Turma Formadores Certform 66

Monday, April 30, 2012

Conversas comigo mesmo - LXXXVII

Está em crise evidente a autoridade em todas as suas formas e níveis: família, sociedade civil, Igreja, Estado... Está em descida acentuada a credibilidade da classe dirigente. Sente-se a falta de verdadeiros líderes em todos os campos. E no entanto a crise não é de hoje... Para isso, recorremos de novo à Bíblia onde podemos observar as situações que se passavam à mais de dois mil anos atrás. Assim, já o profeta Ezequiel, alguns séculos antes de Cristo, sentia e denunciava a mesma situação e levantava o dedo contra os "pastores" que "só cuidam do seu próprio pasto" em vez de pastorearem bem as ovelhas que lhes estão confiadas. É neste contexto que o profeta anuncia um verdadeiro pastor: "Um Pastor que há-de velar e cuidar pelo bem de todas as ovelhas a começar pelas mais frágeis, pelas desvalidas e necessitadas". Esse Bom Pastor manifesta-se por inteiro na vida e na missão de Jesus. Por isso Ele é, na verdade, o nosso Bom Pastor. E ao celebrá-lo hoje como tal, tomamos mais uma vez consciência de que o importante é estar atento à sua voz, é escutar as suas chamadas, é segui-lo dia a dia num esforço lúcido e perseverante de ser fiel ao seu Espírito e à sua vontade; é assumir que somos chamados a ser não apenas "ovelhas e cordeiros" do seu redil mas também "pastores e pastoras" ao serviço uns dos outros nas diversas comunidades de que somos parte, realizando assim a missão que nos deixou, a de testemunhar no meio do mundo a força humanizadora e fraternizante do seu Espírito, fermento do Reino que n'Ele e por Ele nos é anunciado. E nestes momentos de crise por que agora passamos, nada de mais actual. Afinal estamos a revisitar a História duma maneira diferente, como diferente é o tempo e o espaço em que ela se desenrola, mas com as mesmas consequências.

Thursday, April 26, 2012

"A Dividadura" - Francisco Louçã e Mariana Mortágua

"Dizemos aos leitores, com toda a franqueza, que escrevemos as próximas páginas com indignação, porque as políticas impostas - mas não sufragadas, pois as suas medidas emblemáticas nunca foram propostas a eleições - podem porventura ser apresentadas de muitos modos, mas não com o argumento de que são uma alternativa para Portugal ou para a Europa. Menos de um ano depois da assinatura do acordo com a Troika, já Portugal sabe que as medidas que estão a ser aplicadas criam uma nova recessão, multiplicam o endividamento, destroem a produção e o emprego e, sobretudo, buscam impor um novo regime social de trabalho barato e disponível sem direitos. A única alternativa imposta pela política dominante é a crise, a maior recessão jamais registada no país, como antecipa um relatório do Banco de Portugal. Estamos a ser enganados e explorados pela ditadura da dívida, pela dividadura". Esta é a sinopse do livro que aparece num momento particularmente oportuno da vida nacional, onde se analisa a problemática da dívida ao longo de mais de dois milénios, bem como, as alterações que se foram verificando no conceito e no seu resgate. Livro de leitura muito acessível, mesmo para não iniciados nestas coisas da economia e da finança, tentando chegar a um público muito vasto. Um livro muito claro, numa visão muito clarificadora e desassombrada dentro daquilo que são as ideias dos autores embora, por vezes, essa visão ideológica seja afastada para dar lugar ao discurso mais técnico e rigoroso do problema. Sobre os autores muito pouco à dizer, visto serem figuras sobejamente conhecidas. Francisco Louçã nasceu em 1956, é deputado e, professor catedrático de Economia no ISEG-UTL. Publicou recentemente "Os Donos de Portugal", com outros autores (edição Afrontamento, 2009), "Portugal Agrilhoado - A Economia Cruel na Era do FMI" (edição Bertrand, 2011) e "Histories on Econometrics" (edição Duke University Press, 2011). Quanto a Mariana Mortágua nasceu em 1986, é economista, mestra em Economia pelo ISCTE, com uma dissertação sobre "O Papel da CGD na Recente Crise Económica (2007-11)". Um livro recomendável e recomendado pela actualidade e clareza na abordagem duma problemática que, para muitos, puderá ser um tanto ou quanto hermética. A edição é da Bertrand Editora na sua colecção Ensaios e Documentos.

Wednesday, April 25, 2012

A liberdade rasgada.

