Turma Formadores Certform 66

Saturday, March 31, 2012

"O momento presente" - Mais um conto oriental

Um amigo de um viajante resolveu passar algumas semanas num mosteiro do Nepal. Certa tarde, entrou num dos muitos templos do mosteiro, e encontrou um monge, sorrindo, sentado no altar. - Por que o senhor sorri ? - perguntou ao monge. - Porque entendo o significado das bananas - disse o monge, abrindo a bolsa que carregava, e tirando lá de dentro uma banana podre. - Esta é a vida que passou e não foi aproveitada no momento certo, agora é tarde demais. Em seguida, tirou da bolsa uma banana ainda verde. Mostrou-a e tornou a guardá-la. - Esta é a vida que ainda não aconteceu, é preciso esperar o momento certo - disse. Finalmente, tirou uma banana madura, descascou-a, e dividiu-a com o amigo do viajante, dizendo : - Este é o momento presente. Saiba vivê-lo sem medo.

Friday, March 30, 2012

Os três tipos de amor

No grego antigo, havia três palavras que significavam amor: "Eros”, "phileo" e "ágape". Eles usavam a palavra de acordo com o tipo de amor a que estavam se referindo. A palavra "eros" se referia ao amor sexual e, como sabemos, deve existir só dentro do casamento. A palavra "phileo" significava o amor que existia entre pais e filhos, e entre irmãos. Este tipo de amor, que se desenvolve com o tempo, também deve existir no casamento. Por último, temos o amor "ágape" que é o mais profundo e o mais sublime de todos, que devemos ter com o próximo. Este amor sempre caracterizou Deus. Em João 3:16 a Bíblia mostra-nos o tão grande amor do nosso Deus quando diz: "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho..." Existe maior amor do que este? Encontramos também este amor expresso em I Coríntios 13:4. Diz a Bíblia que o amor é benigno, a pessoa que tem esta característica tão preciosa nem por brincadeira critica ou ofende o seu próximo, mas procura elogiar e se precisar fazer uma correcção, o faz com amor, é uma pessoa bondosa e criativa, põe a benignidade em prática, vê sempre o lado bom do próximo, não é invejoso, rancoroso ou ciumento, não trata com leviandade, com indecência, não se ensoberbece, não suspeita mal, percebe que errou e pede perdão, não folga com a injustiça, não se gloria quando a pessoa que errou recebe punição, não folga com a verdade. Deus nos ensina na Sagrada escritura que o amor tudo sofre. Se amo sou capaz de suportar qualquer tipo de provação ou angústia pelo bem daquele a quem amo. O amor tudo crê. Com amor, confio na pessoa que amo. Creio nela e no seu valor diante de Deus. O amor tudo espera. Creio que Deus no seu tempo está agindo na vida da pessoa que amo, trabalhando e moldando como o oleiro faz com o barro. O amor nunca desanima. O amor tudo suporta. Não exclui o próximo. Não fica desanimado, nem triste. O amor é aquele que se dá e se sacrifica pelo mais alto bem do próximo, tal sublime amor prático é completamente abnegado busca o que é melhor para aquele que ama e é dedicado a ele, continua amando aconteça o que acontecer. Em I Coríntios 13:4-7, a Bíblia nos diz que: "O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre tudo crê, tudo espera, tudo suporta."

Thursday, March 29, 2012

Conversas comigo mesmo - LXXIX

Resolvi trazer-vos hoje um bonito conto de Paulo Coelho, um escritor que muito admiro. Reza assim: "Um homem, o seu cavalo e o seu cão iam por um caminho. Quando passavam perto de uma árvore enorme, caiu um raio e os três morreram fulminados. Mas o homem não se deu conta de que já tinha abandonado este mundo, e prosseguiu o seu caminho com os seus dois animais (às vezes os mortos andam um certo tempo antes de tomarem consciência da sua nova condição…) O caminho era muito comprido e, colina acima, o Sol estava muito intenso; eles estavam suados e sedentos. Numa curva do caminho viram um magnífico portal de mármore, que conduzia a uma praça pavimentada com portais de ouro. O caminhante dirigiu-se ao homem que guardava a entrada e travou com ele, o seguinte diálogo: - Bons dias. - Bons dias – Respondeu o guardião. - Como se chama este lugar tão bonito? - Aqui é o céu. - Que bom termos chegado ao Céu, porque estamos sedentos! - Você pode entrar e beber quanta água queira. E o guardião apontou a fonte. - Mas o meu cavalo e o meu cão também têm sede... - Sinto muito – disse o guardião – mas aqui não é permitida a entrada de animais. O homem levantou-se com grande desgosto, visto que tinha muitíssima sede, mas não pensava em beber sozinho. Agradeceu ao guardião e seguiu adiante. Depois de caminhar um bom pedaço de tempo encosta acima, já exaustos os três, chegaram a um outro sítio, cuja entrada estava assinalada por uma porta velha que dava para um caminho de terra ladeado por árvores... À sombra de uma das árvores estava deitado um homem, com a cabeça tapada por um chapéu. Dormia, provavelmente. - Bons dias – disse o caminhante. O homem respondeu com um aceno. - Temos muita sede, o meu cavalo, o meu cão e eu. - Há uma fonte no meio daquelas rochas – disse o homem apontando o lugar. - Podeis beber toda a água que quiserdes. O homem, o cavalo e o cão foram até à fonte e mataram a sua sede. O caminhante voltou atrás, para agradecer ao homem. - Podeis voltar sempre que quiserdes – respondeu este. - A propósito, como se chama este lugar? – perguntou o caminhante. - CÉU. - O Céu? Mas, o guardião do portão de mármore disse-me que ali é que era o Céu! - Ali não é o Céu, é o inferno – contradisse o guardião. O caminhante ficou perplexo. - Deverias proibir que utilizem o vosso nome! Essa informação falsa deve provocar grandes confusões! – advertiu o caminhante. - De modo nenhum! – respondeu o guardião – na realidade, fazem-nos um grande favor, porque ficam ali todos os que são capazes de abandonar os seus melhores amigos". A lição que tiramos deste conto é a de que jamais abandonemos os nossos verdadeiros Amigos, ainda que isso nos traga inconvenientes pessoais. Se eles nos vêem a dar o seu amor e companhia, ficamos em dívida para com eles: “Nunca os abandonemos”. Porque: Fazer um Amigo é uma Graça. Ter um Amigo é um Dom. Conservar um Amigo é uma Virtude, Ser Teu Amigo! É uma Honra. Digo eu!...

Wednesday, March 28, 2012

Deborah Henson-Conant - "On The Rise"

Trago-vos uma proposta musical que acho das mais interessantes. É duma grande harpista de seu nome Deborah Henson-Conant num registo discográfico já com alguns anos com o título "On The Rise". Este registo, como tantos outros, passou ao lado de muitos porque tinha agarrado a ele o rótulo de música de jazz. Contudo, este CD - também existe em versão vynil para coleccionadores - trás a lume duas coisas interessantes: primeira, é a introdução da harpa numa sonoridade eléctrica que lhe é pouco habitual; depois, porque ela aparece ligada a uma música com uma sonoridade "fusion", isto é, numa sonoridade que balanceia entre o jazz e a música mais ritmada, mais "moderna". Este disco saiu com o selo GRP uma etiqueta que trazia a lume grandes sonoridades em gravações digitais de elevada qualidade. O catálogo GRP é, de facto, duma qualidade acima da média, percorrendo um grupo de artistas bem heterogéneo. Actualmente, Deborah, para além de tocar harpa também canta, mostrando que os seus dotes artísticos estão bem para além da harpa. Este disco que vos proponho, dentre uma grande discografia, é um dos que mais gosto. Foi editado em 1990, já lá vão 22 anos, mas continua a ser um prazer ouvi-lo e mantém o seu toque inovador que, na época, surpreendeu muitos. Para muita gente será uma surpresa, mas atrevo-me a dizer, que será uma surpresa que merece ser descoberta rapidamente. É que no panorama musical actual, nem sempre é fácil descobrir discos com esta qualidade bem acima da banalidade. Aqui fica a proposta, agora é só ouvi-la para ver se tenho ou não razão.

