Turma Formadores Certform 66

Thursday, July 31, 2014

Boas férias

Mais um ciclo de fecha de um ano de trabalho para aqueles que felizmente ainda o têm. Agora é tempo de retemperar forças e gozar umas merecidas férias. Isto não significa que não volte a este e/ou outros espaços sempre que ache oportuno. Contudo, agora é de descanso que se trata. Boas férias a todos.

Tuesday, July 29, 2014

Quando a televisão nos dá grandes momentos

Segui com atenção esta série do The Voice Portugal que terminou no passado domingo. Não sou muito de concursos, mas há momentos únicos que não posso deixar passar ao lado. Curiosamente, os dois momentos mais significativos deram-se precisamente no primeiro programa, ainda com as provas cegas e o segundo precisamente no último já na final. Do primeiro queria aqui referir a interpretação duma das manas Gonçalves, desta feita a Benedita, que nos presenteou com uma soberba interpretação de "Get Lucky" dos Daft Punk. Este tema na sua versão original é um pouco ácido, mas Benedita adocicou-o com uma fantástica interpretação em que ela cantava e se fazia acompanhar à harpa. (Podes escutar aqui: https://www.youtube.com/watch?v=0SkR5Dc5zWc ). Foi um momento único num programa dominado pelo "rock & roll" alguém aparecer com a coragem suficiente de fazer o que ela fez e ainda por cima tão jovem. Penso que foi essa interpretação que fez com que seguisse até ao fim esta série de programas, sempre na expectativa de voltar a ser surpreendido. E não dei o meu tempo por perdido. Benedita ainda voltou com a sua harpa, mas o fator surpresa da primeira atuação tinha sido arrasador. O outro momento, aconteceu precisamente na final, quando Luís Sequeira apareceu a cantar em dueto com a sua mentora, a voz dos Amor Electro, Mariza Liz. O tema que escolheram foi precisamente um dos grande da banda da Mariza Liz, "Rosa Sangue". Numa interpretação segura num dueto mais que provável, estes dois artistas pareceram-se com duas almas gémeas em palco. (Podem escutar este grande momento aqui:  https://www.youtube.com/watch?v=Tp5yMp3QqxY ). A Mariza que é identificada como a fanática do rock, apareceu aqui num registo diferente, mais intimista que deixou boquiabertos todos os que estavam a assistir. Se Benedita foi o fator surpresa que calou a assistência, este dueto fez com a interpretação mais parecesse uma oração, admirada por um público surpreendido e até os outros mentores não escondiam a surpresa e admiração. Não tenho uma opinião formada sobre este tipo de programas, mas fiquei surpreendido que neste país tão pequeno e sofredor ainda ouve-se espaço para tanto talento. Ao escolher apenas estes dois momentos, sei que corro o risco de ser injusto para tantos outros. Sei que o estou a ser. Mas estes foram determinantes para mim. Não importa a discussão bizantina de quem ganhou ou deixou de ganhar. Não importa se o vencedor foi justo ou não. Porque para além desses pequenos detalhes, ficam dois registos de dois artistas que julgo que ainda ouviremos falar muito em breve. Parabéns a todos, mas perdoem-me que destaque estes dois. Porque eles fizeram grande este programa.

Equivocos da democracia portuguesa - 341

A nossa democracia está doente, apodrecida, embora ainda jovem face a outras que por aí existem no mundo. Esta degradação, esta falta de qualidade deriva, essencialmente, da falta de qualidade dos políticos. Sabemos que é fácil criticar os políticos, sobretudo, em momentos de aflição como estes por que passamos. Mas se compararmos a qualidade dos políticos de 1974 para cá, vemos que ela tem diminuído duma forma avassaladora. Tudo isto se prende com um comentário que um político, que é simultaneamente comentador duma estação de televisão, fez a semana passada a propósito do caso Ricardo Salgado. Dizia este que "a situação que envolveu Salgado derivava da promiscuidade da política e dos negócios" acrescentando, duma forma incisiva e acutilante, que se deveria investigar desde logo o financiamento dos partidos políticos. Em primeiro lugar gostaríamos de dizer que neste país de "arrependidos" é sempre fácil causticar com o nosso ferrete aqueles que caem em desgraça, atitude que não se teve quando eles eram o poder quase absoluto em Portugal, onde se ia ao beija-mão, se andava em torno deles cheios de salamaleques, onde se estendia a mão para a campanha eleitoral e para financiar o partido. Depois gostaríamos de dizer que, ao que se sabe, o BES financiou todos os partidos do chamado arco da governação, PS, PSD e CDS e que até, inclusive, o PCP não escapou. De uma coisa se pode estar certa, Ricardo Salgado e o BES nunca poderão ser acusados de não serem "democráticos" nas benesses. Todos sabemos e os media disso têm feito alarde, que Salgado era o homem que "elegia" governos e derrubava governos, lançava políticos e destruía políticos. Ela era o "homem que mandava nisto tudo" como um seu colega banqueiro achou por bem dizer há dias numa entrevista. Mas que esse antigo dirigente do PSD, Marques Mendes, porque é dele que falámos, venha dizer isso, depois se ter banqueteado com os euros desse banqueiro, como todos os outros, é no mínimo indecoroso. Porque todos receberam, de facto, numa enorme promiscuidade entre política e negócios. Mas que agora venha dizer isso, é no mínimo o não ter um pingo de vergonha. Esperava mais desse senhor, afinal, é mais um como tantos outros que andam por aí. Esses mesmos que desqualificam a nossa democracia, que fazem dela uma democracia doente e apodrecida. Que ajudam a manter este lodaçal em que nos fazem chafurdar, a todos, como país. Não pensei que depois de ter-mos visto nascer a democracia no nosso país em 1974, cheia de esperanças e expectativas, a vejamos agora neste estado. Estes senhores que são os principais responsáveis pelo estado disto tudo, deveriam ter contenção, diríamos mais, vergonha sobre aquilo que dizem. E não se esqueçam que quando a democracia está doente há sempre alguém que ache que tem a cura, messiânica ou não. Já vimos isso no passado e tememos voltar a ver isso de novo no futuro

Monday, July 28, 2014

100º aniversário do início da I Guerra Mundial

Faz hoje 100 anos que se iniciou a I Guerra Mundial, a primeira grande carnificina do século XX que destruiria a Europa e dizimaria as suas populações. No seu rescaldo, seria o caldeirão que conduziria a uma II Guerra Mundial, ainda mais feroz e brutal. Mas agora é a guerra de 1914-1918 que aqui quero recordar. E homenagear todos aqueles que nela participaram e que pagaram com as suas vidas as ambições dos poderosos da época, - como acontece sempre em todas as guerras, - independentemente do lado onde combateram. E nesses soldados queria homenagear a memória do meu avô paterno Álvaro que lá combateu no batalhão português, em La Lys e nas trincheiras de Verdun. Quase todos morreram lá, o meu avô regressou, mas com sequelas que o conduziriam à morte anos mais tarde com um imenso sofrimento. Dele apenas tenho a memória, porque não o conheci, porque morreu antes de eu ter nascido e dele não tenho fotos. (Naquela época apenas se tiravam foto, exclusivamente, quando se casavam e essas já se terão perdido no tempo). Mas fica a memória dum soldado anónimo como muitos outros vítima da intolerância daqueles que vêm no poder a sua desmesurada ambição.O material jornalístico produzido pelo Estadão é protegido por lei. Para compartilhar este conteúdo, utilize o link:http://www.estadao.com.br/noticias/geral,especial-100-anos-da-primeira-guerra-mundial,1534521O material jornalístico produzido pelo Estadão é protegido por lei. Para compartilhar este conteúdo, utilize o link:http://www.estadao.com.br/noticias/geral,especial-100-anos-da-primeira-guerra-mundial,1534521