"Que bonita foi a festa, pá!" dizia o refrão duma canção de Chico Buarque. E ele é apropriado quando passam trinta e oito anos sobre essa manhã libertadora de 25 de Abril de 1974. Quantas esperanças, anseios, expectativas, medos, foram criadas nessa madrugada brumosa de Abril. Muitos de nós viram os primeiros sinais quando iam para os empregos ou para as aulas, como foi o meu caso. Não sabíamos o que isso significava, apenas que algo estava a acontecer. Depois da incerteza, a certeza de que, finalmente, algo estava em mudança neste país amordaçado, marginalizado pela comunidade internacional, mas também pela História. Depois foi a celebração nas ruas, numa comunhão de população e militares, depois foi a inesquecível e irrepetível unidade na festa do trabalhador, no 1º primeiro de Maio depois da liberdade alcançada. A seguir a descolonização, com avanços e recuos, com erros e acervos, mas a História não se testa em laboratório e a voracidade do tempo que então se vivia não permitia, - não permitiu -, fazer diferente, fazer melhor. A seguir a expectativa dos novos dias, do raiar de novas esperanças, da reivindicação de tudo, e a propósito de tudo, na ânsia de viver rapidamente tudo o que até aí nos tinham negado. A Constituição fez-se como símbolo dos anseios dum povo. A liberdade apareceu como quem tem a cabeça debaixo de água por demasiado tempo, e então, tenta respirar rapidamente até que o ar assuma a plenitude e tudo volta ao equilíbrio. Mas até que isso acontecesse, muitos sonhos foram riscados nas paredes e nas calçadas, muitas esperanças foram sonhadas, já não no silêncio recatado da casa, mas na rua, era a partilha de tudo, sem reservas e sem freios. Era a tentativa de viver o que não se viveu durante gerações, era a busca da identidade perdida e negada, atolada numa aldeia à margem de tudo e de todos, simbolizada no epíteto dum regime que bramava que estávamos "orgulhosamente sós"! Sós sim, porque ninguém nos queria por companhia nas andanças da História; orgulhosamente, era a maneira de injectar uma carga de patriotismo que se estava a perder entre as novas gerações que tinham outros anseios, desejos e sonhos, que se foram espalhando pelas escolas, pelos quartéis, pela sociedade, e que foram a semente que foi germinando e que levou ao 25 de Abril! Quão distante vai essa data, quanto caminho percorrido, quantos altos e baixos vivemos neste país. Depois de tantos anseios, de tantas esperanças, do imenso percurso que fizemos que nos tornou um país de nível europeu, um país desenvolvido, eis que mergulhamos numa nova noite. Não duma qualquer ditadura - por enquanto! - mas dum desencanto, dum retrocesso a níveis de vida que já tínhamos esquecido. Vítimas duma crise importada, duma gestão nem sempre rigorosa, a  noite voltou, a miséria campeia neste país, a fome já se faz sentir. Problema derivado de políticos, dirão uns, talvez seja um problema de nós todos que lá colocamos alguns. Sempre na esperança e na ânsia de viver melhor, este país tem sido arrastado para situações impensáveis, embora diariamente nos prometam o oásis, com o leite e o mel a escorrer pelas paredes, miríades de riquezas nunca vistas, num engano que empobrece o país, nos destrói como povo, nos tolhe a vontade, nos afecta o amor-próprio. Este país voltou a ser um país de emigrantes, antes eram os desqualificados e analfabetos, mais alguns mais esclarecidos que se recusavam servir de carne para canhão nos solos tórridos de África; agora, são os jovens qualificados, gente que tanta falta faz (fará) ao país que se vê atirada para a aventura de procurar outros destinos fora da sua terra, por falta de oportunidades, por incapacidade de alguns que até incentivam este caminho, não percebendo que com essas atitudes estão a mostrar o falhanço das suas políticas, e a empobecer, duma forma irreversível, este país. Trinta e oito anos depois, a noite parece ter voltado, mas com ela, também voltou a vontade de novas lutas, de novos desafios, de novas ânsias e esperanças, de novas expectativas. Afinal, à noite segue-se sempre uma alvorada! A vida é isso mesmo, a luta cotidiana por algo melhor, a esperança que no fim da linha, venceremos! E quanto mais difícil a luta mais saborosa a vitória! Afinal esse é o espírito de Abril, não do Abril amordaçado, mas do Abril radioso, contra tiranos e incompetentes, contra mistificadores e corruptos, contra manipuladores e retrógrados que ainda sonham com o passado longínquo, da noite escura em que vivemos! Por tudo isto temos que estar alerta, sem deixarmos que nos embalem com melodias de sereia. Não deixemos que estilhassem a liberdade tão duramente alcançada. Tenhamos como referência essa senda de jovens capitães que sonharam, que ousaram, que venceram. "Que bonita foi a festa, pá!".

Tuesday, April 24, 2012

O voo da águia

Será que estamos prontos para nos transformar-mos numa águia? A águia tem a maior longevidade da sua espécie. Chega a viver 70 anos e para chegar a essa idade tem de tomar uma decisão difícil: Aos 40 anos as suas unhas compridas e flexíveis não conseguem mais agarrar as presas das quais se alimenta. O seu bico alongado e pontiagudo curva-se.... As suas asas envelhecidas e pesadas em função da grossura das penas apontam ontra o seu peito e voar torna-se muito difícil. Então, a águia só tem duas alternativas: morrer ou enfrentar um processo doloroso de renovação que durará 150 dias. Esse processo consiste em voar para o alto da montanha e recolher-se no seu ninho. Ali, bate violentamente o bico contra uma pedra até arrancá-lo. Após arrancá-lo, espera que nasça um novo bico para então arrancar as suas próprias unhas. Quando as suas novas unhas nascem, arranca as suas penas envelhecidas. E só após cinco meses sai para o famoso voo de renovação e viverá então… mais 30 anos. Muitas vezes, temos que nos resguardar por algum tempo e começar um processo de renovação. Para continuar a voar um voo de vitórias, devemos às vezes desprender-nos de lembranças e costumes do passado. Somente livres do peso do passado, é que poderemos aproveitar o valioso resultado de uma… renovação. Mas nem sempre é fácil quando o destino nos marca a ferro e fogo. Por vezes tentamos, muitas vezes falhamos, mas a esperança de renovação terá que existir sempre bem lá no fundo de nós mesmos. 

Monday, April 23, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 179

A derrapagem do déficit não é coisa pouca. Noutros tempos teria havido um sem número de ensaios sobre a situação, mas agora, os membros da maioria tendem a desvalorizar aquilo que não pode ser desvalorizado. As contas públicas agravaram-se, o déficit agravou-se, a receita caiu e a despesa aumentou. A agitação social começa a dar sinais - vejam a preocupação de Miguel Cadilhe sobre esta matéria - e a situação ainda não chegou à inversão de tendência, mas as famílias começam a ver a situação desesperada em que se encontram, bem longe daquilo que algum dia imaginaram. De tudo isto, parece que o ministério de Vítor Gaspar ficou surpreendido! Surpreendidos ficamos nós por tal interrogação. Afinal se a economia está a contrair, se as empresas estão a fechar, se o desemprego está e continuará a estar a aumentar, o que implica mais encargos por parte da segurança social, é perfeitamente normal que tal venha a acontecer. Se as empresas fecham à menos IRC. Daí que não se vislumbre as surpresas por parte do ministério das finanças. O contrário é que seria de admirar e que, certamente, iria ao arrepio de todos os manuais de economia e finanças. Mas o mais grave de tudo isto é a incapacidade do governo de cortar nas chamadas gorduras do Estado. Esta maioria que tantas soluções tinha na manga, que tinha uma solução para o país que resolvia a situação em dois meses - ainda se lembram? (Miguel Macedo dixit) - afinal quase um ano após a sua chegada ao governo nada foi capaz de fazer para inverter tal situação. (E o desnorte é tal que até a ministra da justiça já fala em "bancarrota", perante o incómodo dos seus pares!) Ao que se vê, parece que cortar nos ministérios, nas mordomias dos ministros e noutras alcavalas do Estado, não parece ser assim coisa tão fácil. E aqui sim, Vítor Gaspar terá que estar preocupado, porque isso significa a incapacidade do governo e, desde logo, do seu ministério em fazer as correcções que urge fazer. Como diz o ditado "olha para o que eu digo, mas não olhes para o que eu faço". Este parecer ser o lema do governo, deste governo que nos desgoverna e coloca o país na vereda da indigência mais abjecta. Afinal para quem tinha tantas soluções para o país parece não ter nenhuma e nem sabe bem o que anda a fazer. Há quem vá falando, entretanto, num novo resgate. Não nos surpreenderia tal, visto que, as coisas a continuarem como estão e com a tendência para se agravar, não deixará de ser necessário. Perante este governo sem política, sem ideias, incapaz de resolver os problemas mais básicos para além da austeridade que se assume como uma cultura, não deixa de ser surpreendente o que dizem as sondagens. É incompreensível que, quem tanto se lamenta no dia-a-dia, depois vá ver o seu lamento esbatido nas intenções de voto que continuam a dar a maioria ao governo. Afinal em que é que ficamos? Ou somos masoquistas, ou loucos, visto não haver espaço para mais. Como nos vem à memória as palavras de Miguel Torga: "Somos um povo de revolucionários pacíficos"! Nem mais! Pensamos que a isso se chama mais de masoquismo, de auto-flagelação, dentro da sina lusitana do "fado" que perpassa pelos quase oito séculos de História que levamos. Entretanto, na França as eleições parecem querer dar sinais de mudança. Se isso se vier a verificar, e se Sarkozy as perder, veremos o que será a "nova" Europa, sem o "par romântico" do directório franco-alemão. E que consequências daí advirão para o nosso país.

