Turma Formadores Certform 66

Sunday, March 31, 2013

Mudança da hora - Hora de Verão

Atenção amigos, a mudança da hora  ( horário de Verão ) verificar-se-á no dia 31 de Março de 2013, isto é, amanhã domingo.  À 1:00 horas da manhã os relógios deverão ser adiantados para as 2:00 horas da manhã. Dá-se assim início ao horário de Verão que se prolongará até 27 de Outubro próximo. Não se esqueçam então de os adiantar, o que significa que vamos dormir menos uma hora.

Thursday, March 28, 2013

Feliz Páscoa para todos!

Estamos chegados à Páscoa! Nesta caminhada pela Quaresma em direção à  festa maior do Cristianismo, fica uma sensação de que é tempo de revisitarmos a nossa vida com aquilo que de bom, ou de menos bom, se passou. Como venho afirmando esta época representa sempre para mim o vazio de quem tem os seus entes queridos já há muito a engalanar a galeria de ausentes que, em períodos como este, assumem particular relevo. Apesar dos muitos anos passados, eles parecem estar presentes, ali ao esticar do braço na ânsia renovada dum toque, dum afago, duma carícia. Enquanto escrevo, vem-me à memória as palavras de Fernando Pessoa: "Enquanto houver você do outro lado,  eu consigo me orientar". Só que o outro lado, está para além do tangível, apenas a imaginação nos faz trazer de volta aqueles que povoaram a nossa vida há muito, que lhe deram forma, que lhe transmitiram valores daí, por vezes, a dificuldade da orientação. A ausência é mais sofrida nestes períodos mais solenes que marcam mais a nossa vida e nos convidam à reflexão. E quando falo de ausentes, não me refiro só àqueles que noutro tempo foram nossos semelhantes vivendo os mesmos anseios, as mesmas angústias, os mesmos medos que nós atualmente. Mas nesta galeria há sempre um lugar importante para os meus queridos amigos animais que também, a seu modo, me ensinaram muito daquilo que a vida me tem dado ao longo do tempo. E se eles encheram a minha vida desde criança, nunca deles deixei de evocar a memória, porque a seu modo, foram importantes, foram determinantes. Perdi uma destas minhas amigas há poucas semanas. O vazio ainda se faz sentir, sobretudo, quando chego a casa e não tenho o latido estridente que a Estrelita fazia para saudar a minha chegada. Hoje, passadas cerca de três semanas sobre a sua morte, vejo-me a ir ver se ela está a dormir, se precisa de algo, como se ela ainda estivesse no seu lugar habitual. A razão ainda não se habituou ao sentimento de perda! No momento em que escrevo tenho outra amiga, - a Tuxa -, a sofrer de cancro da mama, com a morte já anunciada embora quem a veja não perceba isso. Uma lutadora, uma sofredora, mas sempre determinada como se não ouvesse amanhã. Estes são apenas alguns dos exemplos que poderia dar que, pela sua proximidade vão marcando mais estes dias. Mas também lembro aqueles seres que vão ser - ou já foram - sacrificados em nome dum credo, duma religião que se pretende de amor, de amor incondicional a todos sem exceção! Animais sacrificados por ritual ou simplesmente para encher a opípara  mesa. Coisa vã onde o humano transformou em inferno a vida destes seres que estão cá há mais tempo do que nós com os seus direitos que espezinhamos, que ignoramos, como se fossemos deuses (bem menores) dum mundo arbitrário. Mas neste dia de reflexão queria também não esquecer a natureza, com o seu colorido, com os seus cheiros, com o seu brilho que também povoam a nossa existência. Natureza amachucada todos os dias por estes candidatos a deuses que todos queremos ser. Não percebendo que estamos a destruir o ecossistema que permite a vida, a dos outros seres mas também a nossa, num equilíbrio de fio de navalha que se pode romper a qualquer instante. Olhando para trás, fica a ideia de que não fomos capazes de evoluir tanto assim. Embrulhados em conceitos, superstições ou simplesmente em estupidez, que pretensamente nos coloca acima de tudo e de todos. Vã glória esta que pagaremos caro mais cedo ou mais tarde. Neste calvário que vamos subindo à medida que a vida nos vai dando mais e mais caminho para percorrer, percebemos que ainda estamos longe da redenção. Todos a buscamos, - embora nem sempre tenhamos consciência disso -, em que os sinais de dificuldade que a vida nos vai premiando nos tempos que correm, nos ajudam também a refugiarmo-nos em sentimentos duma certa espiritualidade há muito esquecida, e que a sociedade luminosa do consumo imediato rapidamente ocultou. Agora que tudo isto passou, somos forçados a recomeçar, a assumir como na estória que, a exemplo do rei, também nós caminhávamos nus sem disso dar-mos conta. A Quaresma tem destas coisas, leva-nos por vezes a refletir duma forma mais triste, mais cinzenta como este tempo quaresmal, na nossa condição humana. Quanto a mim, vou fazendo este calvário da vida enquanto o tempo me der caminho para percorrer, em busca duma redenção pedida, - qual Graal -, nunca atingida plenamente mas com a plena consciência de que está ali, algures. Hoje esse Graal tem assumido a forma da minha queria afilhada Inês, a Inês do meu contentamento, a mais belo flor do meu jardim de Outono. A caminhar para o ano e meio de existência, ainda não sabe o que representa para mim, embora a avidez com que quer vir para a minha casa me dê uma alegria imensa, porque a vejo feliz, porque persinto que se sente bem por cá, porque - talvez - sinta o imenso amor que a envolve. Este ser de luz, que muito tem iluminado a minha vida, há-de continuar a fazê-lo, estou certo, com o mesmo carinho com que a acolho. A Inês é uma espécie de fim de linha, de luz num calvário de sombras, de amor que destrói a dor, de tolerância que afasta a negatividade, de brilho onde a opacidade campeia. Nesta Páscoa veio-me tudo isto à memória, a memória de alguém que já percorreu muito do seu caminho, que já passou por vitórias e derrotas, glórias e infortúnios, amores e desencantos. Mas tudo isto serve também para nos fazer crescer, nesta caminhada que todos estamos a fazer, rumo a um estádio maior, mais perfeito e sublime, mais luminoso. Chegado aqui parecem-me ajustadas estas palavras de William Shakespeare no seu King Lear: “Quando nascemos choramos ao vermos que aterramos neste palco de loucos”. E assim se vai fazendo a caminhada, melhor dizendo, esta reflexão para a Páscoa celebrada sempre com rituais que se repetem. Como costumo dizer nestas ocasiões quero desejar uma Boa Páscoa a todos os meus amigos que frequentam este e outros espaços, a todos aqueles de quem não gosto tanto, também aos outros que não gostam de mim. Todos vós sois seres que abrilhantam a minha existência, que me ajudam na caminhada, que povoam este mundo que é o nosso. A todos sem exceção uma Feliz Páscoa!

Wednesday, March 27, 2013

Manuel Rodrigues Coelho (c. 1555 - 1633)

Achei por bem trazer de novo um compositor português do barroco evidenciando assim a riqueza que esse período musical teve na cultura portuguesa. O nome que vos trago é o de Manuel Rodrigues Coelho que nasceu por volta do ano de 1555 e viria a morrer no ano de 1633, não se sabendo ao certo as respetivas datas, mas sabe-se que era proveniente de Elvas. Rodrigues Coelho foi, para além de compositor, um organista de grande talento. É tido como o mais importante dos compositores da primeira metade do séc. XVII em Portugal. Depois de trabalhar nas catedrais de Badajoz e Elvas, tornou-se, em 1603, no organista da catedral de Lisboa e membro da Capela Real. Ocupou em Lisboa, de 1603 a 1633, o cargo de Primeiro Organista da Capela Real de Lisboa, e é principalmente recordado por em 1620 ter editado o primeiro documento musical impresso em Portugal: Flores de Música (hoje na Biblioteca nacional). De grande erudição musical, deixou-nos peças para tecla que são obras-primas de grande qualidade que ilustram bem um género muito específico da produção musical portuguesa na época do domínio castelhano. De entre outros compositores, Manuel Rodrigues Coelho conhecia a música de Orlando di Lasso, e na sua obra Flores de Música faz quatro variações de uma das suas chansons. Também aqui vos deixo. para ilustrar a música de Rodrigues Coelho, uma peça que se chama Versos para serem cantados ao orgão e que podem ouvir em http://www.youtube.com/watch?v=s_X09Zna5NM . Mais um compositor do barroco que passou fronteiras espalhando pela Europa a música que se fazia então em Portugal. Um compositor de que se conhece muito pouco, mas do que temos conhecimento, dá para aquilatar da sua enorme qualidade.

