Turma Formadores Certform 66

Wednesday, March 31, 2010

Tempo de Páscoa, tempo de reflexão

Estamos chegados a mais uma celebração da Páscoa, festa maior do calendário litúrgico católico. Nestes tempos conturbados em que vivemos, onde aquilo que parece nem sempre é, até a Igreja Católica não escapou aos escândalos. Um após outro, um pouco por todo o mundo, a Igreja atravessa tempos difíceis, pelo facto de alguns dos seus membros não terem tido a coragem e a força suficientes para contornar as regras que a sua própria Fé lhes impõe. Diremos como Cristo, que a carne é fraca, mas tão fraca assim, talvez não seja fácil de entender. Sobretudo quando o alvo de todos estes problemas são crianças que não têm voz, ou são silenciadas pela vergonha e pelo medo. Diz-se na Bíblia que quando virmos acontecer algumas situações verdadeiramente impensáveis, é certo que estamos no fim dos tempos. E pelo que vemos, parece que é isto que estamos a verificar. Havia quem dissesse que o casamento de pessoas do mesmo sexo era uma aberração, seria um sinal. Mas dentro do seio da Igreja as coisas parecem ser bem mais graves, mesmo não faltando alguns elementos próximos do próprio Papa. Não será este um sinal maior? É que na Bíblia também se diz, que o demónio tomará conta da própria Igreja durante algum tempo até ser vencido. Parece que a profecia tem alguma razão de ser, porque parece que é mesmo isso que estamos a assistir. Nesta Páscoa, tempo de reflexão para aqueles que crêem, tempo maior para a fé católica, reflictamos sobre estes temas. O silenciar a opinião, ou o fazer de conta que nada disto existe é o pior que pode acontecer. À que enfrentar o problema e tentar debelá-lo. O casamento dos padres, que a Igreja tanto tem rechaçado, talvez fosse um passo importante para acabar com estes problemas e com a desertificação dos seminários. Não me compete a mim dizer o que fazer, mas o reflectir é um dever de cada um, sobretudo daqueles que, como eu, acreditam num Caminho para a redenção. A todos as minhas amigas e a todos os meus amigos, a todos os leitores deste espaço, os meus sinceros votos duma Feliz Páscoa.

Monday, March 29, 2010

Equivocos da democracia portuguesa - 47

No passado fim-de-semana tivemos as eleições no PSD como o principal evento político. Passos Coelho que era já o candidato assumido à liderança, acabou por confirmar o favoritismo nas urnas. A votação foi das mais expressivas dos últimos tempos para a eleição dum líder do PSD, o que pode indiciar que agora estarão reunidas as condições para uma verdadeira alternativa democrática ao PS. Embora o discurso um pouco radical de Pedro Passos Coelho a quando da campanha, veio a atenuar-se após a eleição. Cavaco Silva já foi dando o sinal de que é necessária estabilidade política, mas não esqueçamos que Passos Coelho é um homem que veio de fora do aparelho, um homem que não foi - nem é - apoiado pelos barões do partido. Se disso houvessem dúvidas, horas após a eleição ainda a ex-líder - a nossa "padeira de Aljubarrota" - ainda não tinha felicitado o vencedor, ela que tanto fez para o manter na sombra. Aqui se vê a noção que MFL tem da democracia. Quando disse que era preciso suspendê-la por seis meses, talvez estivesse a ser sincera no gesto, mas estava concerteza a mentir no tempo. Veremos o que este novo líder vai trazer à política portuguesa. A ideia que temos, é que se trata dum homem com determinação, tal qual o actual primeiro-ministro, embora não o possamos ver na Assembleia da República, em pleno debate. Veremos se é mais um que vem para durar mais dois anos, ou se é um líder que se vai afirmar. É nossa convicção que esta última afirmação será a verdadeira. Esta semana no debate quinzenal com o governo, já iremos perceber o que vai alterar-se na bancada do PSD, e aquilo que os portugueses podem esperar desta nova liderança. Seria bom que o PSD se fosse afirmando, pela positiva, como uma alternativa, para que o jogo democrático estivesse mais claro e fosse possível. Vamos aguardar os sinais que por aí virão dentro em breve, para ver-mos se estamos certos ou não.