Tuesday, March 27, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 176

Estamos a atravessar um dos piores momentos da História política da Europa. O mundo está numa encruzilhada. A "bolha imobiliária" nos EUA precipitou o caos na Europa e no mundo, e a indefinição e os interesses paroquiais de alguns países europeus, fez o resto, colocando a Europa à beira do colapso. Dizia Jean Monet, um dos pais da actual UE, que "é necessário que as gerações mais velhas transmitam esse sinal de luz às mais novas para encetarem o seu caminho". E aqui é que está a questão central. As gerações mais velhas não estão a ser capazes de indicar e iluminar o caminho às mais novas. Bem pelo contrário, parece é que lhes estamos a legar um imenso túnel onde não se vislumbra luz alguma. Quando alguns governos europeus de visão ultraliberal foram ocupando posições na Europa, estamos convencidos que, mesmo eles, não foram capazes de advinhar aquilo que ía suceder. A sua concepção ultraliberal impediu-os de verem com clareza que se estava a caminhar para o abismo, e a visão um tanto ou quanto paroquial, na defesa de interesses mesquinhos que não os da UE como um todo, fez o resto. Em Portugal tal não foi excepção, e este governo ultraliberal está muito distante da ideologia do PSD de Sá Carneiro. Hoje o ultraliberalismo é moda, cremos que passageira, como efémero é tudo em política, mas ainda resta saber se aquilo que restar depois da sua passagem não será uma herança pesada que levará a um retrocesso civilizacional. A Europa vinha mostrando uma liderança ímpar nas concepções a nível social que não tinham paralelo no mundo, nem nos próprios EUA. Agora já não é assim. Estamos a perder terreno e os europeus já começaram a perceber isso. Um longo caminho nos espera depois de tudo isto passar para colocar a Europa no topo como aconteceu à uns anos atrás, mas ainda resta saber se as sequelas que ficarão o permitirão ou não. Até lá, resta-nos viver escoando os dias nesta "apagada e vil tristeza" em que vivemos.

Monday, March 26, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 175

Na encruzilhada em que a Europa está e em que Portugal se vê envolvido, vamos fazendo o caminho de empobrecimento que está em curso, derivado não só do memorando da "troika" mas, também, da estratégia deste governo ultraliberal que está no poder. É sintomático que, para além dos elogios feitos pela "troika" na sua última visita, sobre o modo como o plano está a ser aplicado, não deixa de ser curioso que num outro relatório secreto, que foi à dias tornado público, esta tenha mostrado a sua preocupação sobre o não crescimento da economia e o aumento galopante do desemprego. Desemprego esse que tende, segundo os próprios relatores, a criar condições de agitação social que pode ser incontrolável. Talvez por isso, o governo se apressou a mandar um forte contigente policial para a greve geral que teve lugar na passada quinta-feira, com as consequências que todos vimos. Nós, que já tínhamos assistido a algo semelhante na ditadura, parece que revemos o mesmo filme volvidos quase trinta e oito anos sobre a implantação da democracia. O assunto acabou por ter repercursões muito maiores por nos incidentes estarem envolvidos dois jornalistas, o que levou a que a porta-voz da polícia no local, pedisse a que estes viessem com identificação clara. O que nos coloca duas questões: a primeira prende-se com a agressão a estes jornalistas que depois de se identificarem, mesmo assim, continuaram a ser agredidos e, em segundo lugar, isso significa que os jornalistas escapam - se escaparem - mas o cidadão comum que, não tem emprego, não tem dinheiro para pagar as suas dívidas, talvez até, nem o tenha para dar de comer aos seus filhos, esses estão expostos à violência gratuíta da polícia. E foi isso a que assistimos, violência gratuíta. Depois vêem as habituais desculpas das provocações de que foram alvo, das agressões de que foram vítimas, etc. Mas esquecem as provocações que são feitas por agentes infiltrados, assunto já denunciado publicamente em outras ocasiões, como também não vimos a mesma atitude quando os seus iguais se manifestaram contra o anterior primeiro-ministro de Portugal, chegando até aos insultos que não enobresse a instituição. Sendo assim, com que direito pretendem agredir cidadãos que eles querem fazer passar por "perigosos terroristas" que têm todo o direito à indignação face às condições de vida que todos estamos a passar. Claro que quando a situação se tornou mais visível, até houve um agente que, segundo um jornal, teria admitido que "a culpa não é de quem está no terreno, mas sim, de quem deu a ordem". Quando a recebem, ainda segundo esse agente, não olham a quem agridem. Isto diz bem do que se passou, esta afirmação dum dos seus agentes é a prova cabal da atitude que os movia. Esta foi a imagem que demos para o exterior a juntar a tantas outras que mostram a nossa debilidade. Os "media" internacionais esqueceram a greve geral e focaram-se naquilo que se passou, bem longe dos desígnios dum país europeu. Entretanto o governo que faz? Nada. Lamenta os jornalistas, porque o são e não querem ter problemas com eles, e quanto ao resto... abre-se um inquérito que não dará em nada, como é habitual neste governo - e neste país - que apenas tem força para com os mais fracos. E assim vai Portugal, desfazendo-se em pedaços, onde o papel das instituições que deviam defender o cidadão e não o fazem, não é, seguramente, o menor. E é esta a imagem que damos para fora, para os nossos pares, já não basta a triste imagem que estamos a dar a outros níveis.

Sunday, March 25, 2012

Chick Corea - "The Leprechaun"

Quero trazer-vos uma proposta musical para este domingo e lembrei-me dum excelente registo de Chick Corea já com alguns anos - foi editado em 1975 - com o título de "The Leprechaun". Este excelente registo mantém uma tremenda actualidade como acontece com tudo aquilo que representa qualidade. Chick Corea com a sua famosa formação os "Return To Forever" vai buscar um conto tradicional irlandês para se inspirar. "Leprechaun" é uma fada, uma fada do lar, que ajuda a que as tarefas da casa se fossem executando, sobretudo, quando a dona de casa é um pouco indolente. Ao fim e ao cabo, a fada não é mais do que os dedos das suas mãos que vão transformando tudo aquilo em que tocam dando um ar asseado à sua habitação. Numa altura em que se volta a falar de Chick Corea, que até já por cá passou diversas vezes, não queria deixar de vos trazer este registo que na época fez furor, dentro daquilo que se convencionou chamar de "jazz fusion", mas que passou ao lado de muitos outros para quem a palavra "jazz" indicia algo de muito difícil, complicado e inacessível. Mas isso não passa de uma mistificação como tantas outras. Só para dar um exemplo este disco, - ainda em vynil na época porque o CD não existia -, que eu trouxe religiosamente de Inglaterra, foi divulgado em Portugal pelo saudoso radialista António Sérgio num dos seus habituais e fantásticos programas da madrugada. Foi este meu disco de vynil que deu a conhecer, ainda em 1975, esta música em Portugal. Como dizia António Sérgio na sua voz grave, "este disco que vou passar chegou-me através de mão amiga para se dar a conhecer aos ouvintes portugueses". António Sérgio, como muitos se lembrarão, foi um dos maiores divulgadores da música de vanguarda, sobretudo, aquela que assentava na vertente do chamado "rock". Mesmo assim, e porque se trata dum disco que fazia/faz a fusão entre rock e jazz, mereceu a atenção deste radialista. Um disco de muita qualidade, já disponível em CD, que merece ser (re)descoberto por todos aqueles que gostam de boa música. A edição é da Verve Records. Aqui fica a proposta, que espero seja do vosso agrado tanto quanto é do meu.

