Turma Formadores Certform 66

Saturday, August 30, 2014

Sete dias passaram

Sete dias passaram. Parece que foi à momentos. A Tuxa deixou-nos fisicamente, mas a memória dela continua a pairar sobre nós. Sobre os espaços que ocupava que eram o seu território. Sete dias passaram. E não nos habituamos ainda à sua ausência. Quando chegamos já não a temos a espreitar ao cimo das escadas, a ladrar e a abanar a cauda, nessa alegria renovada da chegada dos seus donos que ela tanto amou. Por vezes passamos e pensamos que ela ali está. Damos pela falta das duas alcofas que tinha para dormir. Damos pela falta do seu cheiro, da sua presença, do seu olhar. O Nicolau anda triste e confuso. Não parou de a cheirar quando morreu. Quis estar perto quando a levamos para a sepultar. Não sei se na sua cabeça ele teve a preceção do que aconteceu. Sei apenas que volta e meia vai ao local cheirar, deitar-se por perto, como se lhe quisesse fazer companhia. Afinal ela foi a sua mãe adotiva. Talvez a única que verdadeiramente conheceu. Ele foi abandonado à minha porta com três semanas de vida apenas. Era demasiado pequeno. A Tuxa foi quem verdadeiramente o criou, o educou, lhe ensinou a andar, com quem ela brincou sempre. Talvez por isso, o Nicolau anda triste. Ou talvez por nos ver tristes também. Não nos larga um só momento, ele que era tão independente. Porque olha e não a vê, procura-a e não a encontra, mas sabe que ela está ali, no seu relvado predileto onde ele, por vezes, fica como que a contemplar. Sete dias passaram mas a dor, essa não passou. Demorará tempo, muito tempo. Sete dias é tanto e simultaneamente tão pouco. Parece que foi agora que ela se desprendeu da vida, cansada dela, de tanto sofrer, ela que tanto lutou sempre pela vida, nem sempre fácil. Mas perdeu o seu último combate, como o perderemos todos nós quando a hora chegar. Sete dias passaram e a dor preenche os espaços, os mesmos espaços que ela ocupou, e por isso a memória é mais viva. Não sabemos onde estás. Não sabemos se estás bem ou não. Não sabemos se estás com medo ou não. Não sabemos se percebes que partistes e que nos deixastes para trás, tu que sempre privilegias-te a nossa presença. Não sabemos nada, não temos respostas para nada. Contudo, acreditamos que estás num lugar melhor onde o respeito pelos animais é a norma. Sabemos apenas que temos muitas saudades de ti, neste amor incondicional que te tivemos e que foi largamente superado por ti. Sete dias passaram, mas a memória essa ficará para sempre. Descansa em paz, Tuxa!

Monday, August 25, 2014

O último adeus

Hoje de manhã procedeu-se ao enterro da nossa querida Tuxa. Foi sepultada no local onde ela gostava de estar ao sol. Era o seu local de eleição. Ali ficou no seu relvado, junto do pequeno lago onde gostava de ir beber. Ainda ontem foi beber lá horas antes de partir. Na sua sepultura ficou plantada uma grande planta como sempre acontece nas sepulturas dos nossos animais. É uma espécie de vida que se sobrepõe à morte. Um sinal de continuidade para além do nosso mundo visível em que vivemos. A Tuxa partiu depois de 15 anos na nossa convivência. Foram muitos anos para perceber o carácter determinado e firme que ela tinha, mas também foram muitos anos para ver o seu lado dócil e maternal que imprimia em tudo. A maneira como tratou o Nicolau quando este veio para casa com 3 semanas, depois de ter sido abandonado; a maneira como tratou sempre a minha afilhada alertando-a para os perigos iminentes; a maneira como nos olhava cheia de amor e ternura. Deste-nos muito. Tentamos dar-te o melhor. Se não o conseguimos foi por incapacidade nossa. A Tuxa deixou-nos à bem pouco, mas as saudades já corroem a nossa existência. Sofreu muito em vida, espero que agora, liberta da canga do corpo que a prendia, seja hoje um ser livre a correr pelos prados do paraíso em que acredito. Hoje para nós é o dia da ressaca. Espero que para ela seja o dia da felicidade liberta da doença que a apoquentou e que a consumiu. Descansa em paz, Tuxa! Nunca te esqueceremos.

A Tuxa chegou ao fim

Chegou ao fim! Eram 17,09 horas do dia de hoje. Nesta caminhada para a morte - talvez para quem sofre como ela sofreu seja a libertação - a minha querida Tuxa deixou-nos. (Quis ir morrer no seu relvado predileto onde passou muitas horas deitada ao sol. Desceu sozinha as escadas e foi para lá. Olhou para mim e para a minha mulher, olhou para o Nicolau que ela ajudou a criar desde bebé e partiu. De lá partiu para a eternidade. Lá será sepultada nesse mesmo local, junto a um pequeno lago onde ela gostava de ir beber água). Mais uma ferida aberta no nosso coração, já chagado por tantos que foram partindo. Partida que nunca aceitamos, sobretudo quando os resgatamos à rua, tentamos dar-lhe uma vida melhor com carinho e amor, mas nunca pensamos que o inexorável fim há-de um dia chegar. A Tuxa foi uma sofredora na vida. Abandonada ainda jovem, em Águas Santas - mesmo em frente ao prédio onde então vivíamos - a minha mulher ainda presenciou esse momento. Um jovem andou por ali com ela pela trela, parecia que algo de estranho se passava. Ele queria libertá-la mas estava a ser difícil. (Sabe-se lá a razão porque o fez, talvez imposição de alguém). Mas libertou-a e afastou-se. Por isso, a minha mulher que assistiu a tudo, nunca a perdeu de vista. Andou por ali cerca de dois meses. Não a recolhemos antes porque já tínhamos uma outra cadela abandonada e no prédio onde vivíamos os animais não eram bem vindos. Mas ao fim desse tempo ela veio. Era um sábado ao início da tarde, quando a fomos procurar. Logo veio ter connosco porque já lhe dávamos comida à algum tempo. Passamos-lhe um lenço ao pescoço e ela pareceu que entendeu a nossa intenção e logo nos acompanhou. Nesse mesmo dia levámo-la ao veterinário. Tinha muitos problemas de pele e não só. Estava grávida. Teve que ser operada logo e depois seguiu-se um tratamento de cerca de um ano. Tinha um problema nas patas que teve que ser tratado. Éramos nós que lhe fazíamos os tratamentos. Ela chorava só de ver os preparativos. Mas tinha que ser. Ao fim dum ano estava curada. Começou a brincar e a ser feliz com a cadela que já tínhamos em casa e que morreria pouco depois. Veio a seguir o Nicolau - abandonado com três semanas de vida - mais uma vez à nossa porta. Ela acarinhou-o, criou-o, educou-o. Sempre muito carinhosa e maternal. Também connosco partilhava esse amor e carinho de quem reconhece que lhe demos uma segunda oportunidade. (Os cães abandonados são os melhores cães que há, os mais carinhosos e reconhecidos para com os seus donos). Depois mudá-mo-nos para a moradia em que hoje vivemos. Tinha muito mais espaço e três novas companheiras para a brincadeira que tinham sido de minha mãe, que ela me deixou quando morreu. A Tuxa começou a ser verdadeiramente uma cadela feliz. Sempre maternal e atenta a tudo. Anos mais tarde entrou na nossa casa um outro ser, pequeno e frágil, a nossa afilhada. E foi vê-la com o maior desvelo e carinho a tratar dela. Sempre alerta para os perigos em que uma criança tão pequena se coloca. (Publiquei muitas fotos e vídeos onde esta relação era clara). Esta afinidade era mútua. A relação ficou até ao fim. Apesar da doença terrível - um cancro que quando detetado já infestava todo o seu corpo -, apesar do cheiro pestilento que foi aumentando com o tempo à medida que a doença evoluía, apesar do aspeto desagradável à vista - como podem testemunhar nas últimas fotos que publiquei - em que um tumor fez a sua cínica, silenciosa e devastadora aparição no olho esquerdo da Tuxa, com tumores na cabeça, pescoço e em muitas outras partes do corpo, apesar deste cenário horrível, a Tuxa sempre contou com o amor e carinho da minha afilhada. Uma já velha, a outra ainda uma criança, mas ambas irmanadas no amor imenso e carinho que a simplicidade e a inocência criam, apesar de tudo isto, a minha afilhada não deixou de a ter como amiga, e dedicar-lhe a sua inocente atenção. Por que as crianças são grandes em gestos, por que os animais são puros na essência. Agora tudo isto terminou. (Mas ainda resistiu cerca de um ano e meio depois da morte anunciada pelos veterinários para o mês seguinte. Como uma guerreira lutou sempre até ao fim). A Tuxa está a percorrer a ponte de arco-íris para um paraíso em que acredito, onde estes animais encontrem a felicidade que muitos viram negada na sua caminhada terrena. Quinze anos depois de ter vindo para a nossa companhia - teria nascido em Janeiro de 1999, data estimada pelos veterinários - chegou a hora do adeus. Quero acreditar que seja apenas um até já! De lágrimas a correr pela face, de coração partido pela dor, aqui estamos para lhe dar o último repouso. Em  nossa casa onde foi feliz, junto dos outros seus companheiros que iluminaram e enriqueceram a nossa vida. Depois restam as lágrimas, a dor, o sofrimento da perda, a memória. Apenas minorado porque achamos que esta morte é também a libertação face ao sofrimento duma vida. Sempre sofredora, a Tuxa contou connosco, como sempre contam connosco estes nossos companheiros de jornada que nunca deixamos para trás. (Até de férias abdicamos para podermos tratar deles). Mas foi feliz. Sempre se sentiu muito feliz e alegre. Queremos acreditar que finalmente está bem, que finalmente está em paz. Esse é o bálsamo para o sofrimento porque estamos a passar. Esta é a hora mais difícil. Esta é a hora do adeus, talvez seja apenas um até breve. Descansa em paz, Tuxa! Nunca te esqueceremos pelo que sempre foste e por tudo o que nos deste. Pode parecer estranha esta homenagem a muita gente, mas não o é para nós, e não deve sê-lo para todos aqueles que vêm nestes nobres animais aquilo que de bom existe nesta vida.