Thursday, March 25, 2010

Hora de Verão

No passado sábado, dia 20 de Março, entrou a Primavera. Com o equinócio da Primavera algumas alterações se passam na nossa vida. É o brilho do dia com mais intensidade, as flores que desabrocham, os pássaros que nos brindam com os seus cânticos. Mas é também o prenúncio dum tempo novo, dum Verão que se aproxima, dum calor que tarda em chegar, do céu azul que substituirá este cinzento deste Inverno tão pesado que tivemos este ano. É também o tempo de dias maiores, para isso na passagem do próximo sábado para domingo, de 27 para 28, deverão ser adiantados os relógios uma hora. Assim, teremos a sensação de dias maiores, porque com mais horas de luz, dum tempo que esperamos mais ameno. Já agora, para os que gostam de música e, sobretudo, da música do período barroco, não deixem de ouvir a "Primavera" de Vivaldi, do ciclo "As Quatro Estações", verão que lá está tudo aquilo que atrás vos disse. E se conseguirem ouvir a versão com o violinista contemporâneo Nigel Kennedy, então terão uma visão perfeita do tema.

Monday, March 22, 2010

Em Busca do Tempo Perdido - Marcel Proust

Valentin Loius Georges Eugène Marcel Proust nasceu em Auteuil a 10 de Julho de 1871 e viria a morrer em Paris a 18 de Novembro de 1922. Este escritor francês filho de Adrien Proust, um célebre professor de medicina, e Jeanne Weil, alsaciana de origem judaica, Marcel Proust nasceu numa família rica que lhe assegurou uma vida tranquila e lhe permitiu frequentar os salões da alta sociedade da época. Após estudos no liceu Condorcet, prestou serviço militar em 1889. Devolvido à vida civil, assistiu na École Libre des Sciences Politiques aos cursos de Albert Sorel e Anatole Leroy-Beaulieu e na Sorbonne os de Henri Bergson cuja influência sobre a sua obra será essencial. Em 1900, efectuou uma viagem a Veneza e dedica-se às questões de estética. Em 1904, publicou várias traduções do crítico de arte inglesa John Ruskin (1904). Paralelamente a artigos que relatam a vida mundana publicados nos grandes jornais (entre os quais Le Fígaro), escreveu a Jean Santeuil, uma grande novela deixada incompleta e que continuará a ser inédito, e publicou "Os Prazeres e os Dias" (Les Plaisirs et les Jours), uma reunião de contos e poemas. Após a morte dos seus pais, a sua saúde já frágil deteriorou-se mais. Ele passou a viver recluso e a esgotar-se no trabalho. A sua obra principal, Em Busca do Tempo Perdido (À la Recherche du Temps Perdu), foi publicada entre 1913 e 1927, o primeiro volume editado à custa do autor na pequena editora Grasset ainda que muito rapidamente as edições Gallimard recuaram na sua recusa e aceitaram o segundo volume "À Sombra das Raparigas em Flor" pela qual recebeu em 1919 o prémio Goncourt. A homossexualidade é tema recorrente na sua obra, principalmente em Sodoma e Gomorra e nos volumes subsequentes. Trabalhou sem repouso à escrita dos seis livros seguintes de Em Busca do Tempo Perdido, até 1922. Faleceu esgotado, acometido por uma bronquite mal cuidada.