Sunday, July 27, 2014

Requiem pela Palestina

Pobre PALESTINA, terra sagrada, berço das grandes religiões, antiga terra querida e hospitaleira, hoje massacrada, espezinhada e humilhada. Pobres irmãos árabes despojados das suas terras, das suas casas e das suas vidas enquanto o mundo inteiro assiste à sua derrocada sem nenhuma ação, de nada adiantará um dia lembrarem-se de ti, ó PALESTINA, como uma mártir, com lágrimas nos olhos e a triste lembrança do teu assassinato, de nada então adiantarão as lamentações de terem visto a tua tragédia e de nada terem feito, de nada então valerão a sua tristeza e o seu arrependimento. Que Deus tenha misericórdia desse povo tão humilhado e sofrido!!! Esta é uma verdadeira terra de mártires já desde os tempos bíblicos. Parece ser a sua sina. Parece que têm que espiar algum enorme pecado, não um pecado qualquer, mas pecado maior, pecado mortal. A ti e aos teus mártires nos devemos todos curvar. Porque a indiferença mata, até a consciência de cada um de nós que acha que este caso é deles... Mas não, é de todos nós. Seres ditos humanos e portadores de tanta desumanidade. Quando olho para estas imagens, não posso ficar indiferente. E estas ainda escondem outras bem piores. Ó PALESTINA, por ti o meu, o nosso coração, chora. O que te está a acontecer poderia estar a acontecer a qualquer um de nós. Podíamos ser nós... Que a paz regresse e que tu, ó PALESTINA te reergas das cinzas, qual fénix, e mostres a tua grandeza milenar que já ostentaste ao longo da História, em tempos da tua grandeza.

BES - Salgado apanhado em operação falhada na Suíça

Duarte Lima foi o primeiro a denunciar o esquema que inclui Michel Canals e Nicolas Figueiredo, gestores e mentores da sociedade suíça Akoya. O branqueamento de dinheiro (leia-se milhões de euros) acontecia pelas mãos destes dois gestores e as dúvidas começaram a levantar-se. Mais de um mês antes do escândalo que envolve algumas empresas do Grupo Espírito Santo (GES), os suíços abriram as contas de Ricardo Salgado ao Ministério Público (MP) português, conta o Diário de Notícias (DN). O Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) recebeu das autoridades suíças, há mais de um mês, informações bancárias de Ricardo Salgado e de Amílcar Morais Pires. Os dados bancários do antigo presidente do Banco Espírito Santo (BES) chegaram ao Ministério Público antes de se desenrolar toda uma série de escândalos que envolvem empresas do Grupo Espírito Santo (GES) e deram a conhecer quase todas as movimentações bancárias de Ricardo Salgado, lê-se no Diário de Notícias (DN). Estes novos dados permitiram trazer de novo à luz do dia o processo que ligava Salgado à venda da ESCOM à Sonangol, e que estava arquivado há já dois anos. Os “novos indícios” apresentados pelos suíços abriram o caminho aos investigadores para o rasto de milhões de euros que terão circulado nas contas suíças do banqueiro. E desses milhões, destacou ontem o SOL, estarão 17 milhões de euros retirados do património do GES e colocados para património pessoal de Salgado. Este dinheiro terá sido retirado de um sinal pago pela Sonangol, em 2012, aquando da compra da ESCOM. Salgado é agora suspeito de se ter apropriado de algo a que tinha acesso mas que não lhe pertencia. Além disso, o antigo presidente do BES terá colocado este ‘seu’ dinheiro nas mãos dos gestores de fortuna Michel Canals e Nicolas Figueiredo, mentores da sociedade suíça Akoya, e já denunciados por Duarte Lima aquando do caso BPN. O dinheiro entregue a estes gestores - já denunciados por Duarte Lima - era depositado numa conta sedeada no BPN IFI de Cabo Verde e mais tarde transportado, por carro ou avião, até à Suíça. Isto é o que até agora se sabe. Mas a novela não irá ficar por aqui, seguramente.

Saturday, July 26, 2014

Dia dos avós

Em Portugal o Dia dos Avós celebra-se a 26 de Julho, ou seja, precisamente hoje. A celebração do dia dos avós é feita através de eventos que prestam homenagem e pretendem demonstrar carinho e apreço a todos os avós. Netos e filhos presenteiam simbolicamente os seus avós, de forma a agradecer o apoio e dedicação destes à família e mostrar o quanto são importantes para os seus familiares. A origem da data não é muito consensual, embora entre nós, foi fixada neste dia, por este ser o dia de Santa Ana e São Joaquim, pais de Maria e avós de Jesus Cristo. Embora eu não seja adepto dos dias disto e daquilo, aqui estou a associar-me à data, porque ela representa muito para mim, porque tive os melhores avós do mundo a quem devo tudo o que sou. A minha avó Margarida e o meu avô José foram as figuras tutelares da minha educação que recordo com saudade e pretendo homenagear neste dia. Eles eram os meus avós maternos. quanto aos paternos, também os quero aqui homenagear, embora deles apenas tenha memória. A minha avó Rosa morreu quando eu tinha apenas 8 anos, e mal a conheci, e o meu avô Álvaro, esse morreu antes de eu nascer. Dele apenas tenho a memória do que ouvia ao meu pai. Mas seja como for, hoje é o Dia dos Avós, aqueles que se diz serem duas vezes pais. Se calhar por isso, os netos duma maneira geral guardam boa recordação dos seus avós. Pois celebrem-no se os têm ainda entre vós, e não deixem de os lembrar todos aqueles que deles apenas têm a recordação. Bom Dia dos Avós.

