Turma Formadores Certform 66

Friday, February 27, 2009

Siza Vieira e o Portugal maior


Portugal tem destes contrastes. Como na nota anterior indicava, vemos um país pequeno e medíocre, de gentes com mentalidade inquisitorial, mesquinha e saloia, onde o provincianismo já nem tem lugar. É o Portugal dos zeladores da moral e bons costumes, serôdio e bafiento, como bem ilustra o caso da apreensão de livros na feira do livro de Braga. Este é o Portugal menor daqueles que não fazem História, porque não têm história, nem cultura. Depois temos o Portugal maior, o Portugal positivo ilustrado pelos seus maiores vultos, homens de ciência e cultura, como é o caso de Álvaro Siza Vieira. São os vultos do nosso contentamento, os vultos maiores que engrandecem Portugal no mundo e elevam a auto-estima do seu povo. Siza Vieira recebeu ontem um galardão das mãos da Rainha Isabel II de Inglaterra. A medalha de ouro real que a própria Rainha fez questão de entregar pessoalmente. É bom lembrar que desde que Isabel II subiu ao trono, apenas por quatro vezes, fez a entrega pessoalmente, e ontem, como todos vimos nas televisões, foi uma dessas ocasiões.
Álvaro Siza Vieira, actualmente com 75 anos, é natural de Matosinhos e tem obra espalhada em vários países, com incidência para o Brasil, Coreia do Sul, Estados Unidos, Argentina, Finlândia, Itália e Espanha, além de Portugal. Para além desta medalha, Siza Vieira foi galardoado com outros prémios, com destaque para o Prémio Pritzker (1992), considerado o Nobel da Arquitectura, três prémios Secil (1996, 2000 e 2006) e Prémio Wolf, categoria de Artes (2001).
Estes sim, são os Portugueses de que nos orgulhamos, não aqueles que inquisitorialmente pretendem arrestar livros para os quais nem sequer conhecimentos possuem para se poderem aperceber do ridículo em que estão a cair.
Estes Portugueses, como Siza Vieira, são aqueles em que nos revemos, porque são esses "que se vão da lei da morte libertando" para usar as palavras do grande Camões, também, ele vítima dos esbirros da época. Mas, ironia das ironias, todos conhecem Camões, mesmo aqueles que nunca o leram, mas quem conhece o nome dos esbirros da época por mais importantes que fossem...

Thursday, February 26, 2009

Pornocracia ou o conceito dos novos censores

Confesso que hesitei em escrever sobre tão triste assunto que mais me parecia uma brincadeira de Carnaval. Mas não era, tratava-se duma apreensão dum livro numa feira de livros que se realizava em Braga. Tenho dificuldade em rever, passados trinta e quatro anos sobre a instauração da democracia em Portugal, que os novos censores tenham regressado. Tudo tem a ver com um livro de seu nome "Pornocracia" um romance da autoria de Catherine Breillat tendo na capa a reprodução dum célebre quadro de Gustave Courbet de 1866 (!) (quem diria!) que viria a provocar tamanha polémica. Alguns papás de Braga ficaram, pelos vistos, muito ofendidos. Estão no seu direito, mas não podem obstar ao direito dos outros. Como é que estes pais explicam aos filhos o sexo? Qual a educação sexual que lhes fornecem? Será que ainda explicam que as criancinhas vêm numa cegonha de França, como acontecia no meu tempo? Isto vem pôr a nu (atenção censores!), a hipocrisia que ainda existe na nossa sociedade, mas também a ignorância, a iletracidade de muitos, o analfabetismo de alguns. Esta atitude só nos vem mostrar que Portugal, para além dos esforços das autoridades, ainda não foi capaz de dar a cultura suficiente a este povo que faz com que continuemos a ser a chacota da Europa. A ignorância do tema, a confusão do termo "pornocracia" com "pornografia", a ignorância dum quadro famoso do século XIX, enfim, convenhamos que é ignorância a mais. Já agora, e porque este espaço não é o da crítica pela crítica, mas um espaço que se pretende culturalmente activo, aqui fica a explicação do termo "pornocracia" que, por exemplo, está disponóvel na Wikipédia, basta apenas um clique:
"A pornocracia (do grego porne, prostituta e kratein, governo) foi um período na história do Papado que se estendeu da primeira metade do século X, com a instalação do Papa Sérgio III em 904 por sessenta anos, e terminou após a morte do Papa João XII em 963. Algumas fontes afirmam que este período foi menor, tendo durado apenas 30 anos e terminado com 935 com o reino do Papa João XI.
Durante este período, os Papas eram fortemente influenciados por uma poderosa família aristocrática em especial Teodora e sua filha Marozia. Acredita-se que Marozia tenha sido concumbina do papa Sérgio III e mãe do Papa João XI. Ela também foi acusada de comandar o assassinato do Papa João X para favorecer seu favorito a tornar-se Papa Leão VI."
Aqui fica o contributo para que os traumas de infância de algumas pessoas, dignos de Sigmund Freud, sejam ultrapassados pelo conhecimento e pela cultura. Podemos perder tudo, até a nossa liberdade, como noutros tempos aconteceu neste país (e agora, não?), mas a nossa cultura, a capacidade de pensar o mundo que nos rodeia, essa ninguém pode aprisionar. Atitudes como esta só "beneficiam o infractor", para utilizar uma linguagem futebolística, tal só serviu para dar publicidade acrescida, e o editor irá, com certeza, fazer um bom negócio, beneficiando de publicidade gratuita. A foto anexa, é a tão polémica obra célebre de Gustave Courbet (1819-1877), mas não pensem que é de algum artista depravado dos nossos tempos, é uma obra do século XIX, quem diria... Como um conhecido jornalista português, já desaparecido diria "e esta, hem!".