Saturday, August 23, 2014

"A Flor da Vida" - Drunvalo Melchizedek

"Este símbolo é conhecido desde a mais remota Antiguidade e chama-se "A Flor da Vida". Na verdade, segundo foi revelado, o símbolo da Flor da Vida é bem conhecido em todo o universo. Cada molécula de vida, cada célula em nosso corpo humano conhece esse padrão geométrico. Ele é o padrão geométrico da criação e da vida, em todo o lugar. Na verdade, não há nenhum conhecimento, absolutamente nenhum conhecimento no Universo que não esteja contido neste padrão da Flor da Vida. Diz-se que grandes mestres concordaram em mais uma vez revelar esta antiga sabedoria, conhecida como a Flor da Vida. Ela é um código secreto usado por muitas Raças Avançadas e por Navegantes Espaciais. O código da Flor da Vida contém toda a sabedoria similar ao código genético contido em nosso DNA. Esse código genético vai além das formas comuns de ensinamento e encontra-se por trás de toda a estrutura da própria realidade. Todos os harmónicos da luz, do som e da música se encontram nessa estrutura geométrica, que existe como um padrão holográfico, definindo a forma tanto dos átomos como das galáxias. O símbolo da Flor da Vida encontra-se inscrito nos tectos do Templo de Osíris, em Abidos, no Egipto. Sabemos hoje que o símbolo da Flor da Vida também foi encontrado em Massada (Israel), no Monte Sinai, no Japão, China, Índia e Espanha." Fonte: O importante e exaustivo Livro de Drunvalo Melchizedek "O Antigo Segredo da Flor da Vida", editado em 2 tomos.

Friday, August 22, 2014

Hierarquia Espiritual Portuguesa - Dr. Sousa Martins

José Tomás de Sousa Martins (Alhandra, 7 de Março de 1843 — Alhandra, 18 de Agosto de 1897) foi um médico e professor catedrático da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, antecessora da Faculdade de Medicina de Lisboa. Formado em Farmácia e Medicina, trabalhou intensa, e na maioria dos casos gratuitamente, sobretudo no combate à tuberculose. Orador brilhante, dotado de humor e inteligência, homem de actividade inesgotável e praticante incansável da caridade junto dos mais desfavorecidos, exerceu uma forte influência sobre os colegas de profissão, os alunos e os pacientes que tratou. Foi sócio correspondente da Academia Real das Ciências de Lisboa. Perpetuou-se no tempo, tendo a figura do Dr. Sousa Martins assumido contornos de Santo, num culto actual, bem visível nos devotos em torno da sua estátua no Campo de Santana, em Lisboa, e no cemitério de Alhandra, onde está sepultado. A ele são pedidas inúmeras intervenções divinas, na convicção plena e fé de virem a ser concedidas as bênçãos, graças e curas milagrosas desejadas. Ao tomar conhecimento da morte do Dr. Sousa Martins o rei D. Carlos disse: “Ao deixar o mundo, chorou-o toda a terra que o conheceu. Foi uma perda irreparável, uma perda nacional, apagando-se com ele a maior luz do meu reino”. O Prémio Nobel Egas Moniz proferiu: “Notável professor que deixou, atrás de si, um nome aureolado de prelector admirável, de clínico, de orador consagrado, sempre alerta nas justas causas da Sociedade das Ciências Médicas.” Imagem: O Amado Dr. Sousa Martins em fotografia da época e estátua junto da Faculdade de Ciências Médicas (Lisboa).