Friday, July 25, 2014

Espírito Santo - As 'guerras' de Salgado que ditaram a queda da família

A queda de Ricardo Salgado pode ter começado já há alguns anos mas foi ontem, com a sua detenção e acusação formal, que se sublinhou o fim de um capítulo num dos maiores bancos portugueses. A história, essa, estará ainda no começo, com o Grupo Espírito Santo na berlinda e atravessar aquele que será, talvez, um dos períodos mais conturbados da sua existência. Revejam alguns pontos cruciais no desvelar deste escândalo financeiro, reunidos pelo Diário Económico. Se foi em 2008 que começou a grande crise financeira no mundo ocidental, só em 2011 ficou formalizada em Portugal, com pedido de ajuda económica e financeira feito ainda pelo Executivo de José Sócrates e encaminhado pelo de Pedro Passos Coelho. Foi nesta altura que várias instituições financeiras formalizaram, também, pedidos de recapitalização ao Estado mas o Banco Espírito Santo não foi um desses bancos. O BES continuou bem visto nos mercados porque conseguiu reforçar os seus fundos próprios sem recorrer a dinheiros públicos. Um dos pecados capitais de Salgado estará precisamente aqui, nos meios encontrados para garantir estes fundos. Quando, em 2012, explodiu o caso ‘Monte Branco’ [investigação das autoridades a branqueamento de capitais e fuga ao fisco envolvendo uma conhecida gestora de fortunas], Salgado foi ouvido no processo mas o Ministério Público adiantou, mais tarde, que o então CEO do BES não era suspeito no caso. No entanto, já nesta altura, teve que ‘largar’ 4,3 milhões para regularizar impostos. Os problemas mais sérios vieram em dois tempos: no primeiro, está a guerra que Salgado comprou com Álvaro Sobrinho, CEO do BES Angola, e no segundo, a que comprou com Pedro Queiroz Pereira, da Semapa, pondo um ponto final numa aliança histórica entre os dois grupos. O antigo líder do BES ficou a perder com essas duas ‘guerras’, Queiroz Pereira até foi quem entregou, em 2013, documentos alegadamente incriminatórios do BES ao Banco de Portugal (BdP). José Maria Ricciardi é o nome de uma outra ‘guerra’, a interna, no seio da família Espírito Santo, ligada à sucessão na comissão executiva do BES. Salgado queria ser sucedido por alguém da sua confiança e Ricciardi queria mudança, de preferência uma que o incluísse. Os primos ficaram os dois pelas pretensões, quando o BdP determinou o afastamento da família da gestão do Banco. A somar-se às crises no seio do grupo, vieram as irregularidades no BES. A auditoria feita pelo BdP revelou “irregularidades nas contas” e uma “situação financeira grave”. Nessa senda, tudo caiu como um castelo de cartas, a Espírito Santo Financial Group (ESFG), a ESI e a Rioforte. Do lado do BES Angola, as coisas não estão melhores. Recebeu uma garantia milionário do Estado angolano assinada pelo próprio presidente, de acordo com o semanário Expresso, mas a carteira de créditos do banco é como que ‘fantasma’, não há garantias ou colaterais. Com estes desenvolvimentos, chegou então, ontem de manhã, a detenção de Ricardo Salgado, pouco tempo depois de se ter afastado das suas funções à frente do BES. Foi constituído arguido no processo 'Monte Branco' e foi interrogado mas pagou a caução de 3 milhões de euros saindo, poucas horas depois, em liberdade. Mas, como disse anteriormente, a procissão ainda vai no adro. Veremos que novos desenvolvimentos nos aparecerão no futuro.

Thursday, July 24, 2014

CPL...Quê?...

A pergunta pode parecer provocatória mas tem fundamento. Afinal o que é a CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa? Até agora era um espaço da lusofonia, onde os valores culturais e não só eram a pedra de toque duma comunidade que tinha na língua portuguesa o seu fator de aglutinação. Desde ontem deixou de ser assim. A Guiné Equatorial que passou a fazer parte deste grupo de países (num processo rocambolesco e sem paralelo) veio desvirtuar tudo aquilo que presidiu à sua constituição de que Portugal foi país fundador. Nesse país da África Ocidental não se fala português, mas espanhol - foi um antiga colónia espanhola - dominada por um feroz ditador (o que mais tempo está no poder em África) num país que é conhecido pela violação dos mais básicos direitos humanos, onde a pena de morte é apenas o lado mais visível da barbárie, ofuscando um pouco o país arbitrário, onde a tortura é legal, onde as populações não têm qualquer direito, chafurdam na miséria mais abjeta, enquanto o ditador e a sua família vivem na ostentação e no luxo. As arbitrariedades são coisa comum. Onde se pode ser espancado na rua por alguém que utilize uma farda - símbolo do poder - para não falar no que se passa nas esquadras e prisões que têm preenchido imensos relatórios da Amnistia Internacional. Neste processo equívoco, onde Portugal tem tido sempre um papel de opositor, não deixou de ser sintomático que esta pretensão tenha sido apoiada pelo Brasil e por Angola. Se quanto a Angola até compreendemos, porque a entrada deste país acaba por legitimar uma outra ditadura também ela prolongada em demasia no tempo de José Eduardo dos Santos, já quanto ao Brasil temos mais dificuldade. A presidente brasileira não compareceu, - tal como o seu homólogo angolano -, talvez pelo incómodo da decisão. Dilma Rousseff sabe o que é viver em ditadura, ser preso político, sofrer a tortura. Sabe o que é o "pau da arara" método muito comum de tortura nesses países. Talvez por isso não veio. Vendeu-se, como todos os outros países, por um prato de lentilhas. Por umas moedas que vêm ajudar algum banco em dificuldade, alguma economia em desespero, algumas empresas inviáveis. Mas moralmente não se sentiu confortada para comparecer. Mas se tudo isto me choca - deve-nos chocar a todos - a maneira como o ditador africano aparece na mesa, sem plebiscito, pela mão de Xanana Gusmão, foi de facto demais. Xanana é um homem que admiro muito pelo papel que desenvolveu e desenvolve em Timor Leste, e por isso mesmo, deveria ter mais cuidado com os seus gestos. Todos ainda nos lembramos da onda de solidariedade que se gerou em Portugal e no mundo para a sua libertação das cadeias indonésias. Será que Xanana já não se lembra? Com a delegação portuguesa posta de lado, humilhada e ofendida, penso que era tempo de mostrarmos mais músculo. Sei da importância dessa comunidade, sei o que representa para Portugal e para a lusofonia, mas também sei que a dignidade dum povo foi aviltada. Não percebo porque Portugal não abandonou de imediato a reunião e, quiçá, a própria comunidade que ajudou, e muito, a fundar. Sei que os caminhos da política e da diplomacia são ínvios. Sei que em política o que parece nem sempre é. Mas também sei que a dignidade dum povo deve estar acima de interesses económicos, mesmo quando se está a passar por dificuldades como nós estamos. Aceitarmos complacentes a vinda deste ditador que ao que parece até canibal é, (na pessoa dos seus opositores), torcionário que nem sequer sabe falar português é no mínimo ridículo. E quando alguns - poucos - pretendem justificar o injustificável, é bom lembrar que a pena de morte não foi abolida, foi apenas suspensa, e que dias antes da sua suspensão, pelo menos quatro prisioneiros foram executados. Isto diz bem do que estamos a falar e de quem estamos a falar. Os interesses económicos e financeiros não se podem sobrepor à dignidade dos povos. A Guiné Equatorial é um país banido da comunidade internacional, isolado por todos. Agora deixou de o ser e logo no seio duma comunidade improvável. O dinheiro do petróleo não pode justificar tudo. A partir de ontem a CPLP passou a ser uma comunidade de interesses que não, jamais, da lusofonia.