Conversas comigo mesmo - LXXVIII

Hoje, o quinto domingo da quaresma, continuamos na nossa caminhada para a Páscoa. O próximo já será o domingo de ramos. E hoje lembramos as palavras de Jeremias: "Em verdade, em verdade vos digo, se o grão de trigo lançado à terra não morrer fica só; mas se morrer dará muito fruto". Isto é, Jeremias citando as palavras de Cristo, fala-nos da aliança. A aliança é uma palavra fundamental na Bíblia, é a chave para a sua leitura e interpretação. Na verdade, a Bíblia mais do que propôr um credo, uma moral, um culto ou religião, proclama uma boa nova: "Deus ama-te porque Deus é amor". Por isso, os seus projectos e desígnios a nosso respeito exprimem-se em termos de aliança. Chama-nos a ser seu povo, sua família, propõe-nos uma comunhão de vida. E a fé é o sim a esta proposta. Entretanto, e muito oportunamente, lembra-nos o profeta Jeremias que não podemos ficar somente pela "aliança no dedo"... Se ela não evocar no coração uma presença, uma palavra, um compromisso, um amor a que se quer ser fiel, não serve para nada. Deus não se contenta com uma relação jurídica, formal, exterior, ritualista. Deus chama-nos a uma relação pessoal, íntima, profunda, afectuosa, filial. Uma relação de fidelidade interior que nasce de uma confiança total e a toda a prova, aquela fidelidade que Jesus viveu até ao dom supremo de si mesmo e que O tornou "para todos os que lhe obedecem causa de salvação eterna". O sinal da nossa adesão e fidelidade ao chamamento de Deus e à sua aliança é a nossa obediência a Jesus Cristo. O que significa escutá-lo e segui-lo em todos os seus ensinamentos, mesmo quando o caminho que Ele segue e nos propõe seja o da renúncia a si mesmo para servir os outros. Coisa de que nem sempre nos lembramos, coisa que nem sempre praticamos. Quem tiver olhos para ver que veja, quem tiver ouvidos para ouvir que ouça...

Saturday, March 24, 2012

Mudança da hora - Hora de Verão

Em Portugal continental e em conformidade com a legislação, a hora legal em Portugal continental: será adiantada de 60 minutos à 1 hora de tempo legal (1 hora UTC) do dia 25 de Março e atrasada de 60 minutos às 2 horas de tempo legal (1 hora UTC) do dia 28 de Outubro. Na Região Autónoma da Madeira e em conformidade com a legislação, a hora legal na Região Autónoma da Madeira: será adiantada de 60 minutos à 1 hora de tempo legal (1 hora UTC) do dia 25 de Março e atrasada de 60 minutos às 2 horas de tempo legal (1 hora UTC) do dia 28 de Outubro. Na Região Autónoma dos Açores e em conformidade com a legislação, a hora legal na Região Autónoma dos Açores: será adiantada de 60 minutos às 0 horas de tempo legal (1 hora UTC) do dia 25 de Março e atrasada de 60 minutos à 1 hora de tempo legal (1 hora UTC) do dia 28 de Outubro. Assim, amanhã domingo, deverão os relógios serem adiantados uma hora, entrando-se assim na chamada hora de Verão.

Wednesday, March 21, 2012

"O Samurai e o Mestre Zen" - Conto Budista

Certo dia um Samurai, que era um guerreiro muito orgulhoso, foi visitar um Mestre Zen. Embora fosse muito famoso, belo e habilidoso, ao olhar para o Mestre, o Samurai sentiu-se repentinamente inferior. Ele disse então ao Mestre: - Por que me sinto inferior? Há apenas um momento atrás, tudo estava bem. Quando aqui entrei, senti-me subitamente inferior, coisa que nunca sentira antes. Encarei a morte muitas vezes, mas nunca experimentei medo algum. Porque é que estou a sentir-me assustado agora? O Mestre replicou: - Espere. Quando todos tiverem partido, responderei. Durante todo o dia, chegavam pessoas para ver o Mestre, e o Samurai estava cada vez mais cansado de esperar. Ao anoitecer, quando a sala já se encontrava vazia, o Samurai perguntou novamente: - Agora o senhor já me pode responder porque é que me sinto inferior? O Mestre levou-o para o exterior. Era uma noite de lua cheia e a lua estava justamente a surgir no horizonte. Ele disse: - Olhe para estas duas árvores: a árvore alta e a árvore pequena ao seu lado. Ambas estiveram juntas ao lado da minha janela durante anos e nunca houve problema algum. A árvore menor nunca disse à maior: “Porque é que me sinto inferior ao teu lado?” Esta árvore é pequena e aquela é grande – é um facto, e nunca ouvi sussurro algum sobre isso. O Samurai então argumentou: - Isso acontece porque elas não se podem comparar. E o Mestre replicou: - Então não precisa perguntar-me. Você sabe a resposta. Quando você não compara, toda a inferioridade e superioridade desaparecem. Você é o que é e simplesmente existe. Uma pequena folha é tão necessária quanto a maior das estrelas. O canto de um pássaro é tão necessário quanto qualquer Buda, pois o mundo será menos rico se esse canto desaparecer. Olhe simplesmente à sua volta. Tudo é necessário e tudo se encaixa. É uma unidade orgânica: ninguém é mais alto ou mais baixo, ninguém é superior ou inferior. Cada um é incomparavelmente único. Você é necessário e basta. Na Natureza, tamanho não é diferença.

Monday, March 19, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 174

O professor universitário José Pacheco Pereira alertou, na passada terça-feira, que Portugal "vive num ambiente propício ao surgimento de um novo Sidónio Pais montado num cavalo branco, populista e demagógico, que ponha em causa a democracia". E isso é que nos deve inquietar. Numa altura em que começou a saída de membros do governo - caso do secretário de Estado da energia - que todos sabemos resulta da pressão e da força das eléctricas como ontem bem frisou o prof. Marcelo Rebelo de Sousa, numa altura em que o crescimento da economia portuguesa não acontece - nem acontecerá com estas medidas - levando ao empobrecimento e ao aumento do desemprego, numa altura em que o ministério das finanças é tutelado como se da rainha do Sábá se tratasse, Portugal não conseguirá sair desta situação miserável para que foi arrastado. O preço da energia aumenta duma forma vergonhosa, os combustíveis seguem o mesmo trilho e ninguém é capaz de por fim a um cartel que muitos dizem que não existe mas que funciona no dia-a-dia, levando a que empresas e particulares entrem numa depauperação nunca vista, por tudo isto, é certo que as palavras avisadas de Pacheco Pereira não podem ser ignoradas. Numa Europa que agora reconhece os erros que cometeu na Grécia, e que repete de novo em Portugal, criando uma situação em que o nosso país dificilmente escapará a um segundo resgate financeiro, tudo isto dá que pensar e preocupar. Como já aqui o dissemos por variadas vezes, Portugal está à beira do abismo, embora nem todos ainda tenham dado conta mas, tal como num navio que se afunda, quando tal acontecer todos nos vamos molhar. Já aqui defendemos por variegadas vezes que está na altura de se começar a pensar em fundar a 3ª República. Os partidos já nada dizem às pessoas - pelo menos às mais esclarecidas - porque as outras votam como se se tratasse do seu clube de futebol favorito e depois dá nisto. E era bom que se pensasse a sério em tudo isto, antes que, como afirmou Pacheco Pereira, apareça por aí um qualquer Sidónio, que faça repetir a história portuguesa naquilo que ela teve de mais trágico. E olhem que os sinais já andam por aí para quem os quiser ver.

Sunday, March 18, 2012

Conversas comigo mesmo - LXXVII

No quarto domingo da quaresma que hoje se cumpre trago-vos o tema da fidelidade e da misericórdia. Os cronistas de Israel não se limitam a narrar os acontecimentos que vão tecendo a vida e a história do seu povo, olham-nos e lêem-nos à luz da fé, numa visão que vai mais fundo e mais longe, e tentam descobrir neles os sinais e os desígnios de Deus. Por isso, na destruição do templo e da cidade de Jerusalém, e no desterro que se lhe seguiu, não viram apenas uma derrota e uma calamidade definitiva, mas aquela provação purificadora de que o povo precisava para despertar das suas falsas seguranças, da sua infidelidade e do seu desprezo pelos mensageiros de Deus. Depois, quando veio a libertação com o regresso e a oportunidade da reconstrução do templo, não viram nisso uma simples e feliz casualidade, nem o fruto de uma hábil jogada política de Ciro, rei da Pérsia, mas uma acção salvadora de Deus que se serve de um pagão para renovar a fé do seu povo e lhe abrir uma nova etapa na sua vida e na sua história. Subjacente à ideia inseria nos Evangelhos anda uma convicção de fundo tantas vezes proclamada e comprovada na história da Salvação. Podemos ser infiéis à nossa aliança com Deus, fechar os ouvidos aos seus apelos, desprezar os seus mensageiros, trocá-Lo por outros "deuses". Ele, porém, apesar de todas as infidelidades humanas, continua fiel ao homem, ao seu amor e aos seus desígnios de vida e de salvação. Esta é a mensagem luminosa e libertadora que S. Paulo e S. João, de forma tão clara e expressiva, nos anunciam neste dia e para a qual devemos estar abertos a uma reflexão e introspecção.