Wednesday, August 20, 2014

A guerra dos tronos (aliás, dos António's)

De peripécia em peripécia vimos assistindo, neste Verão envergonhado, à guerra que vem assolando o Partido Socialista (PS). Guerra incompreensível que só a ambição desmedida pode germinar. Gostemos ou não de Seguro, ele é o líder eleito, tem sido um líder vencedor, e não deixa de ser bizarro que depois de duas eleições ganhadoras, seja desafiado por um camarada de partido que, até então, se remeteu ao silêncio quando se percorria os caminhos sempre difíceis da oposição. Agora, a poucos meses das eleições legislativas - até porque pensamos que elas serão antecipadas pelo facto que deriva do calendário eleitoral - apareça alguém que na sua ambição desmedida de ser, (mais do que líder do partido), ser o futuro primeiro-ministro, não tenha pejo em colocar o seu próprio partido em dificuldades nas sondagens, onde à bem pouco liderava com vantagem confortável. Como já aqui afirmamos por diversas vezes, Costa até poderá ser um líder melhor para o PS, mais ajustado aos tempos que correm, mas isso não significa que passe por cima de tudo e de todos, com a sua corte pós-socrática a acompanhá-lo. Porque os tempos mudam e as vontades também, para usar a imagem do poeta, talvez o vislumbre de uma vitória fácil, com nomes que já apareceram em anteriores governos, possa dar a Costa a ilusão da vitória. Pensamos ser um erro essas vitórias antecipadas antes de se travarem os grandes combates. Mas também sabemos que se fossemos eleitores PS iríamos pensar maduramente em quem votar. Normalmente, não costumamos apoiar aqueles que defendem a traição como estratégia, o apunhalar covarde pelas costas como "modus operandi". Quem assim procede para com um camarada de partido, quiçá até um amigo, como procederá perante o país e o cidadão anónimo? É da História que quem tem as mãos sujas de sangue, normalmente, não as lava se não com mais sangue. E que exemplos terríveis a História nos dá, não só a deste país, mas de outros que geraram tais figuras no seu seio. É certo que ainda não houve debates entre os dois - porquê, amigo Costa? - mas quando os houver, se vão alguma vez existir, gostaremos de ver o que daí sairá. Porque o próximo governo, seja lá ele qual for, e chefiado por quem for, não poderá alterar em demasia o rumo que se tem seguido. Não porque não o queira mas porque este governo atual tem estado demasiado tempo em funções e quando sair deixará um lastro que não se pode alterar do dia para a noite, e haverá casos até, em que não se poderão alterar diretrizes já assumidas. Por exemplo, o caso dos impostos. Todos achamos que a carga tributária é demasiada, mas o próximo governo terá dificuldade em fugir a esta sina por condicionantes de estratégia, que podem passar por Portugal, mas que também passam, seguramente, por outras condicionantes de índole internacional. Daí que a simples alteração do governo, pode não mudar nada, ou quando muito, mudará muito pouco, face ao caminho que percorremos nestes últimos três anos. Seguro, embora olhando o país com outro ângulo de visão, poderá representar uma certa continuidade face ao que já foi dizendo, embora com alterações aqui e ali, ajustes derivados da visão ideológica das questões. Costa, que assume um discurso mais radical, tem com certeza a noção que entre a sua "praxis" e o seu discurso, vai a distância dum "Rubicão", mas a estratégia dos votos leva a distorcer o inevitável, porque a ambição é mais do que a sinceridade. Se dentro do PS as coisas estão como estão, como será na governação? A pergunta é oportuna porque deste confronto sairá um PS fortemente dividido, seja lá quem for o vencedor. E depois teremos todos que esperar mais um ou mais ciclos políticos até que apareça um verdadeiro líder capaz de aglutinar as hostes ora desavindas. Mas até lá, há um país para governar. Há gente ansiosa de mudar de rumo na expectativa - talvez vã - de melhores dias. No entretanto, vamos assistindo a esta guerra dos tronos (aliás, dos António's), que diz bem do que poderemos esperar no futuro. Esta é a democracia equivocada - se é que vivemos ainda em democracia - onde o gesto de votar de quatro em quatro anos parece satisfazer toda a gente. Pobre democracia esta que assim pensa. A democracia é, - deve ser -, muito mais do que isto. Temos a democracia que merecemos e que desvirtuamos, temos os partidos que apoiamos e que geramos, temos os líderes que apoiamos e que idolatramos. Entretanto, os equívocos continuam. E a guerra dos tronos (aliás, dos António's) também, nestes vários episódios que prometem muitos mais, talvez até, temporadas futuras. 

Sunday, August 17, 2014

Florença: a Europa tem luz própria

Visitei Florença e nunca mais a esqueci. Este é o sentimento de todos aqueles que, como eu, tiveram a felicidade de a conhecer. Berço de artes e artistas, caldeirão do Renascimento que haveria de se difundir por toda a Europa, Florença é bem o ícone duma cidade de arte e cultura, um oásis neste deserto avassalador em que a Europa se transformou, ou pelo menos, é esta a fase porque está a passar. Li um artigo de Viriato Soromenho Marques publicado hoje no DN de hoje e não resisti a transcrevê-lo aqui. Pela sua importância, pela relevância face a uma Europa descaracterizada mas, sobretudo, porque fala dessa bela cidade de Florença. Aqui fica o artigo na íntegra para os interessados. "Melhor remédio do que o ar puro das montanhas ou a brisa iodada do mar, para curar os corações de europeus destroçados pela miséria intelectual e moral que hoje avassala o Velho Continente, é mergulhar no minúsculo coração de Florença. Num raio de 500 metros, tendo por centro a Piazza della Signoria, está tudo o que impede a existência da Europa de ser considerada um erro divino. A ideia da dignidade humana como autonomia ali se pressente nas ruas habitadas por Pico della Mirandola, por Maquiavel, e antes por Dante. Os riscos de fanatismo, estão assinalados no chão da Piazza, onde a breve teocracia de Savanarola ardeu com o seu criador. Também lá vibra o esplendor da arte em todas as formas. Na escultura, o David (1501), de Miguel Ângelo, o Perseu (1554), de Cellini. Na pintura, a colecção Uffizi, doada pela poderosa família Medici ao povo de Florença, exibe um espólio incalculável, onde brilham Botticelli e Leonardo da Vinci. Subindo a Costa di San Giorgio, deparamos com uma casa onde viveu e trabalhou Galileu, um dos pais fundadores da ciência moderna. Mas o mais terno e frágil símbolo de Florença é El Ponte Vecchio, a mais antiga travessia sobre o Arno, construída em 1345. No dia 3 de agosto de 1944, as tropas alemãs, sob o comando do marechal Kesselring, tentaram atrasar o avanço das colunas blindadas dos aliados. Todas as pontes sobre o Arno foram destruídas. Todas, menos uma. El Ponte Vecchio foi salva, no meio da violenta retirada. Uma recente placa de mármore presta homenagem ao homem que mais contribuiu para salvar esse ícone da alma europeia: chamava-se Gerhard Wolf (1896-1971). Era o cônsul alemão na cidade, desde 1940! Quando a Europa enlouquece, só os homens capazes de heroísmo ético resgatam um ténue fio de esperança para a geração seguinte." Não sei se este belo artigo vos acicatou ou não a curiosidade de saberem mais sobre Florença. Muita coisa existe a ilustrar o ser desta bela cidade, mas se tiverem oportunidade, não deixem de a visitar. Verão que é como mergulhassem num mar imenso de cultura. Neste período de férias porque não uma visita à cidade berço do Renascimento.