Tuesday, July 22, 2014

A bestialidade humana

Tenho hesitado em escrever sobre a natureza humana pela sua complexidade que é capaz de se reverter do melhor e do pior, "ser o pau tosco ou o santo esculpido que se coloca no altar" para utilizar a expressão feliz do Padre António Vieira nos idos do século XVI. Mas depois do que tenho assistido nos últimos dias, penso ser um imperativo de consciência, - porque o calar seria uma forma de conivência -, pelo menos face à minha consciência. Tudo isto a propósito de dois incidentes que têm ocupados os "media" nos últimos dias. Ambos grotescos, que demonstram bem aquilo de que é capaz a natureza humana. O primeiro, e porventura mais chocante, foi o abate do avião malaio sobre a Ucrânia na sua parte controlada pelos rebeldes pró-russos. Quando os céus da Europa já não estão seguros então algo de muito preocupante se está a passar. Como é possível que um bando de terroristas armados pela Rússia, - seja lá em nome de que ideal estão a lutar -, se dão ao cúmulo de abater um avião civil de passageiros? Como é possível que só depois de quatro dias, depois dos destroços manipulados, muita coisa com certeza roubada e ocultada, é que é permitido o acesso aos investigadores? Como é possível que os corpos estivessem na berma da estrada, alguns em sacos semiabertos, exibindo os seus trágicos despojos? Será que este bando de assassinos, (alcoolizados segundo alguns, embora as imagens das televisões não deixem grande margem de dúvida), são capazes de tamanha impunidade? Porque é que só, esse ditador russo, oriundo da mais feroz polícia política da antiga União Soviética, como foi o caso do KGB, só agora interveio junto dos seus capangas que ele armou, que ele treinou, a quem ele forneceu armamento, que ele apoio com outros assassinos a seu soldo para ajudar na matança? Será que só as sanções económicas são capazes de produzir milagres? Será que o valor da vida de pessoas inocentes pode ser trocado por um punhado de notas? Mas não se pense que é só aqui que as coisas estão mal. O outro caso que vos proponho é o da invasão da Faixa de Gaza por Israel. Curiosamente, foi menos noticiado porque, infelizmente, parece que já nos vamos habituando a estas diatribes. Todos vimos como, para além dos soldados do Hamas, se bombardeiam hospitais, se impedem de circular ambulâncias abatendo os seus próprios motoristas, como se impede a ajuda humanitária, como se destroem casas a esmo de gente que quase nada possui e nada tem a ver com guerras, que matam crianças inocentes que nem chegam a perceber o que está a acontecer à sua volta. O governo fascista de Benjamin Netanyahu faz isto com uma total impunidade porque sabe que pode sempre contar com o apoio de muitos países ocidentais, desde logo, os EUA, onde o "lobby" judeus tem um peso muito importante. Como é possível que essa impunidade continue numa guerra desigual, onde os números de mortos de ambos os lados são bem o exemplo de escala proporcional, dum lado e do outro, se mantenha por muitas décadas? Há dias estava num "fórum" onde alguém, a propósito desta matéria, afirmava que "afinal, parece que Hitler tinha razão". E isto é muito grave porque vemos o governo fascista de Israel a utilizar os mesmos métodos de que se queixaram no passado quando os nazis pretenderam o seu extermínio. E agora, até os EUA se vêm compelidos a intervir face a tamanho desaforo que a internet e as televisões já não podem fazer com que se escondam. Estes são dois exemplos de "ideologias" diferentes com as mesmas consequências quando governos extremistas, ou seus apoiantes, chegam à esfera do poder. Mas para além da guerra onde não existe nem ética, nem vergonha, há ainda a política suja de sangue inocente, do poder pelo poder, apenas e só pelo domínio do outro. No primeiro caso, é o saudosismo comunista que leva que um punhado de energúmenos apoiados pela Rússia assassinem pessoas inocentes que nada têm a ver com os seus problemas. No segundo caso, é a ânsia de cercar a Faixa de Gaza, conquistar mais território, criar um país com uma capital aberta controlada pelos sionistas, e empurrar os palestinianos para o mar, visto todas as outras vias de fuga lhe estarem vedadas. Esse era o sonho já longínquo de Ben-Gurion, que continua a ter seguidores nestes nossos dias de apocalipse. Duas situações, em duas partes do globo, com motivações próximas, a conquista, sempre a conquista com a ânsia do poder, cada vez mais poder, onde a dignidade humana já não tem lugar, nem gente deste jaez saberá, porventura, o que isso significará. Dois exemplos apenas, embora neste mundo desigual existam muitos mais, que dão bem a ideia da pequenez do ser humano que vem inquinando este planeta que é a nossa casa comum, sem dignidade nem elevação. Este pode ser bem um símbolo do fim dos tempos, nessa identidade mítica e bíblica, que conhecemos. Porque se assim não é, andaremos por lá bem perto.

Friday, July 18, 2014

O círculo infernal do GES e os seus efeitos colaterais

Temos vindo a assistir a uma autêntica novela em torno do Grupo Espírito Santo que promete ainda enredos escaldantes e rocambolescos dignos duma qualquer novela mexicana. Mas depois de termos assistido a tudo isto algumas interrogações se nos colocam. Desde logo, como foi possível que com o crivo da "troika", que tanto escrutinou e tirou a todos nós, tivesse deixado passar um imenso buraco como este? Como foi possível que o regulador, - leia-se o Banco de Portugal -, tivesse ignorado a situação e vindo mostrar agora uma enorme surpresa pelo o sucedido? Como foi possível que uma só pessoa, (ou certamente muito poucas), tivessem tomado decisões que fizeram desvalorizar a PT, como aconteceu esta semana,  pondo em causa a sua fusão com a Oi, depois de se ver envolvido num empréstimo ao GES? Tudo isto nos parece, de facto, muito estranho. Que rigor é esse, onde um grupo com tanto prestígio revela que afinal tem contabilidades paralelas? (Esta afirmação, como outras, são dadas pelos principais protagonistas da nossa novela). Como é possível que gestores destes sejam considerados de topo e até beneficiem de condecorações do Estado? Afinal que avaliação faz o Estado das pessoas que pretende condecorar? E como se sentirá um governo que sempre viu nestes agentes económicos o sol que lhes iluminava o caminho tão obscuro que trilharam depois de tudo isto? São demasiadas interrogações, mas são necessárias porque não sabemos ainda, se seremos todos chamados a pagar mais um buraco como aconteceu com o BPN e o BPP. (O PM já veio dizer que não, mas todos sabemos o valor da sua palavra!). Mas esta rocambolesca situação não deixa de ter impactos neste mundo globalizado em que vivemos. Se este caso vem por a nú, - como muitos referem -, que a tal "saída limpa" afinal pode ter mais engulhos do que se previa, também vem indiciar que o seu impacto quer nas bolsas, nacional e europeias. tem levado a perdas consideráveis, mostrando com clareza a fragilidade do euro como moeda aglutinadora do espaço europeu. Somos um pequeno país, mas os impactos financeiros desta monta fazem-se sempre sentir além fronteiras, e estamos apenas a falar da Europa, para não falar doutros danos colaterais ou não, em países como o Brasil ou mesmo os EUA. Numa Europa tomada de ventos ultraliberais esta não é seguramente uma boa notícia. (Se ela vem por em causa a nossa recuperação, também não deixa de causar embaraço na restante Europa. Porque a Europa também tem os seus casos que vai mantendo escondidos, a começar pela Alemanha que, ao que parece, até tem medo de os ver surgir). Esta estrada pedregosa que se está a percorrer ainda vai no seu início não se sabendo ainda se os próximos capítulos da nossa famosa novela não nos reservarão ainda mais surpresas. Com tanto controlo, com tanta análise, com tanta "troika", afinal é possível fugir a esta malha mais facilmente do que um camelo passar pelo buraco da agulha, para usar a imagem bíblica. Quando se pune um país e as suas gentes por ter vivido acima das suas posses, - asserção errada liminarmente -, como será que esta outra gente, os atores principais desta novela ficarão depois disto? Até ao dia de hoje a família Espírito Santo poderá pedir a insolvência com o intuito de se proteger  dos credores. E depois? Será que as suas vidas serão afetadas? Será que terão que dar as casas e o carros para pagar as dívidas? Ou tudo ficará igual, mostrando com clareza meridiana, que de facto existem filhos e enteados neste mundo emaranhado da promiscuidade de política, economia e finança? Quanto à justiça ninguém a vê nestes casos, que são mais de polícia do que doutra coisa qualquer. Duma coisa estamos seguros, até ao momento tudo parece estar espantado com o caso, só falta saber quem no fim irá pagar a fatura.

