Turma Formadores Certform 66

Sunday, February 27, 2011

"A Mão de Fátima" - Ildefonso Falcones


Em 1568, nos vales e montes das Alpujarras, ouve-se um grito da rebelião: fartos de injustiças, saques e humulhações, os mouriscos enfrentam os cristãos e iniciam uma luta desigual que só poderia terminar com a sua derrota e consequente dispersão por todo o reino de Castela. Entre os sublevados encontra-se o jovem Hernando. Filho de uma mourisca e do sacerdote que a violou, é repudiado pelos seus, devido à sua origem, e pelos cristãos, por força da cultura e dos costumes da sua família. Durante a insurreição conhece a brutalidade e crueldade de uns e de outros, mas também encontra o amor na figura da corajosa Fátima dos grandes olhos negros. Depois da derrota, obrigado a viver em Córdova e face às dificuldades da vida quotidiana, todas as suas forças se concentrarão em conseguir que a sua cultura e religião, as dos vencidos, recuperem a dignidade e o papel que merecem. Mas para isso deverá correr riscos... Os leitores de "A Catedral do Mar" encontrarão neste segundo romance do autor os mesmos ingredientes que conduziram ao enorme sucesso do primeiro: o rigor histórico, que se entrecruza com um apaixonado relato de amor e ódio, de ilusões perdidas e esperanças que conferem sentido à vida e a lançam pelos caminhos da aventura. Deste modo, Falcones constrói um romance grandioso, que pretende reflectir a tragédia do povo mourisco numa altura em que se celebra o quarto centenário da sua expulsão de Espanha, mas que relata também uma vida singular, a de um homem fronteiriço e apaixonado que nunca se resignou à derrota e que lutou pela convivência entre os povos. Livro pleno de actualidade, num momento em que se defrontam, mais uma vez, as ideias cristãs e muçulmanas. Historicamente, parece que estamos a assistir ao refluxo daquilo que o Ocidente cristão fez ao longo de séculos sobre o Oriente muçulmano. Numa altura em que tanto se fala da Al-Quaeda e do ódio desta ao ocidente, talvez seja bom lembrar aquilo que o ocidente fez noutros tempos, com todo o cortejo de barbárie, muitas vezes, encabeçada pelo clero cristão. Talvez seja um bom livro para reflectirmos sobre tudo isto, e analisarmos que, por vezes, as coisas não estão tão distantes assim. Este livro não impede a leitura de outros mais profundos sobre a matéria, mas tem o condão de espicaçar a curiosidade de conhecermos outros escritos que falem deste tema, para os podermos analisar com mais rigor e, sobretudo, desapaixonadamente. Ildefonso Falcones de Sierra, - o autor -, é advogado e exerce em Barcelona. Com "A Catedral do Mar", o seu primeiro romance, transformou-se num exito internacional sem precedentes, tendo sido publicado em mais de quarenta países, onde foi reconhecido pelos leitores e pela crítica. Conquistou vários prémios, entre eles, Euskadi de Plata 2006, para o melhor romance em língua castelhana, o Qué Leer para o melhor livro espanhol de 2006 o prémio Fundación José Manuel Lara para o livro mais vendido em 2006 e o prestigioso galardão italiano Giovanni Boccaccio 2007 para o melhor autor estrangeiro. Com mais de quatro milhões de exemplares vendidos em todo o mundo, Ildefonso Falcones é o maior "best-seller" espanhol de romance histórico. Agora que se cumpre o quarto centenário da expulsão dos mouriscos da Península Ibérica, "A Mão de Fátima" torna a deleitar o leitor com uma história apaixonante e rigorosamente documentada. A edição deste magnífico livro é da Bertrand Editora. P.S.: Neste "post-scriptum" gostava de fazer referência à mão de Fátima e ao seu simbolismo. Por vezes vêem-se pessoas com essa jóia ao pescoço, e que não são muçulmanas, por isso, à que esclarecer o seu significado. A mão de Fátima (al-hamsa) é um amuleto em forma de mão com cinco dedos, que, segundo algumas teorias, representam os cinco pilares da fé: a profissão de fé (shaada); a oração cinco vezes ao dia (salat); a esmola legal (zakat); o jejum (Ramadão) e a peregrinação a Meca, pelo menos uma vez na vida (hadj). Curiosamente, este amuleto também aparece na tradição judaica. Quem for a Espanha, nomeadamente, visitar o Alhambra, em Granada, verá no seu acesso, logo à entrada, este mesmo amuleto, símbolo bem evidente da permanência mourisca em Espanha, naquilo a que os árabes chamam Al-Andaluz (Andaluzia).

