Turma Formadores Certform 66

Wednesday, October 31, 2012

"Happy Halloween"!

Mais uma vez chegamos à noite de Halloween. Mais uma estrangeirice que entrou na nossa cultura que tudo absorve como esponja em água. Embora nos países de língua inglesa - USA, Canadá, Irlanda e Reino Unido -, donde é originário, - como um rito de culturas ancestrais -, já se venha a comemorá-lo durante esta semana, é na noite de 31 de Outubro para 1 de Novembro que ela é maior, mais intensa, uma espécie de S. João à moda do norte. Hoje esta data começa a fazer parte do nosso calendário, quer nas muitas festas noturnas que por aí se celebram, quer até, ironia das ironias, nos infantários e nas escolas, donde se vai criando o celebrar duma data estranha à nossa cultura que é vendida aos mais jovens como algo intrínseco entre nós. Fenómeno da globalização ou nem por isso, ela vai ocupando espaço, como tantas outras importações que preenchem os nossos hábitos e costumes. Queiramos ou não, o Halloween aqui está. Gostemos ou não, ele é celebrado. Como não penso que venha mal ao mundo por isso, à que nos juntarmos à festa. Como diz o povo, "se não podes com eles, junta-te a eles". Aqui está um aviso interessante. Por isso, vamos lá para a noitada!

Tuesday, October 30, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 216

Mais uma semana de confusões, mais uma semana de ignomínia. Quem lê estes comentários breves pode ficar com a sensação de que somos os mais ferozes adversários deste governo. Nada mais errado. Qualquer governo que neste momento estivesse no poder teria que fazer o ajustamento que nos é imposto pelos credores e não há austeridade sem dor como costumamos dizer. Mas as trapalhadas em que este governo se envolve dão uma imagem de insegurança, de impreparação, de amadorismo que são confragedores. Para além da imagem externa. A política financeira seguida está errada, e disso ninguém tem dúvidas. Que dizer quando em apenas um ano encerraram 14.000 empresas? Que dizer quando é sabido que Portugal é o país com mais despedimentos por via de falências? Portugal, neste momento, está face a um desastre económico sem precedentes. O FMI já o reconheceu e até pertende aliviar a mão. Gaspar já não garante o regresso aos mercados em Setembro de 2013, algo que já afirmamos ser impossível por diversas vezes, a menos que conte com o apoio do BCE. Gaspar já não garante o sucesso do programa de ajustamento. Tudo isto depois de Christine Lagarde ter afirmado que o ajustamento em Portugal poderia ser um problema e que tinha aumentado o risco dum falhanço. Tudo isto já vimos defendendo há imenso tempo. Era evidente o caminho de terra queimada que o governo está a fazer com a sua política do "custe o que custar". Face a este desastre nacional vem agora Passos Coelho defender uma "refundação" - que será isso ao certo? - do programa de austeridade! Coisa que parece ninguém saber, como ontem aconteceu com Aguiar-Branco, que remeteu qualquer explicação para o PM. Até vem instigar o PS a unir-se a tal! O mesmo PS que Passos Coelho ignorou nas cinco revisões que já foram feitas ao "memorandum" e até negociando com Bruxelas nas costas da AR e logo do PS. É neste emaranhado de confusões que vai começar esta semana a discussão do OE 2013. E aqui, também o governo tem algumas dificuldades. Conta com a oposição interna de muitas figuras cimeiras do PSD, e quanto ao CDS/PP nem se fala. José Manuel Rodrigues líder do CDS-Madeira, já se demitiu do cargo de vice-presidente do CDS nacional para votar contra o OE. Mota Amaral, figura cimeira do PSD, já veio afirmar que votará contra. Daí os apelos patéticos de alguns deputados e de alguns ministros, - até do PM -, quanto à dificuldade que derivará da não aprovação do OE. Porquê tudo isto? Com a oposição em bloco a votar contra, com algumas dissenções entre os partidos da maioria, poderemos estar na eminência dum chumbo. Somos dos que achamos que seria mau para o país que tal viesse a acontecer, mas para que tal não aconteça, será necessário que, também do lado do governo, haja uma abertura para alterações essenciais ao texto, com vista a minorar a austeridade que esmaga o país, que o vai tornando cada vez mais pobre e periférico. Desde logo, a despesa que continua quase igual, quando tem sido do lado da receita que o ajustamento tem sido feito. Quando o FMI já não acredita, ou acredita pouco, naquilo que se está a passar em Portugal, porque não aproveitar para se aliviar a carga deste OE esmagador. Até o ministro da economia, que usualmente anda perdido e calado, já veio dizer que se não existir crescimento não há austeridade que nos valha. (E crescimento mais forte do que o evoluir da dívida, caso contrário, o fracasso está assegurado). Afirmando que a Europa tem que ser nossa aliada e não nos tratar como tem tratado. Afinal a mensagem do FMI parece vir ao encontro destas ansiedades, embora o PM pareça não pensar assim, de braço dado com a sua alma mater Merkel. Se não se arrepiar caminho não iremos lá. O país afundar-se-á na miséria - já lá estamos! - donde será muito difícil sair. Estejamos atentos aos sinais que virão da discussão do OE 2013 porque eles são fundamentais para sabermos o rumo que seguiremos, se o do empobrecimento do "custe o que custar" ou de algo mais ajustado que permita o crescimento e o emprego.

Monday, October 29, 2012

"Um roubo ainda sem ladrões" - João Marcelino

Não é meu hábito trazer a este blog artigos de outras pessoas, mas este do jornalista João Marcelino foi exceção, pela atualidade e pelo rigor. As questões, as dúvidas que João Marcelino coloca são, porventura, as mesmas que cada um de nós tem em mente. Este artigo assume assim uma espécie de pensamento coletivo que a muitos vai bailando no pensamento. Daí a sua publicação na íntegra.

 
"Um roubo ainda sem ladrões
por: JOÃO MARCELINO


1. O BPN é o maior escândalo financeiro da história de Portugal. Nunca antes houve um roubo desta dimensão, "tapado" por uma nacionalização que já custou 2400 milhões de euros delapidados algures entre gestores de fortunas privadas em Gibraltar, empresas do Brasil, offshores de Porto Rico, um oportuno banco de Cabo Verde e a voracidade de uma parte da classe política portuguesa que se aproveitou desta vergonha criada por figuras importantes daquilo que foi o cavaquismo na sua fase executiva.

É confrangedor olhar para este "negócio" que agora, a mando do entendimento com os credores internacionais, o Governo fecha com o BIC angolano de Isabel dos Santos e Américo Amorim e dirigido no terreno por Mira Amaral, antigo ministro de Cavaco Silva.

Os números dizem tudo: o Estado português queria inicialmente 180 milhões de euros e o BIC acaba por pagar 40 milhões (menos que a cláusula de rescisão de qualquer futebolista razoável) por uma estrutura financeira que nos últimos dias teve de ser capitalizada em mais 550 milhões para que alguém ousasse fazer o favor de aliviar o Ministério das Finanças deste pesadelo. Para além disso, o Governo pagará as despesas do despedimento de um pouco mais de metade dos actuais 1580 trabalhadores, o que permitirá aos novos donos reduzirem em 30% os actuais 213 balcões do BPN.

2. O BPN não foi vendido, foi "despachado", como era inevitável que o fosse, numa operação que parece decalcada de uma "transferência" futebolística e que, como aquelas, tem uma cláusula que visa poder defender o presidente perante os sócios: se o BPN vier a dar um lucro de 60 milhões nos próximos cinco anos, o Estado português arrecadará ainda mais 20 por cento desta verba.

Em termos financeiros e políticos, este escândalo há muito que está percebido. Ele é o exemplo máximo da promiscuidade dos decisores políticos e económicos portugueses nos últimos 20 anos e o emblema maior deste terceiro auxílio financeiro internacional em 35 anos de democracia. Justifica plenamente a pergunta que muitos portugueses fazem: se isto é assim à vista de todos, o que não irá por aí?

3. O problema está ainda em que o escândalo do BPN (nacionalizado pelo receio do perigo de contágio aos outros bancos no início da grande crise internacional de 2008) é também ilustrativo do estado da Justiça portuguesa.

Dois anos e meio depois, este "caso de polícia" (como é designado em todos os quadrantes partidários, sem excepção) continua sem responsabilidades apuradas. Oliveira Costa, o único detido, anda agora de pulseira electrónica talvez em Lisboa talvez na algarvia Quinta da Coelha, onde os vizinhos são ilustres. Os outros 23 arguidos continuam a ser ouvidos sem pressas.