Friday, July 11, 2014

Ainda o caso BES

Voltamos de novo ao caso que envolve a Grupo BES e a família Espírito Santo porque achamos que algo de muito complexo pode daí advir. O Banco de Portugal tem-se desdobrado em informações sobre a solvência da instituição de crédito mas isso não chega para acalmar os investidores e, sobretudo, os mercados sempre atentos ao que se passa. O sinal que ontem a Bolsa deu como PSI-20 a registar uma queda histórica é bem disso o exemplo. O nervosismo da União Europeia e do FMI em torno deste caso não podem se ignorados. Um banco sistémico, um banco do regime como alguns lhe chamam, está a passar um mau momento, que só agora se tornou visível mas que, desde à muito, já se falava à boca pequena. E algumas dessas preocupações vinham precisamente de dentro do seio da comunidade bancária o que, só por si, não deixa de ser preocupante atendendo ao recato com que os banqueiros gostam que falem deles e das suas instituições, eles tão avessos à publicidade sobre eles próprios. A contaminação que parece já atingir a PT e que não deixou de ser espelhada ontem no PSI-20, não pode deixar de preocupar todos nós. Esta situação não deixa de estar a criar problemas à própria dívida externa portuguesa com as consequências daí resultantes. A maneira como o Banco Central está a lidar com o caso também não, porque não basta dizer que o BES tem reservas para fazer face a possíveis incumprimentos. O tentar dizer algo sem dizer coisa alguma não será a melhor maneira de tranquilizar os mercados. Outros casos anteriores de supervisão que depois se traduziram em problemas bem mais graves ainda estão presentes na mente de todos para que nos deixemos embalar por palavras de mais ou menos circunstância. Mas a maneira como o governo parece passar ao lado não beneficia a especulação. Porque não é verdade que o governo esteja na expectativa, porque se tal fosse o caso, então ainda seria mais preocupante. No entretanto, os depositantes que pretendessem levantar algum dinheiro têm tido dificuldades em fazê-lo em algumas agências do BES. Estas informações vão circulando e a agitação das pessoas começa a fazer-se sentir. A chegada de Vítor Bento não irá resolver a situação, pelo menos no curto prazo, e o comportamento das ações do BES na última semana é disso um bom exemplo. Depois de se saber que Ricardo Salgado andou por aí a pedir a investidores para ajudarem o banco e com as recusas do próprio governo, depois dos angolanos e até, ao que se diz, dos venezuelanos, dá bem a mostra do que temos pela frente. A banca que foi aquela que nos colocou verdadeiramente nesta situação em que todos estamos está agora a receber, também ela, a respetiva fatura. Mas aquilo que aqui é importante reter é se o BES será capaz de resolver os seus problemas se teremos todos nós, de novo, de pagar a fatura final. Essa é a grande questão, sobretudo quando se sabe que anda no ar um pedido de insolvência para a proteção de credores com vista à sua reestruturação o que de todo não nos pode deixar tranquilos sobre o que por aí virá no futuro.

Wednesday, July 09, 2014

Uma mão cheia de equívocos

Voltamos ao tema das primárias no PS porque sendo este partido um partido importante da governabilidade, aquilo que nele se passa pode bem determinar o rumo do nosso futuro coletivo. Já em tempo oportuno aqui fizemos notar a nossa incapacidade de entender aquilo que se está a passar no PS, sobretudo esta sede de poder que é quase doentia. Continuamos a não entender porque só agora António Costa achou por bem avançar. Sabemos que o caminho dum líder na oposição não é fácil e, talvez por isso, Costa quis evitar esse caminho das pedras metendo por um atalho que o leva a reivindicar a liderança próximo das eleições legislativas e quando a alternância é mais do que provável. Já aqui afirmamos que, mesmo que achemos Costa melhor líder do que Seguro, não pactuamos com golpes baixos, facadas pelas costas que afinal, só demonstram falta de caráter e isso, só por si, deveria ser impeditivo de alguém ter a pretensão de se candidatar a primeiro-ministro. Mas a nossa estupefação vai ainda mais longe. Temos assistido ao contar das espingardas, temos visto os apoios deste e daquele, mas Costa consegue uma unanimidade que achamos perigosa, quando vemos gente ligada ao PCP como Luís Represas ou João Gil no apoio a Costa, quando vimos gente próxima de partidos ainda mais à esquerda e, como se já não fosse preocupante, agora até tem o apoio do genro do Presidente da República! Coisa curiosa e estranha esta de tamanha unanimidade que faz lembrar uma outra que foi da esquerda parlamentar mais radical à direita parlamentar mais radical, na convergência para o derrube do governo de Sócrates. Estas unanimidades com tal latitude sempre nos causaram preocupação porque achamos que ninguém consegue agradar a um espetro tão amplo assim. Daí o questionarmos a quem favorece tal situação. Afinal quem está interessado em ver Costa líder do PS? E porquê? Algumas possíveis respostas já as demos em crónica anterior e não vamos voltar a repeti-las aqui. Mas que tudo isto é estranho não há dúvida. O enfraquecimento do PS é algo apetecível para outras forças e esta luta intestina não deixa de favorecer essas forças, mesmo com a aparência de fortalecer este partido. Apenas deixamos aqui algumas perguntas que ainda não tiveram resposta até agora. Porque é que Costa só agora aparece se teve duas oportunidades antes e as rejeitou? A quem serve esta candidatura nascida deste modo? Será que a coberto duma candidatura da esquerda se pretende estender a passadeira à direita? Quem souber que responda. Por nós, continuaremos atentos a esta novela que parece ainda ter muitos episódios pela frente.

Tuesday, July 08, 2014

Vergonha? O que é isso?

Depois do triste espetáculo que foi a nossa passagem pelo mundial do Brasil, todos esperávamos que os jogadores, sobretudo aqueles que mais são o símbolo da seleção tivessem algum recato. Depois de tanta humilhação, qualquer um de nós, talvez tivesse vergonha de sair à rua. Mas estes rapazes não sabem o que é isso. Desde que o dinheiro lhes caia na conta, as mulheres circulem em seu torno e os copos proliferem com abundância, para quê preocuparem-se com isso de vergonha. Tudo isto a propósito das férias milionárias do capitão da seleção. Todos temos direito a férias e ao nosso descanso mas quando isso passa pela ostentação que humilha os portugueses em geral que passam por enormes dificuldades, vai uma grande distância. Ilha privada, iate de luxo, amigos e família em redor. Porque não? Entendíamos isso mas no recato, sem ostentação depois de terem passeado a sua incompetência aos olhos de uns milhões em todo o mundo com dinheiro de todos nós. Mas deste rapaz tudo é de esperar. Será que ainda se lembram da sua chegada ao estágio da seleção, à alguns anos, de helicóptero! Talvez alguém lhe tenha chamado à atenção porque não mais se repetiu. Mas isso diz bem da mentalidade e personalidade duma pessoa. Sabemos que estes rapazes são oriundos de zonas problemáticas, daí que o seu sucesso, financeiro e não só seja louvável, mas quando isso se transforma em ostentação, em humilhação até para os seus companheiros menos afortunados, vai uma grande distância. Afinal os portugueses sentem-se envergonhados pela maneira como viram ser representado o seu país num evento mundial. Os protagonistas parece que não. Afinal para eles nada acontece. Continuam na mesma vida, não enfrentam o desemprego como muitos milhares dos seus compatriotas, e quer se saiam bem ou mal, para eles tudo permanece na mesma. Pensamos que nem entendem o que se está a passar no seu país. Este é o mundo do futebol. Este é o desporto que reduz estes rapazes a isto que é muito pouco. Há muitos anos atrás, em entrevista a um jornal, um conhecido jogador dum grande clube nacional, depois de questionado pelo seu futuro e porque não ocupava o tempo que lhe sobrava com alguns estudos que lhe poderiam ser úteis mais tarde, afirmava que não tinha tempo. Porque treinava de manhã e de tarde, nos intervalos jogava bilhar e à noite tinha que ver a telenovela. Ao recordar este episódio, bem como o conhecimento direto que tive de gente da bola quando ainda adolescente, veio-me à memória uma frase de Di Stéfano sobre um determinado jogador, quando disse "ele poderá ser um grande jogar se não esquecer os livros, caso contrário, não o será jamais". Os nossos rapazes da bola ainda têm um longo percurso a fazer para perceber isto, se é que algum dia, o conseguirão entender.