Tuesday, February 22, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 74


No final da semana passada, assistimos a alguns factos que nos deixaram apreensivos quanto ao futuro, como vimos alertando desde já algum tempo atrás. É que o capital - financeiro e não só -, está ávido de mudança para um governo que lhes seja mais favorável, embora este não os deva ter desiludido muito, mas há quem queira mais e mais. As palavras de Soares dos Santos, presidente do Grupo Jerónimo Martins, é disso uma evidência. Depois de ter utilizado, numa conferência de imprensa, linguagem menos própria, visando sobretudo o primeiro-ministro, mereceu deste apenas um breve e significativo comentário. Disse José Sócrates: "Não basta ser rico para ser bem-educado". Nesta questão, estamos com o primeiro-ministro, porque Soares dos Santos pode não concordar com muitas coisas, até com o governo, mas existe um respeito institucional que é sempre merecido a um primeiro-ministro, que está lá, porque a maioria do povo o elegeu, coisa que não aconteceu com Soares dos Santos. Nós, também, temos muitas divergências com o PM e com o governo, - como muitos portugueses - mas isso não basta para se ter uma linguagem imprópria, linguagem de nível de sarjeta. Mas o mais surpreendente, foi o grande magnata Joe Berardo, que já veio defender, em entrevista ao Expresso no fim-de-semana passado, que admite que Portugal tem que mudar de regime evoluindo até para "um novo género de ditadura". Entretanto, o Procurador-Geral da República, em entrevista dada ao mesmo semanário, assumia a promiscuidade da política com a justiça. Fazendo fortes ataques ao poder político, mas não deixando de afirmar que, "quando disse que não havia nada contra o PM, depois de consultados os investigadores, foi quando começaram os ataques contra si próprio e ao que ele representa". Até o sindicato dos magistrados não escapou, - e aqui com propriedade -, facto para o qual já tinhamos alertado em crónica anterior. Todos sabemos que, a nossa democracia vem apodrecendo, dia após dia, não tanto pela incapacidade do regime, mas essencialmente pela incapacidade dos políticos que temos. Já aqui o dissemos, que temos saudades dos políticos que iniciaram a democracia entre nós, onde o Parlamento era o local onde se poderia assistir a debates profundos e interessantes. Hoje, basta olhar para o Parlamento, para ver a falta de estatuto, de nível, que por lá campeia. Alguns políticos já foram admitindo que mais de metade dos deputados não está lá a fazer nada, nem têm nível mínimo para lá estar. Coisa que aliás já todos nós constatamos. Mas pensamos que em democracia existe sempre o espaço suficiente para se criar alternativas a esta ou outras situações que possam advir. Temos alertado para que todos, mas mesmo todos, estejamos atentos aos sinais. É que os interesses mais inconfessados, - alguns deles que ficaram adormecidos em 1974, e não mortos, como muitos pensaram -, começam a renascer das cinzas. Quando no Oriente se assiste a um sopro de democracia e liberdade, ansiosamente desejada pelas populações, entre nós, - na Europa ,- à quem, a coberto das dificuldades por que passamos hoje em dia, se aproveite delas, para apelar ao regresso ao passado saudosista, onde os interesses do capital (selvagem) é que valiam. Mais uma vez apelamos que estejamos todos atentos aos sinais.