Tuesday, March 26, 2013

"L'Infinitamente Piccolo" - Angelo Branduardi

Há dias chegou-me às mãos um disco editado em Novembro de 2000, de Angelo Branduardi, um dos grandes cantores italianos com inúmeros discos todos de soberba qualidade, e que na altura passou despercebido ao grande público. Branduardi sempre nos habituou a trabalhos de grande fôlego e este não foge à regra. Chama-se "L'Infinitamente Piccolo" (O Infinitamente Pequeno) e é dedicado a S. Francisco de Assis. Numa altura em que este Santo reaparece com a eleição do Papa Francisco I, depois de estar mais ou menos esquecido desde o século XIII, apenas com algumas aparições de quando em vez, não deixa de ser surpreendente que este registo de elevada qualidade tenha finalmente chegado ao público. Para mim, este disco tem ainda uma particularidade que é a de ser dedicado a S. Franscisco de Assis, o Santo ecológico, - como gosto de lhe chamar -, um Santo que, desde o longínquo século XIII, não deixou de fazer ecoar a sua voz em defesa da Natureza, em defesa dos Animais. Era o "irmão lobo", era a "irmã árvore", num respeito por com todas as criaturas - animais ou vegetais - que tinham nascido para glória de Deus, (tal como o seu semelhante), para usar as suas próprias palavras. E como me identifico com estas causas maiores, a que a maioria das pessoas passa ao lado, não poderia deixar de ficar contente e expectante face a este disco. Depois de o ouvir fiquei deslumbrado. Com participações tão abrangentes como Franco Battiato, Ennio Morricone, Nuova Compagnia di Canto Popolar, Muvrini, La Viola e os nossos Madredeus, tudo seria de esperar menos um disco de fraca qualidade. Numa música soberba, numa orquestração luminosa, numa interpretação superior, Angelo Branduardi dá-nos um trabalho pleno de força e de qualidade. Deixo-vos aqui um avanço do tema proventura mais alegre do disco chama-se "Il Sultano di Babilonia e la prostituta" que pode. ver e ouvir em http://www.youtube.com/watch?v=5I4qVdgIzBI . A edição é da EMI. Um disco que aconselho vivamente a quem gosta de Música com M maiúsculo. A ouvir atentamente.

Não acordem os escravos!...

Na Roma Imperial, os escravos não tinham o direito de se manter no passeio público, quando um "cidadão de Roma" passava. Havendo queixas de incumprimento, um senador propôs a imposição do uso de uma braçadeira aos escravos, para facilmente se distinguir o escravo do cidadão livre. O senado votou contra, porque um senador idoso levantou-se e disse sabiamente: "Patrícios não despertem a fera! Temos mais escravos em Roma do que homens livres. Quando os escravos virem quantos são e se derem conta da força conjunta que daí resulta, levantar-se-ão. Não os acordem!" Uma boa reflexão numa altura em que os portugueses estão reduzidos a escravos face a uma governação de "patrícios" que já não são comandados de Roma, mas sim, de Berlim. Como os tempos mudam!...

Monday, March 25, 2013

Franscico António de Almeida (c. 1702 - 1755?)

De volta ao barroco desta feita com um compositor português de seu nome Francisco António de Almeida. Contrariamente ao que se pensa, também existiram muitos músicos portugueses durante o período barroco, alguns deles que se afirmaram a nível internacional, como é o caso deste que hoje vos trago. Francisco António de Almeida presume-se que terá nascido em 1702 e veio a morrer talvez em 1755 vitimado pelo terramoto. Estas datas não são certas como acontecia normalmente nessa época onde não haviam registo oficiais atualizados. António de Almeida foi compositor e organista que muito abrilhantou o barroco português. Devido às suas origens nobres, recebeu de D. João V uma Bolsa para estudar em Itália. Entre 1722 e 1726 estudou em Roma, onde publicou duas oratórias, Il pentimento di David e La Giuditta. A 9 de Julho de 1724 participou numa academia organizada por Pier Leone Ghezzi, que na ocasião lhe desenhou uma caricatura, descrevendo-o na legenda como um «jovem, mas excelente compositor de concertos e de música sacra, que canta com extremo gosto». Regressou a Portugal em 1726, onde se tornou organista da Capela Real e Patriarcal de Lisboa. Foi professor de piano da Infanta Maria Bárbara de Portugal. Em 1728, a primeira das suas serenatas, Il Trionfo della virtù, foi realizada em Lisboa no palácio do Cardeal João da Mota e Silva. A sua ópera cómica, La pazienza di Socrate, foi realizada no palácio real em 1733. Foi a primeira ópera italiana em Portugal. Para as celebrações carnavalescas, La Finta Pazza estreou no palácio real de Ribeira em 1735. Crê-se que tenha provavelmente morrido em Lisboa, com o terramoto de 1755 como atrás já referi. Da sua obra saliento as seguintes: Il pentimento di Davidde (componimento sacro), 1722, La Giuditta (oratorio), 1726 (a primeira apresentação moderna desta peça teve lugar em 1990 e foi descrita como uma obra prima), Il trionfo della virtù (componimento poetico), 1728, Il trionfo d'amore (scherzo pastorale), 1729, Gl'incanti d'Alcina (dramma per musica da cantarsi), 1730, La Spinalba, ovvero Il vecchio matto (dramma comico), 1739, L’Ippolito (serenata), 1752. Como habitualmente, trago-vos um link http://www.youtube.com/watch?v=aWHRJhVyHrU onde podem escutar a música deste grande compositor português. Desta feita, trata-se da sinfonia (abertura) da ópera La Spinalba, também aqui apresentada por um grupo português "Os Músicos do Tejo". Espero que vos crie o gosto e interesse em descobrir a música deste grande compositor português do barroco.

O mundo em mudança ou o ultraliberalismo a todo o custo

O mundo está numa encruzilhada. A Europa está numa encruzilhada. Portugal está numa encruzilhada. O mundo está a mudar muito rapidamente e as pessoas têm que se ajustar a uma nova realidade, a um novo paradigma. Com mais instabilidade, menos Estado, mais precariedade no emprego, enfim, tudo aquilo que era a realidade em que vivíamos onde o dinheiro jorrava como leite e mel, simplesmente, acabou. Num mundo em mutação onde o que era verdade ontem, hoje poderá já não o ser, tudo é instável e efémero. Numa Europa que detinha o paradigma mais evolutivo a nível das instituições, com um apoio à saúde que fazia inveja ao mundo, todos olhavam para esta velha Europa e gostariam de pertencer a ela. Na sua ânsia desmedida, esta Europa que se foi unindo na sua visão de um imenso espaço comum, não atentou nas diferentes realidades, nos diversos graus de desenvolvimento que os estados, que queriam entrar, então apresentavam. Tudo se iria resolver mais à frente diziam, e afinal, não se resolveu. Agravou-se. A Alemanha, que já esqueceu os tempos de fragilidade que viveu num passado muito recente - a da reunificação - achou que devia ajustar contas com os outros estados, mesmo aqueles que os ajudaram a sair do lodaçal em que então estavam mergulhados. Uma Alemanha que já tem no seu palmarés duas guerras mundiais, - que perdeu -, devia ter uma visão mais pacata do mundo em redor. Mas não, e não percebeu que os velhos fantasmas não tinham desaparecido, apenas estavam adormecidos. (Veja-se a associação de Merkel à imagem de Hitler, ou a saudação nazi feita sempre que a Alemanha está por perto). A Europa evidencia assim, uma falta de rumo, uma falta de estratégia, uma fragilidade das suas instituições, desde logo, a Comissão Europeia. Comissão que até, aqui e ali, é ignorada pela toda poderosa Alemanha. O sonho duma Europa unida e, sobretudo, solidária, desmorona-se a cada dia que passa. Longe vão os sonhos de Jean Monet, tão bem traduzidos anos mais tarde por Jacques Delors. Mas isso era quando a Europa tinha estadistas e não amanuenses da política em busca de protagonismo pessoal. A Europa é o espelho dos seus estados membros. Uma Europa fraca composta por estados fracos. Veja-se o que se passa entre nós, onde o governo já não consegue resolver os imensos problemas, sempre utilizando uma manta demasiado curta que, quando cobre uma parte destapa a outra. Apesar da nossa já longa História - somos dos países mais antigos que conservam as suas fronteiras - isso não nos ajuda quando se trata de ajustar políticas que nos são impostas - embora outras derivem da vontade exclusiva do governo - numa tentativa vã de encontrar soluções para este sistema matemático perto de ser considerado irresolúvel. A "troika" é bem exemplo disso. Na semana passada veio assumir que afinal o desemprego era bem maior do que aquele que esperavam. Afirmações destas, ou são políticas, ou mostram que esta gente não sabe o que anda a fazer. Portugal e os outros países intervencionados estão a ser usados como cobaias de modelos nunca antes testados reproduzindo aquilo que foi o laboratório que os ultraliberais americanos fizeram na América Latina entre os anos 70 e 90 do século passado. Ao fim e ao cabo, os protagonistas são os mesmos ultraliberais que se infiltraram um pouco por todo o lado e, como uma cancro, vão corroendo tudo à sua volta, sejam países ou instituições. O mundo está em mudança. Os mais ricos parecem ser cada vez mais ricos, os pobres mais pobres. A classe média reduzida à miséria e ao descrédito. Este poderia ser o enredo duma qualquer teoria da conspiração. E quando olhamos para o mundo que nos cerca, vemos que não temos para onde fugir. Este modelo evolui como uma tenaz que a tudo e todos esmaga. Só que a miséria dos povos leva sempre ao desespero. Por enquanto ainda surdo ou canalizado para manifestações mais ou menos controladas que têm servido para descarregar a tensão. (Virá o dia em tudo se passará de maneira diferente. O Kosovo ainda está presente nas nossas memórias para dele retiramos as necessárias ilações). Mas chegará o tempo em que não será assim. E depois?...

