação por mais esta fuga, porque se sente conivente com este embuste). Venderam a ilusão a um povo de que iam salvar o país, depois impingiram-lhe (impingem-lhe) um programa que reduz o país e as pessoas à miséria extrema. Governo sem coluna vertebral, que se ajoelha perante os seus parceiros europeus, nomeadamente a Sra. Merkel, que é quem verdadeiramente manda neste país, dá a imagem dum governo sem programa próprio, que repete entre muros aquilo que, lá de fora, lhe mandam dizer, sem capacidade de reação para defender os interesses que são os nossos. Hoje temos um governo "estrangeirado", que já não representa os interesses do país. Uma espécie de ocupação dos "filipes" como aconteceu no passado mais remoto que nos governou de 1580 até 1640. (Será por isso que eliminaram o feriado?) E para quem diga que é um governo legitimamente eleito, dizemos que por mais legitimidade democrática que tenha, já a perdeu quando passou a impor a um país um programa bem diferente daquele que foi sufragado. É pena que ainda não tenha surgido nenhum líder para nos levar à "restauração", à redenção dizemos nós.          

Testemunho de Ruy de Carvalho sobre o caso de Zico

Este grande Senhor da cultura e dos palcos não ficou indiferente ao caso absurdo do presumível abate de Zico, um cão raçado de pitbull, depois de um ataque a uma crinaça que viria a falecer. Só que o mais estranho disto é que a criança parece não ter sinais de qualquer mordedura do cão(!), contudo, e apesar disto, parece que se mantém o intento de abater o pobre animal. Ruy de Carvalho não gostou do que viu e ouviu e endereçou esta carta so canil de Beja, onde o Zico está retido. Diz assim:
 
"No seguimento dos acontecimentos relatados pela comunicação social relativamente ao caso de Zico, cão arraçado de Pit Bull que, supostamente, provocou a morte a um bebé de 18 meses, e como cidadão contribuinte deste país, solicito que a câmara municipal de Beja, e quem de direito, analise muito bem esta situação e não proceda ao abate do cão em causa. É do conhecimento dos entendidos, e também deveria ser dos veterinários que trabalham nesse município, que não há raças perigosas. Existem sim donos perigosos, inconscientes e que não se preocupem, nem em providenciar o bem estar e educação dos animais que adoptam, nem em proteger aqueles que são mais frágeis, como foi o caso deste bebé. A haver culpados, que os há, serão os adultos desta família. O bebé que faleceu é a maior vítima, pois não teve protecção adequada por quem tinha essa obrigação.

O cão que se encontra agora no vosso canil será igualmente uma vítima, uma vez que se teve alguma
culpa na morte da criança, (e já circulam notícias de que no relatório médico da autópsia feita à criança não há indícios de mordeduras) foi por desmazelo e desconsideração dessa família que, como infelizmente tantas outras por este país, continua a levar para casa animais como quem leva um tapete ou um quadro. Não se preocupando se o espaço é adequado para o animal, se tem tempo para o educar, para o passear, se tem possibilidades financeiras de lhe prestar os cuidados médicos que ele necessitar e, ao que parece, se tem a responsabilidade suficiente de registar um animal desta natureza e proceder ao seguro exigido por lei.

Por tudo isto, peço que a vida do Zico seja poupada e que o mesmo seja entregue a quem provar que o sabe cuidar. E penso que já há candidatos...

Sem outro assunto,
despeço-me com os melhores cumprimentos.

Ruy de Carvalho"

Aqui fica o depoimento/carta que coloco à consideração de todos os que seguem este espaço, sem mais comentários.