Sunday, February 20, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 73


Conforme prometido na crónica anterior, aqui voltamos para falar de alguns temas recorrentes que têm preenchido os nossos dias nos últimos tempos. Desde logo, o desemprego que cada vez mais se vai assumindo como o grande flagelo da nossa democracia. O governo tem demonstrado uma total incapacidade para criar novos postos de trabalho, embora por trás deste chavão, existem outras realidades que não se podem escamotear. A primeira das quais é a atitude dos empresários, que embora invocando a necessidade de condições para a existência de novos postos de trabalho, verdadeiramente têm aproveitado a situação para flexibilizar os despedimentos e cortar nos salários. Outros até foram mais longe, aproveitando a crise para proceder a despedimentos. A crise para alguns, é uma verdadeira oportunidade, menos para quem trabalha e vive do seu salário. Por isso vale a pena reflectir nas palavras de Mário Mendes, ex-director do SSI, que na semana passada, alertou para o facto de se estarem a criar bolsas de marginalidade e criminalidade muito semelhantes às favelas. Já em tempos ele tinha alertado para o facto, mas ninguém parece tê-lo levado a sério. Com o fim das prestações sociais, a situação tende a agravar-se, e veremos como vamos lidar com tudo isto. É certo que o Estado poderia criar os postos de trabalho, diriam alguns, (pensamos no TGV, por exemplo), mas com as restrições que neste momento existem, tal afigura-se impossível. Depois aparece a dificuldade de controlar a dívida pública. Esta já assumiu valores impensáveis, que muito irão dificultar os tempos futuros, quiçá, o hipotecar o futuro das novas gerações. É certo que muito de tudo isto, tem a ver com a crise internacional, mas sejamos realistas, ela também tem raízes internas. Problemas que se foram avolumando ao longo dos anos, vindo a tornar-se insustentável nesta altura. O mais grave de tudo isto, é que não se vêm medidas para obviar a que se encontre uma solução para tão amplo problema. Por fim, a recessão que está de volta. Já Carlos Costa, o novo governador do BP o afirmou, o que veio a criar um verdadeiro terramoto político na AR. Mas tal, não é mais do que uma hipocrisia, das muitas que encontramos em política. Desde que foi aprovado o OE que se viu que a recessão vinha de novo. Desde logo, pelo esforço hercúleo que se está a fazer para controlar o déficit. Há dias num canal televisivo, apareceu em rodapé uma notícia de "última hora", dizendo que o país ia entrar em recessão. Tal só serve para alarmar as pessoas ainda mais, porque como atrás afirmamos, era conhecido que tal ia acontecer pelo efeito da aplicação das medidas de controlo do déficit impostas por Bruxelas, e que aparecem duma maneira clara e transparente no OE, mesmo visíveis para não iniciados nestas coisas da economia. Assim, há que desmistificar a situação, nada se alterou de significativo, desde o passado recente, tudo o resto, são as costumeiras diatribes políticas a que já nos vamos habituando. Gostavamos de aproveitar para fazer uma referência à entrevista de Passos Coelho dada à RTP1 na passada quinta-feira. Já aqui afirmamos, por mais do que uma vez, que até simpatizamos com Passos Coelho, embora seja um liberal assumido, tem pelo seu lado, a juventude e a lufada de ar fresco que pode trazer à nossa vida política, cada vez mais cristalizada em líderes, partidos e políticas, que correm o risco de ficarem obsoletas face a uma nova realidade que o mundo nos trás. Contudo, foi para nós uma desilusão. Apenas vimos um Passos Coelho prudente - o que até se compreende -, mas sempre dizendo à entrevistadora que "não respondia", "ainda não era o tempo para falar desse assunto", etc., deixando no ar, mais do que a prudência - que até aceitamos -, uma certa incapacidade, uma falta de ideias que é assustador para um candidato a primeiro-ministro. Talvez Passos Coelho tenha chegado demasiado cedo à liderança dum grande partido, mas se ele é assim, enquanto líder da oposição, que nos reservará como primeiro-ministro? Ficou de tudo isto, uma entrevista perturbadora e preocupante, porque vimos um homem que parece que não está preparado, para o cargo que lhe pode cair nos braços a qualquer momento, e desde logo, numa conjuntura tão adversa como esta em que vivemos. É semelhante à velha teoria da "propensão marginal ao consumo" que, descodificando, pode ser comparada com um copo de água que se bebe num determinado momento em que temos muita sede, e que à medida que vamos bebendo sucessivos copos de água, eles vão-nos satisfazendo menos do que o primeiro, até ao momento em que não temos qualquer prazer em continuar a beber. Em política isto acontece ciclicamente, porque um líder chega ao poder com muitas promessas e expectativas, e depois com o passar do tempo, começa o desencanto e até um sintoma de alguma frustação, o que leva a buscar uma solução alternativa. Mas isto, não é só entre nós que acontece. Acontece em todas as democracias, porque noutros regimes, as coisas são bem mais complicadas. Daí que, para além dos equívocos vivemos em democracia, onde estes e outros problemas podem vir a ser rectificados, ou pelo menos existe essa convicção, o que por vezes, não corresponde à necessidade, fruto mais da incapacidade dos políticos do que do regime em si mesmo.