Wednesday, August 13, 2014

Portugal entra em deflação

Tenho escrito muito sobre este tema e as consequências gravosas para a economia nacional, que é como quem diz, para todos nós. Não compreendo o silêncio que tem havido sobre a discussão deste tema, mas agora É oficial: Portugal está em deflação e isso não é uma boa notícia. Portugal está em deflação ou seja, os preços estão a descer quando comparado com os praticados há um ano e não a subir como é habitual. A taxa de variação média anual do índice de preços no consumidor entrou em valores negativos (-0,2%) pela primeira vez desde que em 2009 o país registou uma variação negativa dos preços de 0,8%. Este valor médio anual surge depois de seis meses consecutivos com taxas de variação homóloga negativas e depois de no último mês de que há registo (julho de 2014) a queda se ter acentuado significativamente: passou de -0,4% em junho para -0,9% em julho. Esta evolução apesar de mais acentuada em Portugal não é contrária ao que se vai registando na União Monetária onde predominam países com inflação muita baixa ou mesmo em deflação. A previsão para a taxa de inflação de 2014 será assim revista em baixa devendo ser inferior a zero no final do ano. A existência de deflação não é um cenário que deva merecer particular regozijo podendo inclusive, se se prolongar no tempo, conduzir a uma forte crise económica. Note-se que todas as dívidas definidas num valor monetário fixo (como a dívida pública ou os créditos à habitação) têm tendência a ser mais difíceis de suportar pois apesar de a dívida continuar a representar o mesmo valor em euros, os rendimentos usados para a pagar têm tendência a reagir em baixa à descida prolongada dos preços fazendo com que o peso no orçamento nacional, empresarial e familiar seja maior. No limite, a deflação pode conduzir ao incumprimento do pagamento da dívida pois a deflação tende a funcionar como um imposto adicional sobre os devedores. O inverso pode acontecer com os credores, se considerados isoladamente do sistema económico em que se inserem. Por exemplo, um depósito a prazo a taxa fixa contratado há poucos meses por um prazo longo poderá no final revelar-se uma poupança com uma taxa real de juro interessante pois apesar de o juro nominal poder ser baixo, como a inflação é negativa, essa evolução dos preços acresce ao aumento do poder de compra implícito no juro recebido. Ou seja ao juro real de, por exemplo, 2% depois de impostos há que somar a taxa de deflação o que faz subir o rendimento.  No fundo sucede o oposto face a uma situação de inflação positiva – crescimento generalizado dos preços. Este é um dos casos em que ter o dinheiro no colchão rende juros. Há um incentivo para que o dinheiro fique “parado”, algo que é contrário à existência de inflação. Se o cenário de deflação for tido como duradouro (o que parece ser o caso presente) as consequências para toda a economia não deverão deixar muitos incólumes pois podem-se instalar as características mais nefasta geralmente associadas este fenómeno como seja uma tendência para adiar sucessivamente o consumo. Porquê? Porque os consumidores se souberem que “amanhã” os preços estão mais baixos tendem a adiar ao máximo todas as compras adiáveis de modo a efetuá-las ao menor custo possível. A deflação pode funcionar como um letreiro de descontos permanentes em que se sabe que no dia seguinte o desconto será maior. Este comportamento, quando instalado, pode provocar uma retração contínua da capacidade produtiva contribuindo para falências, perda de emprego e agravamento das pressões para que ocorra uma descida de preço. Os salários como preço do trabalho que são sofrerão também, a prazo, igual pressão (via desemprego e redução das componentes variáveis) agravando ainda mais  a espiral de descida de preços. A deflação permanente não é do ponto de vista económico preferível a um cenário de hiperinflação pelo menos no sentido em que ambos são difíceis de contrariar e têm consequências muito negativas para a economia e para a população. Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE) de quem é a autoria do gráfico aqui reproduzido e que compila esta informação, as principais conclusões quanto às classe de despesa que estão a ver os preços a descer (e a subir) são as seguintes: “(…) Entre as classes com contribuições negativas para a variação homóloga do Índice de Preços no Consumidor (IPC) destaca-se a dos Produtos alimentares e bebidas não alcoólicas (classe 1), com uma variação homóloga de -3,1% em julho (-2,5% no mês anterior). A classe do Vestuário e calçado (classe 3) também teve um contributo relevante para a variação homóloga do IPC, em resultado da diminuição mais acentuada de preços verificada na entrada do período de saldos, com uma taxa de variação homóloga de -7,5% (-1,5% em junho de 2014). Nas classes com contribuições positivas para a variação homóloga do IPC salienta-se a da Habitação, água, eletricidade, gás e outros combustíveis (classe 4), com uma variação homóloga de 2,2% (2,3% em junho), influenciada em grande medida pelo sub-subgrupo das Rendas efetivas pagas por inquilinos de residências principais. É ainda de referir ocontributo positivo da classe das Bebidas alcoólicas e tabaco (classe 2), com uma variação homóloga de 3,1% em julho (2,9% no mês anterior). (…)” E agora? Vamos continuar a meter a cabeça na areia e pensar que não aconteceu nada? Esperemos para ver o que o futuro nos dirá.

Tuesday, August 12, 2014

Um país que é uma mentira

Um país de mentira e de mentiras é a maneira como nos apetece defini-lo depois do que temos vindo a assistir nas últimas semanas. Um país que é uma mentira. Neste país destruído, aniquilado, em nome duma qualquer nova ordem mundial, - económica e não só -, os equívocos não param de acontecer, onde a mentira, ocultação intencional ou não, estão cada vez mais, na ordem do dia. Na semana passada falamos na atitude do BdP face ao caso BES. Depois vimos a intervenção do seu governador, Carlos Costas, sobre o mesmo tema. Afinal, parece que tudo não passou duma refinada mentira. Hoje sabe-se que a intervenção do BdP foi praticamente motivada pela decisão do BCE em se fazer pagar do apoio concedido ao BES. Decisão tomada a 1 de Agosto - sexta-feira - e intervenção do BdP no dia 3 - domingo. Mas também ficamos a saber que, depois de todo este ruído provocado pela queda do império da família Espírito Santo, que afinal o BdP terá emprestado cerca de 3,5 mil milhões de euros ao BES, depois de já saber que algo de muito errado existia intramuros desta instituição financeira. E isto só se soube porque ontem um gabinete de advogados o divulgou depois de ver o documento espelhado na página oficial do banco central. Dirão alguns, que se é assim, o BdP afinal tinha tornado público o documento. Esse documento está inserido no registo de propriedade e nunca tinha até ontem sido divulgado por ninguém, nem a ele foi feita qualquer referência oficial. Quem não deve não teme diz o povo, e tal asserção parece não se aplicar de todo à autoridade financeira portuguesa. A Bolsa anda para lá e para cá, e só agora decidiu afastar as ações do BES do mercado. (Afinal não tinha outra solução visto o BES que conhecemos já não existir, mas sim parte dele - o "bad bank" - onde ficaram os produtos que se consideram "tóxicos" e como tal não ser possível que as suas ações continuassem a ser transacionadas no mercado quando o seu valor ficou a zeros). Mas não se pense que é só no meio financeiro que as coisas estão mal. Na vertente política não estão melhor. Sobre ainda o caso BES, o ministério das Finanças nada diz, dando a ideia de que não é nada com ele. Nada mais errado, porque se algo correr mal, serão sempre os mesmos a arcar com as consequências, ou seja, os contribuintes. (O mesmo se passará se o empréstimo feito pelo BdP ao BES não for pago, embora este diga que tem garantias, mas sem especificar quais). Mas hoje também se sabe que a dívida não pára de crescer - o relatório do Tribunal de Contas é arrasador - dando a ideia de que os cortes feitos nos salários e nas pensões não chegou para cobrir a despesa do Estado. Mais uma anomalia dum governo que diz que tudo está bem, que agora é que é, que só os que não querem ver é que o negam, leia-se a oposição. Mas a realidade mostra que não é assim, bem pelo contrário. Ontem veio a saber-se que mais de meio milhão de jovens já emigraram nos últimos anos. Aqui também é visível que a tão propalada recuperação do trabalho não passa duma falácia. (Já por diversas vezes chamamos a atenção de que quando se fala em criação de postos de trabalho, deve-se analisar a criação líquida, isto é, entre o emprego criado e o destruído. E não se pode deixar de lado os imensos desempregados que estão em "formação", de que nada lhes irá servir, mas assim desaparecendo das estatísticas do desemprego). Ainda há dias, um responsável da UE dizia que, a Europa devia estar atenta e vigilante para o que ainda estava a acontece no seu seio. Depois, aproveitando o caso BES, Juncker dizia que Portugal era o paradigma do país com problemas ainda por resolver, indo até mais longe, dizendo que o nosso país tinha deficiências que não existiam noutros, e dava o exemplo da Grécia que, segundo ele, estaria bem melhor e num caminho mais sustentável. De confusão em confusão, de equívoco em equívoco, de mentira em mentira, tudo serve para dar a ilusão de que tudo está a correr bem. Afinal não é assim, bem longe disso. É a Europa que o diz - e logo pela boca dum homem que é da mesma família política da maioria - são os portugueses que o sentem diariamente na pele, quando assistem ao seu degradar do nível de vida, empurrando as famílias para cada vez uma maior pobreza. Depois, e em nome do ajustamento, são cortados a esmo os subsídios, as pensões, os salários, - que afinal nada resolveram -, e empurrando esta nova, e cada vez maior classe de pobres, para os braços das instituições de solidariedade privadas ou da Igreja. Um descartar como Pilatos da função social do Estado que estes políticos tanto ajudaram a destruir. No fundo, servem-nos mentiras diariamente. Vivemos em mentira, a mesma mentira que se nos pega à pele como sarna, e que até pode passar por verdade, à força de tantas vezes ser repetida. No entretanto, os decisores políticos estão a banhos. Nada disto parece dizer-lhes respeito. Não há uma satisfação aos portugueses. Talvez seja melhor assim porque correríamos o risco de levar com outra mentira. Olhemos para onde olhemos apenas vislumbramos mentiras. E quantas ainda estarão por aí ocultadas? Este país passou a ser uma país de mentiras. Este regime passou a ser uma mentira. Este país é, ele mesmo, uma mentira.