Thursday, January 10, 2013

O abate de um inocente (Zico)

Segunda-feira passada fui surpreendido por mais uma notícia de um cão que mordeu uma criança. Parangona de notícia que melhor seria que tivesse sido mais bem esmiuçada. Achei estranho que o cão fosse tão dócil – vejam a maneira como o “dono” o conduziu à carrinha que o levou para o canil – e também pelo testemunho dos vizinhos. A própria delegada de saúde, mostrou até alguma amargura nas palavras, e sobretudo, nos gestos. Em 9 anos o cão foi meigo e partilhou a sua vida com crianças, e de repente isto!... Que terá acontecido? O testemunho veio pelo “dono” assumidamente uma criatura sem escrúpulos, e que a comunicação social fez eco. Já em tempos, segundo o próprio, teria querido abater o animal por não ter condições para o ter!!! Agora diz que não se importa com que ele seja abatido, sem remorso e sem escrúpulos, como é apanágio de gente baixa e de rasteira condição. Afinal o que se passou foi simples. O cão estava fechado na cozinha às escuras, de repente entra a criança e cai-lhe em cima e o cão, naturalmente, reagiu. E agora é caso para perguntar, se fosse qualquer um de nós, fechado às escuras numa sala e de repente algo nos caísse em cima, como reagiríamos? Tenham cuidado com a resposta, não vá o diabo tecê-las. Contudo, a lei diz que o animal tem que ser abatido! Estúpida lei, dum país de gente estúpida, que cada vez mais, me desilude. Não desejo a morte a ninguém – nem ao pobre animal -, mas talvez esse sujeito a quem no início chamei “dono” devesse ser confrontado com tudo isto. Quem não tem condição para ter um cão não o tem, ou então, compra um papagaio, que sempre fala qualquer coisa e sempre o mesmo, mas num país onde tantos falam sem saber o que dizem, já ninguém ficaria surpreendido. Entretanto, foi divulgado que a criança mordida morreu. Há a lamentar esta morte como lamentarei a do animal que, segundo informações divulgadas, será abatido no início da próxima semana. Muitos dirão que se fará justiça, a justiça de Talião, “olho por olho, dente por dente”. Só que o olho e o dente não são seguramente a criança e o cão. O verdadeiro responsável é o tio da criança e “dono” do animal. (Tenho vindo a escrever “dono” entre aspas e não é por acaso). Esse sim, é que deveria ter sido punido. O MP abriu um inquérito que não dará em nada como é habitual entre nós, apenas uma pequena multa, isto se tal vier a acontecer. E por isso digo que à força de exercer tal justiça, acabamos todos por ficar cegos. Este é mais um exemplo, um triste exemplo, de muitas situações que acontecem por cá. Miserável país que tem tais leis que são incapazes de proteger os animais. Tenho vergonha do meu país, e se tivesse menos idade, já me tinha ido embora. E não pensem que a culpa de tudo isto é também da “troika”!!!

Tuesday, January 08, 2013

Arcangelo Corelli (1653-1713)


Hoje passam 300 anos sobre a morte de Arcangelo Corelli, - nasceu em Fusignamo a 17 de Fevereiro de 1653 e viria a falecer a 8 de Janeiro de 1713 em Roma -, e foi um dos principais mestres do barroco. Foi, também, o mais famoso violinista-compositor do barroco, e um dos mais influentes depois de  Claudio Monteverdi. Embora a sua produção integral se resuma a seis antologias, a sua escrita instrumental era admirada pelo refinamento harmónico e estilo brilhante, tendo sido referência crucial para muitos compositores, entre eles  Johann Sebastian Bach e Georg Friedrich Handel. Sou um grande admirador do período barroco, daí esta data não me ser indiferente. Trago aqui um vídeo ( link em http://www.youtube.com/watch?v=oxtO9CzF7-o  que se refere ao seu Concerti Grossi op.6 composto em 1714) para se deleitarem com a música dum dos períodos da História mas ricos, quer para a Europa, quer para Portugal. Para os que conhecem, com certeza irão adorar, para os outros é uma boa maneira de ouvirem, e talvez descobrirem, grande música de um grande compositor.

Sunday, January 06, 2013

Dia de Reis - Fim das festividades natalícias

Hoje celebra-se a Epifania de Reis. Dia em que, segundo a tradição cristã, os reis magos foram adorar o Menino Jesus. Época maior das celebrações natalícias, como é o caso em Espanha, por cá, é apenas e só isso, o encerramento do ciclo natalício. Entre nós não tem grande tradição e em poucos sítios é celebrado. Apesar disso, não vos queria deixar de desejar um feliz Dia de Reis. Boas Festas a todos.