Monday, July 07, 2014

No aniversário de Mahler uma recordação de juventude

Gustav Mahler nasceu em Kalischt na Boémia, que na altura pertencia ao império austro-húngaro e atualmente é território da República Checa, no dia 7 de Julho de 1860 e viria a falecer em Viena a 18 de Maio de 1911. Mahler foi um grande maestro e compositor de origem judaica-austríaca. Atualmente, Mahler costuma ser visto como um dos maiores compositores, lembrado por ligar a música do século XIX com o chamado período moderno, e pelas suas grandes sinfonias e ciclo de canções sinfónicas, como, por exemplo, Das Lieb von der Erde (A Canção da Terra). É considerado também um exímio orquestrador, por usar combinações de instrumentos e timbres que pudessem expressar as suas intenções de forma extremamente criativa, original e profunda. As suas obras (principalmente as sinfonias) são geralmente extensas e com orquestração variada e numerosa. Mahler procura romper os limites da tonalidade, posto que em muitas de suas obras há longos trechos que parecem não estar em tom algum. Outra característica marcante das obras de Mahler é um certo caráter sombrio, algumas vezes ligado ao funesto. Descobri a música de Gustav Mahler à muitos anos atrás pela mão do proprietário da discoteca - loja de discos - Melody (entretanto já desaparecida) que se situava no início da Rua de S. António, hoje 31 de Janeiro. Ia comprar um disco (de vynil à época), provavelmente do artista da moda nessa altura, quando esse senhor que me conhecia bem, me teu na mão a 8ª sinfonia de Mahler e me pediu que a ouvisse. Ele sabia que eu gostava de música clássica. Desci à cave onde nessa altura existiam umas cabines para escutar trechos dos discos e lá uma das suas empregadas começou com início da sinfonia, uma abertura pungente com órgão a sublinhar que me impressionou. A seguir foi o desfiar de mais um trecho ou outro mas a primeira impressão tinha ficado e foi avassaladora. Não comprei o disco da moda mas trouxe este. Era um duplo disco de vynil. Cheguei a casa e comecei a audição. Se já tinha ficado impressionado com o que tinha ouvido, depois foi o deleite. Pela noite fora, só com os sons a rasgar a noite. Emocionei-me. Era algo que nunca tinha ouvido antes. Caminhei para o fim, e se o princípio era pungente o final era poderoso, avassalador, sem deixar margem para dúvidas. Estava de facto perante algo monumental. (Podem escutar o trecho final aqui  https://www.youtube.com/watch?v=y5aRbgr0m9U ). Muitas vezes escutei esta obra que era apresentada numa capa pouco apelativa - nessa época as capas dos discos eram autênticas obras de arte - mas o conteúdo era o que mais interessava. Depois veio o CD e, já dispondo de dinheiros próprios, comecei por transformar este disco em CD e depois foi toda a obra sinfónica de Mahler. E quanto mais ouvia mais me surpreendia, mais gostava. Passou a fazer parte dos meus eleitos. A ser o chamado "disco de cabeceira". Ficou e continua. A grande música é eterna e a de Mahler mais do que qualquer outra. Feliz aniversário, Gustav Mahler!

Friday, July 04, 2014

O milagre do país virtual

Depois de termos assistido, esta semana, ao último debate da nação ficamos convencidos daquilo que já vínhamos pensando há muito tempo, a saber, da injustiça que muita gente vem fazendo a este governo. Passamos a explicar. Toda a gente anda por aí a dizer que a dívida sobe. Não é bem verdade porque estamos a criar condições para irmos a Bruxelas metê-los na ordem. Na senda dum qualquer Afonso Henriques montado no seu cavalo. (Agora são muitos cavalos porque os tempos são outros e a dignidade desta nação próspera a isso impõe). Já lá vai o tempo em que faziam o que queriam de nós. Então e o desemprego, dirão outros. É evidente que ele está a diminuir. Mas logo os detratores vêm dizer que é fruto da emigração, das pessoas que já não se inscrevem nos centros de emprego, etc. Tudo uma refinada mentira. O desemprego ainda é elevado porque existe um bando de malandros que não querem fazer nada vivendo à custa dos contribuintes. E para isso basta ir a um qualquer aeroporto para se ver a quantidade de aviões que chegam com ex-emigrantes - e não de chineses como dizia o outro -  que querem regressar porque no estrangeiro não conseguem as condições que por cá lhes são oferecidas. Esta é a verdadeira terra onde jorra o leite e o mel. E ainda nos falam dos países emergentes! Vejam o Brasil que nem é capaz de fazer uns estadiozitos para a bola poder rolar, vejam a India tristemente mais conhecida pelos seus violadores do que por qualquer outra coisa. Entre nós nada disso existe. E se há muito desemprego jovem é porque os jovens de hoje não querem fazer nada. Uns verdadeiros calaceiros. E de quem foi o mérito? Do governo obviamente embora hajam por aí uns quantos que pretendem negá-lo. Depois, como já não têm mais do que falar, lá vêm com a arrastada lengalenga do aumento do salário mínimo. Para que querem aumentá-lo? Para que o povo gaste mais, se empanturre com bens materiais que não servem para nada, alimentando sabe-se lá que mais vícios? E a economia? Pois ela está florescente. Nunca se criaram tantas empresas como hoje. É certo que algumas fecham mas por cada uma que fecha mais duma dezena se mantém. E ainda são capazes de se rirem quando se fala em milagre económico. Desavergonhados. Esta é a dura realidade que muitos pretendem esconder. É só ver mercadorias a sair a caminho do resto do mundo. Mas os detratores não desistem e vêm logo dizer que o défice é que é o problema. Não vêm que ele está a baixar a olhos vistos, que a Europa se curva a nós como um país cumpridor e arrumado. Até a Alemanha anda roída de inveja. É assim mesmo porque descendentes de Viriato não deixam os seus créditos por mãos alheias. Mas os detratores não desistem. Vêm agora, à falta de melhor, falar da banca. A banca que tanto ajuda as populações e as empresas. Gente altruísta que merecia melhor avaliação popular. Até trouxeram à colação que o ex-presidente dum grande banco se tinha esquecido de pagar os seus impostos. E não percebemos qual o escândalo. Com certeza que um homem com os inúmeros problemas e afazeres que tem lá terá que se esquecer de qualquer coisinha. Ninguém é infalível. Não se pode comparar com alguns que por aí andam que não têm nada com que se preocupar e não os pagam. Esses sim devem - e têm - o merecido castigo. E o ensino? Digno dum qualquer país evoluído. É pena que os professores não o reconheçam. Quanto aos alunos não nos surpreende, afinal o que não querem é estudar. O primeiro-ministro desta nação até afirmou que gostaria de ter pleno emprego. É caso para dizer, ó pobre de Cristo, não se amofine mais com tão bizantina questão. Ele só não existe porque temos por cá um grupo de gente que não quer fazer nada apenas e só para que os governantes esforçados não atinjam os objetivos. Já o afirmamos atrás e voltaremos a fazê-lo por mais que custe a esta gente. Porque a verdade tem que ser reposta. O seu a seu dono. A César o que é de César. Por todas estas razões é com dificuldade que entendemos que um certo grupo de pessoas - sempre as mesmas e já bem conhecidas - andem por aí a difamar o executivo. Vejam só os sindicatos que pretendem negar o sucesso do governo apenas e só para manterem a sua agenda política nem sempre muito clara. Este governo, por mais que custe a muitos, está alinhado - pensamos que é a palavra que hoje se usa - com a esteira heroica dos nossos maiores. De Nun'Álveres a Camões, do Infante D. Henrique a Vasco da Gama, já para não falar em D. Manuel ou no Marquês de Pombal. O executivo é um digno seguidor desta senda gloriosa. (Vejam como foi expulsa a "troika". Até nos fez lembrar os campos de Aljubarrota). É pena que existam pessoas que não percebem isso e só a sua ignorância - e alguma má-fé convenhamos - consegue dizer coisas deste jaez. Por estas e por outras é que viemos aqui fazer justiça. Não nos sentíamos bem se não o fizéssemos. Assim, pensamos ser justo dar vivas à maioria e ao governo esforçado deste país virtual.