Friday, February 18, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 72


Sem dúvida alguma, a moção de censura anunciada pelo BE na semana passada, continuará a fazer o seu percurso nesta. A política portuguesa, cada vez mais, vive destes "fait-divers" que, para além de serem inconsequentes, não ajudam em nada a resolver os graves problemas do país. Mas os partidos estão mais preocupados com as suas estratégias do que com o bem do país, ou seja, o bem de todos nós. Cada vez será mais difícil incutir o serviço público junto dos mais novos, incutir o sentido de responsabilidade do voto - essencial em democracia -, incutir a racionalidade neste país cada vez mais afundado em contradições e equívocos. A moção do BE é um factor de irresponsabilidade enorme, dada a situação do país, e o fazê-lo em nome dos desempregados ou dos precários não chega. Se ela passasse o que iria mudar? Nada. A instabilidade ia continuar, agora mais ampliada, porque o país entraria numa nova e longa campanha eleitoral. Isto não significa que achemos que o governo deve continuar a passar entre os pingos de chuva sem se molhar. A política seguida tem sido desastrosa com graves custos para o país. Quanto a isto ninguém tem dúvidas. Mas o mais grave será daqui a dez ou vinte anos, quando se começarem a vencer os encargos que agora assumimos. Tal como este governo teve que assumir aqueles que à dez ou vinte anos foram assumidos pelos governos de então. Isto é um ciclo de empobrecimento terrível e, ou somos capazes de criar riqueza suficiente para quebrar este ciclo ou, inevitavelmente, entraremos no ciclo de pobreza tão conhecido dos economistas. Estamos a viver ao momento, ao dia, sem uma estratégia mais abrangente e sem as reformas estruturais que são essenciais e inevitáveis na máquina do Estado, mas também, o mesmo terá que ser feito ao nível empresarial, que vem vivendo à longas décadas na dependência do Estado, fenómeno que já vem desde o Estado Novo. E enquanto não nos mentalizarmos que temos todos, mas mesmo todos, que fazer um esforço de reconstrução - semelhante ao que fizeram a Inglaterra ou a Alemanha no pós-guerra -, não sairemos deste marasmos em que caímos, com tendência ainda para se agravar. Quando tudo se resume à estratégia (partidária) esquecendo tudo o resto, temos que assumir que as coisas não estão bem. Vejam-se as afirmações de Marcelo Rebelo de Sousa no passado fim-de-semana, quando diz que acha que o PSD deve continuar a apoiar o governo mas derrubá-lo a quando da apresentação do OE para 2012, seja qual for o OE apresentado!!! (Para além das já anunciadas abstenções do CDS/PP e do PSD, - para a moção de censura do BE -, a espada de Demócles continua sobre o governo, o que não afigura nada de bom para o futuro). Isto é irresponsabilidade pura. Ao fim e ao cabo, está a fazer o mesmo que o BE, só que com a crise anunciada num espaço temporal alargado, ou seja, Outubro. Ninguém pode viver numa instabilidade destas permanentemente, e é com surpresa que, ainda não vimos nenhum responsável, com funções ou sem elas, a vir a terreiro defender que é imperioso que os esforços se unam para ultrapassar esta crise enorme em que estamos mergulhados. Provavelmente, porque estas pessoas não são atingidas pela tão falada crise, porque se o fossem, como acontece com a maioria de cada um de nós, talvez já tivessem assumido outras posições mais concentâneas com o momento que vivemos. Sabemos que em democracia é assim, mas não podemos cair na estratégia do "vale tudo", sobretudo, quando uma parte do país está na vereda da indigência. Mesmo com o agravamento descontrolado do desemprego, ou com a incapacidade do Estado reduzir a despesa, ou a recessão que está de volta -, temas a que voltaremos proximamente -, há que ter algum respeito pelos portugueses para além do interesse partidário legítimo em democracia.