Sunday, April 22, 2012

Conversas comigo mesmo - LXXXVI

Hoje celebra-se o terceiro domingo da Páscoa, que este ano coincide com o Dia da Terra. Neste dia assistimos a uma presença que se transforma. Jesus ressuscitado entrou por portas fechadas e encontrou os discípulos medrosos, descrentes, desiludidos. Mas quando, finalmente, se abriram à sua nova presença no meio deles, tudo se modificou. Abriram as portas enfrentaram sem medo as multidões, começando a proclamar-lhes o reino que Jesus anunciou, a vida nova no seu Espírito, o perdão dos pecados, a libertação de todos os medos e escravidões. Nada nem ninguém conseguiu detê-los, e a sua fé produziu frutos abundantes. Por toda a parte surgiram comunidades cheias de vida, de fé e de alegria pascal, a alegria do amor que se dá, do amor que sabe partilhar e servir. Comunidades que se tornaram, por isso, novas testemunhas de Jesus ressuscitado, testemunhas da sua presença e da sua acção salvadora. Hoje, de novo Jesus entra nas nossas comunidades fechadas, cheias de dúvidas e temores, de marasmos, rotinas e complexos, para nos dizer como então: " Porque estais perturbados e porque se levantam esses pensamentos nos vossos corações?" Celebrar a Páscoa é abrir-nos à presença do Ressuscitado, é deixar-nos conduzir pela força do seu Espírito e testemunhá-Lo em comunidades de fé viva, dinâmica e comunicativa. Nestes tempos de incertezas, nestes tempos de temores - temores pelo desemprego, pelo dia de amanhã, pelo alimento que vai escasseanndo - também é altura de pensarmos porque se levantam esses pensamentos em pessoas de tão pouca fé?

Thursday, April 19, 2012

O porquê do silêncio absoluto sobre a Islândia

Se há quem acredite que nos dias de hoje não existe censura, então que nos esclareça porque é ficámos a saber tanta coisa acerca do que se passa no Egipto e porque é que os jornais não têm dito absolutamente nada sobre o que se passa na Islândia. Na Islândia: - o povo obrigou à demissão em bloco do governo; - os principais bancos foram nacionalizados e foi decidido não pagar as dívidas que eles tinham contraído junto dos bancos do Reino Unido e da Holanda, dívidas que tinham sido geradas pelas suas más políticas financeiras; - foi constituída uma assembleia popular para reescrever a Constituição. Tudo isto pacificamente. Uma autêntica revolução contra o poder que conduziu a esta crise. E aí está a razão pela qual nada tem sido noticiado no decurso dos últimos dois anos. O que é que poderia acontecer se os cidadãos europeus lhe viessem a seguir o exemplo? Sinteticamente, eis a sucessão histórica dos factos: - 2008: o principal banco do país é nacionalizado. A moeda afunda-se, a Bolsa suspende a actividade. O país está em bancarrota. - 2009: os protestos populares contra o Parlamento levam à convocação de eleições antecipadas, das quais resulta a demissão do primeiro-ministro e de todo o governo. A desastrosa situação económica do país mantém-se. É proposto ao Reino Unido e à Holanda, através de um processo legislativo, o reembolso da dívida por meio do pagamento de 3.500 milhões de euros, montante suportado mensalmente por todas as famílias islandesas durante os próximos 15 anos, a uma taxa de juro de 5%. - 2010: o povo sai novamente à rua, exigindo que essa lei seja submetida a referendo. Em Janeiro de 2010, o Presidente recusa ratificar a lei e anuncia uma consulta popular. O referendo tem lugar em Março. O NÃO ao pagamento da dívida alcança 93% dos votos. Entretanto, o governo dera início a uma investigação no sentido de enquadrar juridicamente as responsabilidades pela crise. Tem início a detenção de numerosos banqueiros e quadros superiores. A Interpol abre uma investigação e todos os banqueiros implicados abandonam o país. Neste contexto de crise, é eleita uma nova assembleia encarregada de redigir a nova Constituição, que acolha a lições retiradas da crise e que substitua a actual, que é uma cópia da constituição dinamarquesa. Com esse objectivo, o povo soberano é directamente chamado a pronunciar-se. São eleitos 25 cidadãos sem filiação política, de entre os 522 que apresentaram candidatura. Para esse processo é necessário ser maior de idade e ser apoiado por 30 pessoas. - A assembleia constituinte inicia os seus trabalhos em Fevereiro de 2011 a fim de apresentar, a partir das opiniões recolhidas nas assembleias que tiveram lugar em todo o país, um projecto de Magna Carta. Esse projecto deverá passar pela aprovação do parlamento actual bem como do que vier a ser constituído após as próximas eleições legislativas. Eis, portanto, em resumo a história da revolução islandesa: - Demissão em bloco de um governo inteiro; -- Referendo, de modo a que o povo se pronuncie sobre as decisões económicas fundamentais; - Prisão dos responsáveis pela crise e - reescrita da Constituição pelos cidadãos: Ouvimos falar disto nos grandes media europeus? Ouvimos falar disto nos debates políticos radiofónicos? Vimos alguma imagem destes factos na televisão? Evidentemente que não! O povo islandês deu uma lição à Europa inteira, enfrentando o sistema e dando um exemplo de democracia a todo o mundo.