Entretanto, nos Estados Unidos, Bernard Madoff, que protagonizou a maior fraude financeira de sempre, num ano foi investigado e condenado a 150 anos de prisão.

Esta comparação deveria encher de vergonha todos os poderes em Portugal, até os semi-secretos que mais uma vez por aqui andam omnipresentes e activos, trespassando transversalmente os partidos do arco do poder com os conluios e as traficâncias que uma verdadeira fraternidade bem devia dispensar.

A sociedade portuguesa continuará a ser um corpo putrefacto enquanto a Justiça não funcionar, e sobretudo não funcionar com uma vontade própria que nos faça crer que não anda a reboque nem dos políticos nem das várias lojas que para aí se digladiam.

No caso do BPN há ainda a lamentar a posição discreta do Presidente da República em todo o processo. Apanhado por estilhaços, Cavaco Silva, que sempre faz pedagogia com tudo, "esqueceu" todo este escândalo."
 
Aqui fica, aqui está. Um artigo lúcido para nos desinquietar, para nos fazer pensar, para nos indignar. Como esta situação existem outras que infelizmente povoam o nosso país. Corróiem como cancro, destróiem a democracia. E, nem sempre, os melhores pensadores, aqueles que parecem mais impolutos, são tão inocentes assim. O seu ar grave e sério, por vezes, esconde mais do que isso, escondem o rosto da vilania. Costuma-se dizer que ninguém está a cima da lei, mas neste caso, como noutros, a lei, ou é feita à medida, ou olha para o lado, porque outros valores mais altos se levantam. Numa sociedade de compadrios, de negociatas, será sempre difícil estar fora desta teia. É caso para dizer, as teias que a democracia tece...

Sunday, October 28, 2012

Conversas comigo mesmo - CXVIII

Neste 30º domingo do tempo comum, seguimos a jornada de Jesus para Jerusalém, onde ele estará no próximo domingo. Mas do dia de hoje ressaltam as palavras de S. Marcos: "Chamaram então o cego e disseram-lhe: 'Coragem! Levanta-te, que Ele está a chamar-te'. O cego atirou fora a capa, deu um salto e foi ter com Jesus. Jesus perguntou-lhe: 'Que queres que Eu te faça?' O cego respondeu-lhe: 'Mestre, que eu veja'. Jesus disse-lhe: 'Vai a tua fé te salvou'. Logo ele recuperou a vista e seguiu Jesus pelo caminho". Estamos perante um caminho a percorrer. A cena que nos descreve S. Marcos é muito mais do que um relato da cura de um cego. É uma verdadeira catequese sobre a Fé, apontando-nos, esquematicamente, os diversos passos do itenerário cristão. Tudo começa no reconhecimento de uma certa "cegueira" e no desejo sincero de ver, pois é o desejo de ver que nos abre para a luz e é o desejo de crer que nos abre para a fé. Bartimeu é, por isso, o símbolo do Homem em busca de Deus, do Homem disponível e aberto para a luz da fé e para crer. O segundo passo é o salto confiante para Jesus que nos chama. É o encontro e diálogo com Ele a abrir-nos para a compreensão da nossa vocação e do nosso destino, e para a experiência de Deus como graça, liberdade, perdão, amor insondável. O terceiro passo é a decisão de "seguir Jesus pelo caminho", iniciando assim uma vida nova. Na verdade, tornar-se cristão não é, simplesmente, aderir a um credo, a uma doutrina, a um culto ou religião. É crer em Jesus Cristo e segui-lo pelo seu caminho. E segue-o verdadeiramente, quem se parece com Ele, ou seja, quem o tem sempre como referência e guia para o seu pensar e agir. Claro que o caminho da identificação com Cristo nunca está percorrido. Mas em cada dia podemos dar mais um passo.

Saturday, October 27, 2012

Mudança da hora 2012

Amanhã, dia 28 de Outubro de 2012, tem início o período de "Hora de Inverno". Assim, os relógios irão ser atrasados de 60 minutos às 2h00 da madrugada de Domingo em Portugal continental e na Região Autónoma da Madeira, passando para a 1h00. Na Região Autónoma dos Açores a mudança será feita à 1h00 da madrugada de Domingo, dia 28 de Outubro, passando para a meia-noite (00h00). Entra em vigor a hora solar, a verdadeira hora planetária. É o Inverno que chega aos relógios. É o Inverno que se prefila no horizonte. O Inverno que será, seguramente, percursor duma Primavera radiosa, neste ciclo da vida que se vai renovando.

Friday, October 26, 2012

Equivocos da deocracia portuguesa - 215

O drama em que Portugal mergulhou parece não ter fim à vista. O descrédito do governo aumenta dia após dia. O desnorte governamental é de meter dó. Anunciam-se medidas de manhã que à tarde já não são bem assim e à noite já não são mesmo assim. Quando se esmaga a classe média com cada vez mais impostos, quer-se baixar o IRC para as empresas de 25% para 10%!!! Bem abaixo dos 12,5% da Irlanda. Com isto pretendem atrair o investimento estrangeiro. Nada mais errado. Ele só virá quando sentir estabilidade política que não existe, e na primeira oportunidade, deslocaliza-se para outras paragens. Um filme já visto e revisto mas que o governo insiste em não entender. A desacreditação deste governo começa a assumir formas degradantes. Até o FMI, através do seu representante para Portugal, - Abebe Selassie -, já veio dizer que "a carga fiscal pode diminuir se o governo encontrar forma de cortar na despesa. Não somos dogmáticos." E acrescenta que "a sobretaxa sobre o IRS vigorará até 2014", isto é, até à vigência do programa da "troika", "podendo não ser assim se o governo encontrar, também aqui, equivalente do lado da despesa". Isto é, o próprio FMI está a mostrar ao governo e aos portugueses, que esta pressão fiscal que nos esmaga só existe pela incompetência do governo que não sabe como cortar nas gorduras do Estado. Se maior atestado de incompetência se poderia passar a um governo, este foi um deles, e logo pela mão dum dos elementos que compõem a "troika". A 5ª avaliação, sabe-se hoje, foi muito dura, exatamente porque o governo não soube fazer o seu trabalho de casa, criando condições de forte recessão que não permitem a economia crescer, não criando assim condições para a diminuição do desemprego. A dívida continua a aumentar aproximando-se perigosamente dos 120% do PIB! Daí a consideração pelo FMI de que "aumentou muito o risco de falha do programa em Portugal". Assim, e porque já não acreditam no governo depois da derrapagem das contas neste trimestre, vieram exigir um plano B, para o caso de as coisas correrem mal. Mais uma vez, o FMI a não acreditar no governo e a afirmá-lo duma forma pública e humilhante. E não precisavamos da "troika" para ver-mos que enquanto a taxa de crescimento da dívida não evoluir abaixo da taxa de crescimento da economia não iremos a lado nenhum, seja com que austeridade for. Os estabilizadores automáticos da economia não estão a funcionar devido ao efeito recessivo do modelo aplicado, coisa que o FMI já viu, mas o governo parece ignorar. Os únicos que estão bem, - estão sempre bem! - são os banqueiros, que até se dão ao luxo de vir a terreiro opinar e dar lições ao governo. Os bancos continuam a ter lucros exorbitante apesar da crise. É ver o caso do Santander, do BES e do BPI que quadriplicaram os lucros!!! Depois daquilo que o Estado tem feito pela banca, dos muitos milhões de euros lá enterrados, isto assume foros de escândalo. É preciso não esquecer que a banca não está a apoiar a economia, tendo fechado o crédito a particulares e empresas à muito tempo. Nesta sociedade de contrastes e contradições, apenas ficam as palavras do ex-presidente Jorge Sampaio, "quando vemos o que se está a fazer ao nível social é de pôr as mãos na cabeça". Palavras claras dum grande políticos que tem muito a ensinar a estes "jovens" que andam com ares de ministros, arrastando Portugal para o abismo mais profundo donde será muito difícil sair.