Saturday, March 17, 2012

Conversas comigo mesmo - LXXVI

Hoje resolvi trazer-vos uma carta de Séneca do livro "Cartas a Lucílio", e reza assim: "Deixa o que seduz a multidão. Se nós nada fizermos senão de acordo com os ditames da razão, também nada evitaremos senão de acordo com os ditames da razão. Se quiseres escutar a razão, eis o que ela te dirá: deixa de uma vez por todas tudo quanto seduz a multidão! Deixa a riqueza, deixa os perigos e os fardos de ser rico; deixa os prazeres, do corpo e do espírito, que só servem para amolecer as energias; deixa a ambição que não passa de uma coisa artificialmente empolada, inútil, inconsciente, incapaz de reconhecer limites, tão interessada em não ter superiores como em evitar até os iguais, sempre torturada pela inveja, e uma inveja ainda por cima dupla. Vê como de facto é infeliz quem, objecto de inveja ele próprio, tem inveja por outros. Não estás a ver essas casas dos grandes senhores, as suas portas cheias de clientes que se atropelam na entrada? Para lá entrares, terias de sujeitar-te a inúmeras injúrias, mas mais ainda terias de suportar se entrasses. Passa frente às escadarias dos ricos senhores, aos seus átrios suspensos como terraços: se lá puseres os pés será como estares à beira de uma escarpa, e de uma escarpa prestes a ruir. Dirige antes os teus passos na via da sapiência, procura os seus domínios cheios de tranquilidade, mas também de horizontes ilimitados. Tudo quanto entre os homens é tomado como coisa eminente, muito embora de valor reduzido e só notável em comparação com as coisas mais rasteiras, mesmo assim só é acessível através de difíceis e duros atalhos. A via que conduz ao cume da dignidade é extremamente árdua; mas se te dispuseres a trepar até estas alturas sobre as quais a fortuna não tem poder, então poderás ver a teus pés tudo quanto a opinião vulgar considera eminentíssimo, e desse ponto em diante o teu caminho será plano até ao supremo bem." Lúcio Aneu Séneca (em latim, Lucius Annaeus Seneca) nasceu em Cordoba no ano 4 a.C. e morreu em Roma no ano 65 d.C. Foi um dos mais célebres advogados, escritores e intelectuais do Império Romano. Conhecido também por Séneca, o Moço, o Filósofo, ou ainda, o Jovem, a sua obra literária e filosófica, tida como modelo do pensador estóico durante o Renascimento, inspirou o desenvolvimento da tragédia na dramaturgia europeia renascentista. Atentem bem nestas palavras, da sua actualidade, e de como este grande pensado, quase duma maneira advinhatória, escreveu. Pensem e reflictam porque elas encerram algo de muito importante. Afinal os problemas do nosso tempo já eram os mesmo na Antiguidade. Apenas muda o cenário e o ajuste a outros tempos, mas no essencial, tudo se vai repetindo embora de maneira nem sempre igual.

Friday, March 16, 2012

Conversas comigo mesmo - LXXV

"Falar de futuro é falar de nossas crianças, e falar das crianças é falar de esperança. As melhores mentes de hoje, as mais preparadas, deveriam estar envolvidas na educação e orientação dessas crianças para que, futuramente, corrijam as distorções desta sociedade desigual e violenta de hoje. As crianças são o elo mais frágil da corrente que é a nossa sociedade multirracial, onde as diferenças são marcantes, onde os adultos não superam resolver suas diferenças - e, pior, a aprofundarão - onde com o passar dos anos comprometemos fortunas e nada construímos que tenha valido a pena, onde as pessoas se indagam quais são os valores a serem seguidos, onde a sensação dominante é de impunidade e falta de justiça. É nessa sociedade que teremos de preservar e preparar nossas crianças, de todas as raças, para mudar o que nunca deveria ter existido. Criança, esperança de um mundo melhor." Esta afirmação é de Luiz Fernando Valle que é o director presidente na CasaViva Residências Sustentáveis. Numa sociedade de conflito, de competição, o ser cordato, o ser tolerante são sinónimos de fraqueza quando deveriam significar precisamente o contrário. Para estimular isso, será necessário criar esse espírito nas novas gerações, aquelas que ainda estão em formação, porque os mais velhos, dificilmente, mudarão de atitude. É preciso criar nos mais jovens valores que nós, os mais velhos, já fomos perdendo ao longo dos tempos, que conduziu a que a sociedade fizesse uma clara inversão de valores que em nada dignifica o ser humano. Desde logo este egoísmo amorfo que parece entorpecer os sentidos não nos levando a ser solidários com os nossos semelhantes, - independentemente da cor, sexo, religião ou opção política -, depois a falta de carinho e apoio para com os animais que não tendo direitos parece que são mais objectos do que seres sencientes e, por fim, este desrespeito enorme que temos pelo mundo envolvente, pela natureza, sem percebermos que é dela que vem o essencial para a nossa vida e sem ela acabaremos por definhar, e connosco o planeta, afogados na nossa tecnologia, na nossa sociedade de consumo, nos nossos "fetiches". Mas para isso temos que mudar profundamente as nossas convicções, a nossa maneira de olhar o mundo e tudo aquilo que nos rodeia, dando um novo elã a uma sociedade que, fruto da crise ou seja lá mais do que for, se vai perdendo, perdendo os seus valores, perdendo as suas convicções. A imagem que anexo pode representar uma janela para o futuro. A maneira como aqueles dois jovens olham para a ave que têm nas mãos pode ser o indício de que algo se está a semear, ou talvez a florescer, dentro das novas gerações. Mas não nos enganemos, ainda há um grande trabalho a fazer, um grande percurso a trilhar. Porque a inversão de valores face aos actuais não é fácil, sobretudo, para a geração mais velha, para os transmitir aos mais jovens. No fundo, é o considerar que vivemos uma vida errada, fútil, não consagrada ao que de mais importante e mais sagrado a vida encerra. Apenas o material é importante qual deus menor onde todos nos ajoelhamos perante este altar fugaz e inconsistente. Acreditemos que a nova geração será melhor do que a nossa, mas para isso, será necessário que lhe transmitamos os valores necessários para que isso aconteça. E aqui é que está o problema. Seremos nós capazes disso, arrepiando caminho aquilo que tem sido a nossa vida e a nossa atitude face a ela?

Wednesday, March 14, 2012

"Memórias" - Jacques Delors

Quem é realmente o homem que recusou apresentar-se às eleições presidenciais de 1995, em França, quando todas as sondagens o davam como vencedor? Jacques Delors explica pela primeira vez essa decisão, caso único na vida política francesa. Estas Memórias revelam um percurso intelectual, sindical e político pouco comum, e a originalidade que ostenta não deve ser alheia à popularidade granjeada por Delors junto da opinião pública. Quadro da banca que sonha com o cinema, a alta costura e o jornalismo, militante sindicalista, acabamos por vir a encontrá-lo nos bastidores das decisões governamentais, no Comissariat Général du Plan, mais tarde em Matignon, como conselheiro do Primeiro-Ministro Chaban-Delmas e artífice do que seria a Nouvelle Société. Jacques Delors ensinou na universidade, foi eleito para o Parlamento Europeu e tornou-se Ministro das Finanças de François Mitterrand, antes de se dedicar à Europa, como presidente da Comissão, durante seis anos. Um quarto de século depois de Monnet, Schuman e Spaak, Jacques Delors faz parte da segunda geração de fundadores da Europa, a Europa da união económica e monetária e da batalha pela união política. Se Schmidt e Giscard foram os percursores e Kohl e Mitterrand os padrinhos do euro, então Delors foi o seu progenitor. Resumindo várias vidas que, no entanto, apresentam uma inegável unidade de acção e de pensamento, numa trajectória política e pessoal atípica. Esta obra foi escrita em colaboração com Jean-Louis Arnaud, escritor e jornalista. A edição é da Quetzal Editores. Um livro muito interessante e importante, sobretudo, para se conhecer melhor os bastidores da União Europeia onde, para o bem e para o mal, tudo se decide. Um livro que recomendo vivamente.