Monday, August 11, 2014

PSI - 20 deverá ficar reduzido a 18 empresas até 2015

O BES vai sair do índice de referência hoje mesmo e será difícil encontrar cotadas que o possam substituir, tendo em conta as regras da seleção segundo uma informação veiculada pelo Expresso. A entidade que gere a bolsa portuguesa decidiu a semana passada que o BES deixará de fazer parte do índice de referência a partir de 11 de Agosto e reduziu o valor das ações do banco para zero. Após a exclusão do Espírito Santo Financial Group (ESFG), a saída do banco deixará o PSI 20 reduzido a 18 cotadas. E as probabilidades de existirem empresas em condições de preencher aquelas vagas são diminutas. A Euronext realiza revisões trimestrais do índice, sendo que as próximas avaliações ocorrerão em Setembro e Dezembro. No entanto, dados os critérios de seleção que entraram este ano em vigor, será difícil encontrar substitutos para o BES e para a ESFG. De acordo com as regras de seleção, nas revisões trimestrais apenas haverá inclusão de novas cotadas caso alguma empresa que não esteja no PSI 20 consiga alcançar pelo menos o 15.º lugar no ‘ranking' do valor de mercado ajustado ao ‘free float' (valor realmente disperso em bolsa que não contempla as posições detidas por acionistas com mais de 5%, à exceção de fundos de investimento ou de fundos de pensões). Na sessão de ontem, a 15ª posição era ocupada pela Altri, que já integra o índice e tem um valor de mercado ajustado ao ‘free float' de 223,6 milhões de euros. Nenhuma das cotadas nacionais que estão fora do PSI 20 alcança aquele valor. A que está mais próximo é a Espírito Santo Saúde (ESS) com um valor de mercado ajustado ao ‘free float' de cerca de 160 milhões de euros. Caso nenhuma cotada que não esteja no índice não cumpra com o requisito do 15.º posto, o índice continuará com 18 constituintes. De acordo com os dados atuais, a maior probabilidade é que nem na revisão trimestral de Setembro nem na de Dezembro existam alterações. No entanto, tudo dependerá do desempenho do valor de mercado das cotadas e da evolução da proporção de ações que estejam em ‘free float'. Além da evolução do mercado, o próprio Comité do PSI 20 pode considerar que, apesar de não haver cotadas que cumpram todos os critérios, o índice ficará mais completo e representativo com uma eventual inclusão de novas empresas. Além das revisões trimestrais, o PSI 20 é ainda alvo de uma revisão anual, que ocorre em Março. Esta tem regras que dão maiores probabilidades de alterações no índice. Ficam automaticamente no índice as 18 cotadas da bolsa nacional com maior valor de mercado ajustado ao ‘free float'. E poderão ser adicionadas mais duas cotadas, desde que tenham aquele indicador acima de 100 milhões de euros. Com os dados actuais, e ressalvando que em mais de meio ano há espaço para alterações assinaláveis no mercado, a ES Saúde ocuparia o lugar da Impresa, mas o índice continuaria apenas com 18 cotadas.