Saturday, March 23, 2013

"O Sangue dos Reis" - Peter Berling

Depois de Os Filhos do Graal, um bestseller de projeção internacional já publicado nesta coleção, - Grandes Narrativas -, prossegue com este novo volume a tetralogia centrada no misterioso símbolo do Graal e na fascinante saga dos Cátaros. Nele reencontramos muitas das personagens que já conhecíamos do primeiro volume. Entre elas contam-se os infantes Roç e Yeza, os preciosos vasos que literalmente contêm o sangue divino transmitido ao longo de uma cadeia de gerações de reis e que constituem o núcleo profundo da narrativa, pela sua ligação a uma Ordem secreta que aspirava a reconciliar Ocidente e Oriente. Estamos em 1248 e Luís IX de França empreende uma cruzada contra o Egito. É a partir de um cenário arabizante que Peter Berling nos dá a sua prodigiosa, colorida recriação do conturbado mundo medieval no tempo das cruzadas, numa obra de grande fôlego que denota erudição profunda e um sentido único do drama e da ação. Narrativa que se estende por mais de 900 páginas num enredo muito cuidado tentando, o mais possível, seguir a história documentada dos factos. Livro a ler com atenção e interesse. Sobre o autor, Peter Berling, é sobejamente conhecido. Nasceu em Meseritz-Obrawalde na Alemanha a 20 de Março de 1934, e para além de escritor é também ator. Trabalhou por diversas vezes com o conhecido realizador alemão Werner Herzog, e com atores como Klaus Kinski. Nas várias obras que escreveu sobre o universo medieval não deixou de abordar algumas das mais polémicas teorias da conspiração associadas ao Priorado de Sion. Resta dizer que este volumoso livro foi editado pela Editorial Presença.

Girolamo Frescobaldi (1538 - 1643)

O período barroco é imensamente rico. Encontramos inúmeros artistas que foram importantes no seu tempo como é o caso de Girolamo Frescobaldi que hoje aqui vos trago. Girolamo Frescobaldi nasceu em Ferrara a 9 de Setembro de 1583 e morreu em Roma a 1 de Março de 1643. É considerado um dos maiores compositores de música para cravo do século XVII. Foi também um organista de reconhecido mérito. Frescobaldi também foi cantor e virtuoso de diversos instrumentos, entre os quais o orgão. São famosos os seus livros de tocatas publicados entre 1615 e 1627, em cujo prefácio antecipa a maneira de tocar com efeitos cantáveis que será, depois, típica do subsequente melodrama. Tendo-se transferido para Roma durante a juventude, frequentou a Accademia Nazionale di Santa Cecilia e foi organista na igreja de Santa Maria em Trastevere. Durante vinte anos foi organista em São Pedro. Teve cinco filhos de Orsola del Pino, com quem se casou em 1613. Depois de um desanimador e breve período junto do duque de Mântua, e terminada momentaneamente a experiência romana, transferiu-se em 1628 com a família para Florença. Ali publicou em 1630 duas seleções de árias: o 1° e o 2° Libro d'Arie musicali per cantarsi nel Gravicembalo e Tiorba a una, due o tre voci ('Livro de árias musicais para serem cantadas no Gravecímbalo e Tiorba em uma, duas ou três vozes'). O seu "Primo libro de' madrigali a cinque voci" ("Primeiro livro dos madrigais a cinco vozes") tinha sido publicado em Antuérpia em 1608; Frescobaldi havia seguido, em Bruxelas (na época, um importante centro de estudo de cravo), o Núncio Pontífice na Flandres, Guido Bentivoglio. Na produção de Frescobaldi há ainda uma coleção de Toccate e partite d'intavolatura di cimbalo e Ricercari et canzoni franzese in partitura libro I. Tendo voltado a Roma em 1634, retomou o seu lugar em São Pedro. No ano seguinte publicou em Veneza, Fiori musicali, Kyrie, Canzoni, Capricci e Ricercari in partitura a quattro. Entre as suas obras vocais é digno de nota o seu Liber secundus diversarum modulationum singulis, binis, ternis, quaternisque vocibus ("Livro segundo de diversas modulações a uma, duas, três e quatro vozes"). Para ilustrar a música de Frescobaldi deixo-vos aqui um link http://www.youtube.com/watch?v=OkHw5TbipXI onde podem escutar a "Dalla suite sul Il tono" uma breve peça musical onde é visível o cromatismo de sons que são uma constante na música de Frescobaldi.

Thursday, March 21, 2013

Thomas Tallis (c. 1505 - 1585)

De regresso ao barroco trago-vos mais um nome importante do barroco inglês de seu nome Thomas Tallis. Tallis nasceu em c. 1505 - não se sabe ao certo em que local - e viria a falecer em Greenwich em 1585. As datas exatas não são conhecidas. Para além de compositor, Tallis foi também organista sendo conhecido como o "pai" da música inglesa de catedral. Viveu no período renascentista e viria a ser influenciado por ele como seria natural. A carreira musical de Thomas Tallis atravessou os reinados de quatro reis ingleses: Henrique VIII, Eduardo VI, Maria (católica) e Isabel I (protestante). Este período assistiu a grandes mudanças na vida religiosa e no estilo composicional. Boa parte da produção de Tallis foi eclesiástica, embora tenha escrito algumas obras seculares. A sua flexibilidade como compositor certamente garantiu a sua permanência como figura de proa da música inglesa. Tallis estudou música na Igreja da pré-Reforma. Contudo foi requisitado por diversos governantes para compor músicas tanto para o serviço anglicano como católico, ambas de grande qualidade. Criado perto de Canterbury, os seus compromissos logo o dirigiriam para Londres. Tallis era um soberbo organista, mas pouco nos restou das suas peças para teclado. Datar as suas obras é difícil, sobretudo porque ele ocasionalmente retrabalhou músicas velhas para um novo projeto. Conhecido pelas floreadas obras em latim, a sua música anglicana, mais simples, é tão elaborada quanto agradável de tocar. Entre suas obras mais famosas estão: "O Nata Lux de Lumine", "If Ye Love Me", "Lamentations of Jeremiah", "Spem in Alium Nunquam Habui" (um moteto escrito em 1570) e "Laudate Dominum". Uma outra referência prende-se com as denominadas "Cantiones sacrae". É precisamente do tema "If Ye Love Me" que vos trago uma mostra que podem ver e ouvir em http://www.youtube.com/watch?v=J6RgaPTo4hE que nos dá uma ideia da música deste grande compositor inglês.

Tuesday, March 19, 2013

A entronização de Francisco I Papa

Hoje a Igreja Católica fechou o ciclo com a "oficialização", se assim o podemos dizer, do novo Papa Francisco I. Neste dia em que se celebra o Dia do Pai, do Pastor. Muito se tem falado dele nos últimos dias e sempre pelas melhores razões. A sua simplicidade, a sua aproximação ao povo, a linguagem acessível para que se faça entender por todos. Rejeitando alguma pompa e circunstância ele vai desenhando o seu caminho, vai mandando mensagens, como a de hoje, aos poderosos do mundo - esperemos que o tenham ouvido -, no acolher as religiões do mundo, na sua diversidade nem sempre pacífica, entre elas. Este abraço faterno e fraternal ao mundo - "urbi et orbis" - na simplicidade do gesto, na candura do olhar. Lembro-me das palavras de Simone Weil quando escreveu que: "Uma das verdades fundamentais do Cristianismo, embora frequentemente desconhecida, é esta o que salva é o olhar". Talvez seja isso que ele tem de diferente, para além do resto de que falei, que o torna próximo, o pároco da Igreja, da nossa paróquia, não o Papa distante e poderoso afogado em ostentação. E isso as pessoas gostam, sobretudo em momentos difíceis como este que vivemos, tempos de exigência, que conduzem mais ao desespero do que à contemplação. É nestas alturas que necessitamos de alguém que apazigue os corações inquietos, que se mostre solidário, que mostre que é mais um entre nós. Assim seja para sempre para bem da Igreja que, ela também, está à espera da sua redenção. Os "dossiers" difíceis que tem pela frente são muitos e decisivos para o evoluir da Igreja nos tempos que por aí vêem. Apesar do muito ruído que o rodeia, nomeadamente, a ligação à ditadura militar no seu país, agora, a sua possível ligação à maçonaria, enfim, ruídos que não sei se são verdadeiros ou não. Se calhar nem quero saber. Todo o homem tem direito a tentar a sua redenção. A pesada cruz que assumiu quando foi eleito Papa é demasiado pesada para com ela a redenção ser uma realidade. Seja como for, Franscisco I, chegou ao coração dos fiéis, daqueles fiéis mais puros e simples como ele, que buscam na sua Fé o caminho para ajudar a trilhar o calvário que a vida, por vezes, nos coloca pela frente. Com a alegria, a determinação e a simplicidade do seu patrono S. Francisco de Assis. Que sejas feliz, Francisco I! Chegou agora a hora de encetar o caminho.