Wednesday, February 25, 2009

Bicentenário da morte de Joseph Haydn


Depois de passada a euforia do Carnaval, é tempo de nos preparar-mos para a celebração do bicentário da morte de Haydn. Para alguns melómanos este é também o ano Haydn, a somar ao já proclamado ano Mendelssohn, de que já aqui demos notícia em tempo oportuno.
Franz Joseph Haydn que nasceu em Rohrau, Austria, a 31 de Março de 1732 e viria a falecer em Viena a 31 de Maio de 1809, foi um dos mais importantes compositores do período clássico e, ao lado de Mozart (de quem foi amigo pessoal e seu admirador), Beethoven e Bach, um dos mais apreciados mundialmente.
Era irmão do compositor Michael Haydn e do tenor Johann Evangelist Haydn. Tendo vivido a maior parte de sua vida na Austria, Haydn passou a maior parte de sua carreira como músico da corte para a rica família dos Esterházy. Isolado de outros compositores, foi, segundo ele próprio, “forçado a ser original”.
Para aqueles que não conhecem, aqui fica o convite para escutarem a monumental música do compositor de "A Criação".

Sunday, February 22, 2009

O Carnaval da crise


Aqui estamos chegados a um período de folia e despreocupação, é o Carnaval que tenta fazer-nos esquecer a crise que por aí anda. Durante três dias, ninguém se lembra de crise alguma, o que interessa é mesmo a descontracção. Neste período da alegoria da carne, dos excessos, das brincadeiras, por vezes de mau gosto, há quem diga que "ninguém leva a mal" porque se trata do Carnaval. Mas nem sempre é assim. Mas o que aqui nos interessa agora, são os corsos que vêem para as ruas animar as populações. Sem a grandiosidade do Carnaval do Rio de Janeiro, ou o belo e etéreo de Veneza, por cá também se vão fazendo alguns desfilhes já com alguma qualidade. E vamos em frente, porque o tempo até está a ajudar. A crise retomá-la-emos lá para 4ª feira. E quem pode pensar em crise, ao ver fotografias carnavalescas como está que aqui deixámos?

Monday, February 16, 2009

D. Leonor de Távora - O Tempo da Ira


Trago-vos hoje mais uma proposta literária. Em Setembro de 1758, o rei D. José sofreu um atentado. A partir daí, desenvolveu-se um processo de perseguição a algumas famílias do Reino, sobretudo o Duque de Aveiro e o Marquês de Távora, perseguição que culminou num julgamento e numa execução que excedeu em barbarismo todos os limites do imaginável. Os bens dos Távora foram confiscados, as pedras de armas picadas, as terras salgadas, as mulheres separadas dos filhos e encerradas em conventos. D. Leonor foi executada juntamente com o marido, os dois genros e os criados mais fiéis. As filhas foram encerradas em conventos e os netos obrigados a professar. Sem opositores, o Marquês de Pombal pôde exercer livremente o seu poder. Os Távora foram executados em Belém, no Chão Sagrado, onde ainda hoje existe um pelourinho. Este é o resumo dum livro muito interessante chamado "D. Leonor de Távora - O Tempo da Ira". Escrito por um descendente da família, D. Luiz de Lencastre e Távora, oferece-nos uma visão do período simultâneamente grandioso e trágico, que foi o reinado de D. José I, e sobretudo daquele, que mandava mais que o próprio monarca o seu intendente, Sebastião José de Carvalho e Melo, que se tornou famoso com o epíteto de Marquês de Pombal. O autor que viria a falecer antes da publicação deste livro, dá-nos uma visão do lado da família Távora e da terrível perseguição que lhes foi movida. Um livro que é um documento histórico sobre um dos períodos mais conturbados e de ditadura mais rígida que Portugal conheceu. Para descobrir, para analisar, para pensar. A verdade nunca está só de um dos lados... A edição é da Quetzal Editores.