Thursday, July 03, 2014

23 anos depois a memória...

Cumprem-se hoje 23 anos sobre a morte de meu avô materno e padrinho José. 23 anos de memórias que se foram fixando com o tempo. 23 anos de saudades que o tempo não consegue apagar. Em torno deste dia, gostaria de vos contar uma pequena estória. Estória real embora mais pareça uma fantasia. Meu avô morreu muito rapidamente desde a altura em que ficou acamado. Pediu-me para lhe construir um jazigo para que a sua mulher - minha avó e madrinha - viesse para junto dele. (Foi um casamento feliz que durou mais de 50 anos!) Assim fiz. Depois da muita burocracia camarária - até parece que ia construir uma casa - lá consegui a licença para a construção. Todos os dias o meu avô me perguntava pela evolução dos trabalhos. Dizia-me sempre que apressasse a construção para que ele, finalmente, pudesse morrer. Assim se foi fazendo. Até que no dia em que ele ficou pronto, lá o fui visitar e ele me fez a pergunta de sempre: "Então, o buraco já está pronto?" Disse-lhe que sim, a medo, porque receava que a "profecia" se viesse a concretizar. E assim foi. Ele disse-me: "Agora já posso morrer em paz". Ao fim do dia, quando vim do emprego voltei à sua casa e ele disse, naquela voz firme (talvez, dura) que ele utilizava nos momentos mais solenes: "Despede-te do teu avô porque não mais o verás com vida". Fiquei atónito. Saí preocupado. O meu avô sempre foi - é - a minha figura tutelar juntamente com a minha avó. Fui para casa com um aperto no coração. Tentaram animar-me mas nada, nem ninguém, o conseguia. Tinha um mau presságio. Estava a tentar jantar quando o telefone tocou para me dar a notícia do seu falecimento. (Ocorreu no dia seguinte ao término da construção do jazigo).  Nunca esquecerei esse momento. Ainda hoje o recordo dolorosamente. Passados 23 anos, parece que foi ontem. Ele que tanto me ensinou. Quanto valores ele me inculcou. Quantas lutas travou em meu nome. 23 anos depois a saudade aí está, pungente, corroendo a existência desta caminhada das pedras da minha vida. Mas a memória ficou para que perdure esse alguém que foi importante na minha vida. Espero que esteja em paz, em nome do que fez, do que lutou, do que amou, daquilo que me ajudou. Descansa em paz, avô José!

Wednesday, July 02, 2014

O dia aziago dos vet's

Ontem foi dia de visita dos vet's que regularmente passam por casa para ver os meus cachorros, vaciná-los e tudo o mais que seja necessário. Como sempre, o Nicolau teve que ser tranquilizado dado o mau feitio que exibe para com os vet's. A Tuxa não o podendo ser, exibiu o seu porte ainda altivo apesar da doença terminal que a apoquenta à mais de um ano. Para surpresa dos vet's ela continua forte apesar do cancro e ainda esteve a pouco de distribuir umas mordidelas. Uma guerreira esta minha companheira. Não deixou de protestar durante todo o tempo que os vet's estiveram por cá, e foi bastante. Sobretudo, quando os vi-a a consultar o Nicolau, seu companheiro e filho adotivo que ela criou. Para quem achava, há mais de um ano, que ela não resistiria até à próxima vacinação, falhou e ficou surpreendido com a força que
ela ainda ostenta. Uma grande companheira nos bons e maus momentos. Aqui vos deixo duas fotos para celebrar o evento. Na primeira o Nicolau verdadeiramente prostrado, que é a única maneira de o vacinar e o consultar devidamente. Contudo, e apesar disso, ainda teve que ser açaimado porque ele não é de brincadeiras. Na segunda, a Tuxa, com o seu tumor que já lhe afetou a vista esquerda, mas que mesmo assim, ainda está com muita força e determinação. Também teve que ser açaimada porque não costuma dar muita tolerância aos vet's de quem já é sobejamente conhecida, sobretudo, e tal como o Nicolau, pelo seu mau feitio.

Gluck - No 300º aniversário do seu nascimento

Christoph Willibald Gluck foi um compositor musical de origem alemã. Juntamente com seu principal libretista, Ranieri de Calzabigi, Gluck foi responsável pela “segunda reforma da ópera”. O impacto dessa reforma ecoou durante muito tempo na história da música. Por conta disso, durante mais de um século a obra de Gluck representou uma fronteira intransponível. Nenhuma ópera séria anterior à sua reforma era representada de forma regular. Gluck nasceu a 2 de Julho de 1714 - cumprem-se hoje 300 anos - em Berching e viria a falecer em Viena a 15 de Novembro de 1787. Das suas obras catalogadas como sérias destaco a "La Clemenza di Tito" (1752), provavelmente um das suas obras mais conhecidas e interpretadas. Dentro do género da ópera francesa destaco "Armide"(1777) uma obra de grande fôlego e brilhantismo. É sempre redutor ficar agarrado a uma ou outra obra, quando existem tantas e de tanto valor e riqueza musical. Mas seria enfadonho estar a falar de todas elas, dum vasto espetro de reportório de elevada qualidade. Este já será um bom pretexto para se escutar a obra deste grande compositor alemão que tanto marcou a história da música, sobretudo, no capítulo operático.

Carlos do Carmo - Um Grammy para o Fado

Portugal país de Fado e de fadistas. Sina nacional, de saudade e dor, amores nem sempre correspondidos. O Fado canção nacional viu reconhecidos os seus pergaminhos pela mão dum dos seus mais notáveis intérpretes, Carlos do Carmo. Depois e o Fado ter sido eleito património imaterial da Humanidade, agora este "Grammy" vem confirmar essa tendência. Carlos do Carmo é a voz, a voz do Fado. Um artista reconhecido pelo conjunto da sua obra que nos deve orgulhar a todos, gostemos ou não de Fado. Porque é de Portugal que se fala e, sobretudo, daquilo que é a chamada "alma portuguesa". Ontem foi um dia grande, quando se soube deste prémio. Parabéns, Carlos do Carmo. Através de Carlos do Carmo é a voz e a alma lusitana que se erguem. É a alma de todos nós que está em festa.