Monday, March 18, 2013

A origem da crise - (Dos anos 50 até aos nossos dias)

Muito se tem falado de crise, embora poucos tivessem ensaiado uma explicação para ela. Desde logo os políticos - estes e não só - a quem a explicação não interessa de todo. Mas passemos a uma visão mais explicativa do que sucedeu. Desde logo, a Europa, sim porque esta crise começou bem longe das nossas fronteiras contrariando aqueles que acham que teve a ver com a governação do anterior executivo. Daí o dever dizer-se que esta crise é uma crise ocidental num sentido mais abrangente e mais correto. Mas para ensair uma explicação devemos pensar num problema. Todos vão falando na crise do euro como se este fosse o motivo de tão aziago descontrole. Mas ninguém até aqui parece ter pensado na crise europeia - mesmo que a Europa supere a do euro - como a crise mais evidente da dependência energética e da industrialização da China e do oriente duma maneira geral. Esta situação já tinha começado a desenhar-se ao longe, qual tempestade que se aproxima, mas a que ninguém deu atenção. Tudo aparece com mais evidência se nos debruçarmos sobre quais foram as políticas de sustentação do modelo de desenvolvimento económico seguido. Se olharmos para a evolução da taxa média de crescimento do PIB, facilmente veremos que as economias das décadas de 50 e 60 do século passado eram sustentadas pela própria economia, quer isto dizer, as economias cresciam a um ritmo grande de 5 a 6% ao ano, onde tudo era possível, mantendo este elemento sustentável para suprir todas as necessidades de que a economia carecesse. Era a ideia dum "El Dorado" infinito. O quase pleno emprego era uma realidade. Todos nos lembramos - sobretudo os mais velhos - das elevadas taxas de juro que os bancos davam nos depósitos que incentivavam à poupança, sobretudo em economias mais pequenas como a nossa onde nem havia onde gastar o dinheiro. Mas a partir das décadas de 70 e 80 do século passado, esta sustentação começou a ser feita não já pela economia mas pela inflação. Porque se antes a economia gerava riqueza suficiente, chegou um tempo em que tal já não era assim, e aqui entra a dependência energética da crise petrolífera que começou em 1973 e teve um forte impacto na Europa e entre nós nos finais do regime anterior do Estado Novo. Mais uma vez apelo à memória dos menos jovens, e com certeza estes recordarão as imensas filas de automóveis juntos dos postos de abastecimento. Para manter ainda um emprego elevado ia-se emitindo mais e mais moeda o que penalizava os detentores de capital enquanto os trabalhadores não davam por nada porque para eles a situação mantinha-se. Nessa altura as economias europeias ainda dispunham de moeda própria - cada país tinha a sua - e os Estados colmatavam esses efeitos criando moeda, isto é, quando as necessidades apertavam e as economias não criavam a riqueza suficiente tapavam-se estes "buracos" com novas emissões de moeda que, como todos sabemos, são fator de criação de inflação. Daí o dizermos que as décadas de 70 e 80 tiveram na inflação a variável de sustentação do modelo. A partir daí, desde a década de 90 até aos nossos dias, o modelo foi sustentado pelo endividamento público e privado, isto é, sobretudo depois dos países terem aderido à UE e ao euro e não poderem emitir mais moeda por sua livre e espontânea vontade, as economias tiveram que ir buscar junto de terceiros, (economias com mais fôlego), o dinheiro para manter a sustentação do nível da economia. Estas alterações embora profundas, nem sempre tiveram a devida atenção e/ou perceção por partes do cidadão comum, que via o seu nível de vida aumentado, a segurança social estabilizada, os salários a crescer, a saúde tendencialmente gratuíta, o ensino gratuíto, as reformas apelativas, etc., e nunca ninguém lhes explicou que isso não poderia ser sempre assim. Apenas o emprego dava sinais de se ir esgotando pouco a pouco. Só para vos dar um exemplo, o produto criado em Portugal nos anos 90 (cerca de 20 mil milhões de euros) foi francamente inferior à dívida criada (cerca de 21 mil milhões de euros) - o produto criado não dava já para a despesa - com uma receita tributária cada vez menor (cerca de 6 mil milhões de euros), o que desde logo, leva a que a despesa seja superior à receita, e cada vez mais, criando mais e mais endividamento que se contraía para que tudo parecesse normal como dantes. Aqui está a justificação para os defices brutais que começamos a apresentar. É certo que aqui o poder político teve um papel fundamental, desde logo, porque não equacionou a situação, porque isso levaria a uma queda de votos e as democracias - e por consequência os partidos - vivem disso. Este é um dos defeitos das democracias, que inquinam, desde logo, os técnicos que mal chegam ao poder viram políticos e, mesmo que saibam o rumo que as coisas estão a levar, não o dizem aos cidadãos. E assim, em termos simples chegamos aos nossos dias, e este governo, dirão alguns, diz que não governa para eleições e talvez tenha razão, mas isso não deriva de querer ser mais sério do que os outros, mas tão só porque está endividado, não tem onde ir buscar dinheiro, e por isso está a descoberto sem que possa lançar mão seja do que for. Esta é a essência da crise, mas convém dizer que, a evolução desta tem um grande paralelismo com as restantes economias europeias, e a evolução década a década, segue os mesmos passos e até o mesmo ritmo. E agora, só nos resta a ajuda das economias do centro e norte da Europa. mais estáveis e ricas que impõem as condições para emprestar e que todos vamos sentindo na pele dia após dia. Desde logo a Alemanha que vive com o pavor da inflação - fenómeno que conhecem bem pela devastação que teve na sua economia, quer no pós-II Guerra Mundial, quer mais tarde a quando da reunificação com a antiga Alemanha de Leste - o que conduz a que sejam aqueles que mais exigências impõem aos países sobre programas de ajuda. Esta é, duma maneira simples mas que penso clara, uma explicação do que sucedeu. Resta apenas dizer que esta situação era visível a partir dos anos 70 e que foi sistematicamente ignorada porque era necessário dar a ideia de que as economias cresciam até ao infinito. Era a altura do crédito fácil, do juro barato - o que fazia com que não ouvesse interesse em poupar -, das férias pagas, do crédito para a casa e o carro, e para sei lá mais o quê. O modelo esgotou-se, a situação é a que é, e levará várias décadas até estabilizar. Tenho afirmado por diversas vezes que este trabalho é duma geração pelo menos, muitos me têm contestado, mas a realidade vai-me dando razão. Na semana passada o ministro das finanças afirmou que esta situação levaria cerca de 20 ou 30 anos a desaparecer! Estou convencido de que assim será, e só agora alguém o disse porque a dependência é tal e a penúria imensa que já não dá para iludir o problema. Estamos a caminhar para um estado de serviços mínimos, por mais que me custe dizê-lo, e para reformas simbólicas. Simbólicas as nossas, a da geração seguinte já nem sei se a terá. E quando o governo nos acena com mais um ano, isso não vai contribuir para a nossa felicidade. Apenas vai arrastar o problema porque não se faz um equilíbrio das contas públicas em situação recessiva e, assim sendo, o ter mais um ano, ou mais dois ou três é indiferente. E estamos em recessão desde há algum tempo. Não sei o que move Gaspar quando ensaia esta deriva. Todos já vimos no que dá. As medidas restritivas geram recessão, que por sua vez leva a mais medidas restritivas que geram mais recessão. Isto em economia chama-se "espiral recessiva". E não pensem que é apenas uma questão de semântica.