Thursday, August 07, 2014

Um país a apodrecer

Desde há muito que a degradação da vida em Portugal se vem tornando quase asfixiante. E não me refiro apenas à degradação do nível de vida de todos nós, que um grupo de "iluminados" rapazes encetou na senda dum qualquer cavaleiro andante medieval de triste figura. A punição por termos vivido melhor, merece o castigo destes cavaleiros do Graal, sempre prontos a punir, a estigmatizar, a apontar, pensado eles que são o modelo de virtudes. Enfim, gente impreparada para estas coisas do poder, que o acaso colocou nessa vereda que tão caro nos tem saído. Sempre prontos a acender as fogueiras num qualquer auto de fé, a mando duma qualquer "sagrada" inquisição. Duma presidência distante do povo, uma espécie de monarquia onde alguns que fazem parte da corte do rei, ainda questionam o povo esfomeado e perguntam: "Porque não comem 'croissants'?". Mas este país, para além de governantes deste jaez, - e como uma desgraça nunca vem só -, tem vindo a apodrecer, qual maçã bichosa que vai sendo corroída por dentro até nada mais dela se aproveitar. A política entrou num caminho de degradação que nunca pensei ver por terras lusas, a justiça anda sempre adiada para os poderosos e célere para os miseráveis, a educação anda corroída até à medula, seja por professores, que de tão nobre profissão apenas lhes conhecem o nome, seja dum ministério que acha que esta deve ser cada vez mais privada, logo acessível apenas aos de mais posses, como acontecia nos meus tempo de menino e moço, onde apenas aqueles que tinham dinheiro almejavam chegar a uma universidade. A saúde está cada vez mais desqualificada, o Serviço Nacional de Saúde que já foi modelo para o mundo, está depauperado, a qualidade do serviço é cada vez menor, mas lá estão os privados para suprir as carências daqueles que têm posses para isso. Mesmo a finança anda a arrostar-se pela lama. Instituições prestigiadas agora aparecem como um puro covil de malfeitores, onde já ninguém consegue acreditar. A Bolsa que era um espaço de negócio importante neste modelo capitalista em que vivemos, parece também ela já não escapar a esta sina. Veja-se o que aconteceu com esta incrível pontaria da PT para retirar tudo o que tinha entrado no BES pouco antes da bomba explodir. Veja-se a suspensão das operações a descoberto do BCP hoje mesmo. Veja-se o regulador que diz que está tudo bem para dias depois se verificar que afinal nada vai bem. Neste país corrompido, apodrecido, é caso para nos interrogarmos, afinal que fazer? Afinal em quê, e em quem confiar? Não sei se esta é a crise duma sociedade capitalista que está incapaz de se renovar, neste ciclo infernal de crise e retoma, onde haveria o dia em que não fosse capaz de continuar como afirmava Keynes. Talvez seja um pouco de tudo e de nada porque nestas coisas nunca se sabe onde está a razão ou a estultícia, onde existe a verdade ou espreita a mentira, onde os valores da seriedade já são coisa fora de moda, dum outro tempo. Sejam quem forem os autores, mais cultos ou menos instruídos, parece que entramos numa espiral de terrível confronto entre a sagacidade e a vilania, a mentira e a verdade, a seriedade ou o deboche. Só que entre nós, estes fatores mais negativos parecem que são os que acabam por levar a melhor. Numa democracia ainda jovem, (apesar dos seus quarenta anos), fica-se com a sensação de que já nada vale a pena. Viver cada dia como se fosse o último parece ser o novo léxico que nos pretendem inculcar. Os valores da solidariedade, da seriedade, do aprumo, que foram os meus na minha meninice são cada vez mais espúrios que se olham como se de algo estranho se tratasse. Num mar de expectativas, que a liberdade reconquistada e a democracia consolidada, - valores que emergiam perante os olhos de todos nós -, tudo virou um mar de tormenta, tempestuoso, aziago, onde apenas os mais audazes, sem escrúpulos, sem lei, são os verdadeiros sobreviventes, mesmo que tenham que atirar ao mar os que estão a mais no bote. Todos vamos assistindo a isto, dia após dia, com o sentimento duma impotência que dói, onde já não há lugar para quem quer fazer da vida um paradigma de seriedade. Mas o mais grave, é que parece que nos vamos habituando a isto, fazemos até parte disto, e começamos a olhar de viés aqueles que defendem um retorno à seriedade. Afinal, não é só o país que está apodrecido, não é só o regime que está caduco, não são só as instituições que estão a feder. Não, agora é mais grave. É a nossa própria personalidade, mentalidade, que vai aceitando tudo isto como natural, assim apodrecendo aquilo que ainda seria um pilar de esperança no futuro, - nós mesmos. Um país onde não se sabe quem é responsável e a quem responsabilizar. Um país de sombras, onde esse jogo terrível de espelhos parece ser o desígnio nacional. Este não é um país, é uma mentira. Não sei se depois da crise vem de novo a retoma, - não aquela que a propaganda governamental vomita todos os dias nos "media" numa narrativa de embuste desmedido -, mas a verdadeira retoma que dê dignidade à vida dum povo. Mas confesso que já não estou preocupado com isso. Afinal como dizia Keynes: "No médio/longo prazo estamos todos mortos".

Tuesday, August 05, 2014

"Novo Banco" - E agora?

Agora que já temos um "Banco Novo" que se pode esperar? Esta é uma das muitas interrogações que os portugueses colocam. Mas voltemos um pouco atrás para atualizarmos a informação disponível. Depois de criado o chamado "bad bank" (banco mau) onde se concentram todos os produtos tóxicos ou no mínimo duvidosos onde, por exemplo, está o BESA (Banco Espírito Santo Angola) que tinha uma garantia de apoio do governo angolano, que ontem mesmo se apressou a revogar a mesma, num processo insólito de que não há memória, o que vem provar que o regime angolano continua a apoiar as maiores tropelias sempre na senda do lucro fácil, bem ao estilo do corrupto regime desse país. Mas lá também estão as responsabilidades dos acionistas - pequeno ou grandes - que praticamente irão perder tudo e os depósitos da família Espírito Santo. (Aqui coloca-se uma questão que tem sido polémica que é a de saber se os pequenos acionistas deveriam ser penalizados quando afinal apenas quiseram fazer aplicações do seu dinheiro com um BdP a dizer que tudo estava bem!) Mas também as previsíveis ações penais e contraordenacionais que são esperadas - sobretudo dos pequenos investidores - são concentradas neste "banco mau", juntamente com as obrigações. Tudo o resto, depositantes, clientes, financiamento à economia, vão para o "banco bom" ("bridge" - ponte). A designação de "bridge" para este banco dá a sensação duma "ponte" que se pretende criar até à possível venda do mesmo - até ao final de 2014 segundo o governo - se aparecerem compradores. E estes parecem estar a surgir no horizonte, - desde logo os chineses -, quanto mais não seja, porque adquirirão um banco limpo de todo o "lixo" e com um prestígio renovado, pelo menos é o que se espera. Neste "banco bom" estarão concentrados também os seguros, como é o caso da seguradora Fidelidade. Esta solução tipo "bail in" - vindo de dentro do sistema a resolução do problema - foi a escolhida, face a uma alternativa de "bail out" que foi a preferida da UE num passado recente. Contudo, esta solução, bem como, a divisão entre o "mau" e o "bom" tem levado muitos investidores a fecharem as suas posições e a retirarem-se da bolsa portuguesa, mostrando o seu desinteresse face à tomada da dívida portuguesa. Alguns deles, não são presença efetiva na economia portuguesa, por isso, essa retirada não terá grandes consequências, mas existem outros, que estão a seguir o mesmo caminho, e cujo peso na nossa economia é evidente e, esses sim, poderão e virão, seguramente, a ter o seu impacto. De tudo isto, fica a advertência de Juncker ontem: "Isto mostra a fragilidade da economia, coisa que não se verifica na Grécia, mas que existe em Portugal, e mostra quão vigilante a Europa tem que estar". Uma advertência forte que mostra bem a situação frágil em que Portugal se encontra, contrariando algumas afirmações que a governação pretende veicular. Quanto aos ecos sobre o BdP ainda não pararam de se fazer ouvir. Porque há quem não perdoe ao banco nacional as afirmações que fez na semana anterior à queda do BES. Induzindo em erro os agentes económicos que nele acreditaram. E sobre isto, convém lembrar as palavras ontem proferidas pelo prof. Braga de Macedo, ex-ministro das finanças e figura próxima do atual executivo. "A regulação foi o maior problema da crise mundial de 2008" afirmou Braga de Macedo ontem na SIC Notícias. O que vem demonstrar que as afirmações dos atuais governantes e seus apaniguados não passaram duma torpe mentira, quando tentaram isolar o antigo governador do BdP a quando do BPN. Braga de Macedo acabou por ilustrar o sistema piramidal de Madoff que foi o mesmo utilizado pelo Espírito Santo. O quem vem provar que este governador estaria na posse de mais informação do que o anterior, visto já existirem casos semelhantes anteriores que deveriam ter servido de alerta. Seja como for, o que mais interessa a todos nós é saber se dinheiros públicos serão utilizados na recuperação de mais um banco ou não? A ministra das finanças faz ato de contrição sobre o tema, o mesmo o primeiro-ministro - embora a palavra destas pessoas ande um pouco desvalorizada no mercado - mas também o governador do BdP o afirma - e quanto a este já estamos conversados. Assim, o que temos é mesmo que esperar para ver o que daqui virá, e aguardar pelo próximo OE 2015 para percebermos se existirão nele impactos deste caso.