Thursday, October 25, 2012

"O ataque à classe média" - Alberto Regueiras Comunicação realizada no âmbito da Conferência organizada pelo IDEFF, no dia 16 de Outubro: "OE2013: Uma Primeira Leitura")


A cruzada em curso pela destruição da classe média portuguesa segue a um ritmo imparável e desdobra-se em múltiplas frentes. Em dez minutos procurarei sintetizar em que consiste esse massacre e que consequências daí advêm para o futuro de Portugal.
Que instrumentos estão a ser utilizados para abater as classes médias?
- 1º, uma punção fiscal exorbitante e sem precedentes.
O imposto sobre os rendimentos das famílias (IRS) é objecto de sobretaxas variadas, alarga os respectivos escalões para converter e tratar como ricos os que eram meramente remediados ou tinham um nível de vida apenas acima da média. Há quem, não sendo rico, veja a avidez do fisco ficar-lhe com 60% ou mais do seu rendimento anual! Relativamente poupados só os rendimentos mais elevados. A progressividade do IRS é mais forte dentro das fronteiras da classe média.
O imposto indirecto sobre as transacções de bens e serviços já tinha passado, na grande maioria dos casos da taxa mínima de 6% e da intermédia de 13% para a taxa máxima (até ver…) de 23%. Infelizmente, na perspectiva do Governo, não se pode agravar mais. Já passámos o ponto em que quanto mais o IVA sobe menos o fisco colecta.
O IMI era para ser uma enormidade, onde o Governo aparentemente recuou na destruição da cláusula de salvaguarda, que impede ajustamentos súbitos de 1.000% ou 2.000% para prédios antigos e que pelo zelo dos proprietários ainda não estão a cair. No entanto, o IMI deveria idealmente compensar os Municípios pelos encargos com a conservação urbanística do ambiente de vida das pessoas (acessibilidades, limpeza urbana em todas as suas vertentes, zonas verdes e um grande et coetera).
Aumentam as contribuições para a Segurança Social.
Propõe-se uma série de agravamentos vários, incluindo em taxas de toda a espécie que tenham a ver com registos e notariado (por exemplo, licenças para casamento ou divórcio), na emissão de passaporte, no importo único de circulação. Tudo o que mexa será atingido.
Também as aplicações de poupança serão taxadas adicionalmente nas suas mais-valias, mas se houver menos-valias, quem as experimentar que as suporte.
- 2º, uma redução salarial efectiva através do corte de subsídios de férias e /ou Natal, para além da que resulta do aumento de desemprego, que tem efeito directo na redução dos novos salários contratados.
- 3º, uma redução brutal nas pensões de aposentação, independentemente dos direitos dos pensionistas que durante dezenas de anos pagaram as pensões das gerações precedentes e vêem agora impudicamente apoucadas aquelas a que têm indiscutível direito. Não se trata de qualquer benemerência do Estado.
4º, reduções substanciais de todo o tipo de apoios sociais, nas mais variadas circunstâncias, incluindo os subsídios de doença e desemprego e o Rendimento Social de Inserção (RSI). Um deles faz todo o sentido na óptica do Governo – a redução em 50% do subsídio de funeral. De facto, os velhos continuam a morrer (isto é, não fazem greve a esse dever cívico) e os falecidos, claro, nem sequer se manifestam.
5º - Redução significativa de todo o tipo de desagravamentos fiscais anteriormente em vigor, designadamente em matéria de gastos com a saúde ou de educação.
Peço desculpa se não sou mais preciso, mas à data de hoje continua a haver uma nebulosa sobre as propostas orçamentais, já que as primeiras intenções vindas a público poderão ou não ser mantidas consoante a celeuma que levantarem.
É uma forma original de fazer política. Atiram-se para cima da mesa as mais chocantes medidas que a imaginação permite. Se por acaso não levantarem um “tsunami” de críticas, ficam assim tal e qual. Se houver uma reacção tipo “levantamento geral de rancho” ou similar, faz-se apressadamente marcha atrás e tenta-se bater noutro sítio qualquer. A convicção na bondade do que se propões é pois manifesta...
As classes médias, historicamente, foram o fermento das transformações sociais e os actores principais do desenvolvimento económico e da criação científica e cultural.
As classes privilegiadas tradicionais não manifestavam apetência especial por “sujar as mãos” e envolver-se na indústria (primeiro artesanal, depois das revoluções industriais em bases mais ambiciosas, prefigurando a supremacia futura do capitalismo) ou no comércio, preferindo viver dos produtos da terra ou de rendas dos seus vastos domínios, além dos favores do Estado.
Os camponeses sem terra ou cultivando pequenas propriedades não tinham meios que lhes permitissem e aos seus sair da sua mediocridade e era precisa, já nos fins do século XIX princípios do século XX, a sorte de um eclesiástico de província reconhecer em botão num miúdo rural a chama e a inteligência que justificaram a reunião de apoios vários para fazer estudar quem se viria a tornar o Professor Bento Caraça, insigne matemático, pedagogo e humanista. Uma carreira de seminarista, ao menos numa primeira fase, era frequentemente, cá dentro e no estrangeiro, um meio comum para que jovens sem recursos pudessem estudar e afirmar-se socialmente pela sua competência e valor especial.
Através do estudo e do mérito intelectual, ou através do trabalho, da capacidade de realização e da vontade, iam-se a pouco e pouco acrescentando as classes médias, que se tornaram o alfobre dos valores que fizeram andar para a frente as sociedades, e com Portugal não seria de outra forma.
Destruir o tecido social das classes médias é condenar a prazo o País a vegetar na mediocridade, tornando os portugueses mais para ser mandados do que para mandar, como diria Camões.
O processo pode ser muito mais rápido do que se cuida. Portugal tem uma baixíssima taxa de natalidade, das menores da União Europeia a 27. As perspectivas demográficas apontavam já para uma redução significativa da população residente a prazo. Perante o cerramento dos horizontes e o fim da esperança de tantos em fazerem uma vida normal no seu país, de acordo com o seu esforço e capacidades, assistimos ao começo de um processo de “exportação” de cérebros e de mão-de-obra qualificada que, muito provavelmente, já não regressarão a Portugal a título definitivo. Esses portugueses que vão sair são qualitativamente diferentes dos que emigraram nos anos 60. Também havia alguma gente preparada nessa altura, que saiu para não participar na guerra colonial, mas os que o fazem agora são em média inquestionavelmente muito mais bem preparados, com saberes suportados por diplomas que lhes permitirão uma inserção profissional rápida e adequada. Essas competências foram pagas pela comunidade portuguesa e vão ser outros países a beneficiar do nosso investimento em capital humano. Rentável investimento, na verdade!...
Não sairão do País, é claro, a esmagadora maioria dos pensionistas e daqueles que já estão a entrar na fase final da sua vida activa – digamos, acima dos 50/55 anos. Mas saem fatias significativas dos que estão em idade activa e os miúdos que acederão à maioridade não são em número suficiente para os substituir. Com uma pirâmide etária invertida, tornamo-nos num país decadente, de velhos, provavelmente condenado cada vez mais à irrelevância.
Repito, não penso que seja viável aguardar pelo regresso daqueles que partem em busca de oportunidades de vida, trabalho e carreira. Os que partem agora falam línguas, têm conhecimentos técnico-profissionais, não terão por destino o bairro de lata de Champigny. Vão-se inserir nas sociedades de acolhimento, casar, construir família, enraizar-se e virão sim, de quando em quando, fazer uma visita aos familiares e constatar como evolui este País que os empurrou para fora das suas fronteiras, indicando-lhes aliás obsequiosamente o caminho da porta de saída.
Lembro-me da Irlanda que, em certa fase da sua história, perdeu para a emigração metade da sua população.
Gostaria que alguém me provasse que estas perspectivas são erróneas e apocalípticas. Até lá, entendo-as tão razoáveis e credíveis como outras que por aí circulam.
 