Sunday, February 13, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 71


E finalmente a crise anunciada. Na quinta-feira passada, o Bloco de Esquerda resolveu ultrapassar o PCP e anunciou a apresentação duma moção de censura ao Governo que será discutida a 10 de Março, um dia depois do Presidente da República ter tomado posse. Esta atitude não nos surpreendeu, visto ser o culminar duma crise anunciada desde o início do ano. Parece que Jerónimo de Sousa e os restantes deputados do PCP ficaram surpresos com este anúncio, talvez porque veio retirar protagonismo ao seu próprio partido, que foi aquele que desde alguns dias vem falando nessa possibilidade que veio a ser discutida no passado fim-de-semana. Mas o mais surpreendente foi a atitude de Francisco Louçã. Homem detentor duma inteligência muito acima da média, não deixa de ser curioso que se venha a enredar nesta teia de contradições, visto à meia dúzia de dias atrás ter afirmado que uma moção de censura nesta altura era inconsequente e que não estaria ali para facilitar o trabalho à direita. Sabemos que após o apoio a Manuel Alegre o BE sentiu a necessidade de se afastar duma eleição que não lhe foi favorável, mas pensamos que tem que haver uma atitude responsável face à situação do país, e não foi isso que vimos na atitude do BE. Embora na sexta-feira última tenham vindo esclarecer a sua atitude, não fizeram mais do que ampliar o imbróglio em que se meteram. (Ninguém anuncia uma moção de censura com um mês de dilação, até porque o país terá sérias dificuldades em conviver com esta situação por tanto tempo. Daí a clarificação que o PS pediu quanto ao sentido de voto dos restantes partidos). José Sócrates acusou de irresponsável o BE e não deixa de ter a sua razão. Na actual situação do país, estar a viver em permanente instabilidade não augura nada de bom. Esta moção de censura anunciada tem, contudo, uma virtualidade, a de esclarecer se os partidos estão ou não do lado da instabilidade política. Se o PCP ficou um pouco baralhado, o mesmo não deixou de acontecer a PSD e CDS/PP. Alguns históricos do PSD como Marques Mendes e Pacheco Pereira já vieram a terreiro alertar para o perigo da instabilidade, embora o que de facto está em causa é que o PSD não quer assumir funções no actual estado das coisas, deixando ao actual governo, o inevitável desgaste. Curiosamente, esta atitude encerra em si um risco, que é o de saber se o governo actual tem ou não capacidade para inverter a situação, e se tal vier a acontecer, isso pode ser um problema para o próprio PSD. Estamos convencidos que a moção de censura não será aprovada, mas isto diz bem da irresponsabilidade política que os partidos dão mostra e para a qual vimos alertando. Para além das estratégias partidárias, existe um país, constituído por todos nós, que parece que ninguém se importa. Assim, as coisas não vão bem. Numa altura em que é necessário serrar fileiras, actos como este do BE, não trazem nada de favorável para Portugal. Daí as nossas preocupações que vimos veiculando em artigos anteriores. Veremos o sinal que o PR vai dar em tudo isto. Aqui está o momento para clarificar a sua posição, sobretudo numa altura em que as relações entre o PM e o PR estão a passar um mau momento.