Conversas comigo mesmo - CXXIX

Neste domingo quero deixar-vos com as palavras de Joaquim Pessoa, palavras em que tropecei há dias. Diz assim: "As pessoas como tu possuem não uma, mas todas as vidas. Pessoas que amam e se entregam porque amar é também partilhar as mãos e o corpo. Pessoas que nos escutam e nos beijam e sabem transformar o cansaço numa esperança aliciante, tocando-nos o rosto com dedos de água pura, soltando-nos os cabelos com a leveza do pássaro ou a firmeza da flecha. São as pessoas como tu que nos respiram e nos fazem inspirar com elas o azul que há no dorso das manhãs, e nos estendem os braços e nos apertam até sentirmos o coração transformar o peito numa música infinita. São as pessoas como tu que não nos pedem nada mas têm sempre tudo para dar, e que fazem de nós nem ícaros nem prisioneiros, mas homens e mulheres com a estatura da vida, capazes da beleza e da justiça, do sofrimento e do amor. São as pessoas como tu que, interrogando-nos, se interrogam, e encontram a resposta para todas as perguntas nos nossos olhos e no nosso coração. As pessoas que por toda a parte deixam uma flor para que ela possa levar beleza e ternura a outras mãos. Essas pessoas que estão sempre ao nosso lado para nos ensinar em todos os momentos, ou em qualquer momento, a não sentir o medo, a reparar num gesto, a escutar um violino. São as pessoas como tu que ajudam a transformar o mundo." Pela sua beleza quis partilhá-las convosco neste domingo. Estas palavras podem ser uma boa partida para a reflexão, para a meditação ou, simplesmente, para uma conversa com nós mesmos.

Saturday, March 16, 2013

Wiiliam Byrd (1543-1623)

De novo vos convido a virem comigo nesta viagem ao barroco musical que encetei há algum tempo atrás. Hoje trago um nome importante desse período, o compositor inglês Wiliam Byrd. Byrd nasceu em Lincolnshire na Inglaterra em 1543 (não se sabe o dia ao certo) e viria a morrer em Stondon Massey a 4 de Julho de 1623. Viveu no reinado da Rainha Isabel I, num reino protestande, sendo ele católico, o que na altura, era um ato de coragem. Apesar de sua fé, Byrd sempre trabalhou para a Igreja Anglicana, sendo por ela respeitado e compondo belíssimas obras, mas os seus trabalhos mais sublimes foram escritos em latim para a Igreja Católica, como o motete para quatro vozes "Ave verum corpus" e as "Três Missas Católicas". Naquela época o catolicismo era bem tolerado pela Rainha, que permitia, inclusive, que a música religiosa latina pudesse ser cantada em locais de ensino. Estudou com Thomas Tallis, tornando-se mais tarde seu parceiro. Foi considerado o maior compositor de contraponto da sua época na Inglaterra. Tocava órgão e virginal (instrumento de teclado como um pequeno órgão cujas cordas eram batidas por diminutas cunhas de metal), para o qual compôs mais de 140 peças. Tornou-se organista da Catedral de Lincoln em 1563. Em 1568 casou-se com Juliana Birley, de quem teve dois filhos. Foi convidado para ser Cantor da Capela Real em 1570, mas não abandonou Lincoln definitivamente durante dois anos, até que se mudou para Londres. Em 1572 foi nomeado "Gentleman of Her Majesties Chappell", co-organista da Capela Real de Londres, posição dividida inicialmente com Tallis. Em 1575 a Rainha Isabel I concedeu a ele e a Talis o monopólio da impressão e venda de partituras. Durante o período da perseguição aos católicos em que muitos jesuítas foram executados, Byrd  mudou-se de Londres com a sua família para Harlington no Middlesex. A sua esposa Juliana tinha-se recusado a prestar serviços à Igreja Anglicana, o que era obrigatório na época. Mais tarde, ficou viúvo e casou-se novamente, mudando-se para Stondon Massey, Essex, em 1592, onde viveu até à sua morte, a 4 de Julho de 1623. Algumas das suas obras mais notáveis são o "Ave Verum Corpus", "Susanna Fair", a "Missa para Quatro Vozes", o "Geeat Service" e o "Qui Passe: For Mu Lady Nevell". Como habitualmente deixo-vos aqui uma peça para que vos identifiqueis com a música de Byrd, desta feita o "Ave Verum Corpus", uma das suas peças mais conhecidas e que podem escutar no link seguinte http://www.youtube.com/watch?v=G4rWsH1hkQ8 . Espero que gosteis e que isso vos leve a conhecer melhor a música deste compositor muito importante do período barroco inglês.

Equivocos da democracia portuguesa - 244

Hoje ficamos a saber que Portugal está a morrer, exangue, sem forças para resistir a tanta incompetência, a tanto disparate. Hoje estamos a assistir a algo de tristemente histórico, uma nação com quase novecentos anos está a desfalecer. Depois de estar a ser retalha e vendida ao metro quadrado, Portugal está a chegar ao fim. Se dúvidas houvesse Vítor Gaspar desfêz-las ontem. Gaspar e este governo têm falhado todas as previsões, mas não pela positiva, infelizmente. A recessão que o governo dizia que seria de 1%, depois foi corrigida para 1,9%, mas afinal vai ser de 2,3%! O defice que o governo dizia que ficaria abaixo dos 5%, afinal ficou nos 6,6%! E em 2013 não ficará nos 5% como foi afirmado, mas sim nos 5,5%, em 2014 nos 4% e em 2015 nos 2,5%. (Isto se o governo não voltar a falhar como vem sendo habitual!). O desemprego vai estar nos 19% podendo ultrpassar a barreira dos 20%, isto é, mais de um milhão de desempregado oficiais porque, como já afirmamos por diversas vezes, se considerarmos os que não se inscrevem nos centros de emprego porque já não acreditam, naqueles que não têm qualquer apoio social e dos muitos jovens e não só que têm emigrado, a barreira já ultrapassou há muito o milhão e meio! Mas na conferência de hoje de Vítor Gaspar ficou por se saber mais do que aquilo que foi dito. Porque o governo não sabe ou porque o governo está a tentar protelar porque tem dúvidas de como o dizer aos portugueses. Embora o ministro das finanças se esforce por negar as conexões semânticas, o certo é que estamos mesmo dentro duma espiral recessiva. E já o estamos há vários meses como o denunciamos neste espaço há algum tempo atrás. E, embora Miguel Frasquilho tente tapar o sol com a peneira dizendo que o projeto inicial foi mal negociado, isto não passa duma falácia que só descredibiliza quem a faz. Todos sabemos que o "memorandum da Troika" já foi revisto por diversas vezes, sendo hoje algo de muito diferente do original. Afirmações destas, em vez de ajudarem o executivo, apenas colocam a nú a incompetência do mesmo. E depois de tudo isto, Gaspar fica satisfeito apenas porque temos mais um ano, por "sermos bons alunos"! Mas se a Holanda também o teve porque não Portugal? O que fica de tudo isto é que o termos mais tempo significa termos mais dívida. Em 2012 cada português (incluindo as crianças) tinha uma dívida de 20.000 euros, em 2013 terá uma dívida de 21.100 euros! Esta é que é a dura realidade. E o problema não é externo - como pretende o governo insinuar - mas sim interno e deste executivo. No passado a culpa era do anterior executivo, que até parece que condicionou a Europa e os próprios EUA. Hoje justifica-se com o exterior. Todos sabemos que a situação americana condicionou a Europa e esta Portugal, em 2010/2011. Então negou-se a evidência. Alguns portugueses entraram no canto da sereia e agora lamentam-se. O segredo de tudo isto está no abaixamento dos juros da dívida pública porque com estes juros não é possível pagar esta. Mesmo economistas do espetro liberal já não o negam. E ou somos capazes disso ou não saímos desta situação. Por mais que Gaspar diga - mudando de discurso - que a negociação foi feita "em nome dos portugueses"(!) já ninguém de boa fé o levará a sério. Como amanhã a capa do Expresso vai publicar "A Troika culpa governo pelo falhanço das políticas"! Porque se quis ir mais longe, porque se quis ser subserviente, porque se é incompetente. Não percebemos como ainda existem pessoas a defender estes senhores. Se Gaspar falou "em nome dos portugueses" seguramente que nem de todos. Em nosso nome não falou certamente porque nunca aceitaríamos sem representados por quem nunca acertou uma previsão, porque quem não fez corretamente o seu trabalho de casa - embora tente passar a ideia contrária. Depois de dois anos de poder, este governo tem como legado mais desemprego, mais defice, mais dívida, mais recessão, em suma, mais miséria! E se continuam a justificar-se com o passado só porão a nú a sua incapacidade. Cavaco faz alertas que o executivo ignora, afirma que ele tinha razão sobre muitas coisas, mas face à dura realidade nada faz. Belém parece estar em "sede vacante". E os portugueses estão cada vez mais desesperados, não já para viver, mas para sobreviver. Somos dos que defendem o cumprimento das legislaturas, mas face a tudo isto, a este descalabro nacional, parece que algo deveria de ser (tem de ser) feito. Este governo está descridibilizado, está exausto, já nada tem para oferecer aos portugueses. Quando existirá coragem - por parte do Presidente da República - para assumir as suas prerrogativas, os seus poderes que o cargo lhe confere, o cargo para o qual foi eleito pelos portugueses.