Monday, August 04, 2014

Megan Greene - Garantias de que contribuintes estão 'livres do BES' são "falsas"

A economista e colunista Megan Greene, que se tem debruçado nos últimos anos sobre a crise das dívidas nos países sul-europeus, considera que serão “falsas” quaisquer afirmações que sugeriam que os contribuintes não serão prejudicados pelo resgate ao BES. Para Megan Greene, economista-chefe da consultora Maverick e cronista da Bloomberg, os contribuintes nacionais não irão escapar às consequências do resgate ao Banco Espírito Santo. Recorde-se que o banco privado será dividido em ‘banco mau’ e em ‘banco bom’, estimando-se que virá a necessitar de quase cinco mil milhões de euros para se capitalizar. Este domingo à noite, o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, anunciou a solução para o BES, com o Governo, através de um comunicado do Ministério das Finanças, a afirmar que os contribuintes não terão de suportar quaisquer custos. E é sobre esta questão que surgem as dúvidas de Megan Greene. Num comentário de que o The Guardian dá conta, publicado na rede social Twitter, Megan Greene considera que o resgate ao BES é “assustadoramente”  parecido com os resgates à banca irlandesa, “embora numa escala muito menor”. A economista acrescenta que serão “falsos” quaisquer comentários que sugiram que os contribuintes estão ‘livres’ da situação. Na sua conta no Twitter, a cronista da Bloomberg dá também destaque a um artigo da autoria de Claire Jones, artigo esse que tem como título ‘Como roubar um país, ao estilo do Espírito Santo’ ('How to rip off a country, Espírito Santo style', lê-se no título original). Claire Jones já tinha escrito para a revista Forbes sobre a crise no banco privado. Num outro tweet, em resposta a uma pergunta sobre o que mais receava, Megan Green foi taxativa relativamente ao que teme: "Que os custos sejam socializados em Portugal, implicando mais austeridade para reduzir a dívida pública".

"Novo Banco", velhos problemas

Estou a escrever poucas horas depois do anúncio do governador do Banco de Portugal (BdP) sobre o caso do Banco Espírito Santo (BES). E a primeira reflexão que aqui quero deixar prende-se com isto mesmo. Não deixou de ser estranho que uma comunicação desta relevância tenha sido feita pelo responsável máximo do BdP e não pelo primeiro-ministro (PM) ou a ministra das finanças, como aconteceu, por exemplo, no passado recente a quando do caso BPN. O PM parece que se refugiou no Algarve a banhos, e a ministra parece que desapareceu. (Enfim, coisas que o tempo haverá de esclarecer no futuro). Sobre a comunicação do governador, parece que muito pouco se ouviu de novo, depois do "pregoeiro" do governo Marques Mendes, já ter dito quase tudo na sexta-feira passada. (Estranha maneira também de comunicar as decisões que o governo vem adotando). Não só o governo não as fez como as endereçou a um comentador. Coisas curiosas desta nossa aparente democracia. Ficamos ontem a saber - ou melhor, já sabíamos desde sexta-feira última - que o BES vai ser partido em dois, um banco bom a que se irá chamar Novo Banco, e um banco mau. No primeiro ficarão os depósitos como toda a clientela do antigo BES, no segundo ficarão os produtos tóxicos entre eles o BES Angola ao que parece. Este último será suportado pelos acionistas, quer os da família, quer os outros pequenos acionistas que foram ao aumento de capital e que perderão quase tudo. Aqui chegados, convém refletir sobre isto, porque se concordamos com a atitude dos grandes acionistas serem penalizados, já quanto aos pequenos temos algumas dúvidas. Porque estes foram ao aumento de capital talvez iludidos por uma aparente estabilidade que o próprio BdP assegurou dias antes sobre a solvência do BES. Quanto ao Novo Banco não deixa de ser preocupante a maneira como as coisas parecem irem ser feitas. Numa operação complexa que aqui me escuso a descrever, (apenas me referirei ao essencial), verifica-se que esta nova entidade bancária vai necessitar de 4 mil milhões de euros para arrancar recapitalizado, verba que vai sair do fundo de resolução que vai contar com apoios da UE e da "troika", mas também do próprio Estado. E aqui é que se coloca, desde logo, um grande problema. Embora estes fundos sejam emprestados a juros enormes, na casa dos 7, 8 ou mesmo 9%, - o que será um aparente bom negócio para o Estado -, não deixa de causar mossa nas contas públicas, o que levanta o problema de como se irá compensar isso. E o mais normal será serem financiados por todos nós, como habitualmente, sob a forma de impostos, ou cortes na despesa, o que nos leva a pensar na saúde e educação. É caso para dizer que estaremos perante um caso semelhante ao BPN só que dimensão gigantesca. Depois de tantas boas intenções governamentais veremos qual a fatura que virá a quando do Orçamento de Estado (OE) para 2015. Só nessa altura teremos a verdadeira dimensão do problema. Quanto ao Novo Banco vai ser restabelecida a confiança e o equilíbrio e depois será vendido. Mas ainda falta saber a quem e se alguém estará interessado. Neste momento apenas sabemos que o banco não estará em bolsa até que tudo esteja arrumado. Mas ainda falta falar do comportamento do BdP. Este andou mal, - basta ver as declarações feitas à dias atrás onde tudo parecia estar bem -, o que se conclui que o BdP não andou avisado em toda esta estória. Aliás, foi sintomático que na intervenção do governador ontem, uma boa parte tenha sido dedicada a justificar o comportamento do banco nacional. Quando se perde tanto tempo com justificações é sinal evidente de que a consciência está um tanto ou quanto pesada. Não pretendo aqui crucificar Carlos Costa por isso, como alguns membros da maioria fizeram com Vítor Constâncio. (O silêncio de alguns é bem ensurdecedor como o é  o de Nuno Melo que emergiu como o "verdadeiro inquisidor" no caso BPN). Conheço Carlos Costa e sei da sua competência, mas não pode eximir-se à sua quota de responsabilidade em tudo isto. Com a agravante de este ser um segundo caso. Constâncio ainda poderia ter a desculpa de que o caso BPN foi o primeiro e apanhou todos de surpresa, mas este é o segundo e deveriam ter sido tiradas ilações, ensinamentos e alertas que não o foram, e as declarações do governador dias antes são disso exemplo claro. Esperamos agora que o "inquisidor-mor" Nuno Melo venha a terreiro, caso contrário, perderá a face e mostrará as suas verdadeiras intenções  e da maneira como está na política. Normalmente esta é a triste sina dos "justiceiros". Quanto ao resto, há que esperar para ver o que o futuro nos dirá. Estou curioso para ver como se passará a abertura dos mercados esta manhã e como os depositantes e clientes se comportarão. Porque deles também dependerá a recuperação dum banco, Novo pelo nome, mas velho de problemas. Duma coisa podemos estar seguros, a credibilidade do sistema financeiro português sai disto tudo muito abalada, quer a nível nacional, quer a nível internacional. Esse é um preço que teremos que pagar e que em nada ajudará Portugal nestes dias aziagos por que passamos.