Monday, October 22, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 214

Mais uma semana de grandes confusões, num país cada vez mais sem rumo, com a classe média esmagada, classe média que foi, ao longo dos tempos, o pilar do regime. Num país à beira da albanização que esperança nos resta? Cada vez mais vozes se levantam face ao rumo que as coisas estão a tomar. Desde logo, um dos mais acérrimos críticos tem sido o bispo D. Januário Torgal Ferreira. Depois destes ataques à comunicação social, com a quebra de dotações para a Lusa, a única agência noticiosa portuguesa, levou D. Januário a afirmar que "a comunicação social está a viver uma hora vergonhosa". Voz esclarecida, D. Januário colocou o dedo na ferida. Daí a incomodidade que criou. A agência Lusa é uma ponte informativa para o interior do país, longe dos grandes centros dos "media", bem como para com a diáspora. Sem ela a informação sofre um rude golpe. Estes cortes que são feitos em nome da austeridade do "custe o que custar", ou são cegos logo irresponsáveis, ou são cirúrgicos e merecem o nosso repúdio. Talvez a informação seja uma coisa que incomoda os poderes instituídos do momento. Uma tentação que volta e meia aparece vinda dos mais variados quadrantes. Mas o aproximar da entrega do OE 2013 na AR, leva a um cerrar de fileiras que é transversal a muitas classes sociais e profissionais. Desde logo a dos magistrados do ministério público que acham que o PR deveria pedir a fiscalização preventiva do TC, visto que, segundo eles, "o governo continua a ignorar a Constituição". Mas a Igreja que tem sido uma das vozes mais críticas no momento, não deixa de vir a terreiro de novo. Depois de D. Januário, foi Frei Fernando Ventura, um frade franciscano que por diversas vezes tem vindo a terreiro elevar a sua voz contra aquilo que considera errado. Frei Fernando Ventura clama com todo o vigor da sua voz: "Acabou a vergonha". E coloca o dedo na ferida dos que tudo têm face àqueles que vão perdendo o pouco que ainda tinham. Falou de desnorte, de medidas avulsas sem olhar às consequências, de reformas milionárias - na casa dos 350.000 euros/mês (!) - que davam para "manter o infantário que giro em S. Tomé durante 17 anos, apenas um mês dessa reforma"! "Por tudo isto", diz Frei Fernando Ventura, "peço desculpa aos portugueses". Mas também pede desculpa por aqueles que sabendo destas situações não as taxam, deitando sobre os ombros da classe média e não só, a canga que a vai esmagando, que a vai destruindo, aniquilando assim um dos pilares do regime. E quando se diz que ou é isto ou o dilúvio, tal não corresponde à verdade. Portugal já recebeu cerca de 80% daquilo que tem direito do acordado com a "troika", temos que começar a preparar-nos para ir aos mercados e para crescermos, como temos feito e continuaremos a fazer, porque com "troika" ou sem ela, o dinheiro que de lá tem vindo está a chegar ao fim. O problema é que de crescimento não se vê nada, embora se fale muito dele, e enquanto a economia não crescer não interessa a austeridade que se aplica, nada vai resultar, a não ser o empobrecimento do povo e da nação. Como diz Manuela Ferreira Leite, "que interessa ter salvo um país, se no fim estamos todos mortos?" E, apesar de todas as críticas e alertas, o PM foi a Bucareste, à Cimeira Europeia. E, pasme-se, quando os PM grego e espanhol fizeram sentir as dificuldades por que os seus países estão a passar, - e Espanha ainda nem pediu resgate -, o PM português achou por bem não dizer nada!!! Que Passos Coelho alinha incondicionalmente com Merkel já todos sabemos, mas que ignore o que se está a passar com as populações é outra coisa. Passos Coelho está a ignorar uma outra linha que se está a abrir na Europa, que põe a tónica no crescimento e no emprego, que têm tido significativos avanços com Hollande e Durão Barroso. Porquê esta atitude? Em nome de quê se aje assim, ignorando o sofrimento dum povo, o empobrecimento duma nação? Afinal que faz mover - ou nem por isso -, Passos Coelho?

Sunday, October 21, 2012

Conversas comigo mesmo - CXVII

Nesta caminhada até ao fim do ano litúrgico, venho falando dos rituais e dos pensamentos católicos em cada domingo, no sentido de os dar a conhecer a quem deles carece, e o de os avivar a quem deles já se olvidou. No 29º domingo do tempo comum trago-vos uma mensagem bem atual, adaptada aos dias que correm vorazes, nestes tempos de incerteza. Lê-se no Evangelho: "Jesus chamou-os e disse-lhes: - Sabeis que os que são considerados como chefes das nações exercem domínio sobre elas e os grandes fazem sentir sobre elas o seu poder. Não deve ser assim entre vós, quem entre vós quiser tornar-se grande será vosso servo e quem quiser entre vós ser o primeiro, será escravo de todos; porque o Filho do Homem não veio para ser servido mas para servir e dar a vida pela redenção de todos". Profissão única, servir. A grande poetisa chilena Gabriela Mistral, prémio Nobel da Literatura, escreveu este belo comentário ao Evangelho de hoje: "Onde há uma árvore para plantar, planta-a tu. Onde houver um erro para corrigir, corrige-o tu. Onde houver uma tarefa que todos evitem, aceita-a tu. Sê dos que afastam a pedra do caminho, o ódio dos corações e as dificuldades do problema. Há a alegria de ser santo e de ser justo, mas há sobretudo a formosa, a imensa, alegria de servir. Que triste seria o Mundo se tudo nele estivesse feito, se não houvesse um rosal a plantar, uma obra a empreender. Mas não caias no erro de julgar que só há méritos nos grandes trabalhos. Há pequenos serviços que são bons serviços: pôr a mesa, ordenar uns livros, pentear uma criança. Há o que critica, há o que destrói. Sê tu o que serve. Servir não é trabalho de seres inferiores. Deus que dá fruto, a luz, serve. Poderia chamar-se-lhe assim: 'O que serve'. E tem os seus olhos fixos nas nossas mãos e nos pergunta em cada dia: 'Serviste hoje?' A quem? À árvore, ao teu amigo, à tua mãe? Servir. Esta foi a marca na fronte de Jesus. Esta deve ser a marca dos seus seguidores". Como se lê no Carta aos Hebreus: "Esta é a nossa Fé". A fé de servir, o próximo nosso irmão, o animal indefeso, a natureza destruída. Esta deve ser a fé que nos mantém em equilíbrio com o mundo que nos cerca neste planeta que habitámos. Quem disto se lembra, apesar de se dizer cristão? Quem faz disto a bandeira quotidiana?

Thursday, October 18, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 213

As incertezas, as angústias, os receios vão minando o tecido nacional e o europeu. Alastrando como um cancro, vemos a Europa mergulhada numa confusão onde sobram palavras e faltam atos. Reunidos em Bucareste, os líderes europeus pedem mais Europa para ultrapassar a crise, mas que fazem, diariamente, para que tal se materialize? Estas são as contradições que já não escapam ao cidadão comum que vai aguçando a capacidade de ler nas entrelinhas sempre na expectativa de que saia algo que minore o seu sofrimento. Passos Coelho também lá está. Paulo Portas cancelou a viagem. Isto diz bem do sentimento que por cá se vive, onde eram necessários esforços de união para se ultrapassar este problema e a desagregação é evidente. Compreendê-mo-la porque Víctor Gaspar, - que parece ser o pômo de discórdia -, vai reinando como um tirano, impondo as suas ideias ultra-liberais fechado no seu "buncker" sem se apreceber do sofrimento que grassa nas ruas. Vai impondo medida atrás de medida, orçamento atrás de orçamento, na tentativa vã de atingir os objetivos, e apenas se vai afastando mais e mais. Agora veio o OE2013 que parece que ninguém acredita que seja exequível. Desde Manuela Ferreira Leite a Bagão Félix, passando por tantos outros ex-ministros, como Silva Lopes ou Miguel Beleza, ninguém já acredita no OE2013, nem no governo. As instâncias internacionais como o FMI já vão dizendo que as contas estão mal feitas e que a recessão será o dobro da esperada, a Universidade Católica alinha pelo mesmo diapasão, - tal como nós também que a isso já tinhamos feito referência em crónica passada -, vai dando a ideia dum governo sem rumo, sem liderança, com medidas avulsas, com avanços e recuos, governo que vai estiolando à medida que o tempo passa. Cavaco Silva vai mantendo silêncio, apenas quebrado aqui e ali, através do facebook (!), sem nunca afirmar duma forma oficial o que pensa de tudo isto, e teve várias alturas para o fazer, nomeadamente no 5 de Outubro, onde nem parou o seu discurso quando havia uma pessoa a gritar que tinha fome e precisava de dinheiro para comer, antes disfarçando o incómodo enquanto os seguranças arrastavam a pessoa para fora, para depois sair por uma porta lateral evitando assim ter que enfrentar o povo. Não será seguramente com líderes destes que chegaremos a lado algum. Resta-nos a esperança de que alguém venha em nosso auxílio. O desespero está instalado, onde dentro de semanas assistiremos pela primeira vezes a uma greve ibérica, mas a esperança ainda vai restando, sobretudo depois de François Hollande, ter afirmado ontem que: "Portugal, Espanha e Grécia estão a pagar por erros de outros". Esperemos que aqui, também não se fique pelas palavras que o vento arrastará, mas que se passem a situações concretas para evitar o descalabro. Apliquem as medidas de austeridade que aplicarem, o problema do défice não será resolvido se não houver crescimento. Até o ministro da economia o reconheceu, finalmente, talvez com a sensação e a coragem do condenado (na possível remodelação), ideia basilar que qualquer aprendiz de economia é capaz de equacionar. Com austeridade sobre austeridade, apenas entraremos na espiral recessiva - que achamos que já nela entramos - num empobrecimento galopante, numa albanização de Portugal e dos outros países intervencionados. Para se ultrapassar isto, será necessário o empenho europeu, - porque sozinhos não seremos capazes -, coisa que até aqui ainda não vimos, onde os líderes, apesar dos sorrisos e cumprimentos de circunstância, vão mantendo as costas voltadas, à imagem do governo de coligação que nos esmaga.