Tuesday, March 13, 2012

Conversas comigo mesmo - LXXIV

"Devo à paisagem as poucas alegrias que tive no mundo. Os homens só me deram tristezas. Ou eu nunca os entendi, ou eles nunca me entenderam. Até os mais próximos, os mais amigos, me cravaram na hora própria um espinho envenenado no coração. A terra, com os seus vestidos e as suas pregas, essa foi sempre generosa. É claro que nunca um panorama me interessou como gargarejo. É mesmo um favor que peço ao destino: que me poupe à degradação das habituais paneladas de prosa, a descrever de cor caminhos e florestas. As dobras, e as cores do chão onde firmo os pés, foram sempre no meu espírito coisas sagradas e íntimas como o amor." Palavras sábias e profundas de Miguel Torga. Quando falamos de natureza, nem sempre a sentimos com esta intensidade. Olhamos por vezes para ela como se fosse um somatório de árvores, serras, vegetação, quais pincéis que coloram o horizonte como um cenário. Quantos de nós olhamos para ela com estes olhos. Quantos de nós a sentem verdadeiramente debaixo dos pés. Nós, homens e mulheres da cidade, só a vemos nos postais ilustrados, nos documentários televisivos, num ou noutro passeio de fim-de-semana, mas sempre à distância com medo de sujar os pés. Não percebemos a verdadeira dimensão que ela tem. Ela que nos dá o pão, que equilibra o ecosistema que proporciona a vida, essa visão da natureza escapa-nos. Olhamos para ela através das palavras de alguns ecologistas que, apesar de estarmos de acordo com o que dizem, não deixamos de olhar para eles como uns "pobre coitados", uns visionários, bem longe de nós, na nossa pose séria e compenetrada de funcionários de gabinete, bem vestidos e bem falantes. Esta é a natureza que gosto. É a natureza que encerra em si a capacidade de criar sustento, que alimenta as pessoas e os animais que nela se albergam. Esta é a natureza que faz com que nós possamos viver. Esta é a natureza que destruímos dia após dia, sem disso dar-mos conta, na nossa sacrossanta ignorância. Preservar a natureza é preservar a vida, é preservar o planeta. É algo que deveria ser ensinado nas escolas aos mais pequenos, para além de algum "folclore" mediático que anda por aí. A natureza é vida, sem ela não existimos, o planeta extingue-se. Comecemos a olhar para ela com olhos sábios, porque dependemos mais dela do que aquilo que pensamos.

Equivocos da democracia portuguesa - 173

“A Lusitânia pode ser temporariamente vencida, mas nunca d'outrém subjugada; não se extingue, porque a sua liberdade subsistirá nas almas, e cedo ou tarde manifesta-se em espírito e renasce em restauração gloriosa”. (in "Viriato - História de uma Epopeia Lusitana", Teófilo Braga, Apeiron edições). Esta é a senda gloriosa da nossa Pátria, não o esqueçamos. Quando um grupelho de rapazolas pretende esmagar este povo, destruir uma Nação com a aplicação do seu projecto ultraliberal, é bom que tenhamos presente estas palavras de Teófilo Braga. Quando se vai, paulatinamente, destruindo as conquistas obtidas, tantas vezes nas condições mais agrestes, como o sistema de ensino público - embora haja especialistas que dizem que é preciso reconhecer aquilo que de bom o governo de Sócrates fez nesta matéria -, quando se vai destruíndo o SNS em nome dum economicismo barato para entregar ao sector privado um negócio tão apetecível, quando a Segurança Social está perfeitamente descapitalizada, visto ter que pagar mais subsídios, pensões e reformas, com cada vez menos recursos dos contribuintes que engrossam as fileiras dos Centros de Emprego, fruto da desastrosa aplicação dum programa desajustado à realidade portuguesa, quando se proclama a ideia de que para o ano tudo vai ser leite e mel a escorrer pelas paredes do nosso país, - não esqueçamos que é ano eleitoral! -, quando se destruiu a classe média que sempre foi o sustentáculo da nossa economia e até da democracia, quando tudo isto acontece, as palavras de Teófilo Braga - iminente figura da I República - têm toda a actualidade. Quando vemos um governo e um PM prefeitamente insensíveis aos gritos da população desesperada, quando vemos ministros a serem vaiados quando saem dos seus luxuosos gabinetes, que actualidade sentimos nas palavras de Teófilo Braga. Quando temos um PR que, mais do que estar interessado em Portugal e nos portugueses que ele deveria representar, o vemos a chorar pela sua reforma, o vemos a atacar o anterior PM que ele nunca conseguiu vergar, e depois o vemos a fugir quando aparece no horizonte uma manifestação de alunos do secundário, ai como pensamos nas palavras certeiras de Teofilo Braga. Quando vemos o governo espanhol aqui ao lado, a bater o pé à "troika", na defesa da sua nação e do seu povo, e vemos o governo português a fazer o papel de "menino bem comportado" insensível aos gritos de desespero de muitos dos seus concidadãos, não podemos deixar de pensar nas palavras acertivas de Teófilo Braga. E que necessidade sentimos de um novo Viriato para endireitar Portugal e correr com este grupelho que tinha como ambição política apenas o "ir ao pote", segundo as próprias palavras do seu líder e como estratégia o "pastel de nata". Está na hora de Portugal se erguer, salvo o que será esmagado pela senda ultraliberal que nos empobrece e que está a levar o nosso país para a miséria mais hedionda.

Monday, March 12, 2012

Conversas comigo mesmo - LXXIII

A Inês, a mais bela flor do meu jardim de Outono, cumpre hoje o seu quinto mês de vida. Depois da aparição dos primeiros dentes, a seguir o comer da primeira papa, veio agora a descoberta dos primeiros gestos, nos afectos mais vincados, na euforia com que olha para aqueles que mais ama e que a amam muito também. Neste final de Inverno, pleno de canícula como se de Verão se tratasse, a Inês vai-se desenvolvendo cada vez com mais afinco e vigor. A Inês do meu contentamento, continua a fazer a sua caminhada com a determinação digna do nome de rainha que ostenta. E eu, no meu Outono, vou olhando para ela com a certeza de que a Inês há-de ser uma mulher determinada, solidária com o seu semelhante, amiga dos animais e respeitadora da natureza. É vê-la com que curiosidade tenta tocar, acariciar, os meus cães. Como olha para eles com admiração numa nova descoberta que até aí ainda não tinha surgido. A Inês é uma criança muito sorridente e observadora, olhando atentamente para tudo o que a envolve tentando compreender este mundo diferenciado e colorido a que chegou. Mas depois, um belo sorriso se desenha no rosto, qual cumprimento a quem chega e a quem ela reconhece o mesmo carinho que ela própria irradia. Já por diversas vezes, a Inês do meu contentamento, tem vindo a minha casa. Não estranha nada a mudança de envolvência, como se esta também fosse a sua casa, - é a sua casa -, uma casa onde ela se sente bem, com o muito amor e carinho que lhe está destinado, amor e carinho que lhe é transmitido por quem viu a sua vida mudar, embora já no seu Outono. Ela é sol radioso que ilumina, - me ilumina -, dando-me novo alento. A Inês é um ser de luz. Inês amor, Inês flor do meu jardim de Outono, aqui estou a celebrar mais uma data, uma data pequenina mas importante, porque nela revejo a redenção que tanto ansiava e que uma criança - tu, Inês - na sua pureza melhor do que ninguém é capaz de induzir. Inês aqui estou, como sempre, ao teu lado.