Sophia de Mello Breyner Andresen finalmente no Panteão Nacional

Hoje é o dia, um dia grande para a cultura e as letras portuguesas. Finalmente Sophia de Mello Breyner Andresen terá o seu lugar no Panteão Nacional. Uma figura iminente das letras portuguesas, mas que estendeu a sua participação cívica muito para além delas. Nascida no Porto a 6 de Novembro de 1919 viria a falecer a 2 de Julho de 2004. Foi a primeira mulher a receber o Prémio Camões em 1999, importante galardão literário a que poucos têm a honra de almejar. A sua vasta obra literária estende-se por várias décadas onde o aprimorar da linguagem é sempre constante. Gostava de citar aqui dois livros que muito me impressionaram, livros já dum período mais próximo, são eles "A menina do mar" e "Mar nosso". É injusto e redutor ficar-me por aqui, mas estes tiveram uma forte influência em mim. Paralelamente à sua obra literária, teve uma intervenção cívica importante em tempos difíceis onde a ditadura do Estado Novo imperava. Casada com o jornalista Francisco Sousa Tavares, jornalista também conhecido pela sua intervenção cívica e que teve um papel importante a quando da rendição de Marcelo Caetano às tropas de Salgueiro Maia no largo do Carmo em 25 de Abril de 1974. Mas para além de todas as homenagens que lhe poderemos fazer, a mais importante de todas é ler a sua magnífica obra sempre bela e inspiradora. E já agora, tragam de volta aos currículos escolares as obras de Sophia. Na minha juventude, enquanto estudante, a sua obra fazia parte dos programas de Português e de Literatura. Aliás, o último exame que fiz de Português teve por base um texto de Sophia de Mello. É tempo de se voltar a esses tempos porque só assim a sua ida para o Panteão Nacional tem sentido. Dez anos depois da sua morte, a escritora e poeta de quem nunca nos despedimos, vai para o Panteão Nacional. Justa homenagem a uma mulher de cultura num tempo em que a cultura anda tão arredada do espetro nacional.

Tuesday, July 01, 2014

Há dias tristes assim

Há dias tristes e este foi um deles. Pode parecer estranho que um pequeno ser mobilize os sentimentos duma forma avassaladora. É do conhecimento geral que os animais - todos o tipo de animais e aves - representam para nós algo de muito importante. Eles são uma espécie de espelho da alma (e porque não da consciência) de cada um de nós. Hoje era o dia da visita do veterinário aos nossos cães. Normalmente vêm a nossa casa. Hoje não foi exceção. É sempre um dia com alguma agitação, só que não sabíamos que depois de tudo se acalmar, iríamos assistir à morte do nosso canário. Era um ser lindo que tinha vindo da casa do meu sogro. Teria mais de dez anos. Estávamos conscientes de que caminharia para o fim. E depois de tudo serenar, ouvimos um estertor na sua gaiola. Era ela que partia. Mais um ser que nos deixava depois de muito ter sido amado. Para muitos poderá ser bizarro que isso nos tenha afetado. Mas não sejam apressados a julgar. Na nossa casa os animais têm um papel importante. Damos comida aos pássaros que por aí esvoaçam e nos alegram com as suas visitas. Temos locais com água onde eles bebem ou, simplesmente, tomam banho nos dias de maior canícula. Temos espaços para os gatos vadios que vamos alimentando, já para não falar nos nossos cães e noutros, vítimas descartadas pelo destino, que alimentamos, por vezes, percorrendo largas distâncias. E ainda um espaço reservado onde são sepultados todos aqueles que nos ajudam e partilham a caminhada da vida. Poderá parecer bizarro mas não é. Pelo menos para nós. Gente que ama os animais como se de si próprio se tratasse. Este canário que hoje nos deixou - era perto do meio-dia - era um desses casos. E era também a ligação que ainda restava à memória veneranda de meu sogro. A minha mulher ficou destroçada porque era o último elo que existia que a ligava ao seu pai. Hoje mais um partiu. Mais um lugar vazio num coração que nunca se habitua à perda. Um coração que já viu muitos partirem e que, assim o espero, veja partir os que ainda temos cá em casa. Não gostaríamos de deixar nenhum para trás talvez a sofrer. Por isso, estamos tristes. Por isso, temos a sensação de que é mais um ser que não ficará para trás e isso já é algo que nos faz atenuar a dor. Hoje mais um ser voou para o outro lado do espelho. Para o Paraíso, se é que existe um para estes seres inocentes e indefesos que dão colorido e alegria à nossa existência. Hoje o nosso "amarelinho" - era assim que lhe era costume chamar - deixou-nosu. Há dias tristes e este foi um deles. Que estejas em paz!

Rebate de consciência ou talvez não

Assistimos na semana passada ao inimaginável. O FMI vem dizer que teria sido melhor que alguns países tivessem reestruturado a dívida! Bem sabemos que esta afirmação provém dum gabinete de técnicos muito conceituados dessa instituição. E que depois deste discurso teórico voltaremos a ouvir a última palavra de Christine Lagarde que politicamente irá afirmar o seu contrário. Mas o simples facto de haver alguém nessa instituição a reconhecer o fracasso da política de austeridade é algo de surpreendente. Quem nos segue neste espaço porventura já se cruzou com muito do que foi escrito a defender a reestruturação da dívida. Porque ela facilitaria o ajustamento num período mais longo, beneficiando os credores que poderiam ver os seus créditos ressarcidos sem que as economias fossem asfixiadas. E se estes senhores dizem que a Grécia deveria ter seguido esta política logo no início, assim como Portugal e a Irlanda, quem seremos nós para os desmentir, quando afinal já há muito que dizíamos que esse seria o caminho a trilhar. Mas chegados a este ponto pensamos que se devem colocar algumas questões, desde logo, a de saber porque afinal não foi seguida essa via? Com certeza que estes economistas já teriam esta perspetiva sedimentada antes e não foi só agora, à posterior, que viram isso. A ser assim, uma outra questão se levanta, a de saber porque é que politicamente o FMI institucional sempre defendeu o seu contrário? Não queremos aqui admitir que estavam adormecidos e só agora acordaram. Não queremos acreditar que só depois de ver os impactos negativos nas economias, com a destruição quer da classe média, mas também, do tecido social é que fazem estas afirmações. Pensamos em algo mais inverosímil e perturbador. Será que esta atitude que o FMI tomou até agora foi apenas um erro técnico ou, por outro lado, se inseria numa estratégia ideológica de nivelamento por baixo, com a destruição dos estados sociais, muito dentro duma linha política que tem campeado pelo mundo ocidental nos últimos anos e que tem vindo a destruir os maiores valores que a Europa conquistou no pós-guerra? Seja lá como for, a dúvida ficará sempre nos espíritos de todos os que se preocupam com estas questões. Agora a reestruturação não é já mais uma ideia bizarra dum grupo de esquerdistas. Agora passou a fazer parte do léxico do próprio FMI. E restará sempre a perturbante pergunta, afinal porque foi diferente, afinal porque foi assim?