Thursday, March 18, 2010

A crise financeira e a recessão - XVIII

Voltamos ao tema do Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC), peça fundamental para o futuro da economia portuguesa e, que condicionará todos nós nos próximos anos. Antes do mais é necessário dizer que a economia portuguesa voltou a contrair no último trimestre, segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), o que significa que Portugal está, de novo, mais próximo duma recessão. Isto só por si já é preocupante quanto baste, embora não possamos perder de vista que esta situação ainda ampliará as medidas já apresentados no PEC. (Bruxelas até o acha ambicioso de mais, embora por cá, se diga o contrário). Sabemos que estas medidas rigorosas são necessárias, embora não deixemos de pensar num certo despesismo, para não lhe chamarmos outra coisa, em que a máquina estatal é pródiga. Muitas vezes olhamos para o Estado como uma entidade mítica, onde os recursos nunca se esgotam, esquecendo que esses recursos, para além de se esgotarem, são fruto do contributo de todos os cidadãos com os seus impostos. Assim, no mínimo, teremos o direito de exigir que estes sejam utilizados de maneira o mais criteriosa possível. Ainda nos lembramos quando, ainda nos bancos da Faculdade de Economia do Porto, - já lá vão muitos anos -, se ensinar que no sector público existiam algumas empresas de preços exógenos. E para explicar o seu significado, dava-se o exemplo da EDP, que quando não conseguia obter os lucros pretendidos, apenas tinha que aumentar as tarifas, que todos nós pagaríamos, porque não teríamos outra alternativa, a menos que passa-se-mos a viver à luz da vela, como no tempo dos nossos avós. Embora muitos anos passados sobre estas ideias, parece que ainda elas continuam a existir na cabeça de muita gente, pessoas com poder de decisão, que acham que os ajustes do sector público serão sempre fáceis de fazer utilizando os mecanismos dos impostos e tarifas. O PEC é, de certo modo, um repositório de tudo isto. Achamos que tais medidas são necessárias, embora questionemos o que nos levou até aqui. E não pensem que é só fruto deste governo. Esta situação já se vem arrastando desde os anos 80, embora camuflada com a adesão de Portugal à então CEE, que nos afogou em dinheiro que todos os dias entrava às pasadas em Portugal, dado a sensação duma riqueza que, de facto, não existia. Contudo, o passado já lá vai, e o que temos é que nos confrontar com aquilo que nos espera. Muitos portugueses sabem que todos nós vamos ter que fazer sacrifícios, o que não sabem é a envergadura com que eles se vão apresentar entre nós. Aconselho-vos a irem ao "portal do governo" e analisarem o PEC, que lá está disponível em versão .pdf. Sabemos que algumas questões irão passar ao lado dum público não iniciado nestas matérias, mas mesmo assim, perceberão o suficiente dos sacrifícios que vamos ter que enfrentar nos próximos anos. Esperemos é que estes sacrifícios sirvam para aligeirar a carga das gerações futuras, e que estas, analisem este período e tentem aprender com os nossos erros, para não caírem na mesma situação com que nos confrontamos hoje.

Monday, March 15, 2010

Equivocos da democracia portuguesa - 46

Temos vindo a assistir a mais um Carnaval político muito à portuguesa. Embora o verdadeiro Carnaval já tenha passado, o corso político continua. Quase todos os partidos têm acusado o governo de não ter ainda começado a governar. Talvez seja verdade, mas quantos deles contribuíram para que isso acontecesse? Com as insinuações lançadas, com as várias comissões a tentarem desestabilizar o governo, em nome duma verdade que não se sabe bem qual é, natural é que o governo, dispersado por todos estes "fait-divers" ainda não tenha tido tempo para governar. O que nos deixa perplexos é que ao fim de tanta lama terem lançado sobre o primeiro-ministro ainda nada terem conseguido provar. E por mais pessoas que escutem - estamos a lembrar-nos dos dirigentes da PT, só para dar um exemplo - continuamos no mesmo pantanal em que querem encurralar o primeiro-ministro. E quem o tem vindo a patrocinar duma maneira despudorada é o PSD, partido com responsabilidades, que melhor faria em olhar para si próprio do que para os outros. O PEC, como é do conhecimento geral, é um documento fundamental para o futuro de Portugal, embora para espanto de todos nós, houvesse quem no último Congresso extraordinário do PSD realizado ontem, achasse que se devia alterar a sua votação por mais duas semanas. Isto mostra bem o desnorte e a irresponsabilidade do principal partido da oposição, que tarda em se reencontrar, o que é mau para a nossa democracia. Ficou bem claro neste fim-de-semana que o PSD continua a ser um saco de gatos onde ninguém se entende. Que credibilidade tem para o povo português um partido que vem à muito a tentar resolver os seus problemas internos sem o conseguir. E que líderes se apresentaram? Castanheira Barros veio apenas para fazer número, Aguiar-Branco andou perdido como se fosse actor dum outro filme, Paulo Rangel, sempre populista, lá foi arrebatando a audiência mas que ideias trouxe? Muitos no fim diziam que não lhe viram nenhuma... Quanto a Passos Coelho, mais parecia que estava no "perdoa-me", facto muito relatado pelos "média" que diziam que este seria o Congresso do "perdoa-me". Será que Portugal está condenado a ter um primeiro-ministro assim? Portugal não merecerá melhor? Como ontem se lia no Expresso on-line, o Congresso do PSD teve a visita inesperada de Estaline. Santana Lopes, que se fartou de lamentar o que lhe aconteceu - será que o Congresso foi marcado para isso? - conseguiu impor a famosa "lei da rolha", num gesto verdadeiramente inqualificável numa democracia. O jornal i diz hoje que a "rolha laranja de Santana Lopes é para que nunca mais hajam líderes bebés a levar pontapés nas incubadoras". Muitos anos depois de ter sido primeiro-ministro ainda é alvo de chacota. Por isso, já sabemos que se o PSD chegar ao poder o que nos espera é uma espécie de "ditadura" camuflada, onde qualquer um poderá sofrer pelo delito de opinião. Mas esta atitude bizarra de Santana Lopes, veio mostrar o verdadeiro complexo do PSD, uma espécie de complexo de Édipo, o que nos leva a ver com mais clareza aquilo que têm feito a figuras públicas da nossa democracia, desde logo, o primeiro-ministro. As várias comissões de inquérito, vão na linha do seu inspirador ideológico, Estaline, só que agora é que o ficamos a saber com clareza. No fundo, parece que o presidente da Câmara das Caldas é que tinha razão, "não me tragam água, o que eu preciso é de vinho" dizia, rematando, "se eu tivesse falado a verdade nunca tinha sido presidente da Câmara". Este é o rosto do principal partido da oposição. Será que os portugueses se revêem neste partido que já foi de gente grande, e hoje é dominado por gente menor? Que futuro está ainda reservado para este país?