Wednesday, January 02, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 231

Aqui estamos a iniciar mais um ano. Este particularmente difícil, de dificuldade anunciada por um governo incapaz de inverter a situação em que nos encontramos, prometendo-nos miríades a todo o momento onde apenas vislumbramos desespero, miséria, frustração. E tal ainda ampliado pela já crónica incapacidade dos governantes em motivar as pessoas para fazer face às dificuldades que se vivem. Dirão alguns, que é difícil fazê-lo. É verdade, mas quando não se acredita no que se está a fazer, quando não se sabe o rumo que tomar, ainda é mais difícil. Isto é o que o governo vai mostrando, aqui e ali, a dificuldade que tem em acreditar nas suas próprias políticas que, diga-se em abono da verdade, cada vez vão cavando mais o fundo ao abismo para que nos empurraram. E se a mensagem de Natal do PM roçou o patético, que dizer dos seus "desabafos" no facebook, quais atos de contrição!!! Essa conversa mole de quem embala criancinhas começa a estar gasta e os portugueses querem medidas mais definitivas face ao sufoco da vida que levam. Mas a que assistimos nós? A mais do mesmo, a receitas cada vez mais severas, ao empobrecimento mais aviltante, que nos vai empurrando para muito abaixo do limiar de pobreza. Hoje Portugal é um país pobre e de pobres. Um país a envelhecer a olhos vistos onde a capacidade de resistir é cada vez menor. Um jovem vai sempre buscar forças onde menos se espera, com uma capacidade de resistência bem diferente dum menos jovem, com encargos, com família a cargo, com a idade mais avançada que o coloca fora do mercado de trabalho, e com uma capacidade cada vez menor de reagir. Este é o retrato dum país que já foi desenvolvido e que, de um momento para o outro, foi colocado na vereda da miséria. E não nos falem do governo anterior. Primeiro, porque se quisermos ir por aí, não será apenas o anterior a ser julgado, mas muitos mais desde os idos anos 80, que começaram a bravata com Cavaco então PM. Depois, porque em apenas um ano e meio, este governo consegui agravar todos os indicadores económicos duma forma verdadeiramente insustentável. É ver o que está a acontecer com o desemprego, com a dívida e até com o défice que era a bandeira maior deste executivo. Dizia o bispo emérito de Setúbal, D. Manuel Martins, "os governantes não estão à altura do momento". Esta é mais uma voz da Igreja a levantar-se contra este delapidar da situação social no nosso país. A Igreja tem feito um coro de protesto contra o executivo e não será, seguramente, um dado a ignorar. Basta ver as mensagens e as homilías do Cardeal Patriarca, bem como, as mensagens proferidas em muitas paróquias no Natal e no Ano Novo. De tudo isto, ficamos com a sensação de que um enorme vazio se vai abrindo cada vez mais entre as populações e o governo que tem a obrigação de as governar. Perante as dificuldades crescentes dos portugueses, os governantes, de cima do pedestal onde se encontram, nos seus luxosos gabinetes, apenas nos atiram com estatísticas e mais estatísticas, com se fosse com isso que o comum dos cidadãos vai governar a sua vida, com o cortejo de aumento de preços que sempre se fazem sentir no início de cada ano, na carga tributária que foi aprovada no OE com sinal de esbulho mais do que outra coisa. O último reduto que ainda restava aos portugueses era o PR. Este com os seus silêncios, os seus "famosos" tabús, a sua linguagem enigmática que já ninguém leva a sério, - nem o governo que o ignora a cada passo -, lá foi aprovando o OE para depois o enviar para o TC. Para além duma manobra política isto significa aquilo que o povo diz de "estar de bem com Deus e com o diabo". Duma penada, Cavaco ajuda o seu governo, do seu partido, e acalma as hostes daqueles que vinham invetivando o PR a vetar o documento. Política de ziguezague dum Cavaco que também sente que é responsável pelo descalabro iniciada nos idos de 80. Este é também um sinal de se ter o PR e o governo da mesma tendência política, depois dá nisto, e que ninguém se queixe. Estas pessoas estão lá porque alguém (muitos) lá os colocaram. Com este cenário em pano de fundo, é difícil fazerem-se votos dum bom ano. Porque ele será tudo menos um bom ano. Será o ano do saque institucional aos portugueses, onde estes estão cada vez mais próximos de terem de pagar para trabalhar. Como dizia Bagão Félix, "os que trabalham estão a ser expurgados, por este andar, mais vale não trabalhar. Está-se a incentivar a não trabalhar". Palavras dum homem que sendo de direita e conhecedor das finanças públicas não podem ser ignoradas. O calvário das nossas vidas já começou à muito, este ano significa que ele se tornou mais íngreme e portanto, mais difícil até pelo cansaço que já todos levamos de tantas dificuldades. Corremos o risco de este novo ano se tornar num calvário permanente, numa "via crucis" à qual poucos podem escapar. E no fim, qual será o resultado? Apenas o nada, o vazio, o desespero.