Sunday, August 03, 2014

Ainda a propósito do The Voice Portugal

Queria aqui deixar a mensagem que coloquei na página do Facebook do Luís Sequeira, sobre a prestação que ele teve na final com a sua mentora, Marisa Liz: "Não costumo ser seguidor de programas deste género. Não sei porquê segui este desde o início com as provas cegas até ao último com a derradeira final. E só no último é que tive a resposta. Fiquei porque tinha que ver um grande momento de televisão como já não vi-a há muito. Espero que o Luís continue e que esta parceria nos brinde aqui e ali com momentos destes, grandiosos, duas almas gémeas em palco numa simbiose perfeita. Não venceste Luís, mas não desanimes porque já és o vencedor em muitas pessoas que te seguiram. Não te conheço pessoalmente mas quero desejar-te o melhor dos mundos pelo que me deste, juntamente com a Mariza, nestes quatro minutos onde cabe o mundo. A perplexidade de muitos na sala era evidente. Por isso existem os vencedores, vencidos. Parabéns a este duo mais que provável. Este dueto valeu o programa. Que me desculpem os outros que por lá passaram e tinham muito talento, mas há coisas maiores e este momento foi único, talvez irrepetível. Para terminar, apenas quero dizer que depois de vos ouvir a ambos, só me restou fazer aquilo que faço com muito poucos artistas, que é aplaudir-vos de pé. Obrigado por este grande momento. Parabéns a ambos." Porque, de facto, se tratou dum momento único aqui deixo o link para quem quiser recordar esses minutos que valeram um programa: https://www.youtube.com/watch?v=Tp5yMp3QqxY . Podem crer que vale bem a pena recordar este grande momento televisivo que se verificou no passado domingo.

Saturday, August 02, 2014

O colapso de um império

Ainda as férias mal começaram e já estou aqui de novo, mas penso que o assunto é da maior relevância. Temos vindo a assistir a uma novela em torno do Grupo Espírito Santo (GES). Tenho visto alguns comentários de gente comum que se refere a este caso como algo que até já nem suportam ouvir. (Se calhar dirão o mesmo do que aqui estou a escrever). Mas será importante que as pessoas percebam - mesmo as não iniciadas nestes temas - que este caso vai muito para além do GES e até do  Banco Espírito Santo (BES). O BES sempre foi um banco do sistema, curiosamente, deste e doutros. (Afinal o dinheiro não tem rosto nem ideologia). É do conhecimento geral que Ricardo Espírito Santo Salgado era um homem com um poder imenso, que - como alguns "media" fizeram referência há dias - ditava políticas, "elegia" e "depunha" governos, "afirmava" políticos ou "afastava-os". O banco financiava o sistema e os seus partidos - mesmos os que não eram do chamado "arco governamental" ao que se diz por aí - mas exigia o seu penhor em troca. Por isso, a gravidade da situação deve-nos preocupar a todos porque como banco importante do espetro financeiro nacional terá com certeza envolto em si um risco sistémico que os políticos no início quiseram afastar mas que agora já não podem ocultar. De facto, o BES tem um elevado risco sistémico pela sua envolvência na economia, - financeira e não-financeira -, e pode condicionar, por isso mesmo, toda a economia nacional. Já não bastava estarmos metidos numa trapalhada monumental, dum país que saiu "limpo" da "troika", mas que tem um crescimento débil e um desemprego enorme, mesmo com a arrazoada governamental que parece querer negar a evidência quando o seu "ratio" evolui uma décima que seja. Tudo isto é ridículo e a verdade continua a ser ocultada aos portugueses, como aliás já tinha sido, a quando da vinda da "troika" para Portugal. (Mas sobre isso já disse o que pensava em tempo útil e não me quero afastar do tema). Assim, quando vejo comentários sobre este caso de pessoas que o pretendem desvalorizar é bom que pensem bem sobre isso porque talvez a curto prazo vão ser - vamos ser todos - chamados a cobrir mais um colossal buraco, a exemplo do que sucedeu com o BPN e o BPP. Dentro de dias - penso que não passará deste fim-de-semana - saberemos como vai ser feita a recapitalização do banco, que é necessária e urgente -, e que já foi imposta pelo Banco de Portugal (BdP). E já que falamos em BdP, seria bom repescar algumas ideias que a maioria PSD/CDS-PP, andou a dizer sobre a regulação em tempos idos, que levaram à situação do BPN e do BPP. Curiosamente, agora parece que a regulação esteve bem, os maus são os membros do GES, sobretudo Ricardo Salgado, o "cabecilha da seita", quais assaltantes embuçados de rosto tapado. Até uma conhecida figura conotada com a direita e comentador político numa programa televisivo de grande audiência, vem agora apontar o dedo a esta gente tão má, mas a quem ele serviu - direta ou indiretamente - em tempos bem próximos. E como ele existem muitos. Ainda se lembram de aqui há umas semanas um outro banqueiro que falando de Ricardo Salgado dizia que "era o homem que mandava nisto tudo"? Pois é, nesta terrível costumeira lusitana de apenas ser-mos fortes com os fracos, - ou com aqueles que caíram em desgraça - agora somos todos heróis, já sabíamos de tudo, exigimos a "flagelação" e "crucificação" desta gente, quando no passado recente nos curvávamos à sua passagem e estendíamos a mão na, - por vezes vã -, tentativa de que nela caíssem algumas migalhas. Hoje é claro que o caso do GES mostra contornos mais do foro policial do que doutro qualquer, mas quando nos pretendem dizer que o BES nada tem a ver com isso, que está bem e recomenda-se, estão a tentar envolver as pessoas numa tremenda falácia. O BES tem uma tremenda exposição ao GES, por isso, não pensem que vai sair incólume de tudo isto. O não pagamento a alguns clientes, a que o BES vai informando de que apenas está a cumprir as normas do BdP, é mais uma enorme mentira. Há cerca dum mês, já existiam dependências deste banco que não estavam a assumir os seus compromissos com os seus clientes, e nessa altura, ainda não havia nenhuma indicação do BdP sobre a matéria, porque a haver, então o banco nacional também tem andado a enganar os portugueses sobre o assunto quando diz que o BES não tem problemas e que é um banco solvente onde os depositantes podem ter o seu dinheiro com confiança. Sei que o regulador não deve ter a consciência tranquila - como no passado recente também não, como o foi nos casos BPN e BPP - o que só vem provar a sua incapacidade para lidar com estas questões. Também me parece estranho, - e esta questão já foi levantada por muita gente -, que quando tivemos uma "troika" durante três anos a esmiuçar tudo, não se tivesse apercebido disto. Coisas estranhas e insólitas que se passam nesta terra lusitana. Agora temos que estar alerta ao que por aí virá. Dentro de muito poucos dias saberemos o que vai acontecer e se seremos chamados a apoiar - mais uma vez - a banca num processo de contornos muito estranhos. Já não faltará muito. Estejamos atentos. De uma coisa temos a certeza, este império está a colapsar como um verdadeiro castelo de carta, sem honra nem glória, muito semelhante ao que há quase dois milénios aconteceu com um outro império, o Império Romano. Será que esta coisa de impérios tem esta malfadada sina de acabar numa queda vertiginosa e com estrondo? Não sabemos se é assim ou não, mas lá que parece, parece.