Tuesday, March 09, 2010

A crise financeira e a recessão - XVII

Ficamos ontem a saber um pouco mais, embora não no pormenor, mas seguramente no essencial, o Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) que pautará a nossa vida no futuro, até pelo menos, 2013. Como podemos verificar, trata-se dum plano duro, que pretende reduzir o déficit de Portugal para 2,8% até 2013, tentando agradar à UE, onde será em breve apresentado, bem como buscar o consenso dos mercados e das empresas de "rating". A Fitch, uma das empresas de "rating", já hoje afirmou em Londres, que o acha insuficiente. Isso pode levar a que o crédito sobre Portugal se torne mais caro, situação que a verificar-se, conduziria a um agravamento ainda maior da situação. Estas empresas de "rating", como já afirmamos neste espaço, são autênticos abutres, autênticos predadores, que tudo fazem para complicar a vida, já de si complicada, aos países que são objecto da sua sanha. Daí que a UE esteja a pensar em criar uma empresa de "rating" europeia, item que estava no programa eleitoral de Durão Barroso. Hoje, já a Alemanha vem mostrar a necessidade de criar uma espécie de fundo monetário europeu. O importante é que se passe rapidamente da teoria à prática, para não estarmos dependentes das instituições americanas que olham sempre com sobranceria para a Europa. É uma questão antiga que a UE pode e deve corrigir urgentemente. Voltando ao PEC, a classe média é a grande sacrificada, bem como os mais ricos, com a criação do novo escalão de IRS de 45% para rendimentos anuais iguais ou superiores a 150.000 euros. A classe média, acaba por ver a situação afectada, sobretudo aos nível das deduções fiscais, nomeadamente, nas despesas de saúde e educação. Com certeza que, outra das medidas, teria que haver alterações ao nível dos grandes investimentos nacionais, tendo as linhas de TGV, Lisboa-Porto e Porto-Vigo, deslizado dois anos. No fundo serão, no mínimo, quatro anos, visto que depois de lançar o investimento, haverá mais dois anos para a sua preparação. Outra das medidas prende-se com a privatização de algumas empresas que têm participações do Estado, caso da TAP, CTT, EDP, Galp, REN e seguradoras da CGD. Contudo, isto dependerá das condições de mercado. A TAP dificilmente terá quem a queira adquirir na actual situação, quanto aos CTT temos que analisar duas situações: a entrega de encomendas, não falta quem a queira fazendo até um melhor trabalho que o actualmente feito pelos correios, mas a entrega do correio normal, muitas vezes em sítios os mais recônditos, será difícil que alguém o queira sem o apoio do Estado. A EDP e a Galp penso que motivará algum interesse, mas a REN e as seguradoras da CGD não sei se serão tão apetecíveis assim. A redução do peso do Estado, pelo nível da despesa, é um bom indicador, mantendo o congelamento salarial na função pública, e continuando com a regra de um por dois, que tanto sucesso tem dado nos últimos anos, levando à diminuição de cerca de 75.000 efectivos. Os efectivos da função pública são um autêntico elefante branco, à já muitas décadas como todos sabemos. O importante é que os mercados acreditem neste plano, porque caso contrário, as coisas tornar-se-ão muito difíceis. Foi com agrado que ontem ouvi o director-geral do FMI, Dominique Strauss-Kahn, dizer que o efeito da Grécia dificilmente contaminará as economias com maior déficit, casos particulares da Portugal e Espanha. É importante que estes organismos dêem um sinal inequívoco de que o que se passa na Grécia, nada tem a ver com as situações de Portugal e Espanha. Já todos os sabíamos, mas vindo destas instituições têm um peso muito importante. Veremos como vai reagir a UE, sendo certo que, os próximos anos, serão de grandes sacrifícios para todos. Pelos menos até 2013, depois se verá se vai continuar assim, ou se a recuperação até aí adquirida, permita um levantar de algumas medidas que hoje, e no futuro próximo, nos esmagarão. Esperemos que seja para o bem de todos, caso contrário, estaremos a criar situações de grande fragilidade do tecido social, que mais tarde ou mais cedo, poderão explodir em situações que se tornarão dificilmente controláveis. O PEC continua a ser apresentado a partidos e parceiros sociais, e posteriormente na AR, - embora não seja necessário o acordo desta -, mas é uma maneira de envolver os partidos da oposição e alargar, o mais possível, a base de apoio ao plano. O futuro aí está e nada risonho.