Tuesday, October 16, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 212

Hoje é um dia triste, depois de anunciado ontem o OE 2013. Se ainda tínhamos esperança de que algumas alterações seriam feitas de modo a tornar mais suave a carga sobre os portugueses, enganámo-nos. Vítor Gaspar, naquele seu ar pausado, lá foi desfiando o rosário. E daqui se concluí, sem grande dificuldade, que com este orçamento, no final de 2013, Portugal será o país mais pobre da UE. Mas a maior das dificuldades que temos é em aceitar a teimosia do executivo. Mesmo depois de Christine Lagarde, a diretora-geral do FMI, admitir que os programas estão a dar maus resultados, sugerindo mais tempo para as medidas, Passos Coelho acha que não, e até o seu ministro das finanças gasta alguns minutos a explicar o inexplicável. Que segredo será esse que o PM guarda para continuar com a política do "custe o que custar"? Passos Coelho deve assim achar Lagarde uma irresponsável! Quando Durão Barroso diz que não se pode continuar assim e que a austeridade não é responsabilidade da "troika" mas dos governos que são responsáveis por ela, Passos Coelho deve não só achá-lo irresponsável como até ligeiramente comunista! E que dizer das afirmações de Bagão Félix que chama às medidas do orçamento, "terramoto fiscal" e que "não vale a pena trabalhar"? E, já agora, que pensa o PM do seu padrinho político, Ângelo Correia quando afirma: "Os governantes não têm preparação para os cargos que desempenham"? A única questão é saber se estas medidas escondem um défice bem mais para além daquele que se diz. Não estará este na casa dos 7%? Porque será que Víctor Gaspar insiste em não falar do défice? Pacheco Pereira afirmou há dias na "Quadratura do Círculo" que: "Este governo já não governa, Portugal já não tem PM"! Até o sempre silencioso Cavaco Silva já admite que "não é correto exigir a todo o custo o cumprimento do défice"! É certo que, embora tendo tido várias oportunidades para o dizer em público optou pelo facebook, embora este tenha uma larga difusão. Quando Cavaco diz que "não é legítimo obrigar as populações a todo o custo ao cumprimento de um objetivo nominal para o défice" está a mandar um recado aos líderes europeus, mas sobretudo, a Passos Coelho. No passado domingo, Marcelo Rebelo de Sousa dizia que "Víctor Gaspar não falava na meta do défice porque não tem a certeza de o atingir". E acrescentava: "Que credibilidade tem um governo que deixa para o último dia as medidas que o povo não sabe?" Também ele, tal como Pacheco Pereira, acha que falta liderança ao PM e que o governo funciona duma maneira caótica. O problema é que o governo insiste na sua visão financeira e fiscal e não na vertente económica. É preciso dizer que há setores de atividade que já não existem e não voltarão mais. Daí cada vez mais se falar em crueldade em vez de austeridade. A taxa de crescimento da economia para o ano cairá 1%, enquanto a taxa de desemprego será de 16,4%, segundo o ministro das finanças, embora nós achemos que será superior. Mais de 80% da austeridade será fruto do IRS em 2013! É preciso não esquecer que a "troika" só queria um esforço de redução da receita em um terço, embora neste OE é quase na totalidade! É urgente fazer com que este OE seja fiscalizado pelo Tribunal Constitucional. Este OE a ser aprovado como ontem foi proposto será um rasgar do "memorandum" da "troika" e, como dissemos no início, colocar-nos-á na cauda dos países da UE! É caso para perguntar afinal porquê? Em nome de quê ou de quem se estão a fazer estes sacrifícios? Que segredo oculto está na posse do governo, que persisite na sua política de terra queimada, mesmo ao arrepio das instituições internacionais e até dos seus pares, arriscando-se a fragmentar um governo já de si bastante desagregado? E até quando os portugueses terão paciência para aguentar tudo isto?

Sunday, October 14, 2012

Conversas comigo mesmo - CXVI

Hoje, 28º domingo do tempo comum, inicia-se em muitas paróquias o Ano da Fé que teve início oficial em Roma na passada quinta-feira, no âmbito do Concílio Vaticano II, com o intuito de aprofundar e esclarecer o que foi o Concílio e aprofundar os caminhos da fé. E neste âmbito será legítimo dizer que a palavra de Deus não é uma droga angelical para adormecer suavemente as consciências, mas, como diz a Carta aos Hebreus, uma palavra viva, atuante e eficaz, capaz de resolver e de despertar o coração do homem e de o abrir para a sabedoria que vem de Deus; essa luz que nos ensina a ver e a apreciar a vida e os acontecimentos, as coisas e as pessoas como Deus as vê e aprecia. Em última análise, para nós, cristãos, essa sabedoria, essa luz, é uma pessoa e tem um nome: Jesus Cristo. Por isso, domingo a domingo nos reunimos para O louvar, para O escutar e acolher num encontro que pode e deve ser renovador quer para a nossa vida pessoal, quer para a nossa vida comunitária. Infelizmente, pode ser também um encontro falhado, como nos mostra o Evangelho de hoje: "Meus filhos, como é difícil entrar no reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus". Tal acontece sempre que pretendemos um cristianismo que nos assegure a vida eterna, mas que não se meta com a nossa vida de cada dia, um cristianismo que nos deixe tranquilos nos nossos hábitos e nos nossos egoísmos e não nos exija outra coisa que não seja o cumprimento ocasional de uns certos ritos. Para quando um sim decidido ao "Vem e segue-Me" de Jesus? Este é o tema de reflexão que vos deixo neste domingo, na caminhada que vos estou a propôr até ao fim do ano lítúrgico, com vista a aprofundar os conhecimentos da fé que pensamos que dominamos e talvez não os dominemos tanto assim.

Friday, October 12, 2012

Conversas comigo mesmo - CXV

Hoje a Inês do meu contentamento cumpre o seu primeiro ano de vida. Duma vida ainda curta mas já cheia de aventuras. Foi a aventura do nascimento, a aventura da primeira papa, a aventura do primeiro tagarelar, a aventura dos primeiros passos, - e que recordação tenho da força com que agarrava a minha mão na ânsia de andar mais e mais -, a aventura do romper dos primeiros dentes, a aventura até das primeiras birras. A Inês fez todo este percurso sempre com uma disposição alegre, feliz mas também determinada. Para mim, foi o ano das expectativas. Desde a alegria do seu nascimento na madrugada deste dia há um ano atrás - e com que alegria então o celebramos! - até à alegria de ver todas estas suas primeiras conquistas, que são também as minhas. Muitas coisas se passaram ao longo deste ano e que, duma maneira singela, resolvi pôr em vídeo, - (para ver o vídeo clicar aqui: http://www.myspace.com/video/583288015/o-1-anivers-rio-da-in-s-40-1st-aniversary-of-in-s-41/108992980 ) -, para que mais tarde ela possa recordar esses momentos que entretanto foram arredados para o mais recôndito da sua memória para que, tal como num computador, fosse libertando espaço para outras coisas, outras aprendizagens, outros ensinamentos. Um ano passou e parece que foi ontem que uma luz intensa e brilhante se abriu na minha vida. No Outono da nossa vida, pensamos sempre com uma certa nostalgia do que fizemos e, sobretudo, do que não fizemos. Daquilo que saiu bem e do que saiu mal. Da alegria do bem e um certo remorso do mal, mesmo que, tenha acontecido duma forma involuntária. A nossa vida, tal como o tempo, vai-se encobrindo com núvens cada vez mais espessas, com a frialdade dos dias cada vez mais curtos, onde a noite é mais poderosa que o dia. Mas como se costuma dizer, quando Deus fecha uma porta abre uma janela. E quando as portas se foram fechando essa tal janela se abriu para deixar entrar essa luz que, mesmo que já não aqueça o corpo, aquecerá seguramente a alma. Foi neste cenário que, contrariando a natureza, brilhou esta luz intensa e imensa na minha vida já coberta de Outono. E quando o Inverno impiedoso, inclemente, se abater sobre mim, nesse jardim apenas restará um banco vazio, apenas ficará a memória. Espero que a Inês perceba que essa memória é formatada por muito amor e carinho sem limites, sem barreiras, sem reservas, que lhe dedico. A recordação que ela terá de mim, assim o espero, será uma espécie de Primavera anunciadora dum novo devir. Entretanto, a Inês é essa luz. Uma luz indicadora, uma luz que ilumina o resto dum caminho, uma luz que pretende trazer alegria quando esta já não existia, substituída pela nostalgia. Neste ano, de facto, muito coisa mudou. A Inês trouxe-me o reencontrar de novos dias com nova luz, dias ensolarados a que eu pensava já não ter direito, que se vão intensificando à medida que a Inês vai crescendo tendo uma percepção do mundo que a torna ainda mais próxima. A responsabilidade, em consciência assumida, de ser seu padrinho trouxe-me o alento de quem ainda tem uma tarefa a cumprir. A da sua orientação de vida, da sua educação, da sua formação ao longo do tempo. Como diz Simone de Beauvoir: "Não se nasce mulher, esta faz-se ao longo da vida". É assim. Por isso, espero que a vida me conceda tempo suficiente para a ver fazer-se mulher e participar nos seus anseios, vitórias e derrotas que a vida lhe reservará, na sua maturação da Inês criança para a Inês mulher. Mas hoje não é tempo de nostalgias ou tristezas. Hoje é um dia muito feliz como já não tinha há muito. Hoje a Inês do meu contentamento, a mais bela flor do meu jardim de Outono faz um ano. Um ano tão pouco e simultaneamente já tanto. Um ano na estrada da vida a que se seguirão muitos mais para que a sua lenda pessoal se cumpra e ela a subscreva de facto, com força e determinação. Hoje é dia de festa. Hoje é dia de celebração. Hoje a minha adorada Inês, a Inês do meu contentamento faz um ano. Parabéns Inês!