Thursday, February 10, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 70


Após as eleições presidenciais, como já era de esperar, a direita, e não só, começaram a afiar as facas com vista a provocarem uma alteração governamental. Desde logo, o CDS/PP com a tentativa de formar um acordo pré-eleitoral com o PSD. Paulo Portas não esconde a ansiedade de voltar ao governo, nem que para isso tenha que recorrer a atitudes populistas - que são normais nele -, para ver se consegue atingir os seus fins. Depois, foram as trapalhadas do cartão de eleitor, que veio pôr em causa o MAI, assunto que ainda não foi, na nossa opinião, cabalmente esclarecido. Agora, veio o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, que à quinze dias, no programa que tem na TVI, afirmou que o PSD deveria deixar o governo cumprir a legislatura. Na semana passada, em entrevista à SIC veio dar o dito por não dito, afirmando que afinal acha que o governo não irá cumprir a legislatura, e que o PSD - que ele acusava de ter muita pressa para ir para o poder - deveria criar dificuldades na aprovação do próximo OE para 2012, vindo a criar um cenário de eleições para o início do próximo ano. Mas lá foi afirmando que se deveria esperar para ver se a situação económica melhora. Quer isto dizer que o PSD está à espera que a situação do país comece o ciclo de ascensão para aparecer como o partido que resolveu a crise. Penso que esta afirmação, tão despudorada, não nos pode deixar indiferentes. Como já afirmamos diversas vezes neste espaço, este governo é culpado de muitas coisas que correram mal, mas também não podemos esquecer que está a pagar algumas das políticas erradas e compromissos assumidos no passado - inclusivé de governos do PSD - como irá acontecer com os governos que vierem a seguir e que daqui a dez ou vinte anos vão ser confrontados com as estratégias e compromissos deste governo. Não pretendemos branquear o que de mal este governo tem feito, que tem sido muito, mas não podemos deixar de alertar para uma trapassa que se pretende vender aos portugueses. Já temos tempo suficiente de democracia para entender tudo isto, embora, muitos de nós continuem a olhar para os partidos, não tanto naquilo que de bom podem trazer para o país, mas como se de um clube de futebol se tratassem. No meio de tudo isto, surgem as palavras sempre atentas e sábias de Manuel Maria Carrilho. Este lúcido histórico socialista vem chamando a atenção para aquilo que de mal se prefila na democracia portuguesa. Foi com agrado que vimos MMC a defender uma posição já por nós aqui defendida desde a vários anos, de uma refundação da nossa democracia. Estamos perante um facto incontornável que todos devemos olhar com a máxima atenção. De facto, nós subscrevemos as palavras de MMC quando defende "que se deve pensar numa nova República e num novo PS". Nós vamos mais longe, porque achamos que não chega um novo PS, mas também, um novo PSD, um novo CDS/PP, um novo PCP, um novo BE. Porque os partidos são a essência da democracia, não podemos ficar agarrados a um só partido, daí o acharmos que todos os partidos deveriam reformular-se, para bem do próprio regime. As populações começam a ficar fartas de tudo isto, a carga fiscal é imensa, as dificuldades são muitas, e tudo isto, não foi provocado por cada um de nós, embora nos façam acreditar nisso. Porque foram políticas anteriores que nos venderam este "El Dorado" onde não havia mais nada do que ilusões. E neste capítulo não foi só o PS o responsável, embora também tenha o seu quinhão na matéria. Vemos como, noutras latitudes, as populações fartas se levantam contra os que os governam, e não pensem que em Portugal, um dia será diferente. Antes que tal aconteça, para bem do país e das populações, façamos uma reflexão sobre tudo isto, antes que seja tarde demais, e andemos depois, a tentar, à pressa, resolver aquilo que não fomos capazes de resolver com tempo. Nestes períodos de forte restrição que estamos a viver, vamos ver com atenção, como o PR vai actuar. Ele prometeu que seria um factor de estabilidade para o país. Contudo, o seu discurso de vitória deixou-nos preocupados, veremos se estamos enganados, ou se Cavaco Silva se irá posicionar para levar os seus para o poder, algo que a direita vem aspirando praticamente desde o 25 de Abril de 1974. (A sua magistratura activa já começou, quando anteontem vetou, pela primeira vez, um decreto emanado do próprio governo). Estejamos atentos para que, mais uma vez, não nos vendam gato por lebre. Ao fim e ao cabo, a democracia tem no povo o seu elemento primeiro, daí a sua força, mas para ela ser eficaz, temos que analisar bem as situações antes que seja tarde de mais. Já agora, vão ao YouTube e visualizem o vídeo dos Deolinda, no Coliseu do Porto, com o nome "Que parva que eu sou". Estejam atentos à letra e vejam a reacção dos jovens presentes. Esta pode ser a geração "nem-nem" mas também é uma geração desesperada; e um povo desesperado, por vezes, perde o discernimento. Estejam atentos aos sinais antes que seja tarde demais. Mas os equívocos não ficam por aqui. Neste mar de contradições, assistimos na passada segunda-feira, dia 7 do corrente, à primeira operação de colocação de dívida em bancos portugueses. Mas o que mais se destaca de tudo isto é que, - a banca internacional que foi a principal responsável pela situação que existe hoje no mundo -, foi bem representada pela banca nacional no último leilão de dívida que o governo português colocou. Esta cobrou um juro mais elevado do que aquele que os mercados internacionais nos têm levado!!! É sintomática a usura que estas instituições têm, mesmo tratando-se de bancos nacionais com lucros imensos e que pelos vistos até conseguem pagar menos impostos com mais lucros!!! Fernando Ulrich, o homem forte do BPI, afirmou anteontem que "gostava um dia de vir a ser deputado"!!! Se com os que temos já passamos um mau bocado, imaginem agora que, os nossos banqueiros descobrem a apetência para a política. Estejamos atentos aos sinais...