Wednesday, April 18, 2012

Conversas comigo mesmo - LXXXV

Sopre as Cinzas. Deixe-as ao vento Quem feriu você, já feriu e já passou. Lá na frente encontrará o inevitável retorno e pelas mãos de outrém, se merecer, será ferido também. A Vida se encarregará de dar-lhe o troco e você, talvez, jamais fique sabendo. O que importa de verdade é o que você sentiu e, mais importante, é o que ainda você sente: Mágoa? Rancor? Ressentimento? Ódio? Você consegue perceber que esses sentimentos foram escolhidos por você? Somos nós que escolhemos o que sentir diante de agressões e de ofensas. Quem nos faz o mal é responsável pelo que faz, mas NÓS somos responsáveis pelo que sentimos. Essa responsabilidade tem a ver com o Amor que devemos e temos que sentir por nós mesmos. O ofensor fez o que fez e o momento passou, mas o que ficou aí dentro de você? Mágoa? - Você sabia que de todas as drogas ela é a mais cancerígena? Pela sua própria saúde, deite-a fora. Rancor? - Ele é como um alimento preparado com veneno irreconhecível: dia mais, dia menos, você poderá contrair doenças de cujas origens nem suspeitará. Ressentimento? - Pois imagine-se vivendo dentro de um ambiente constantemente poluído, enfumaçado, repleto de bactérias e de incontáveis tipos de vírus: é isso que seu coração e seus pulmões estão tentando aguentar. Até quando você acha que eles vão resistir? Ódio? - Seus efeitos são paralisantes. Seu sistema imunológico entrará em conflito com esse veneno que com o tempo poderá colocar você face a face com a morte e talvez muito tarde você venha a perceber que melhor seria ter deixado que o seu agressor colhesse os frutos do próprio plantio. Por seu próprio Bem e pelo seu Bem, perdoe. O perdão o libertará e o fará livre para ser feliz. Esqueça o mal que lhe foi feito. Deixe o seu ofensor de lado, e não pense nele com ímpetos de vingança. Siga a sugestão. Se desejas ser feliz por um dia: vinga-te. Se desejas ser feliz por toda a vida: PERDOE. Mude seu destino. Não permita que suas emoções negativas dominem os seus sentimentos. Seja o(a) comandante da sua nau! Escolha o melhor caminho para sua "viagem". E se outras vezes o ferirem, perdoe. Perdoe ... Como Cristo perdoou os que o crucificaram. Que DEUS, em sua infinita bondade, o Cubra a si e sua família de muita Paz, Saúde e Prosperidade... QUE TENHA MUITA PAZ DE ESPÍRITO.

Monday, April 16, 2012

Ludwig Van Beethoven - "Sonata ao Luar"

Quem de nós nunca teve um momento de extrema dor? Quem nunca sentiu, em algum momento da vida, vontade de desistir? Quem ainda não se sentiu só, extremamente só, e teve a sensação de ter perdido toda a esperança? Nem mesmo as pessoas famosas, ricas, importantes, estão isentas de terem os seus momentos de solidão e de profunda amargura. Foi o que ocorreu com um dos mais reconhecidos compositores de todos os tempos, chamado Ludwig Van Beethoven, que nasceu no ano de 1770, em Bonn, na Alemanha, e faleceu em 1827, em Viena, na Áustria. Beethoven vivia um desses dias tristes, sem brilho e sem luz. Estava muito abatido pelo falecimento de um príncipe da Alemanha, que era como um pai para ele... O jovem compositor sofria de grande carência afectiva. O pai era um alcoólatra contumaz e agredia-o fisicamente. Faleceu na rua por causa do alcoolismo. Sua mãe morreu muito jovem. Seu irmão biológico nunca o ajudou em nada e, a tudo isto, somava-se o facto da sua doença agravar-se. Sintomas de surdez começavam a perturbá-lo, ao ponto de deixá-lo nervoso e irritado. Beethoven somente podia ouvir usando uma espécie de trombone acústico no ouvido. Ele andava sempre com uma tábua ou um caderno, para que as pessoas escrevessem as suas ideias e pudessem comunicar com ele, mas elas não tinham paciência para isso, nem para ler nos seus lábios. Notando que ninguém o entendia, nem o queriam ajudar, Beethoven retraiu-se e isolou-se. Por isso conquistou a fama de misantropo. Foi por todas essas razões, que o compositor caiu em profunda depressão. Chegou a redigir um testamento, dizendo que ia suicidar-se. Mas como nenhum filho de Deus está esquecido, a ajuda espiritual chegou através de uma rapariga cega, que morava na mesma pensão pobre, para onde Beethoven se tinha mudado, e disse-lhe quase a gritar: “Eu daria tudo para ver uma Noite de Luar”. Ao ouvi-la, Beethoven emocionou-se até às lágrimas. Afinal, ele podia ver! Ele podia escrever a sua arte nas pautas. Recuperou a vontade de viver, agora renovada, e compôs uma das músicas mais belas da humanidade: “Sonata ao Luar.” No seu tema, a melodia imita os passos vagarosos de algumas pessoas, possivelmente os dele e dos outros que levavam o caixão mortuário do príncipe, seu protector. Olhando para o céu prateado de luar, e recordando a rapariga cega, como que a perguntar o porquê da morte daquele mecenas tão querido, ele deixa-se mergulhar num momento de profunda meditação transcendental. Alguns estudiosos de música dizem que as três notas que se repetem, insistentemente, no tema principal do 1º movimento da Sonata, são as três letras da palavra “por quê ”? ou outra palavra sinónima, em alemão. Anos depois de ter superado o sofrimento, viria o incomparável Hino à Alegria, da 9ª sinfonia, que coroa a missão desse notável compositor, já totalmente surdo. Hino à Alegria expressa a sua gratidão à vida e a Deus, por não se ter suicidado. Tudo graças àquela rapariga cega, que lhe inspirou o desejo de traduzir, em notas musicais, uma noite de luar. Usando a sua sensibilidade, Beethoven retratou, através da melodia, a beleza de uma noite banhada pela claridade da lua, para alguém que não podia ver com os olhos físicos. Para ver o vídeo clica aqui http://www.myspace.com/video/583288015/beethoven-sonata-ao-luar/108678579.