Thursday, October 11, 2012

No 50º aniversário do Concílio Vaticano II

O Concílio Vaticano II, XXI Concílio Ecuménico da Igreja Católica, foi convocado no dia 25 de Dezembro de 1961, através da bula papal "Humanae salutis", pelo Papa João XXIII. Que surpreendeu os católicos com a convocatória para este concílio dizendo: "Estamos perante dois caminhos: o da liberdade ou o da servidão". Este mesmo Papa inaugurou-o, a título extraordinário, no dia 11 de Outubro de 1962, celebrando-se hoje o seu 50º aniversário. O Concílio, realizado em 4 sessões, só terminou no dia 8 de Dezembro de 1965, já sob o papado de Paulo VI. Nestas quatro sessões, mais de 2 000 prelados convocados de todo o planeta discutiram e regulamentaram vários temas da Igreja Católica. As suas decisões estão expressas nas 4 constituições, 9 decretos e 3 declarações elaboradas e aprovadas pelo Concílio. Apesar da sua boa intenção em tentar atualizar a Igreja, os resultados deste Concílio, para alguns estudiosos, ainda não foram totalmente entendidos nos dias de hoje, enfrentando por isso vários problemas que perduram. Para muitos estudiosos, é esperado que os jovens teólogos dessa época, que participaram do Concílio, salvaguardem a sua natureza; depois de João XXIII, todos os Papas que o sucederam até ao atual Bento XVI, inclusive, participaram do Concílio ou como padres conciliares (ou prelados) ou como consultores teológicos (ou peritos). Em 1995, o Papa João Paulo II classificou o Concílio Vaticano II como "um momento de reflexão global da Igreja sobre si mesma e sobre as suas relações com o mundo". Ele acrescentou também que esta "reflexão global" impelia a Igreja "a uma fidelidade cada vez maior ao seu Senhor. Mas o impulso vinha também das grandes mudanças do mundo contemporâneo, que, como “sinais dos tempos”, exigiam ser decifradas à luz da Palavra de Deus". Este Concílio foi uma verdadeira pedra angular na Igreja e nas suas concepções. Houve um salto qualitativo em aproximar a Igreja do seu tempo, fazendo um verdadeiro corte epistimológico com o passado. Foi permitida a celebração da missa nas línguas nativas e não em latim como antes, houve uma abertura a uma nova abordagem dos textos bíblicos, um trazer a comunidade laica para dentro da Igreja como participantes, coisa que até então não era permitido, até com o trazer para o seu interior uma certa forma de música e de cânticos fora do tradicional canto litúrgico de inspiração gregoriana. O Concílio não foi isto ou só isto, mas também isto. Que foi um verdadeiro salto de gigante na época e que viria a provocar algumas brechas na Igreja com os mais fundamentalistas, mais tradicionalistas, a assumirem a sua não concordância, seguindo caminhos diferentes. Lembro-me bem, quando há 50 anos habitava a casa dos meus avós, onde tinha nascido, e onde se ouvia esses sons distantes e por vezes disformes, que a telefonia de então trazia até nossa casa. A televisão era coisa que poucos conheciam, e muitos menos possuiam, assim, a telefonia era o meio previligiado - para quem a tinha - de seguir os ruídos do mundo. Lembro-me da atenção quase veneranda com que os meus avós ouviam, provavelmente preocupados por tanta mudança que a sua frágil educação não permitia entender na sua total amplitude. E lembro-me do ar um pouco irrequieto que então me ocupava, duma frágil criança que nada daquilo entendia. Eram assuntos difíceis de adultos que a uma criança como eu nada diziam nos seus frágeis seis anos. Hoje, 50 anos volvidos, revejo o alcance a importância do que então se passou, e do que quão crucial foi para que a Igreja dos nossos dias apresentar uma formatação mais tangível para a maioria das pessoas, sem pôr em causa os seus princípios, princípios que defende e que são a sua razão de ser.

Wednesday, October 10, 2012

No 199º aniversário do nascimento de Verdi

Há momento em que a História e a música se cruzam. A música de Verdi foi um desses momentos. Mas comecemos pelo princípio. Giuseppe Fortunino Francesco Verdi nasceu em Roncole a 10 de Outubro de 1813 - completando-se hoje o seu 199º aniversário - e viria a morrer em Milão a 27 de Janeiro de 1901 com 87 anos.Verdi foi um compositor essencialmente de óperas, embora tenha feito incursões noutros géneros, desde logo, a música de câmara tão pouco conhecida. Mas é de facto na ópera onde ele mais se notabilizou, sendo um dos representantes do período romântico italiano, sendo na época considerado o maior compositor nacionalista da Itália, assim como Richard Wagner era na Alemanha. Mas Verdi teve uma particularidade que foi a de unir o seu povo. Depois de ter passado pela morte dos filhos e pouco tempo depois da mulher, depois de ter assistido ao fracasso de "Un Giorno di Regno" em 1840, ele viria a compor uma ópera que seria determinante na reunificação italiana, "Nabucco", em 1842. Dessa ópera todos conhecem o seu célebre coro dos escravos ( que podem recordar aqui:  http://www.youtube.com/watch?v=6A1cUhI4HXw ) que nos mostra o povo judeu a chorar junto ao rio Nilo a sua má sorte de povo dominado pelos egípcios, enquanto o profeta Zacarias profetiza a queda do Egipto e a ressureição do seu povo. Os italianos que até aí não tinham dado grande atenção a Verdi, reconciliaram-se com ele porque no fundo, sentiram que a história cantada em Nabucco era a sua própria história, dum povo que chorava junto ao rio Tibre a ocupação austríaca. E daí a sua identidade e identificação, que levou a que a sua música se tornasse verdadeiros hinos nacionalistas que viriam a unificar aquilo que hoje é a Itália, sob o comando de Garibaldi, um famoso revolucionário do seu tempo, que viria a entregar o trono a Vítor Emmanuel II. Aliás, na sua senda revolucionária de povo ocupado a lutar pela sua liberdade, era normal ver-se inscrito nas paredes de Itália as iniciais do nome do compositor V.E.R.D.I., que queriam significar, Vitor Emmanuel Rei d´Itália. A esta ópera outras se lhe seguiram até com maior visibilidade, como foi o caso de "Aida", mas Nabucco ficará para sempre na história com aquela ópera que serviu como uma espécie de senha para os italianos acordarem para a sua situação, conquistarem a sua liberdade e construírem a sua nação. Muitas vezes na História, a música se cruza com os acontecimentos históricos de então, servindo para aglutinar povos, criar vontades, determinar soluções. Este foi um desses casos que aqui trouxe para celebrar o 199º aniversário do nascimento desse grande compositor italiano de seu nome, Giuseppe Verdi.