Thursday, March 14, 2013

Francisco I - O 266º Papa da Igreja Católica

"Habemus papam"! Ontem, dia 12 de Março de 2013, pelas 18,05 horas de Lisboa - 19,05 horas de Roma -, bem ao início da noite, foi nomeado o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio como o novo Papa - o 266º - com o nome de Francisco I. Bispo emérito de Buenos Aires conhecido por viajar em transportes públicos sempre muito próximo das populações foi o homem que disputou a eleição com Bento XVI há oito anos atrás. Franscisco I - temos que nos ir habituando ao nome - herda uma pesada herança dentro da Igreja Católica. Desde logo, os inúmeros casos de pedofilia que já não é possível ocultar. Mas os escândalos financeiros e as sombras que pairam sobre o Banco do Vaticano serão outros dos assuntos quentes que terá entre mãos. Já aqui falei a quando da resignação de Bento XVI do problema que envolveu o Banco Ambrosiano e que culminou com o aparente "suicídio" do seu maior nome na Torre de Londres. E este facto que se desenvolveu no consulado de João Paulo II - embora o caso já remontasse a Paulo VI - foi sempre uma sombra que nunca foi totalmente dissipada. Foi através deste problema que a Opus Dei ofereceu os seus serviços junto do Papa de então e de um momento para o outro não nos cansamos de ouvir elogios a este grupo dentro da Igreja por parte de João Paulo II. Alguns até achavam inconveniente o peso que a Opus Dei começou a ter dentro da Cúria desde então e esta eleição parece configurar esta questão. Francisco I é um franciscano de formação jesuíta que terá que equilibrar as forças dos "lobbies" dentro do Vaticano. (Como jesuíta será seguramente um homem empenhado e culto, mas também um homem que terá uma visão menos apologética da Opus Dei que tem influenciado o Vaticano nos últimos anos). Veremos o que daí virá e quais as posturas que terá, embora como sabemos, a Igreja Católica faz tudo isto com enorme discrição e lentamente, sem que se dê por isso. Mas Francisco I é ainda uma surpresa por ser o primeiro Papa de fora da Europa (embora filho de pais italianos) desde o século VIII quando Gregório III que veio da Síria ocupou a cadeira de S. Pedro. Isto dá ideia duma Igreja que desloca o seu eixo para um continente onde o catolicismo está a ter uma grande expansão face a uma Europa cada vez mais descristianizada. Alguns orgãos de comunicação começaram logo por dizer que Francisco I enquanto cardeal se opunha ao casamento gay. Penso que isso não será o mais importante porque dificilmente veremos na Igreja Católica um Papa a defendê-lo. Não só o casamento gay como a ordenação de mulheres ou o casamento de padres. A Igreja Católica é muito tradicionalista e as mudanças são muito ténues e demoram por vezes séculos. Esse tem sido o segredo da pujança desta Igreja até aos nossos dias. Mas mais do que processos de intenção temos que dar o benefício da dúvida a quem chega e que a pouco e pouco mostrará o seu projeto. Começou bem, em minha opinião, com uma humildade típica dos franciscanos, quando pediu que orassem por ele e se curvou perante a massa enorme de fiéis que se reuniram na Praça de S. Pedro. Isso não bastará, mas foi um primeiro sinal. O importante é que, apesar da idade, (74 anos, contrariando as expectativas dum Papa mais jovem), este Papa tenha a força suficiente para remodelar o Vaticano e as forças que se acolhem no seu seio. Será seguramente uma tarefa ciclópica mas não impossível. Agora há que esperar serenamente sem atavismos de espécie alguma. O tempo irá mostrando aquilo de que é capaz. Francisco I escolheu o nome dum dos maiores reformadores da Igreja Católica, S. Francisco de Assis, um ecologista, um defensor dos animais e dos mais humildes no seu tempo. Será que isso quer dizer alguma coisa? Será que este será o tal "bispo negro" das profecias? O tempo o dirá. Por agora, apenas temos que aguardar e dar o benefício da dúvida a quem chega, com certeza, armado das suas melhores intenções. Nesta Primavera que se aproxima, que este Papa seja também uma espécie de Primavera da Igreja que dela tão carecida anda. Viva Francisco I! Viva o Papa!

Wednesday, March 13, 2013

Pavel Jisef Vejvanovský (1633/1639-1693)

De regresso ao barroco é altura de vos trazer um nome totalmente, ou quase totalmente, desconhecido entre nós. Trata-se de Pavel Josef Vejvanovský. Vejvanovský nasceu na República Checa, mais propiramente em Hukvaldy (ou Hlucin) na Morávia, não se sabendo ao certo a data do seu nascimento, há quem o situe entre os anos de 1633 a 1639 e viria a falecer em Kromĕřiž a 24 de Setembro de 1693. Vejvanovský foi um grande compositor e trompetista. Foi educado na Universidade Jesuíta em Opava, onde começou a compôr. Quando a Morávia foi destruída pela Guerra dos 30 Anos a necessidade da sua reconstrução viria a recair na família Habsburgo, especialmente no príncipe Karl Leichtenstein-Castelcorno na sua qualidade de príncipe-bispo de Olomouc. A reconstrução fez-se ao estilo renascentista que viria também a influenciar a cultura da região, sobretudo, a música. Essa influência viria a resultar na contratação de músicos influenciados pela cultura da Renascença, que por sua vez, influenciaram Vejvanovksý. Este compositor foi também um excelente trompetista, um verdadeiro vituoso do seu tempo, escrevendo muitas das suas composições para este instrumento. Da sua obra, saliento a "Sonata à 6" para 2 violinos, 2 cornetins, clarinete, viola e orgão; a "Sonata Ittalica à 12" para 3 violinos, 2 cornetins, 3 clarinetes, 4 violas e orgão e o "Balleti Pro Tabula" para 2 clarinetes, 2 violinos, 2 violas, violoncelo e orgão. Para documentar a sonoridade deste compositor checo deixo-vos aqui o link http://www.youtube.com/watch?v=GkUSNLMjlUo onde podem escutar a "Sonata Vespertina a 8" interpretada pelo agrupamento Vituosi di Praga. Espero que disfrutem desta excelente música dum compositor praticamente e injustamente desconhecido entre nós, onde a riqueza do barroco aparece na sua grande pujança em latitudes bem mais afastadas do epicentro onde este período musical viria a ocorrer.
 

Monday, March 11, 2013

A Alemanha “über alles“!


A Europa começa a ficar preocupada, finalmente! Juncker veio ontem alertar para os perigos que o caminho que a Europa está a trilhar pode conduzir. O primeiro-ministro luxemburguês apela para os primeiros sinais que todos podemos ver nas campanhas eleitorais italiana e grega, - mas, em boa verdade, poder-se-ia falar do sentimento dos países do sul da Europa como um todo -, e afirma: “De repente, surgiram ressentimentos que julgávamos terem desaparecido para sempre”. E não deixou de mostrar preocupação pela excessiva ideia dum antieuropeísmo, bem como, uma mostra de um certo antigermanismo, sobretudo na Grécia, que radica na “forma como alguns políticos alemães se referiram ao país e que deixou profundas feridas na sociedade grega”. O ex-líder do Eurogrupo vai ainda mais longe na entrevista dada ao Der Spiegel, quando afirma que “estamos perante o ressurgir de velhos fantasmas que julgávamos adormecidos”. Esta é uma visão acertada e que já por diversas vezes defendemos neste e noutros espaços. Quando vemos, também por cá, estes mesmos sentimentos, em especial o antieuropeísmo, ficamos muito preocupados. A Europa tem sido a guardiã da paz neste continente que nunca perdeu um ensejo para se degladiar e autodestruir. E se dúvidas houvesse, e apesar da União Europeia, veja-se o que aconteceu nos Balcãs com a guerra do Kosovo. É certo que quando os países se sentem esmagados por uma atitude sobranceira, roçando até a humilhação, não podem ficar indiferentes. A atitude alemã tem sido deste jaez face aos países periféricos e pobres do sul, e Portugal não se afastou muito deste diapasão. Por trás duma certa facilidade, dum certo abrandar de mão para iludir o povo, o certo é que todos sentimos a mão pesada que todos os dias nos esmagam, nas nossas vidas, nas vidas dos nossos filhos e netos. Mesmo com um governo atento e obrigado, subserviente até dizer basta, (como é o nosso), perante a tirania germânica é compreensível que as populações não fiquem indiferentes. E se falamos de Portugal, pior cenário está imposto noutros países, desde logo a Grécia, berço da civilização ocidental e que teve uma tremenda compreensão para com a Alemanha quando esta precisou de ajuda sob a forma dum resgate para equilibrar as suas contas, depois da reunificação. Ninguém esquece o que a Alemanha contribuiu durante o século passado para a destruição da Europa e para por o mundo a ferro e fogo. Ainda está patente na mente de muitos a ideia duma Alemanha que queria governar o mundo über alles“. Se pensavam que os velhos fantasmas estavam enterrados, pois desenganem-se. E a atitude do chamado "motor europeu" face aos restantes países está aí para nos fazer lembrar.