Monday, March 08, 2010

A crise financeira e a recessão - XVI

Foi aprovado no passado fim-de-semana, em Conselho de Ministros extraordinário, o tão esperado Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC). Tem-se falado muito sobre o pouco que se conhece, visto só hoje, ele ser apresentado aos diversos partidos políticos. Mas não tenhamos dúvidas que, o apertar ainda mais do cinto está aí, para fazer face à grave situação que o país atravessa. O programa tem sido elaborado com algum cuidado, retardando um pouco a sua apresentação em Bruxelas. Isto deu-nos a visão mais abrangente de como a UE reage a situações deste tipo. A razão do atraso, parece ter sido essa. O caso grego - que é bem diferente do que o nosso, nunca é demais realçá-lo - mereceu uma atitude de grande intransigência por parte da UE. Inicialmente foi rejeitado e só após várias alterações, mais gravosas, é que ficou aprovado, vindo a desencadear os graves problemas sociais na Grécia a que temos assistido. Assim, fica para Portugal, o saber antecipadamente aquilo que nos espera, se o famoso PEC não contiver políticas fortemente restritivas para baixar o déficite para menos de 3% até 2013. Claro que o cidadão comum não vai gostar do que vem por aí, mas a inevitabilidade da situação a isso impõe. O governo disse que a restrição iria ser feita, essencialmente, pelo lado da despesa pública. É uma boa notícia, porque o nosso Estado é despesista, e não é compreensível que sejam as populações a pagar os seus desvarios. Em Portugal, como nos outros países, normalmente, o Estado não olha a contas, porque tem sempre o factor fiscal para corrigir. Só que agora a margem de manobra é menor, e será necessário pensar que a despesa do Estado tem que ser mais racional e mais controlada. Falasse do polvo a propósito de outras questões, mas acho que é aqui que se deve empregar o termo com mais propriedade. Vamos a ver se é desta que, deixam os mesmos, de pagar a crise, ou pelo menos, verem mais atenuada essa carga. Já era tempo das populações serem um pouco poupadas ao peso duma crise que nos vem esmagando à muito. Esperemos para ver como reagem os partidos e, sobretudo, como reage a UE, que no fundo, tutela estas questões, sendo a verdadeira mandatária para esta situação. Este é o lado menos bom para alguns, mas o estar na UE e sobretudo, no euro, é hoje uma defesa da nossa economia, porque se lá não estivéssemos as coisas seriam bem mais dramáticas. A esperança nos próximos dias chama-se Plano de Estabilidade e Crescimento, peça fundamental para o futuro do país, que é como dizer, para o futuro de todos nós.