Sunday, April 15, 2012

Conversas comigo mesmo - LXXXIV

Neste segundo domingo de Páscoa - é o domingo de Pascoela, segundo o dito popular - que, segundo a liturgia cristã, é o dia em que Jesus apareceu aos seus apóstolos depois da crucificação. Assim, é o dia em que se apresentam os traços característicos fundamentais do que deve ser a comunidade cristã. É, desde logo, uma comunidade de crentes. Uma comunidade que nasce da fé em Jesus Cristo vivo, ressuscitado; que acredita n'Ele sem O ter visto, que O ama sem O ter conhecido, que O escuta e O segue porque vê n'Ele o caminho, a verdade e a vida, o caminho salvador que vem de Deus e a Deus nos conduz. (Numa atitude bem mais consistente do que aquela que Tomé teve na altura). É uma comunidade em que a comunhão de fé produz comunhão de vida. Por isso, juntos celebram a fé, juntos escutam a palavra de Deus, juntos fazem oração, juntos compartilham o pão e a alegria, juntos se inteiram das dificuldades e dos problemas de cada um e juntos lhe dão resposta. Por isso, o seu testemunho irradia luz, provoca admiração, contagia e torna-se chamamento eficaz. É uma comunidade sacramental. Uma comunidade que na celebração dos sacramentos - baptismo, eucaristia, reconciliação - proclama a sua fé, edifica-se como povo de Deus e projecta-se como sinal de Jesus Cristo no meio do mundo, fermento humanizador e fraternizador. Sinal do amor e da misericórdia de Deus.

Wednesday, April 11, 2012

A prece de um cão

Os animais são os nossos melhores amigos, por vezes, mais do que o nosso semelhante. Hoje quero partilhar convosco a prece de um cão. Espero que reflictam sobre estas palavras e que, caso seja o caso, mudem o vosso comportamento face aos vossos animais. A prece reza assim: "Trata-me com carinho, querido amigo, meu amigo mestre, por que não há nada no mundo mais agradecido do que o meu coração. Não magoes meu espírito com um pau, porque embora eu esteja a lamber as tuas mãos entre uma pancada e outra, a tua paciência e compreensão vão ensinar-me mais rapidamente aquilo que queres que eu aprenda. Nem sempre eu estou certo, mas quero sempre perdoar e ser perdoado. Fala sempre comigo, pois a tua voz é a coisa mais doce, como já deves ter percebido pelo abanar frenético da minha cauda, quando ouço os teus passos. Por favor, leva-me para dentro quando estiver frio e a chover pois sou um animal doméstico e não estou habituado ao frio e à chuva. Peço-te nada mais do que o privilégio de sentar-me aos teus pés, ao lado do coração. Mantém a minha taça cheia de água fresca pois não posso falar quando tenho sede. Dá-me comida fresca para que eu fique bem e possa brincar e responder aos teus comandos, para andar ao teu lado e estar apto a te proteger com a minha vida, caso estejas em perigo. Não posso falar quando preciso de cuidados médicos ou quando tenho de levar as vacinas. Olha para mim e observa se estou diferente, se evito a comida, por exemplo, e leva-me ao veterinário para uma consulta periódica. E, meu amigo, quando eu estiver velho e sem saúde, e se o Todo Poderoso me privar de ouvir e começar a ver mal, por favor, não me vires as costas, não faças nenhum esforço heróico para me manter vivo. Faz-me o bem de deixar que a minha vida de dedicação e fidelidade se possa extinguir suavemente e eu farei sentir com o meu último alento que sempre me senti seguro em tuas mãos. Tudo que te peço é que fiques comigo até o fim, segura-me firme e fala comigo até que meus ouvidos não mais ouçam e meus olhos não mais vejam. Amém."

Monday, April 09, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 178

Depois da chegada da "troika" a situação melhorou? Claro que não. Daí a tentativa gorada de Sócrates de evitar que ela viesse. Daí a negociação do PEC IV com Bruxelas que teria dado melhores resultados, sem que chegassemos até aqui. A confusão governamental adensa-se, quais núvens que vão preenchendo o céu, e anunciando a iminência da tempestade. Até agora os subsídios que foram retirados eram para ser reposto em 2013, mas afinal só o serão em 2015 e faseados. O que significa que muita coisa se perdeu e que os portugueses não mais verão esses valores. Ontem Marcelo Rebelo de Sousa já o foi insinuando. Mas o mais extraordinário de tudo isto é que, ninguém se cansava de gritar ao anterior governo que era mentiroso, e agora, será que não se está a mentir duma forma descarada, diríamos mais, despudorada aos portugueses? Quando Vítor Gaspar vem assumir na Assembleia da República que houve um "lapso" não estaria a arcar com a mentira dum primeiro-ministro a quem ele teve que "tapar"? Ouçam sobre este tema, também, o que Marcelo Rebelo de Sousa acha de tudo isto, e ficamos com as ideias bem precisas da situação. Depois assisitimos impávidos e serenos, ao fim das reformas antecipadas, feito à socapa, numa atitude sem precedentes em Portugal, onde os parceiros sociais foram, simplesmente, ignorados. Tal levou a que Silva Peneda, figura importante do PSD, afirmasse a semana passada sobre a suspensão das reformas antecipadas que, "a concertação social não existe só quando dá jeito, é uma forma de governação". As "trapalhadas" do executivo são tais que já motivaram que o um ex-líder do PSD viesse a terreiro dizer que "o governo é um desastre a comunicar", quem o fez foi Luís Marques Mendes. Mas como se a confusão já não fosse suficiente, Passos Coelho veio admitir, em entrevista ao jornal alemão Die Welt que afinal "acha difícil que regressemos aos mercados em 2013". Essa que foi uma das bandeira do governo caiu por terra. Mas não seria preciso que se chegasse a tanto. Já aqui defendemos muitas vezes essa impossibilidade em que só um tolo acredita. Hoje mesmo o FMI mandou mais um "recado" ao governo quando diz que "não vê estratégia de crescimento a partir de 2013"! O que é verdade, e isto significa apenas isto, quando o memorando da "troika" acabar o país estará ainda pior e sem estratégia de recuperação económica o que levará a novo resgate, a mais medidas de austeridade e ao empobrecimento generalizado do país, para níveis ainda mais abaixo do que aqueles em que estamos. Claro que isso passa, desde logo, por uma estratégia do ministro da economia, e essa estratégia não existe, como parece não existir nenhum ministro dessa pasta. A juntar a tudo isto, começa a haver uma falta de diálogo com o principal partido da oposição. E isso é grave porque, como disse Jorge Sampaio, "tal puderá levar a uma ruptura no apoio das medidas preconizadas pela "troika" embora essa julgue que o consenso alargado ainda existe, e que tem sido o grande trunfo a apresentar ao exterior". Numa Europa a braços com uma crise sem precedentes, onde tudo parece andar à deriva, Portugal vai mergulhando nesta "apagada e vil tristeza" - como diz o poeta - sem rumo e sem glória. A "albanização" do país está em curso pelas mãos dum executivo que tinha a "receita mágica" para resolver a situação de Portugal em dois meses! Será que ainda há quem se lembre das afirmações dos dirigentes do PSD - então na oposição - e, sobretudo, do seu ex-líder parlamentar, Miguel Macedo, obscuro ministro deste governo? Pois é bom que repesquem as afirmação então produzidas e as comparem com a "praxis" política actual. Depois tirem as conclusões de quem tem mentido aos portugueses!...