"Até ao fim" - Um relato verídico da secretária de Hitler - Traudl Junge

A posteridade conhece-o como ditador, estadista megalómano e o Führer responsável pela maior castrátofe humana do século XX. Entre Dezembro de 1942 e o suicídio no "bunker do Führer" em 30 de Abril de 1945, Traudl Junge foi secretária pessoal de Hitler. Presenciou o atentado de 20 de Julho de 1944 e escreveu à máquina o seu testamento "político". Em pouco tempo a rapariga simples de Munique, que na realidade queria ser bailarina, viu-se no centro do poder nazi. Em 1947, anotou as suas experiências no círculo íntimo de Hitler - até hoje, o manuscrito permaneceu inédito na sua totalidade. A conceituada autora Melissa Müller lançou-se na tarefa de publicar este documento histórico único, complementando as anotações de Traudl Junge com uma introdução biográfica e um epílogo baseado em conversas pessoais. Aqui se explica como foi possível uma jovem mulher ter aceite um posto com um homem que destruiu a vida de milhões de pessoas, numa altura em que outra jovem muniquence, Sophie Scholl, há muito reconhecera a dimensão do crime de Hitler, e fora executada como membro da resistência. Por outro lado, também se ilustra a perspetiva atual de Traudl Junge sobre o próprio passado, que paira como uma sombra na sua vida, face ao horror perante o conhecimento da sua culpa e ingenuidade. Traudl Junge tinha 22 anos e sonhava com a carreira de bailarina, quando surgiu a "oportunidade" da sua vida. Adolf Hitler convidou-a para um teste de ditado. De 1942 até à morte de Hitler, esteve sempre ao seu lado, escreveu à máquina os seus discursos e até o famoso testamento "político" e privado. Logo a seguir à guerra, Traudl Junge anotou as suas experiências entre o bunker do Führer e o Berghof. Este livro vem, pela primeira vez, tornar público um documento de inestimável valor histórico, no qual a secretária de Hitler nos conta a sua vida, com a colaboração da jornalista Melissa Müller, que ordena biograficamente as anotações de Traudl Junge, mostrando-nos como uma pessoa pode mudar na restrospetiva horrorizada de uma vivência, acabando por percebê-la como uma intimidação à democracia radical. Sobre a autora, Traudl Junge nasceu em 1920 em Munique, filha de um cervejeiro e da filha de um general. Entre finais de 1942 e Abril de 1945, foi secretária pessoal de Adolf Hitler. A seguir à guerra, Traudl Junge foi parar a uma prisão russa tendo, porém, sido libertada ao fim de pouco tempo. De seguida, trabalhou como secretária da redação da revista Quick e como jornalista free-lancer. Quanto à jornalista, Melissa Müller nasceu em Viena em 1967 e trabalha como jornalista free-lancer para publicações culturais e revistas em língua alemã. O seu livro Das Mädchen Anne Frank (Claassen, 1998) causou sensação no mundo inteiro. A versão filmada, com Ben Kingsley e Hannah Taylor Gordon nos papéis principais, foi premiada em 2001 com o Emmy-Award. Melissa Müller vive em Munique. Resta acrescentar que a edição é da Dinalivro na sua coleção Biografias & Memórias.