Monday, October 08, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 211

A Europa está doente, muito doente. A Europa está em crise profunda mesmo no que diz respeito a países que ainda não necessitaram de ajuda. A infeção do euro em 1995, resultante de taxas de juro baixas foi fatal, e conduziu ao endividamento das famílias, onde o dinheiro era imediato, o crédito fácil, tudo se podia comprar à medida do nosso sonho. Com as taxas de juro excessivamente baixas, as famílias não poupavam, optando pelo gasto em consumo. Desde então perdeu-se o regulador - mediador sem fronteiras - enquanto os estados da Europa eram construídos uns contra os outros. O único elo era o dinheiro que fluia a jorros. Os bancos emprestavam - os portugueses e os outros - o dinheiro que vinha de fora e não o nosso dinheiro. Os países ricos transferiram os seus excedentes para os bancos dos países pobres como aconteceu connosco. O Estado que nos deixou portagens é o mesmo que nos condena à dívida pública. E só a estratégia federal da UE pode vir em nosso auxílio. O nosso país está a entrar nessa estratégia federal - que deverá acontecer no espaço duma década -, caso contrário, não consegue estagnar o processo da dívida. É neste emaranhado de questões, que os países de economias mais débeis se encontram, desde logo Portugal, onde o acaso duma bandeira ao contrário no 5 de Outubro, é um acidente quase premonitório, sendo o símbolo de negligência, de falta de atenção, que não mais, do que aquilo em que o nosso país se tornou. E esse sentimento é tão mais profundo, que leva a que homens próximos do atual PM, como Ângelo Correia, não se coíbam de dizer que "os sacrifícios que estamos a fazer não vão resolver nada". Porque a situação é mais profunda, sobretudo do ponto de vista da matriz ideológica, não só de Portugal mas da Europa no seu todo, em que "o assalto à  mão armada" (Marques Mendes dixit), é apenas uma ponta do enorme icebergue que está a esmagar a classe média. E depois assistimos a algumas afirmações verdadeiramente ridículas como aconteceu com Víctor Gaspar quando afirmou que "o aumento da carga fiscal torna o sistema tributário mais igualitário". Isto é uma afirmação sem sentido, a menos que o ministro das finanças esteja a pensar na albanização do país - ao qual já falta pouco - onde somos todos pobres por contraponto ao que éramos antes. Não faz sentido e tem, seguramente, por trás uma componente ideológica forte. E depois ainda se admiram de na AR alguns deputados da maioria não se levantarem para aplaudir o PM, ou até não apoiarem de nenhuma forma, como foi o caso de alguns deputados do CDS/PP , entre eles o deputado pela Madeira, mas no PSD também houve que não gostasse, como foi o caso de Mota Amaral. Porque a dúvida permanece. Mas esta austeridade ainda nada tem a ver com a TSU! A austeridade ditada por Víctor Gaspar não é para cobrir a TSU. E se não é qual será a medida para tal efeito? Esta trapalhada em que o governo se vai atolando levou a que até o responsável das finanças já tenha deixado cair no discurso a diminuição do déficit, substituindo-o pela ida aos mercados. Mas, como muito bem dizia ontem Marcelo Rebelo de Sousa, a ida aos mercados não é importante para os portugueses, o que todos nós queremos saber, é o que virá de bom e quando, resultante das políticas que agora estão a ser aplicadas. E quanto a isso, silêncio absoluto. E de duas uma, ou o governo não sabe, e anda sem rumo, ou sabe, e não o quer dizer, ou porque não tem a certeza de alcançar os objetivos, ou por algo bem mais complicado. Neste país às avesas, onde os símbolos nacionais também não escapam, é caso para recorrermos ao pensamento Eugénio de Andrade, "as palavras estão gastas"!

Sunday, October 07, 2012

Conversas comigo mesmo - CXIV

Quando éramos crianças contavam-nos histórias que normalmente começavam com "Era uma vez..." e nós ouvíamos e ouvíamos quase sempre as mesmas histórias aguardando sempre com ansiedade o seu final feliz. Mas na vida, normalmente quando entra o ser humano, nem sempre é assim. E o tema do "amor" é seguramente um deles e é o mote para este vigésimo sétimo domingo do tempo comum. Quando falamos de amor de imediato o associamos a sexo. Não que o sexo não possa encerrar em si o amor, mas este é bem mais amplo do que aquele. E é nesse conflito fraturante em que estes temas muito amiúde se entrecruzam, que se dá em muitos casos a rutura, o divórcio. Dizia Jesus que "Não separe o homem o que Deus uniu". Mas esta, como tantas outras mensagens, são levadas pelo vento e delas quase nunca guardamos nada. Diz o povo: "Cava o poço antes de teres sede..." Disse alguém com muita razão: "A falta de preparação para o matrimónio é a melhor preparação para o divórcio". A preparação fundamental para o matrimónio é aprender a amar. E aprende a amar quem aprende a compreender os outros, quem aprende a confiar e a esperar, quem aprende a dar e a compartilhar, quem aprende a esquecer-se de si e a sacrificar-se pelo bem dos outros, quem aprende a desculpar e a perdoar, quem aprende a comprometer-se e a ser fiel aos compromissos, quem aprende a defender os animais nossos irmãos, quem aprende a respeitar a natureza nossa mãe comum. Aprender a amar é aprender a cultivar o amor. E o amor cultiva-se com o respeito e a atenção, com a verdade e a transparência, com o diálogo franco e delicado, com a alegria e o carinho, com a boa vontade e as boas maneiras. Como tudo o que é vivo o amor pode crescer e fortalecer-se, mas pode também definhar e morrer. Há muito amor que poderia ainda estar vivo, a unir pessoas e destinos, a levantar esperanças e a repartir alegrias e não está porque não foi cultivado nem alimentado como deveria ter sido. Definhou e morreu por egoísmo, cobardia ou leviandade, por omissão, fuga ou irresponsabilidade. Por isso Jesus sugeriu que antes de nos interrogarmos sobre a licitude do divórcio perguntemos o que é o matrimónio no projeto de Deus, o que implica, o que supõe e a que compromete. Porque, normalmente, no fim da linha, são os filhos que porventura apareceram, que são as primeiras e maiores vítimas. Embora no nosso egoísmo, pensemos sempre e só em nós, e nunca nos lembre-mos deles. Esta a mensagem que hoje vos quero deixar ficar aqui, infelizmente, plena de atualidade nos tempos que correm onde tudo é efémero. Até os afetos...

Friday, October 05, 2012

No 102ª aniversário da República

"O inferno não existe, o inferno é este lugar em que estamos, o inferno somos nós". É com esta frase de Rimbaud que inciamos esta crónica que pretende celebrar o 5 de Outubro de 1910 e a consequente implantação da República. Porque estamos longe dos desígnios desses homens que imaginaram o sonho utópico de mais liberdade, igualdade e fraternidade, pilares fundamentais da democracia, ecos vindos da distante Revolução Francesa de 1875! Mas hoje as coisas são diferentes. Muita água passou sob as pontes desde então. Hoje vivemos mergulhados num país sem esperança e sem futuro, com a classe política desprestigiada, com as instituições ignoradas, com uma população desesperada. Há dias num fórum sobre o futuro de Portugal foram entrevistadas duas pessoas, uma mais idosa e outra mais jovem. A mais idosa, um reformado, dizia que já não havia esperança, que tinha uma filha com 44 anos e um genro com 50, que tinham ficado desempregados em 24 horas! E acrescentava: "Já não à luz ao fundo do túnel, apagaram essa luz, apenas mais e mais túnel". O segundo interlocutor, um jovem estudante universitário, dizia que apesar das dificuldades havia que continuar a lutar por dias melhores e acrescentava: "Se não existe luz ao fundo do túnel é preciso que nós a coloquemos lá em nome dum futuro diferente". Ambos foram convidados a escolher uma música que se adaptasse ao momento. O mais idoso escolheu "É preciso avisar a malta" de José Afonso porque achava que era tempo de lutar, de retomar uma luta interrompida anos antes. O mais jovem escolheu "A cavalgada das Valquírias" de Richard Wagner porque, segundo ele, é preciso algo de épico e mobilizador para que se vá em frente e se superem os obstáculos. Duas visões, dois tempos diferentes, duas experiências de vida. Se compreendemos o primeiro, até talvez subscrevamos os seus anseios, não deixamos de enaltecer o segundo. Um jovem que acredita que há um caminho a fazer independentemente das contrariedades do momento. Pensamos que este será um espírito de futuro, o verdadeiro espírito para celebrar um 5 de Outubro, um espírito que, tal como há 102 anos atrás, celebra a utopia dum mundo melhor, mais igualitário, mais justo, indiferente aos "velhos do Restelo" que por aí andam. Este ano, e pela primeira vez desde 1910, o PM não estará presente (!) com uma agenda que o leva a estar com os seus parceiros europeus. Os mesmos parceiros a que não se juntou quando há dias se reuniram com Mario Monti, para falar dos países em crise, e lá estiveram a Irlanda, a Grécia, a Espanha... Mas esses gestos, normalmente, ficam com quem os toma. Com quem arranja pretextos para não estar junto das populações, porque tem medo delas, afinal das mesmas populações que os colocaram no poder. Mas desses a História não rezará, porque mesquinhos, porque menores, porque irresponsáveis. A utopia cumprir-se-á com gente como este nosso jovem que se recusa a ficar num canto a carpir mágoas. Que se recusa a emigrar porque sabe que o seu país necessita do "know-how" que ele está a adquirir. Que sabe que o poder é sempre efémero. Assim, se cumprirá mais um aniversário da República, - o último, segundo o PM -, apenas mais um para todos aqueles que defendem ideais que se sobrepõem à mesquinhez tacanha do momento. Viva a República!