Sunday, April 08, 2012

Conversas comigo mesmo LXXXIII

Ainda na sequência da crónica anterior sobre a Páscoa, é caso para dizer, eis o dia! Se a Semana Santa terminasse com os acontecimentos de sexta-feira, os cristãos seriam, como escreveu S. Paulo, os mais miseráveis dos homens. Isto é, se Cristo não ressuscitou, a nossa fé seria vã. Seria uma ilusão. Mas não, garante o mesmo apóstolo, "Cristo ressuscitou como primícia dos que morreram". Não somos, por isso, os fúnebres seguidores de um cadáver. Somos discípulos de um Ressuscitado, de um homem novo, da nova criação. A experiência pascal, é o fundamento da fé cristã e da igreja que dela nasceu. É a luz dessa esperiência que os discípulos entram, de facto, na compreensão do sentido profundo e transcendente da vida de Jesus de Nazaré, do seu mistério e da sua missão. É então que se torna claro que a cruz não é, simplesmente, um acontecimento de maldição, mas de salvação, e que já surgiu, com ela, o Reino de Deus, reino de reconciliação, da liberdade, do amor e da paz. A celebração da Páscoa, a celebração da morte e ressureição, é, por isso, a festa das festas, a fonte da fé, da esperança e da alegria. Daí o grito jubiloso da liturgia de hoje: "Eis o dia que fez o Senhor! Nele exultemos e nos alegremos!"

Feliz Páscoa a todos!

Páscoa, etimologicamente, passagem. Hoje celebra-se o domingo de Páscoa de acordo com o ritual cristão. Celebra-se uma morte seguida duma ressurreição, um fim seguido de um novo (re)começo. Este que para muitos será certamente um dia feliz para mim assume uma especial tristeza. Hoje comemoram-se onze anos do desaparecimento da minha mãe. (Era então um solarengo Domingo de Ramos e o meu coração estava triste e negro como a noite mais fria e profunda!). Tal como à quase dois mil anos, recordo a injúria, o ódio, a intolerância, o insulto, o vilipêndio e, por fim, o assassinato. Só que a diferença entre a ignomínia que se passou à quase dois mil anos e a que celebro neste décimo primeiro, é que à quase dois mil anos houve uma ressurreição, - um túmulo vazio! -, e neste último, tal não se verificou, apenas aconteceu um desaparecimento definitivo. A entrada nessa galeria imensa de ausentes que povoam a minha vida. Daí a conflitualidade de sentimentos que sinto no dia de hoje. Amor e talvez ódio, - nem sei bem definir o que sinto -, talvez resignação seja o termo mais correcto. Depois da passagem - o significado etimológico do termo Páscoa - não houve retorno. No escoar do tempo, na perfídia dos dias que não me deixam em sossego, a memória é tudo o que me resta. O coração chora porque os olhos, esses já não são capazes, já gastaram todas as lágrimas. Neste alinhar inexorável dos dias que vão passando o sentimento de amor e talvez ódio convergem, amor pelos ausentes, talvez ódio por aqueles que criaram o ambiente propício a uma morte. Apenas a dúvida de sentimento fica pela outra memória - a de à quase dois mil anos - de quem sofreu a mais vil e atroz morte que se podia infligir nesse tempo que, segundo o ritual, se cumpriu em nome do amor. Do amor maior, do amor por aqueles que não o sentem, por amor daqueles que o calcaram aos pés, por amor daqueles que mataram ou criaram condições para que isso acontecesse. Daí esta conflitualidade de sentimentos que não sei separar, que não sei definir, que me esmagam nesta "apagada e vil tristeza" em que se tornou a minha vida. A História um dia há-de julgar, nem que seja sob a forma da consciência individual, aqueles que, como à quase dois mil anos, espezinharam o amor, a solidariedade, a ajuda. Esqueceram quanta ajuda receberam em momentos de aflição, quanto conforto tiveram em momentos de angústia. Gente menor e desprovida de sentimentos houve-os sempre ao longo dos tempos. Mas desses, a História não fala deles, desapareceram na sua poeira, ignorados pelos seus actos. A História registou os outros, aqueles que aparentemente sendo os perdedores foram os que venceram, aqueles que foram arrastados na lama tiveram o condão de perdoar aos seus sicários. Esta é a lição deste dia que tento impôr a mim próprio, quanto mais não seja, em memória daquela, que já no fim do tempo que lhe restava, me pediu para perdoar como ela já tinha perdoado. (O mesmo exemplo que vinha de trás de à quase dois mil anos!) Não sei se sou capaz, ...não sei se fui capaz!... Neste drama em que me vi envolvido até ao fim dos meus dias, não consigo entender se há espaço para o perdão. Não o perdão sob a forma de palavra, muita vezes vazia de sentido, mas o perdão no coração, aquele perdão que sentimos lá bem no fundo, aquele perdão que também nos alivia e nos conforta. Hoje, para além das efemérides que celebro - uma alegre porque um recomeço, outra triste porque um vazio - resta apenas o espaço dado pelas mãos frágeis duma criança, a Inês do meu contentamento, que quero crer que na sua pureza e fragilidade transportam a minha redenção. E só isso me conforta. E só isso me dá coragem de prosseguir para cumprir este meu calvário, íngreme, duro e difícil até à redenção, quiçá, até à minha ressureição para uma vida com mais sentido e, sobretudo, com mais amor. Amor pelo meu semelhante, amor pelos animais, amor pela natureza. Amor, enfim, no mais amplo sentido do termo. Até lá apenas a mais bela flor do meu jardim de Outono, a Inês do meu contentamento, representa a minha redenção. Essa redenção que espero me acompanhe no esgotar inexorável dos meus dias. É nisso que quero acreditar! Quero desejar a todos, àqueles de quem gosto, mas também àqueles de quem não gosto tanto, que me seguem neste e noutros espaços, uma Feliz Páscoa! Sem ódios, sem rancores, sem reservas mentais de espécie alguma.