Saturday, March 09, 2013

Giacomo Carissimi (1605-1674)

De novo vos convido a acompanhar-me nesta viagem ao ríquissimo universo do período barroco, um dos mais prolixos da história da música. Desta feita trago-vos um nome muito pouco conhecido entre nós, o de Giacomo Carissimi. Carissimi foi batizado a 18 de Abril de 1605 - a data exata do seu nascimento não é conhecida - e viria a falecer a 12 de Janeiro de 1674. De nacionalidade italiana, foi um dos mais célebres mestres do início do Barroco ou, mais exatamente, da escola romana de música. Como atrás disse, a data do seu nascimento não é conhecida, mas tal ocorreu provavelmente em 1604 ou 1605 em Marino, uma localidade perto de Roma. Da sua juventude quase nada é conhecido. Sabe-se que por volta dos seus 20 anos Carissimi tornou-se mestre capela em Assis. Em 1628 obteve o mesmo posto na igreja de Santo Apolinário que pertencia ao Collegium Germanicum em Roma, cargo que manteve até à sua morte. Obteve várias ofertas de trabalho nos mais proeminentes locais da época, incluindo-se aqui uma oferta do próprio Claudio Monteverdi proveniente de Veneza, mais propriamente, de S. Marcos de Veneza. Em 1637 foi ordenado padre. Parece que nunca saiu de Itália durante toda a sua vida. Viria a morrer em Roma em 1674. Da sua obra proliferam cantatas, recitativos, madrigais e viria ainda a desenvolver a oratória. Da sua obra destaco as seguintes: "A piè d'un verde alloro (I Filosofi)", cantata para 2 vozes e baixo contínuo datada de 1650, o "Adeste mortales" moteto para soprano e baixo contínuo que lhe é atribuído embora existam dúvidas, a "Annunciate, gentes" moteto para 2 sopranos, alto, tenor e baixo contínuo datada de 1675 e a oratória "Baltazar" para 5 vozes, 2 violinos e baixo contínuo. Para ilustrar a música de Giacomo Carissimi deixo-vos o link http://www.youtube.com/watch?v=2yql4oAoRNs onde podem escutar o motete "Surgamus, eamus, properemus". Espero que apreciem a melodia construída na base duma harmonia bem cuidada. Mais um intérprete do período barroco, um dos nomes menos conhecido, mas não menos importante, deste período da história da música que merece a sua (re)descoberta.

Friday, March 08, 2013

A propósito duma exposição - Graça Morais e os "Desastres da Guerra"

 
Hoje venho falar-vos duma exposição que muito tem a ver com a crise, é uma espécie de exposição sobre a crise que vivemos, que é da autoria de Graça Morais, subordinada ao tema "Desastres da Guerra". Essa exposição está patente em Lisboa na Fundação de Arpad Szenes-Vieira da Silva. Ela tem muito a ver com os tempos que nos percorrem. Nas pinturas e desenhos de Graça Morais prepassam os anseios e angústias de todos nós, dos desencantos, das lágrimas expostas e sofridas, dos dias de desalento por que passamos. Num país a quem já retiraram a esperança, num país destroçado, humilhado e ofendido, desde logo pela "troika" e depois por um governo subserviente a interesses ultramontanos que, duma maneira subreptícia, vai impondo mais do que estava obrigado na ânsia desmesurada de implantação do seu programa político que não foi referendado pelos portugueses. Projeto ultra-liberal que teve a sua fase gloriosa quando reduziu à miséria os países da latino-américa nos finais do século passado. Projeto que tem muitos ideólogos, desde logo, - e para aqueles que gostam destes temas -, o mais icónico de todos, Milton Friedman, o homem que foi conselheiro económico de Reagan, que não tendo espaço no seu país para as suas experiências acabou por fazê-lo, essencialmente, no Chile, Argentina e Brasil. O homem que, tal como muitos ideólogos que por cá andam pagos a peso de ouro por todos nós, achava que a desvalorização do fator trabalho era o mais importante para a competitividade. Servido por ditaduras ferozes, as suas ideias foram lançadas no terreno vindo a levar esses países para a vereda da miséria e da opressão. Dizia Friedman que para diminuir o desemprego se deveria "por um trabalhador a abrir um buraco e levar a terra para outro que ele tinha aberto antes e assim sucessivamente"! Falso trabalho que iludia as estatísticas, oprimia e degradava quem o fazia, desvalorizava o seu valor. Por cá, ainda não chegamos aí, mas existem situações mais sofisticadas para o fazer. A desvalorização do trabalho, desde logo, pelo não aumento do salário mínimo, é uma delas. Num país que tem o salário mínimo mais baixo da Europa, num país onde os empresários - sobretudo os de visões largas - estão até dispostos a aumentá-lo, o governo vem justificar o contrário. Este executivo, já há muito, divorciado do seu povo, não consegue perceber as condições de miséria em que vive o seu país. No luxo dos seus gabinetes, estes agentes não conseguem perceber que muitos dos portugueses viram um buraco imenso abrir-se debaixo dos pés dum dia para o outro a que só a solidariedade de amigos ou de familiares evitou males maiores derivados do desespero. Porque não se disfarçam estes governantes, como fazia D. Pedro, e virem para a rua para o meio do povo, para os cafés, e ver o que lá se diz, as lágrimas que por aí se choram, o desespero que nos invade e corrói até à medula. A cores fortes de Graça Morais dizem-nos tudo isto, deixam-nos a pensar que estamos perante um desastre nacional, diria mais, um desastre europeu de consequências que ainda não vislumbramos bem. Mas, e acima de tudo, deixa-nos este travo amargo dum país à beira da guerra, duma guerra surda - ainda não de armas, e esperemos que não se chegue aí -, numa Europa que está a desagregar-se e que, enquanto existe unida, tem sido o maior fator de pacificação europeu. Num mundo em colapso, numa Europa no abismo, num país destroçado, até ficamos com a sensação de sermos uma espécie de sobreviventes duma guerra, seja lá ela qual for. E desenganem-se os que pensam que as manifestações são suficientes ou as canções por mais incómodas que sejam. "O trabalho de Graça Morais trata do tempo e do lugar. Ela construiu a sua imagem investigando memórias e transformando realidades: a do Portugal rural que mudava e perdia o seu tempo e o seu lugar no mundo", pode ler-se na apresentação desta exposição. Uma exposição que merece um olhar atento e refletido, sobretudo, nestes dias de inquietação que são os nossos. Quanto a Graça Morais não será necessária qualquer palavra, ela tem um percurso imenso na arte e na cultura portuguesas. Como hoje se comemora o Dia Internacional da Mulher nada melhor do que homenagear uma, - e com ela todas as outras -, pela sua estatura, pela sua dimensão, neste país pequeno e mesquinho à medida dos políticos que andam por aí.

Thursday, March 07, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 243


Hoje foi dia de mais um debate quinzenal na Assembleia da República. Para aqueles que esperavam vir a obter mais informações sobre a situação gravíssima do país, tal não se verificou, aliás, como vem sendo habitual. Numa altura em que o desemprego se aproxima de um milhão de desempregados - embora, como já muitas vezes aqui dissemos, está próximo do milhão e meio se considerarmos aqueles que estão fora da proteção social, e consequentemente, não estão inscritos nos centros de emprego e nos muitos que emigraram -, numa altura em que o Eurostat vem afirmar que a queda do PIB português foi a maior da zona euro, seria expectável que o PM viesse reconhecer a situação e predispor-se a alterações de rumo. Mas nada disso se verificou. Passos Coelho vem fazer a apologia da sua governação, indiferente aos números que friamente aparecem de todos os lados a afirmarem o contrário, parecendo que está a governar para um país virtual em que só ele parece acreditar. Este governo acossado - já não podem sair para lado algum sem um exército de seguranças atrás -, neste governo isolado - basta ver as manifestações que cada vez são mais numerosas e transversais à sociedade portuguesa -, o governo parece que tem um outro paradigma que vai para além do país que deveriam representar. Não desconhecemos a necessidade de algumas correções, descartamos a ideia de que a dívida não é para pagar, mas sacrificar no altar do défice a vida de milhões de famílias parece-nos verdadeiramente inconcebível. O PM vive numa espécie de alienação, duma austeridade a qualquer preço, baseada numa total insensibilidade social, onde os seus concidadãos são algo descartável. Durante o debate, muitas vezes foi confrontado com o problema do desemprego, e sobre ele, nem uma palavra, nem uma ideia. Foi confrontado com as medidas que está a negociar com a "troika" nas costas de todos nós, e aqui também se recusou a esclarecer. Afinal este governo está no poder à cerca de dois anos para quê? Continua a lamentar-se com o passado, que é a maneira airosa que qualquer incompetente e irresponsável tem de aligeirar as suas responsabilidades. E no entretanto, como vivem os portugueses? Vítor Gaspar esta semana em Bruxelas terá afirmado que "gostava mais do elogio dos seus confrades europeus do que se importa com os prostestos em Portugal"!!! Isto diz bem do grau de desaforo a que chegamos. Um governo que já não atende aos portugueses, a Portugal. Sabemos da ânsia de Gaspar ir ocupar um lugar na Europa, mas isso não pode levar a que descore este país que é também o seu. E com isto, a democracia vai-se paulatinamente atrofiando, afundando até, porque é nos momentos de crise e de desesperança como este em que vivemos, que as soluções messiânicas aparecem. E todos sabemos ao que elas inexoravelmente conduzem...