Monday, February 07, 2011

Um exemplo de vida


Conheci um padre dos Missionários da Consolata na Maia, padre que, como todos os missionários, vão andando interinamente pelo mundo. Este era nigeriano, tinha estado em Roma e falava um português muito bom. Tivemos muitas conversas ao longo do tempo. Um dia ele me disse que na aldeia donde provinha, na Nigéria, aldeia muito pobre, as populações tinham inaugurado um poço - um poço comunitário -, com as ajudas monetárias de várias pessoas, entre elas, dele próprio. Disse-me que nós, aqui na Europa, não podíamos imaginar o sofrimento nessas aldeias recônditas onde nada existe. Onde um poço pode fazer a diferença. Dizia ele que, por cá, abríamos a torneira para lavar as mãos ou tomar banho, e não poderíamos imaginar que noutras latitudes, esse gesto é quase proibitivo, onde obter um pouco de água é um luxo, quiçá, a diferença entre a vida e a morte. Como todos os missionários, este tinha calcorreado uma boa parte do mundo, tinha uma visão alargada e tolerante que vai, muito além, daquela visão paroquial do comum dos padres que conhecemos. Na sua simplicidade, na felicidade que sempre irradiava, deu-me muitas lições de vida, que espero que me acompanhem ao longo do tempo. Homem tolerante, de espírito aberto, via muito para além daquilo que é comumente aceite. Falou-me da sua família, especialmente da sua mãe, que vivia na tal aldeia na Nigéria, onde o poço tinha sido a benção que Deus lhes deu. Falou-me dele, da sua experiência como padre e missionário, da sua vocação, do seu despojamento. (É bom lembrar que, um missionário, viaja com pouco mais do que a roupa que tem no corpo). Dos locais por onde passou, das comunidades que visitou e catequisou, enfim, dum mundo de homens, dum outro mundo, que nem imaginamos que exista, face a tudo aquilo que temos e que achamos que é pouco, e que significa uma imensa fortuna, para outras gentes, outros povos. Falou-me de muita coisa e daquilo que mais o entusiasmava, de Deus e da sua relação com Jesus Cristo. Deixo-vos aqui alguns dos testemunhos que me transmitiu, para a nossa reflexão e, talvez, para a nossa melhoria como seres humanos. "Temos necessidade, Senhor, de sinais quotidianos que elevem a nossa cabeça para a Luz. Como poderíamos nós avançar na vida sem alguém que nos encoraje a continuar? Como poderíamos nós amar sem receber, todos os dias, gestos de ternura e de oferta? Como poderíamos nós crer, Senhor, sem encontrar ao longo do caminho uma comunidade que revele a Tua presença? Como poderíamos esperar sem a paixão daqueles que, apesar dos desaires e das dúvidas, nos revelam o entusiasmo dos sonhos a realizar? Senhor, faz-nos tomar consciência clara dos sinais espalhados pela nossa vida e que nos chamam a orientar a nossa existência humana pela luminosidade do Evangelho de Jesus de Nazaré, Sinal de Deus enviado aos homens. Construir o reino de Deus é colaborar na construção do mundo onde haja mais justiça, mais verdade, mais solidariedade, mais paz, mais amor, mais liberdade. Construção que é preciso retomar todos os dias, sem desfalecimentos, vivendo e cultivando esses valores e lutando contra os obstáculos que sempre se levantam à sua implementação. Obstáculos a que o Evangelho chama pecado. É que o pecado, realmente, é o ódio que envenena e destrói; a intolerância que divide e marginaliza; o vício que aliena, degrada e escraviza; o egoísmo que explora e desumaniza; a mentira que desvirtua e atraiçoa; a avidez do lucro, do ter e do poder que provoca injustiças, miséria, sofrimento, corrupção e violência de todas as espécies; tudo o que dificulta ou impede a dignificação e valorização de cada ser humano ou a construção de laços mais fraternais entre os indivíduos, as famílias, os povos e as nações são manifestações do omnipresente e multiforme pecado que temos de combater em nós e no mundo, na fidelidade ao Espírito de Jesus. Também tu és preciso... Só Deus pode criar mas tu podes valorizar o que Ele criou. Só Deus pode dar Vida mas tu podes acolhê-la, transmiti-la, respeitá-la, defendê-la, promovê-la. Só Deus pode dar a Fé mas tu podes vivê-la, testemunhá-la e despertar nos outros o seu desejo. Só Deus pode dar a Paz mas tu podes defender a justiça, semear a união e a concórdia, abrir caminho à reconciliação. Só Deus pode infundir Esperança mas tu podes restituir a confiança ao amigo a travar os passos do desespero. Só Deus pode dar o Amor mas tu podes, com a tua dedicação e serviço desinteressado, ensinar o teu irmão a amar. Só Deus pode dar a Alegria mas tu podes sorrir a todos. Só Deus é o Caminho mas tu podes indicá-lo aos outros. Só Deus é a Luz mas tu podes reflecti-la e espalhá-la. Só Deus pode fazer o impossível mas tu podes fazer o que é possível. Só Deus se basta a si mesmo mas Ele preferiu contar contigo. Por isso te chama mais uma vez: Vem e segue-Me! Pode desta vez contar contigo?" Esta é a grandeza dos simples, que na sua simplicidade, que na sua singeleza, se elevam bem acima do comum dos mortais, pela sua força inspiradora, pelo seu exemplo, pela sua grandeza. Quantos de nós, seríamos capazes de nos despojar-mos de tudo e seguir o apelo, o caminho, em direcção ao próximo?