Friday, February 13, 2009

Dia de S. Valentim

Nem por ser sexta-feira 13 nos esquecemos que amanhã é o dia de S. Valentim. Festa que entrou no nosso roteiro muito recentemente, mas que vai fazendo o seu percurso entre os jovens e os menos jovens que também querem reviver o amor de outros tempo, hoje assumido duma forma diferente. Nem a crise desmobiliza aqueles que acham que devem dar um novo alento à vida, onde o amor acaba por assumir um lugar importante. Tudo isto vem a propósito do
dia de S. Valentim que amanhã se comemora, incrementado por duas belíssimas fotos que me chegaram às mãos. A primeira tem como lema "dois corações... para ler nas entrelinhas", a outra uma bela foto de animais, como não podia deixar de ser, subordinada ao tema "do amor entre animais e pelos animais". Entre os animais também existe amor, como aqui fica bem documentado, o que nos incentiva também a ter amor pelos animais. Eu, que sou um amante dos animais, especialmente cães, subscrevo inteiramente esta posição. Pois neste dia de S. Valentim que amanhã se comemora, deixemos que o amor nos penetre até à medula. E como diz o refrão da canção "love is in the air"...

Wednesday, February 11, 2009

A crise e o amor


Nestes dias de crise onde parece que o mundo vai desabar sobre as nossas cabeças a todo o momento, nada mais apelativo que o amor para tentar desanuviar a tensão acumulada. Vem isto a propósito duma foto que me chegou às mãos ontem. Tem por fundo o símbolo de Paris, (já ela símbolo das luzes e do amor), estou a referir-me à Torre Eiffel, ladeada por dois corações feitos em fogo. A ideia era que apesar da crise, que uns tantos, criaram um enorme problema a todos nós, ainda haver espaço para o amor assumido publicamente qual panasseia para todos os males. A foto que, reproduzo aqui, é bem o panagírico do que aqui digo. Agora que estamos perto do dia de S. Valentim talvez nos reste apenas esta pequena vingança de "ultrapassarmos" a crise nem que seja por um dia. Nós todos que não a provocamos, que somos vítimas de tudo isto, que não temos apoios governamentais, a exemplo do que tem acontecido pelo mundo fora, para com aqueles que a criaram, aqui fica o grito de revolta. Que viva o amor!

Monday, February 09, 2009

2009 - O ano Mendelssohn


Jakob Ludwig Felix Mendelssohn Bartholdy, mais conhecido por Felix Mendelssohn, nasceu a 3 de Fevereiro de 1809 e viria a falecer a 4 de Novembro de 1847. Comemorou-se assim, à poucos dias, o centenário do seu nascimento. Contudo, os melómanos elegeram o ano de 2009 como o ano Mendelssohn, dando assim expressão e importância a um nome tão famoso da música. Mendelssohn foi um compositor, pianista e director de orquestra de origem alemã que viveu no período inicial da época romântica. Era de origem judaica, como o próprio nome indicia, oriundo duma família, que mais tarde, viria a converter-se ao Cristianismo. Nas suas obras podemos encontrar sinfonias, concertos, oratórias, peças para piano e de câmara. Deixo-vos aqui à consideração duas ou três obras que poderão escutar e que, estou certo, serão do vosso agrado. Desde logo a oratória "Elias" obra de grande fôlego e grande beleza, depois o "Concerto para violino" que, segundo um melomano amigo me dizia à dias, "que teria sido uma obra inspirado por Deus, se em tal acreditar-mos." E quer acreditemos ou não, é de facto, uma obra de profunda inspiração divina. Guardei para o fim uma peça muito bela, "O sonho duma noite de verão", inspirada no livro homónimo de William Shakespeare (A midsummer nights dream). Para além da grande beleza da peça, é lá que encontrarão a famosa marcha nupcial, que tanta gente tem feito sonhar. Embora o romantismo já não seja o que era, ainda é uma peça que marca um momento. Agora, meus amigos, à que escutar e descobrir ou redescobrir, consoante os casos, estes acordes celestiais de grande beleza.

No centenário de Carmen Miranda


Carmen Miranda, pseudónimo de Maria do Carmo Miranda da Cunha, nasceu no Marco de Canavezes a 9 de Fevereiro de 1909 e viria a falecer em Beverly Hills a 5 de Agosto de 1955. Comemora-se assim, hoje, o centenário do seu nascimento. Foi uma cantora e actriz portuguesa que fez toda a sua carreira e todo o seu sucesso no Brasil e mais tarde nos EUA, no período que medeia os anos de 1930 a 1950. Trabalhou no rádio, no teatro de revista, no cinema e na televisão. Chegou a receber o maior salário até então pago a uma mulher nos EUA. O seu estilo eclético faz com que seja considerada precursora do tropicalismo, movimento cultural brasileiro surgido no final da décade de 1960. Assim, pudemos considerar que Carmen Miranda é o verdadeiro símbolo do brasileirismo (se o termo existe!) e percursora dum movimento cultural que ainda hoje influencia a cultura brasileira e portuguesa.