Conversas comigo mesmo - LXXII

"Amar é sorrir por nada e ficar triste sem motivos é sentir-se só no meio da multidão, é o ciúme sem sentido, o desejo de um carinho; é abraçar com certeza e beijar com vontade, é passear com a felicidade, é ser feliz de verdade!" Estas palavras são de Albert Camus. Isto se aplica a pessoas nossos semelhantes, como aos animais nossos irmãos de quatro patas, como à natureza essencial à nossa vida. Mas queria aqui destacar os animais, que são as vítimas preferenciais da baixeza humana, onde a sede de poder, vingança, prepotência, se abatem com mais acuidade. Aqui à que lembrar as palavras de Milan Kundera: "Os cães são o nosso elo com o paraíso. Eles não conhecem a maldade, a inveja ou o descontentamento. Sentar-se com um cão ao pé de uma colina numa linda tarde, é voltar ao Éden onde ficar sem fazer nada não era tédio, era paz." Isso mesmo. Não seriam necessárias as palavras de um escritor consagrado como Kundera, mas para muitos, pode ser aquilo que faltava para mudar a sua atitude. Porque é no amor e na amizade que reside aquilo que de melhor o ser humano tem, só que está muito adormecido, e para muitos, infelizmente, nunca chega a despertar para a luz do dia. Vem-me à memória as palavras de Abraham Lincoln quando afirma que "a melhor parte da vida de uma pessoa está nas suas amizades." Sei que para muitos, isto não passa de palavras, palavras ditas ao vento que depois não têm consequências na vida real. Mas cada vez mais devemos pensar que estamos no século XXI, onde a mentalidade do ser humano deveria estar mais evoluída. Se ela evoluiu no aspecto tecnológico, ainda está na pré-história dos sentimentos, como o amor, a amizade e a fraternidade. Ainda um longo caminho nos espera, se tivermos vontade e capacidade para o trilhar. Afinal, é de evolução da espécie que falo, que tão lentamente tem crescido ao longo dos tempos. Andamos por cá à milhares de anos e, - alguns de nós -, ainda parece que estão na idade mais negra e funda da vida das cavernas. Sabemos da imperfeição do ser humano - basta olharmos para nós próprios todos os dias - mas o que mais incomoda é esta falta de vontade de querer aperfeiçoar a nossa vida. Como escreveu Fernando Pessoas, "adoramos a perfeição, porque não a podemos ter; repugna-la-íamos, se a tivéssemos. O perfeito é desumano, porque o humano é imperfeito." Todos temos consciência disso. Mas façamos um esforço para sermos diferentes, para sermos um pouco melhor, e talvez façamos um mundo mais equitativo, mais solidário, mais amigo, mais fraterno.

Sunday, March 11, 2012

Conversas comigo mesmo - LXXI

Vive-se hoje, o terceiro domingo da quaresma, onde se recorda o episódio dos vendilhões do templo. A questão do templo, tão em destaque na Bíblia, não é, certamente, para pôr o templo em questão. O templo, como lugar de encontro e de reunião de culto, como espaço apropriado para a oração e celebração da fé, não é susceptível de contestação, é algo de necessário e comum a todas as religiões. O que Jesus põe em questão, e o que o faz reagir de modo tão duro e surpreendente, é o que aí se passava. As actividades e as movimentações que, a pretexto do culto, se podiam presenciar, eram uma deturpação chocante e escandalosa da imagem de Deus e do que deve ser a nossa relação com Ele. Por isso, a justa indignação de Jesus nascida do zelo pela casa e pelo nome do Pai, e a actuação que se lhe seguiu. Uma actuação que nos põe de sobreaviso quanto aos desvios e ambiguidades que podem envolver todo o culto, o nosso também! E numa altura em que, cada vez proliferam mais os vendilhões do templo, nestes tempos de incerteza e de angústia, convém que pensemos no que é a nossa missa dominical? Será que é um verdadeiro encontro com Deus em Jesus Cristo, que é o seu templo vivo? Ou será, uma escuta sincera das promessas e das exigências do evangelho e uma celebração do nosso compromisso de fraternidade, ou mero cumprimento de uma "obrigação" para tranquilidade de consciência mas sem consequências no nosso modo de viver? É bom que pensemos sobre tudo isto, sobretudo agora, onde os tempos são incertos, o futuro não é animador, onde o desânimo e a descrença têm campo fértil onde germinar.

Saturday, March 10, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 172

Normalmente diz-se que não há regra sem excepção. Mas o nosso governo, como gosta de ir mais longe do que aquilo que está previsto, - como está a acontecer com a "troika" -, a frase passa a ser "não há regra sem excepções"! Isto prende-se com o que vemos sobre as excepções dos cortes salariais. Até agora era o Banco de Portugal, porque não depende do governo, mas depois foi a TAP, mas era só esta porque estava em concorrência e em processo de privatização, conforme garantia o ministério das finanças, mas eis que aparece outra, a CGD. (E existe a possibilidade de outras excepções, casos da ANA e NAV). Claro que o ministro Miguel Relvas, que nunca teve outro emprego a não ser o de colar cartazes, apressou-se logo a dizer que "não existem excepções mas sim adaptações"!!! Será que estes senhores pensam que estão a falar para pessoas com debilidades intelectuais? Será que não têm vergonha do que estão a fazer ao país (invocando o governo anterior, não vá o diabo tecê-las!) colocando-o à beira da miséria, destruindo a classe média que foi, historicamente, o sustentáculo do desenvolvimento do país e até da democracia. Mas não pensem que é só o governo que anda de andarilho, não! Agora vem o PR que ainda se sente incomodado pelo anterior PM - o que diz bem da força de Sócrates que não se deixou condicionar por Cavaco - e em seu apoio apenas veio o seu "amigo" da Madeira, o tal que à algum tempo atrás o tratava pelo "Sr. Silva"! Será que ainda se lembram? Isto diz bem da maneira inábil como o PR tem vindo a actuar, sem sentido de Estado, sem saber honrar o cargo que tem. Uma coisa é falar como cidadão, outra bem diferente é falar como PR. O que significa que as instituições estão mal representadas com tal gente. A mesma gente que é corajosa a falar na televisão, mas que não tem coragem para enfrentar alunos duma escola secundária, a mesma gente que vai inaugurar um centro de saúde e, porque sabe que existe uma manifestação à porta, chega... mais cedo! Afinal de que têm medo estes senhores que se lá estão foi com o voto das populações, as mesmas populações que eles têm medo de enfrentar. Afinal de que têm medo? De que têm vergonha? Assim vai Portugal, como o resto da Europa, governada por gente que não tem coluna vertebral, sem sentido de Estado, sem sentido do lugar que ocupam. Vem-nos à memória a seguinte frase "... têm fome, então porque não comem galinha?..." registo de Eça de Queiroz num seu opúsculo intitulado "O 1º de Maio" e escrito no período em que ele foi diplomata em Paris. Afinal a ignorância da nobre que fez esta afirmação, desconhecendo que a sua população não tinha dinheiro sequer para comprar o básico, quanto mais galinha - que era um luxo na época! - parece ser a mesma ignorância dos nossos governantes quando olham para a miséria a que estão a reduzir a população enquanto eles têm a mesa farta. Ah! Eça, se cá voltasses, não te faltaria matéria para os teus livros!...

Friday, March 09, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 171

E, finalmente, a máscara caiu! Como se ainda existissem dúvidas o livro de Cavaco Silva que hoje é editado, esclareceria todas as questões. As fortes acusações de Cavaco a Sócrates dizem bem da situação que se vivia em Portugal à pouco mais de oito meses, e como Cavaco terá contribuído para a queda do governo de Sócrates, afirmando-se assim, - como já aqui o dissemos por diversas vezes -, como um presidente de facção e bem longe de ser o presidente de todos os portugueses. Cavaco nunca gostou que o enfrentassem, - são normalmente assim, todos os autoritários -, e Sócrates não o temia, bem pelo contrário. Cavaco deixa assim para a História, o registo do único presidente de facção que tivemos em democracia e, talvez, mesmo durante a I República, e que se assume como tal. Para os que têm a memória mais curta, é bom lembrar o que Cavaco, então primeiro-ministro fez ao então presidente da República Mário Soares. As deslealdades que na altura foram anunciadas, o mal-estar, a sobranceria, que Cavaco sempre teve. Ele que se assume como um "infalível" - o tal que "nunca se engana e raramente tem dúvidas"! - já se deve ter esquecido que governou no início da adesão de Portugal à então CEE, numa altura em que o dinheiro entrava em Portugal "às pasadas" e que nem sabíamos bem o que lhe fazer. Isso até deu para construir o maior elefante branco da democracia, o CCB. E alguém se lembra de que foi no "reinado" de Cavaco que se começou a criar o famoso déficit. (Para os mais esquecidos será bom que recuperem as palavras do Prof. Miguel Cadilhe sobre esta matéria produzidas ao longo do tempo). Um dia se há-de fazer história deste período da vida nacional e depois veremos o que ela fixará do comportamento dum e doutro. Será necessário que passe algum tempo sobre os factos para que, com clareza, se atribuam as respectivas responsabilidades. Afinal o que moveu Cavaco foi a ideia de, pela primeira vez, colocar um governo da mesma cor política do presidente. E que ganhamos com isso? Nada. Hoje vivemos pior do que no passado recente. O governo quer aproveitar o "memorando da troika" para ir mais além e aplicar o seu programa ultra-liberal, onde as questões sociais não existem, onde os portugueses não existem, onde apenas existe o egocentrismo governamental. E este a braços com cada vez mais dificuldades, - até já se vai falando do titular da pasta da economia para possível embaixador na OCDE -, onde os desentendimentos e os arranjos são cada vez mais evidentes e ainda passaram apenas oito meses! E entretanto, os portugueses são atirados para a miséria, a classe média foi destruída, Portugal está à beira do abismo. (Basta ver como as populações começam a receber o primeiro-ministro!) E estes senhores que apenas tinham como meta a ânsia de "ir ao pote", nada mais têm para mostrar. Eram eles que tinham a receita para em dois meses "endireitar" o país (Miguel Macedo dixit). E não basta continuar a justificarem com o passado a incompetência da presente governação. Daí que se comecem a ouvir as vozes de algumas figuras públicas que reclamam que Sócrates é que tinha razão e que se se tivesse aprovado o famoso PEC IV não teríamos chegado aqui. Afinal é com medidas como as que estão se defendiam que a Itália, a Espanha, a Irlanda, a própria França, estão a combater as suas dificuldades. Mas isso será o julgamento que a História, lá mais para a frente, há-de fazer. Agora apenas fica a ideia de que temos um presidente de facção que não representa a totalidade dos portugueses, como se ainda fosse preciso algum esclarecimento adicional... E, como Sócrates ainda incomoda, ao fim deste tempo, mesmo ausente do país! O que significa que a sua força ainda perturba.