Thursday, February 03, 2011

Feliz Ano Novo Chinês - O ano do Coelho


Hoje, dia 3 de Fevereiro, comemora-se o ano novo chinês, a mais longa e importante festividade do ano novo lunar. Em torno desta festividade que conta com séculos de existência, surgiram vários mitos e tradições. Limpar a casa, decorá-la com motivos auspiciosos, reunir a família são algumas das regras para receber um convidado tão especial como o ano novo! Estudiosos confirmaram que o calendário chinês é o mais antigo registo cronológico que há na história dos povos. Ele, o calendário chinês, é muito usado para datar os eventos mais relevantes como o Ano Novo Chinês ou o Festival do Meio-Outono. O calendário na sua forma actual foi introduzido pelo imperador Wu da dinastia Han Ocidental. O calendário chinês é uma combinação dos calendários solares e lunares, e cada ano segue a ordem do horóscopo chinês com um ciclo de doze anos. Os anos começam sempre com a Lua Nova, entre 21 de Janeiro e 20 de Fevereiro, e repete-se sempre em ciclos menores de doze anos e um ciclo maior de sessenta anos. Cada ano recebe o nome de um animal, rato, boi, tigre, coelho, dragão, serpente, cavalo, carneiro, macaco, galo, cão, porco. Cada ciclo começa no ano do Dragão. Assim, este ano é o ano do Coelho, que começa precisamente hoje, 3 de Fevereiro de 2011 e prolonga-se até 22 de Janeiro de 2012. Resta dizer que, no equivalente ocidental, o ano do Coelho que agora se inicia, corresponde ao nosso ano 4708 do nosso calendário. Assim, se têm amigos de origem chinesa, ou se passarem por alguma loja de chineses (que existem muitas entre nós!) não deixem de entrar e desejar um feliz ano novo. Isto não só representa a nossa tradicional maneira de bem receber - conhecida no mundo -, mas também, reforça os laços de integração entre os povos e as suas diferentes culturas. Já pensaram como se sentiriam felizes se estivessem na China, e algum chinês vos desejasse um feliz ano novo a 31 de Dezembro? Promovamos o ecumenismo, a boa convivência entre os povos e as suas culturas, porque no fundo todos nós somos diferentes e simultaneamente tão iguais. A todos os chineses que porventura sigam este espaço um Feliz Ano Novo.