Thursday, March 04, 2010

Grandes Tradições Religiosas - Karen Armstrong

Desde já algum tempo que não tenho trazido a este espaço a habitual nota sobre livros. É certo que acho que os assuntos tratados têm tido o seu peso e, sobretudo, a sua actualidade. Pois hoje, vou-me redimir desta falha, trazendo-vos um livro muito interessante chamado "Grandes Tradições Religiosas" da autoria de uma das mais importantes historiadoras de religião, Karen Armstrong de nacionalidade britânica. Este livro cobre o período que envolveu vários mundos, desde logo o mundo no tempo de Buda, Sócrates, Confúcio e Jeremias. Entre os séculos IX e II a.C., os povos de quatro regiões diferentes do mundo criaram as tradições religiosas e filosóficas que têm norteado a humanidade até aos nossos dias: confucionismo e tauismo na China, hinduísmo e budismo na Índia, monoteísmo em Israel e racionalismo filosófico na Grécia. Este período, a que Karl Jaspers chamou Era Axial, viu surgir Buda, Sócrates, Confúcio e Jeremias, entre outros. Estes génios espirituais e filosóficos foram pioneiros de toda uma nova forma de estar, de pensar o mundo e a existência. Como se mantêm ainda tão próximos de nós? Como é possível, que passado tanto tempo sobre os seus ensinamentos, continuemos a recorrer a eles? O que poderia parecer um mero exercício de arqueologia revela-se, na verdade, de extrema actualidade. Em tempos de crise espiritual e social voltámos a procurar fontes de orientação. Talvez seja preciso reencontrar o ethos axial de que falava Karl Jaspers. O judaísmo rabínico, o cristianismo e o próprio islamismo são frutos de uma era em que se dilataram as fronteiras da consciência humana e da sua dimensão transcendente. Faz por isso sentido a noção de religação de Karen Armstrong: "Vivemos - gostemos ou não - num mundo unido electrónica, económica e politicamente. O que acontece em Gaza ou no Iraque repercute-se em Nova Iorque ou Londres (...). A única forma de acabar com a hostilidade é aprender a pensar que as pessoas de outros países, mesmo que remotos, são tão importantes quanto nós e praticar a regra de ouro - não faças aos outros o que não queres que te façam a ti -, proposta originariamente por Confúcio cerca de 500 anos antes de Cristo. Esta é a única via". É um livro muito interessante e fascinante que nos permite pensar sobre muito do que está a acontecer diariamente no nosso tempo, talvez como um refluxo de outras atitudes tomadas noutros tempos bem anteriores aos nossos. A edição é do Círculo de Leitores na sua colecção "Temas e Debates". Recomendo vivamente.

Monday, March 01, 2010

Chopin - 200 anos após o seu nascimento

Comemora-se este ano, mais precisamenta hoje, os 200 anos do nascimento do grande compositor polaco Frederich Chopin, que nasceu em Zelazowa Wola a 1 de Março de 1810, tendo vindo a morrer em Paris a 17 de Outubro de 1849. Virtuoso do piano, era um digno representante do romantismo. Fryderyk Franciszek Chopin era um impulsivo criador, a ele estando ligadas algumas das mais fantásticas peças para piano de sempre. Os célebres "études" como foi o caso do "Étude Op. 10 No. 12 - Revolutionary", ou como o "Étude La Campanella" são bem o exemplo disso mesmo. Muita coisa se tem escrito sobre Chopin, mas o que mais me deixa extasiado é a grande capacidade que temos de nos espantar perante o génio deste artista. Numa época em que a mesquinhez progride sem obstáculos, onde a capacidade de criticar e vilipendiar o próximo são coisas de somenos, muitas vezes para que sobressaiamos perante os outros, servindo em muitos casos também, para esconder a falta de mérito que temos para que nos destaquemos face aos outros. Já Schumann, um outro famoso compositor e pianista, se espantava com a música de Chopin, sem complexo algum. Era frequente Schumann dizer "chegou o génio" perante terceiros, quando vislumbrava Chopin. Contudo este, nunca foi homem para se espantar com os outros, embora admirasse, certamente, Mozart ou Bach. Não nos esquecemos que a quando da sua morte, - e por seu pedido expresso - foi executado o "Requiem" de Mozart. Mas para além, destes especialistas, que o eram de facto, e para além deste simples mortal, que vos escreve, e que nem melómano chega a ser, não tenho dúvida alguma em me espantar face à música de Chopin. Descobri este músico muito jovem, quase por acaso, e nunca mais o deixei de ouvir. Depois de ter lido o "Diário Íntimo" de George Sand, pseudónimo de Amandine-Aurore-Lucile Dupin, baronesa Dudevant - uma das suas companheiras - ainda mais fascinado fiquei. (Lembro apenas neste parêntesis que, neste espaço, à já algum tempo, fiz uma análise ao livro de George Sand a que aconselho uma leitura atenta e repousada). Mas voltando a Chopin, só me resta dizer que se não conhecem, façam um esforço por ouvir algo daquilo que compôs, - estou-me a lembrar, por exemplo, do Concerto para Piano No. 1 - porque vale bem a pena, e dessa forma, talvez celebremos da maneira mais sublime, o nascimento deste grande vulto da música, que foi Frédéric Chopin.