Thursday, March 08, 2012

Carta de um Pai ao filho - Um momento para reflectir

"Amado Filho, O dia em que este velho já não for o mesmo, tem paciência e compreende-me. Quando eu derramar comida sobre a minha camisa e esquecer como atar os meus sapatos, tem paciência comigo e lembra-te das horas que passei ensinando-te a fazer as mesmas coisas. Se quando conversas comigo, repito e repito as mesmas palavras e sabes de sobra como termina, não me interrompas e escuta-me. Quando eras pequeno, para que dormisses, tive que contar-te milhares de vezes a mesma estória até que fechasses os olhinhos. Quando estivermos reunidos e, sem querer, fizer as minhas necessidades, não fiques com vergonha e compreende que não tenho culpa disso, pois já não as posso controlar. Pensa quantas vezes quando menino te ajudei e estive pacientemente a teu lado esperando que terminasses o que estavas a fazer. Não me reproves porque não quero tomar banho; não me chames a atenção por isso. Lembra-te dos momentos que te persegui e os mil pretextos que tive que inventar para tornar mais agradável o teu banho. Quando me vejas inútil e ignorante na frente de todas as coisas tecnológicas que já não poderei entender, suplico-te que me dês todo o tempo que seja necessário para não me ferires com o teu sorriso sarcástico. Lembra-te que fui eu quem te ensinou tantas coisas. Comer, vestir e como enfrentar a vida tão bem como o fazes, são produto do meu esforço e perseverança. Quando em algum momento, enquanto conversamos, eu chegue a me esquecer do que estávamos falando, dá-me todo o tempo que seja necessário até que eu me lembre, e se não posso fazê-lo não fiques impaciente; talvez não fosse importante o que falava e a única coisa que queria era estar contigo e que me escutasses nesse momento. Se alguma vez já não quero comer, não insistas. Sei quando posso e quando não devo. Também compreende que, com o tempo, já não tenho dentes para morder, nem gosto para sentir. Quando as minhas pernas falharem por estarem cansadas para andar, dá-me a tua mão terna para me apoiar, como eu o fiz quando começas-te a caminhar com as tuas fracas perninhas. Por último, quando algum dia me ouvires dizer que já não quero viver e só quero morrer, não te enfades. Algum dia entenderás que isto não tem a ver com teu carinho ou o quanto te amei. Trata de compreender que já não vivo, senão que sobrevivo, e isto não é viver. Sempre quis o melhor para ti e preparei os caminhos que deves percorrer. Então pensa que com este passo que estou a dar, estarei construindo para ti outra rota num outro tempo, porém sempre contigo. Não se sintas triste, enojado ou impotente por me ver assim. Dá-me o teu coração, compreende-me e apoia-me como o fiz quando começaste a viver. Da mesma maneira que te acompanhei no teu caminho, te peço que me acompanhes para terminar o meu. Dá-me amor e paciência, que te devolverei gratidão e sorrisos com o imenso amor que tenho por ti. Atenciosamente, Teu Velho". Momento grandioso de reflexão, dum profundo sentimento de amor pelo outro que tantas vezes é esquecido. Curvê-mo-nos perante esta sabedoria que um dia se aplicará a nós.

Wednesday, March 07, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 170

Numa Europa cada vez mais numa encruzilhada, assistimos à degradação do governo de Passos Coelho. Embora todos se apressem a dizer que tudo está bem, todos sabemos que não, e cada vez mais, sentimos que o ministro da economia é um ministro a prazo. Como dizia Marcelo Rebelo de Sousa, ainda "não é oportuno que haja uma remodelação, ela só deverá ter lugar depois das autárquicas". Assim, Passos Coelho teve que segurar o ministro da economia - aquele de quem nunca nos lembramos do nome! - após a polémica da gestão dos fundos comunitários no âmbito do QREN. Embora pensemos que a gestão dos fundos deveria ser feita pelo ministro da economia (será que o temos?), não deixa de se dar razão a Passos Coelho quando este opta pela gestão financeira do fundo por Vítor Gaspar. Dada a situação de emergência nacional pensamos que tal se justifica sem grandes questões. Mas aquilo que vimos assistindo é um pouco mais complexo. É que o ministério da economia tem vindo a ser expoliado, sucessivamente, de competências. E daí surgem duas questões: ou o PM acha que ao criar uma super-pasta a tornou ingovernável e tenta assim agilizar o ministério, ou o ministro da economia está muito aquém do esperado e à que distribuir competências para uma eventual saída deste e o que restar ficar agregado ao ministro das finanças, como aliás, deveria estar. Nunca concordamos com esta separação das pastas entre finanças e economia, porque torna os procedimentos menos ágeis, e os objectivos não são atingidos com a mesma coerência. Por vezes, como todos sabemos, existem pequenas incompatibilidades entre estas duas funções - economia e finanças - o que a acontecer e tendo as pastas separadas torna tudo mais difícil. Contudo, se o ministro da economia sair nada de grave acontece, - afinal nunca ninguém deu por ele -, depois do muito aparato a quando do seu recrutamento para o governo. Assim, o governo até dava um sinal de austeridade que seria bem vindo para os portugueses, acabando com o ministério e poupando recursos num número considerável de "boys" que apenas servem para agravar os índices da despesa do governo. Era o dois em um! Veremos se o ministro da economia aguenta até às eleições autárquicas, o que a acontecer, apenas será resultado de estratégia política e de nada mais. Este ministro está ferido de morte por mais que se tentem criar cortinas de fumo para desviar as atenções. Será só uma questão de tempo e de oportunidade política.