Thursday, April 05, 2012

Conversas comigo mesmo - LXXXII

"Não vai haver mais noites solitárias nem ouvir que eu sou mau. Não vai haver mais ronco na barriga das refeições que não tive. Não vai haver mais taças de água vazias sob o sol escaldante. Não vai haver mais vizinhos reclamando do barulho por eu estar a chorar. Não vou ouvir mais "cala-te", "para baixo" ou "sai daqui"! Não sinto mais que não gostavam de mim, só a paz está no ar. A Eutanásia é uma benção, embora alguns ainda assim não consigam ver. Porque é que Eu nasci se estava destinado a não ser? O meu último dia de vida foi o melhor que alguma vez tive. Alguém me segurou muito perto, pude ver que ela estava muito triste. Beijei o rosto desta senhora, e ela abraçou-me enquanto chorava. Abanei o rabo para lhe agradecer, fechei os olhos e parti.... " Este escrito foi produzido por um voluntário de um abrigo para animais em Massena. Ele como tantos outros, interpretou a dor, o sofrimento, a angústia dum pobre animal - neste caso um cão - que, tal como nós, sentiu enquanto lhe foi dado viver. Este animal, tal como muitos outros, são seres sencientes, que sofrem, que têm sentimentos, desgostos e angústias, como qualquer um de nós. A humanidade, na sua pertença superioridade, não consegue ver isso. Só nos lembramos destas imagens quando estamos perto do fim, quando temos que partir, quando temos que enfrentar o desconhecido, a Deus, para os crentes. E aí a dimensão da vida toma outras proporções. Mas até que esse dia chegue, ignoramos estes pobres infelizes, abandonados nas ruas com fome, sede, doenças várias, torturá-mo-los nas arenas em prol do "espectáculo", torturá-mo-los nos circos em nome da "diversão", e pensamos que estes seres sencientes, não sentem, não têm dores, angústias, medos e receios como todos nós. Este é o mundo em que vivemos, onde nos lamentamos, por vezes, da nossa sorte e não nos importamos com a sorte dos outros, entre eles, dos nossos irmãos de quatro patas, que estão também, tal como nós, a celebrar o mistério da vida. O homem implora a misericórdia de Deus mas não tem piedade dos animais, para os quais ele é um deus. Os animais que sacrificais já vos deram o doce tributo de seu leite, a maciez de sua lã e depositaram confiança nas mãos criminosas que os degolam. Ninguém purifica o seu espírito com sangue. Na inocente cabeça do animal não é possível colocar o peso de um fio de cabelo das maldades e erros pelos quais cada um terá de responder. Quanto tempo será necessário que passe para que tenhamos formado uma outra consciência, mais solidária, mais fraterna, mais em consonância com a vida, a vida de todos os seres que povoam este nosso planeta e não apenas com a dos humanos. Quando seremos capazes de sair das cavernas em que ainda vivemos, quando teremos coragem para enfrentar a dura realidade e sermos uns seres melhores e mais perfeitos?