Thursday, October 04, 2012

O barulho e a carroça


' Numa manhã, o meu pai, muito sábio, convidou-me a dar um passeio no Bosque. Ele entrou numa escuridão, e depois de um pequeno silêncio, perguntou-me: - Meu filho, além dos pássaros a cantar, estás a ouvir mais alguma coisa? Por alguns segundos, apurei os ouvidos, e respondi: - Estou a ouvir o barulho de uma carroça! Então o meu pai respondeu: - É isso mesmo, é uma carroça vazia! Perguntei ao meu pai: - Como é que podes saber se a carroça está vazia se ainda não a vimos? Então respondeu o meu pai: - É muito fácil saber, quando uma carroça está vazia por causa do barulho. Quanto mais vazia estiver a carroça, maior é o barulho que ela faz! Tornei-me adulto e, ainda hoje, quando vejo uma pessoa a falar demais, a gritar (no sentido de ameaça), tratando o outro com agressividade inoportuna, com prepotência, interrompendo a conversa de todas as pessoas e a quer demonstrar que é a dona da razão, da verdade absoluta, ou a sentir-se melhor que as outras, cheia de orgulho tenho a impressão de estar a ouvir o meu pai a dizer: "Quanto mais vazia estiver a carroça, maior é o barulho que ela faz!" ' Texto de autor desconhecido que nos deve pôr a pensar.


Tuesday, October 02, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 210

Tem andado muito no ar o conceito de ignorância! E hoje resolvemos dissertar sobre ela. Sabe-se agora que o déficit do 1º semestre ficou nos 6,8% muito longe do estimado e que inviabiliza o acordado com a "troika" a menos que venham por aí mais impostos, que parece ser a única coisa para que o governo tem imaginação, ou recorra a receitas extraordinárias que a "troika" irá facilitar. Caso contrário, as contas públicas que estão em derrapagem há muito tempo, continuarão a derrapar ainda mais. Mas isto é o que dizemos nós, humildes ignorantes! A Segurança Social pode encerrar com um saldo negativo de mais do que 600 milhões de euros, coisa que já não acontecia vai para onze anos, o que porá em causa o futuro das pensões e reformas. Depois de abandonada a TSU com uma distribuição, no mínimo, bizarra. Mas isto é o que dizemos nós, humildes ignorantes! Que o desemprego continua a pular pulverizando novos recordes é um facto. Que os jovens não têm expectativas de futuro e os menos jovens não têm esperança é um dado que vemos diariamente. Mas isso é o que dizemos nós, humildes ignorantes! O único motor da economia portuguesa têm sido as exportações, mas estas tendem a abrandar com o arrefecimento das economias de destino, o que puderá levar a mais agravamento do déficit. Mas isto é o que dizemos nós, humildes ignorantes! Sabemos que não existem ajustamentos sem dor, e quem pensar o contrário está a enganar-se a si próprio. O problema hoje entre nós não é a "troika" mas aquilo que se está a fazer para além dela e do "memorandum" assinado. Afinal fomos nós que fomos pedir ajuda e continuamos a precisar dela. Por mais manifestações que se façam esta é a dura realidade. Não que pensemos que o povo deixe de se manifestar pelo esmagamento a que está a ser submetido, sobretudo a classe média, mas é preciso ter em linha de conta aquilo que por vezes, e no calor da luta, se diz e se reinvindica, que está em contraciclo com as decisões que o país tomou e que o colocou em regime de protetorado durante o período de ajustamento, ou durante o tempo que necessitarmos para isso, caso nos seja concedido. Mas isto é o que dizemos nós, humildes ignorantes! Que existem outros caminhos todos o sabemos, e já aqui o defendemos por mais de uma vez, mas este foi o que o país escolheu. E para aplicar o programa elegeu um governo que até tem maioria na AR e, por isso, legitimado para atuar. Embora a sua visão ultraliberal o tenha impedido de ver mais além, utilizando, medida após medida, falhanço após falhanço, a mesma receita que tem depauperado o país. Mas isto dizemos nós, humildes ignorantes! Que a recessão vai continuar por muito mais tempo, pensamos que já ninguém tem dúvidas. Que a classe média continuará a pagar a fatura também não oferece dificuldade de entendimento. Que a classe média é um pilar do regime também sabemos que é verdade. Que as populações começam a pôr em causa a própria democracia, já o vimos em várias sondagens. Que a recessão vai continuar ainda por muito tempo parece ser um dado que não oferece discussão. Que estamos a passar por dificuldades que levarão, pelo menos, uma geração parece-nos que já ninguém põe em causa. Mas isto dizemos nós, humildes ignorantes! Que para além de Portugal é a Europa e até os EUA que estão a perder elã que está a ser transferido para os países emergentes é uma verdade inquestionável. É clara a transferência da riqueza face ao PIB dos países. Que temos que pensar num modelo alternativo, um novo paradigma, para as sociedades ocidentais, nomeadamente a Europa e os EUA, já começa a ser discutido em alguns fóruns. Que nada será como dantes depois da tempestade passar é nossa convicção. Mas isto dizemos nós, humildes ignorantes! Depois de tudo o que atrás dissemos, fica-nos a sensação de que algo vai muito mal e que não nos estão a dizer toda a verdade. Mas também temos a sensação da falibilidade das nossas afirmações, afinal não passamos de uns humildes ignorantes! Fazemos parte do grupo de nove milhões novecentos e noventa e nove mil novecentos e noventa e nove cidadão deste país que vivem mergulhados na ignorância e no obscurantismo. Mas não estamos preocupados com isso, porque agora ficamos a saber que temos um, que vê muito para além de nós, uma espécie de salvador, de Sebastião que virá numa qualquer manhã de nevoeiro salvar-nos, esclarecer-nos, enfim, colocar-nos no caminho certo. Aquele que virá pôr fim à nossa existencial e proverbial ignorância que não nos deixa enxergar mais além!

Monday, October 01, 2012

"Wicca - A velha religião do Ocidente" - García Baptista

Um texto fascinante sobre a mais antiga religião do Ocidente, marginalizada e repudiada pela Igreja Católica a ponto da maioria das pessoas acharem que se trata de bruxaria quando se fala em Wicca. Contudo, "as raízes desta religião são muito antigas. Os vestígios pré-históricos que restam parecem indicar a prática de rituais associados ao fogo, à cura das doenças, à caça, à fertilidade dos animais, das plantas e da tribo. (...) Durante o desenvolvimento das civilizações, esta religião foi progredindo de forma semelhante nas diversas culturas, em que cada uma criou as suas tradições, mitologias e rituais particulares. (...) A Wicca é uma religião da terra. A palavra religião pode ser entendida à letra, no seu sentido etimológico de re-ligação (do latim re-ligio), porque os seus praticantes, os wiccans, procuram recuperar a ligação entre o homem e o divino. A Wicca é também uma filosofia positiva da vida, que se baseia no respeito pela natureza e na reverência perante a vida em todas as suas formas." Quanto ao autor, García Baptista, nasceu em Lisboa em 1965. Licenciou-se em Filologia na Universidade de Lisboa, em 1992. Trabalha, atualmente, como bibliotecário. A edição é da Pergaminho. Um livro muito interessante para os interessados neste tema.