Sunday, March 04, 2012

Conversas comigo mesmo - LXX

Finalmente a chuva chegou numa invernia anunciada e já fora de tempo que a Primavera já se faz anunciar. Num dia de chuva miúda fazendo o dia aparecer quase como se envolto em nevoeiro estivesse, no "hi-fi" os sons ásperos de Richard Strauβ fazem-se ouvir. Trata-se de "Tod und Verklärung" (Morte e Transfiguração) escrito entre 1888-89. Enquanto escuto vêm-me à memória o tempo de quaresma que vivemos onde se insere precisamente a morte e a transfiguração de Cristo. Neste episódio bíblico o ponto fundamental é aquele onde se lê: "Este é o Meu Filho muito amado escutai-O". Aqui Cristo assume-se como a palavra viva de Deus. Por isso o apelo daquela voz mantém-se actual e urgente: "Escutai-O". A fé cristã nasce e alimenta-se desta escuta. Escutar a Cristo significa querer e procurar conhecer mais profundamente o que Ele é, o que nos diz e ensina, o que nos propõe e espera de nós. Escutá-Lo é sobretudo querer segui-Lo. É uma vontade sincera de assinalar o seu estilo de vida, tendo em conta a sua palavra, os seus gestos e atitudes, as suas preocupações e anseios, os seus sentimentos e os seus passos. Neste segundo domingo da quaresma, dia em que se celebra precisamente a transfiguração, Strauβ continua a fazer-se ouvir, sons arrastados, por vezes, agrestes, por vezes, quase incompreensíveis. E lá fora a chuva miúda continua a cair e a molhar em abundância a terra seca e árida já ávida desta benção. Mas os sons impelem-me para continuar a reflectir. E a questão coloca-se incisiva. Porque O escutaram e O seguiram? Muitos saíram de uma vida egoísta e mesquinha para uma vida aberta e generosa; muitos souberam compreender, perdoar, ajudar construir a paz; muitos souberam lutar pela justiça, pela verdade, pelo bem; muitos souberam ser fiéis à sua vocação, ao seu sim, às suas responsabilidades; muitos tornaram-se uma benção para a sua casa, para o mundo, para o seu próximo. E enquanto os sons de Strauβ se aproximam do seu epílogo, a pergunta fundamental coloca-se: E nós, a quem escutamos e seguimos? O poema sinfónico de Strauβ chega finalmente aos derradeiros sons. Mas as interrogações continuam. As dúvidas permanecem. As incertezas perduram. Incómodas, transversais.

Saturday, March 03, 2012

Reflexões orientais - O Escorpião

Um mestre do Oriente viu que um escorpião se estava a afogar e decidiu tirá-lo da água, mas quando o fez, o escorpião picou-o. Pela reacção de dor, o mestre soltou-o e o animal caiu de novo na água e estava a afogar-se. O mestre tentou tirá-lo de novo e mais uma vez o animal picou-o. Alguém que estava a observar aproximou-se do mestre e disse-lhe: - Desculpe-me, mas você é teimoso! Não entende que sempre que tentar tirá-lo da água ele irá picá-lo? O mestre respondeu: - A natureza do escorpião é picar, e isto não vai mudar a minha, que é ajudar. Então, com a ajuda de uma folha, o mestre tirou o escorpião da água e salvou a sua vida. Aí, então, disse: - Não mude a sua natureza se alguém lhe fizer algum mal; apenas tome as devidas precauções. Alguns perseguem a felicidade, outros constroem-na. Quando a vida lhe apresentar mil razões para chorar, mostre-lhe que tem mil e uma razões para sorrir. Preocupe-se mais com a sua consciência do que com a sua reputação. E isto porque a sua consciência é o que você é, enquanto que a sua reputação é o que os outros pensam de você. E o que os outros pensam... é problema deles.

Friday, March 02, 2012

Sobre o silêncio

Quero hoje falar-te sobre o silêncio. Aprende com o silêncio a ouvir os sons interiores da tua alma, a calar-te nas discussões e assim evitar tragédias e desafetos. Aprende com o silêncio a respeitar a opinião dos outros, por mais contrária que seja da tua. Aprende com o silêncio que a solidão não é o pior castigo, existem companhias bem piores. Aprende com o silêncio que a vida é boa, que nós só precisamos olhar para o lado certo, ouvir a música certa, ler o livro certo, que pode ser qualquer livro, desde que tu o leias até o fim. Aprende com o silêncio que tudo tem um ciclo, como as marés que insistem em ir e voltar, os pássaros que migram e voltam ao mesmo lugar, como a Terra que faz a volta completa sobre o seu próprio eixo. Aprende com o silêncio a respeitar a tua vida, valorizar o teu dia, ver em ti as qualidades que possuis, equilibrar os defeitos que tu tens e sabes que precisas corrigir e ver aqueles que tu ainda não descobris-te. Aprende com o silêncio a relaxar, mesmo na pior fase, na maior das desgraças, na disputa mais acalorada, na discussão entre familiares. Aprende com o silêncio a respeitar o teu "eu", a valorizar o ser humano que tu és, a respeitar o Templo que é o teu corpo e o santuário que é a tua vida. Aprende hoje com o silêncio, que gritar não traz respeito, que ouvir ainda é melhor que muito falar. E em respeito para contigo, eu me calo, me silencío, para que tu possas ouvir o teu interior que quer te falar, desejar-te um dia vitorioso e confirmar que tu és especial.

Thursday, March 01, 2012

Papas, profecias e previsões do fim do mundo

Nas últimas semanas tem-se especulado nos corredores do Vaticano sobre a possibilidade de Bento XVI vir a renunciar ao cargo em Abril – mês em que comemora sete anos de pontificado e 85 de vida. Se a renúncia acontecer, motivada por uma série de intrigas dentro da cúria romana que acabaram por chegar aos jornais, o fim do mundo pode estar mais perto. Pelo menos é o que diz uma profecia atribuída a S. Malaquias, um arcebispo irlandês canonizado há mais de 800 anos. Conta-se que por volta de 1139, durante uma viagem a Roma, onde foi recebido pelo Papa Inocêncio II, S. Malaquias terá tido uma visão dos 112 papas que assumiriam o comando da Igreja até ao dia do juízo final. Acontece que Bento XVI, o actual santo padre, é o número 111 da lista e há quem acredite piamente que já só falta um Papa para o fim do mundo. Os cognomes que lhes atribuiu S. Malaquias, diz a lenda, que ele terá visto os 112 papas e escreveu, para cada um deles, frases enigmáticas em latim. Bento XVI, o número 111, aparece descrito como "de gloria olivae" (da glória da oliveira). Antes do último conclave especulou-se, a propósito da profecia, sobre se o Papa seguinte seria da Ordem Beneditina, cujo símbolo inclui um ramo de oliveira. A verdade é que Bento XVI não é beneditino, mas acabaria por escolher o nome “Bento” para o seu pontificado e alguns historiadores têm relacionado essa denominação com S. Bento de Núrsia, o fundador da Ordem Beneditina. Já o anterior Papa, João Paulo II, é descrito como "de laboris solis" (Trabalho do Sol). A verdade é que Karol Wojtyla nasceu a 18 de Maio de 1920, no mesmo dia em que aconteceu um eclipse solar. Quando foi enterrado, a 8 de Abril de 2005, foi visto outro eclipse, no continente americano. Também há quem relacione a referência de S. Malaquias ao sol com o facto de João Paulo II ter nascido na Polónia – no Leste, onde o Sol nasce. O último Papa o derradeiro comandante da Igreja é descrito na profecia como "Petrus Romanus" (Pedro, o Romano). E o texto de S. Malaquias acrescenta o seguinte, a propósito do dia do juízo final: “Na perseguição final à sagrada Igreja Romana reinará Pedro Romano, que alimentará o seu rebanho entre muitas turbulências, sendo então destruída a cidade das sete colinas [Roma], e o formidável juiz julgará o seu povo. Fim.” A estas palavras, o Monge de Pádua (também profeta) terá acrescentado, já no século XVI: “Roma criminosa será destruída e o juiz tremendo julgará, triunfante, todos os povos.” Muitos dos seguidores da profecia acreditam que o último Papa será um italiano ou alguém que tenha crescido no Vaticano – daí a referência de S. Malaquias a um “romano”. Desde 1978 que o principal lugar da Igreja não é ocupado por um italiano e sabe-se, graças à mais recente crise no Vaticano, que uma ala da cúria tem vindo a reclamar, para sucessor de Bento XVI, um italiano – de maneira a devolver a Santa Sé a Roma. Controvérsia é também a que se conta que quando chegou a Roma S. Malaquias se apressou a contar tudo o que vira durante a viagem ao Papa Inocêncio II – que terá ficado satisfeito por saber que a Igreja ainda teria muitos anos pela frente. O que é certo é que o texto da profecia terá desaparecido. Só foi encontrado em 1590 e publicado cinco anos depois pelo Monge de Pádua no livro “Lignum Vitae”. Há quem garanta que a profecia não passa de uma fraude construída nessa altura para favorecer Gregório XIV no conclave. As profecias valem o que valem, mas, nunca fiando, importa lembrar que o calendário maia também acaba este ano – o que para muitos sugere que o mundo poderá acabar em breve.