Tuesday, April 03, 2012

Equivocos da democacia portuguesa - 177

A saga política continua e Portugal está cada vez mais empobrecido. Esse é o resultado das políticas ultraliberais que estão a ser impostas aos portugueses e que vão muito para além do memorando com a "troika". Agora surgiu a ideia, ontem veículada, de que os centros de emprego seriam o motor para fazer face ao desemprego!!! Depois de ouvirmos isto, ficamos com a sensação dum mundo às avessas e de que o governo português não tem qualquer estratégia para fazer face a este flagelo que já ronda os 15%. Os próprios parceiros sociais já fizeram sentir o seu desagrado e até os representantes patronais já não calam o seu descontentamento. Um deles chegou ao ponto de dizer que o ministro da economia - o tal de que nunca nos lembramos do nome! - "deveria falar menos e apresentar mais propostas concretas de crescimento da economia". De facto, como já vínhamos alertando à muito tempo, este governo não tem qualquer estratégia de crescimento da economia, e enquanto isso não se verificar, nunca haverá criação de emprego. É preciso criar um clima de confiança - que não existe - que leve os empresários a investir e não apenas fugachos que derivam de posições hegemónicas dentro da economia. Queremos com isto dizer que, achamos incompreensível que o ministro da economia - o tal de quem nunca nos lembramos do nome - se tenha regozijado com a OPA do grupo Mello à Brisa, vendo nisso a confiança na dinâmica económica. Puro engano. Esta operação tem a ver com posições hegemónicas de grupos económicos que acontecem quer a economia seja dinâmica ou não. A verdadeira economia real, aquela que nos afecta dia após dia, aquela que influencia ou não os empresários, essa está estagnada e sem sinais de qualquer mutabilidade. Por isso, a confiança bate recordes negativos, os empresários não investem, o emprego não se cria. Por esta via, Portugal tem vindo a assistir ao maior empobrecimento de que à memória depois do pós-guerra, com a destruição maciça da classe média - que praticamente já não existe - subsituindo-a por um exército de desempregados, empobrecidos que enxameiam os centros de emprego e as cantinas sociais. E ainda vem o ministro da Segurança Social, Mota Soares - o que andava se "scooter" e agora passeia-se num dos carros mais caros do governo - a cortar nas prestações sociais e a encaminhar desempregados para actividades, por vezes, incompatíveis com a formação e experiência das pessoas, onde seriam mais úteis. Gostava de saber se Mota Soares, ele mesmo, ou os seus filhos, se estavam disponíveis a ir para um lar tratar de velhinhos, ou cortar arbustos nos jardins públicos? Talvez não, afinal já disso deu o mote, aquele que vai da "scooter" ao Audi topo de gama! Mas enfim, essa é a sina lusitana, num governo que já não fala em viajar em classe económica, não vá o diabo tecê-las! Sem crescimento não há emprego, não há confiança, apenas nos iremos empobrecendo cada vez mais até ao nível da indigência, a mesma onde muitos portugueses já se encontram sem saberem bem o que lhes aconteceu. Da oposição nada parece vir de concreto. O PS com um líder fraco - reconhecemos que não era fácil substituir o fogoso Sócrates - mas mesmo assim de quem se esperava bem mais. A restante oposição fica-se pelo protesto, normalmente inconsequente, o que deixa espaço ao governo para continuar a empobrecer os portugueses, porque sabe que tem todo o terreno pela frente. A Europa também ajuda, porque anda mais serena, visto alguns dos seus mentores - do directório - estarem a braços com eleições. Isso significa que andam mais preocupados com os seus lugares do que com o bem-estar dos europeus. Afinal desta geração de políticos europeus temos pouco a esperar. Embora pareça que ainda não nos convencemos bem disso. E é altura de reler-mos livro ou rever-mos o filme baseado no romance de Horace McCoy "They Shoot The Horses, Don't They?" (Na versão portuguesa, "Os Cavalos Também Se Abatem")! Lá veremos muito daquilo porque estamos a passar...

Monday, April 02, 2012

Conversas comigo mesmo - LXXXI

Educar, etimologicamente, significa "conduzir para fora" (ex ducere), isto é, trazer para fora tudo de bom que a nossa alma encerra e isso é a verdade, a bondade, a generosidade e o altruismo. Daí que o acto de educar seja uma acto nobre e o professor um ente venerado em muitas culturas que não na nossa, mais materialista, mais ligada aos aspectos materiais imediatos do que à essência da alma, se assim o posso dizer. Daí que insista junto das gerações mais novas para olhar com olhos diferentes a essência do aprender, da escola, da educação. Se existem professores - mestres como lhes gosto de chamar - também é certo que nem todos têm a vocação que deveriam ter, vocação quase diria sacerdotal. Mas isso acontece em todas as profissões, e não será por aí que as coisas se justificarão. Hoje assistimos a uma desvalorização da cultura - até o governo dá disso exemplo, infelizmente! - desvaloriza-se a leitura fonte de saber, exercício mental para a imaginação, que a juventude de hoje desvaloriza. Até os programas informáticos já têm cartas pré-programadas o que evita que os operadores pensem. Isso mesmo, o importante é que as pessoas não pensem, vivam alheadas - alienadas - do mundo que as cerca. Dizia Santa Teresa de Jesus: “Lê e conduzirás; não leias e serás conduzido.” Assim se percebe porque é que normalmente os poderes instituídos não gostam da cultura, e quando digo isto, não estou a olhar só para o passado, infelizmente. Mas hoje os jovens não lêem, os pais não incentivam, - se calhar também não têm esse hábito -, os mestres vão remando contra a maré e, o principal que são os livros, também estão a um preço que desincentiva e justifica esta (in)capacidade amorfa de leitura e de cultura. Já dei formação empresarial a jovens licenciados que não eram capazes de elaborar uma simples carta para um cliente ou um fornecedor, recorrendo aos "templates" que os programas informáticos disponibilizam e que são no mínimo redutores. Daí as pessoas não saberem expressar-se, não saberem escrever com qualidade, porque lhes falta o substracto essencial que é a cultura. Como diz esse grande pensador e pedagogo brasileiro, Paulo Freire, "educação não transforma o mundo, educação muda pessoas, pessoas transformam o mundo". Assim com esta clareza, está tudo dito. Daí que a aposta na educação, na cultura, na leitura, - tudo isto está interligado -, será seguramente sinónimo dum mundo melhor. Um tema para reflexão e debate, donde os pais não estarão, seguramente, excluídos.

Sunday, April 01, 2012

Conversas comigo mesmo - LXXX

Hoje é Domingo de Ramos que dá início à Semana Santa, a semana maior da liturgia cristã, que conduz à Páscoa. O dia em que se celebra a entrada triunfal de Jesus na cidade de Jerusalém e que iria determinar a sua paixão e morte. E quando lê-mos o Evangelho sobre esta data, ele não nos remete para o passado. É, sobretudo, profecia, revelação viva e actual que nos aponta o sentido profundo do que se está a passar diante de nós. E tudo decorre desta verdade nuclear, assumindo a natureza humana, Jesus Cristo solidarizou-se, definitivamente, com toda a humanidade, fazendo de cada um de nós um membro do seu corpo. Por isso o Evangelho fala-nos de Jesus presente no meio de nós, nosso contemporâneo e nosso próximo e explica-nos como Ele nos trata e como é que nós O tratamos. De facto, cada um de nós está previsto e descrito no Evangelho. Basta abri-lo e meditá-lo para aí nos reconhecermos. É isso que a liturgia deste domingo nos convida a fazer de modo especial, passando diante de nós as cenas da Paixão. É uma história sempre actual onde todos temos um lugar, onde todos estamos envolvidos e desempenhamos um papel, tenhamos ou não consciência disso. Daí a questão de face a este Cristo atraiçoado e abandonado, escarnecido e humilhado, preso e torturado, condenado e crucificado; face a este Cristo, pobre e doente, só, faminto, desprotegido, refugiado, tal como Ele se apresenta e se descreve na Parábola do Juízo Final, qual tem sido o nosso papel? Será que já parámos para pensar nisto? Talvez esta seja a altura de o fazermos em reflexão e introspecção.