Sunday, March 03, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 242

Ontem,mais uma vez, saiu o nosso povo à rua! Fez-nos lembrar os idos de Abril de 74. A situação está a degradar-se a cada momento que passa. As estimativas do governo são desmentidas a todo o momento. O desnorte é enorme. O executivo perdeu o controle da situação e não sabe o que fazer. E "troika" pela primeira vez sentiu o que é o povo a sair à rua. Cancelou as reuniões e deixou-se ficar fechada nos hotéis. Mas esta demosntração popular ainda foi mais forte dado o civismo com que decorreu, exceção feita a um pequeno incidente no Porto, que levou a que a polícia se pusesse em debandada depois duma qualquer trapalhada. Segundo alguns, um dos polícias teria dito para um colega: "vamos vazar"! Isto diz bem daquilo que se passou. A História não registará estes pequenos incidentes porque não serão eles que pararão o decorrer do futuro deste país acossado por um "bando" de incompetentes que muitos puseram no poder quando neles votaram. E isto também é curioso. Porque ainda não ouvimos ninguém dizer que votou neles! Então como é que ganharam as eleições? Estas coisas são boas para que muitos abram os olhos não se deixando embalar no canto de sereia de alguns políticos que prometem este mundo e o outro e depois fazem o seu contrário. E Passos Coelho é bem o exemplo disso, basta ver as afirmações que fez na campanha eleitoral e comparar. Mas apesar desta monumental demonstração de desagrado das populações ficou-nos um travo amargo pelo que vimos. Temos alguma dificuldade em compreender manifestações com esta força como meramente expontâneas fruto apenas de divulgação nas redes sociais. Também achamos estranho quando foi boicotada a entrevista de alguns deputados de alguns partidos que lá estavam a título pessoal, com certeza, afirmando que a manifestação era apartidária, e depois deixassem que deputados de outras forças políticas se deixassem entrevistar sem problema algum. Ficamos preocupados porque nas manifestações também existe a chama "mão invisível" que muitos políticos e economistas gostam de evocar. Achamos bem que os mentores da manifestação não se tivessem colado àqueles que queriam cercar e cercaram a Assembleia da República. O Parlamento é a casa da democracia, o seu cerco simboliza o cerco à democracia o que não deixa de ser perigoso. O problema não é a Assembleia da República mas aqueles que a ocupam e esses estão lá pelo votos de todos. Por isso, pensamos que todos devemos estar alerta porque haverá sempre quem se queira aproveitar do descontentamento popular legítimo para legitimar outras atitudes. E depois de vermos o que se passou com alguns entrevistados das televisões - a que fizemos referência atrás -  durante a manifestação, ainda ficamos mais preocupados. Contudo, é sempre bom que o povo não se deixe adormecer porque as dificuldades estão aí para durar mais aquelas que virão em breve e que o governo anda a esconder. Mas depois do que vimos, vem-nos à memória a frase duma canção de Chico Buarque a quando do 25 de Abril de 1974 e que tinha como refrão: "E que linda foi a festa, pá!".

Saturday, March 02, 2013

Descansa em paz, Estrelita!

Está consumado! A Estrelita deixou-me à 1,49 desta madrugada! É com o coração sofrido que anoto a situação. É com a memória ainda demasiado fresca que a evoco. É com os olhos toldados de lágrimas que a recordo. Com o seu pêlo alvo como símbolo de pureza. Depois de alguns dias de decadência, depois duma luta tenaz pela sobrevivência, as suas funções vitais cederam. A Estrelita partiu! Dirão alguns, era apenas um cão, não se justifica tanta emoção. Mas para mim um cão é algo mais do que aquilo que aparentemente mostra. Um cão é um animal nobre que me merece mais respeito do que muitos humanos. Um cão encerra em si aquilo que de melhor o ser humano não é capaz de ter - nem todos felizmente! - mas que gostaria. A minha ligação aos animais sempre foi muito profunda. Acho que nasceu comigo e foi potenciada pela educação que tive. Já passei por situações semelhantes inúmeras vezes e nunca me habituo. Lido com estes nobres animais desde criança, mas uma perda é sempre algo de profundo que me abala até ao mais íntimo do meu ser. É como se fosse um membro da minha família que no fundo até o é. Para além de tudo isto, a Estrelita encerrava em si algo ainda mais importante e simbólico. Ela foi a cadela preferida de minha mãe. Assim, a Estrelita era como um elo de ligação - o último - que me conetava com a memória veneranda de minha mãe. Quantas vezes andou com ela ao colo, quantas vezes a afagou, "a minha branquinha" como gostava de dizer! E quando eu reproduzia os mesmos gestos, era como se ela ali estivesse, sempre presente num amor incondicional e avassalador pelos animais. A Estrelita era uma espécie de fio condutor entre mim e uma memória profunda e muito querida. Até isso se perdeu. Agora tudo se desligou, esse fio condutor partiu-se inexoravelmente. Vi-a nascer. Ela nasceu na casa onde hoje habito, duma cadela que era vítima de maus tratos diariamente por um vizinho e que a minha mãe recolheu quando se preparava para ir para o canil para ser abatida. Vinha grávida. Teve os filhotes nesta casa, e viveu com eles até à morte ainda a tempo de ser feliz. A Estrelita era a sua filha preferida, a que ela mais acarinhou até nos deixar. Hoje chegou a hora de também a sua filha nos deixar e ir-se reencontrar com a sua família de quatro patas no país do arco-íris. A Estrelita será sepultada na minha casa, no espaço reservado aos meus fiéis amigos, junto da sua mãe Patti (ao centro na foto) e da sua irmã Luca (à esquerda na foto) que foram à frente. Só ela restava desta família. Agora tudo se consumou. Sobre a sua sepultura florescerá uma bela planta, a exemplo do que acontece na sepultura de todos os outros, que perpetuará, - pelo menos é minha convicção -, o ciclo da vida. Duma existência que acaba para que outra floresça, sobre outra forma, mas sempre celebrando o grande mistério da vida. Hoje a Estelita partiu! Hoje fiquei mais pobre porque perdi mais um afeto, mais um carinho, que é apanágio dos meus fiéis amigos que vou, - talvez erradamente -, humanizando. Mas sou assim, fui sempre assim, não sei ser doutro jeito. Hoje estou triste, de coração apertado porque perdi não só uma cadela que muito gostava - e isso só por si já era mais do que suficiente - mas perdi mais ainda, perdi a ligação simbólica a um passado que determinou toda a minha vida futura. Não mais ouvirei os seus latidos que anunciavam a minha chegada a casa. Hoje estou em sofrimento. A minha querida Estrelita cansou-se da vida. Morreu acompanhada pelos que mais amou como sempre acontece com os meus cães. A minha Estrelita partiu serenamente. Descansa em paz, Estrelita!

Friday, March 01, 2013

Ainda sobre a resignação de Bento XVI

Na sequência de comentário feito há dias sobre a resignação de Bento XVI, falei da coincidência - ou talvez não - de algumas profecias sobre esta situação, tendo então citado as de Nostradamus. A elas volto depois de vir a saber que Bento XVI será chamado de Papa Emérito logo que seja eleito o novo Papa. E aqui vem-me à memória, de novo, as profecias de Nostradamus. Tendo sido feitas leituras apocalíticas das mesmas durante muitos anos - e volta e meia essas leituras voltam de novo - nelas se falava que nesta época haveriam dois papas o que levou muitos a pensar num cisma da Igreja. (E de facto, dois papas viverão no Estado do Vaticano). Não sei o que o futuro nos reserva, mas que vão haver dois papas está confirmado, embora um governa e o outro não. Extraordinária coincidência ou talvez não, que há cerca de 600 anos tal foi predito com uma precisão matemática, não deixa de ser surpreendente. Também se falava do espírito do mal que estaria intra muros - será que era o caso dos pedófilos (?) - e que os problemas para a Igreja nasceriam no seu seio. Não deixa de ser curioso que na altura em que tudo isto se passa a Igreja esteja mergulhada em escândalos sucessivos que não param de aparecer. Também se falava num mundo de incompreensão com guerras e epedemias um pouco por todo o lado, e se olharmos à nossa volta é mesmo isso que vemos. Apenas quis aqui refletir sobre esta questão pela coincidência de tudo isto o que não deixa de ser significativo. Também se dizia que este Papa que resignou seria o último, embora pelas minhas contas haverá mais um, e depois o que acontecerá? Para muitos será o fim dos tempos, para outros será a queda do Catolicismo como religião universal. Agora que a Igreja Católica está em "sede vacante" há espaço para todas as reflexões. Cá estaremos para ver o que daí advirá. Que mais no reservará o futuro?