Turma Formadores Certform 66

Tuesday, December 31, 2013

Feliz Ano Novo 2014

Mais um ano se cumpre e outro se inicia. Nesta demanda da vida que se faz dia após dia até que os nossos dias de esgotem. Mas atrás e para além dos nossos, outros dias se cumprirão naquilo que é o ciclo da vida sempre renovado. O 2013 fica para trás, com imensos problemas e desilusões. O 2014 ameaça ir na mesma senda, mas nós insistimos em pensar que será diferente, que será melhor. Talvez. Embora tenha muitas dúvidas. Durante este período muito aconteceu, como sempre. Amizades chegaram, amizades partiram. O percurso do encontro e desencontro que torna a vida esta epopeia maravilhosa. As mais profundas ficaram, as mais leves partiram. Porque leves como uma pena, são arrastadas pelo vento para cumprir outros desígnios. As mais profundas ficaram como a rocha agarrada ao chão. Porque esse era o seu destino final, para elas tinha terminado a sua demanda. Às que ficaram à que saudá-las porque são perenes, às que partiram à que saudá-las também, e desejar-lhes uma boa viagem. Que vão cumprir o seu sonho porque ainda não encontraram o seu lugar de amarração. Das inimizades não quero falar. Não porque são inimizades, mas porque foram importantes para o nosso crescimento nesta vida que nos foi concedida. E depois desapareceram porque tinham cumprido aquilo que lhes foi proposto. Sem deixar rasto. Se fomos capazes de evoluir nelas encontraremos, talvez, o maior dos ensinamentos. Se não o fomos, teremos que arrastar o peso da nossa incapacidade, mergulhar no nosso tormento, ele também purificador. Todos foram, todos são importantes. Porque a vida se cumpre com todos. Humanos, animais e natureza, todos. Porque todos fazem parte da vida. Deste mistério maior que ainda não conseguimos entender. Assim, com o coração aberto, com uma profunda sinceridade, aqui vos quero deixar os meus votos dum Feliz Ano Novo. Que ele vos traga tudo de bom para que assim, vós, tal como eu, possamos cumprir a jornada que um dia nos foi proposta e por nós foi aceite. O tempo é criação do homem. Conforme vêm e vão Luas e Sóis contam-se, consoante a cultura de cada povo, o tempo de horas, dias, meses, anos, décadas, séculos, enfim, da vida. A cada período de 365 dias, renovamos o nosso viver anual. Relembramos sonhos e metas, sentimentos e passado fazemos um balanço sazonal.  A vida acontece em ciclos, a preparação da vida no ventre feminino renova-se em ciclos, a Lua nos acompanha em ciclos mensais, o Sol em ciclos diários.  Estamos todos juntos nessa epopeia vital, - humanos, animais e natureza - , dependemos uns dos outros. Cada gesto de amor e carinho decorre mesmo do alimento da sua natureza, cada expressão, de uma inspiração advinda de alguém. Vocês são a minha inspiração. Exorto-vos a todos, os quais acompanho, no ciclo de cada batida do meu coração, a neste ano que chega, a amarem sem ciclos, incessantemente, assim como era no princípio, agora e sempre, para que possamos, todos, gozar de uma vida plena e abundante. Que venham o Sol e as Chuvas para aquecerem, enternecerem e apaixonarem nossos corações, que venha a ternura e o afeto, berço da meiguice, da autoestima e da beleza, para o aformoseamento da vida. E que nos continuemos amando cada vez mais para inspiração da emoção e do bem-estar. Depende só de nós. Com amor. Feliz ano novo de 2014, a todos vocês que tive o imenso prazer de tê-los por aqui.

Sunday, December 29, 2013

"O Príncipe do Mar" - Adolfo Simões Müller

Há tempos ouvi numa estação de televisão a referência a um livro, muito entusiasmada e interessante, sobre a "ínclita geração", isto é, a geração dos filhos de D. João I e de D. Filipa de Lencastre. O livro chama-se "O Príncipe do Mar" e é da autoria de Adolfo Simões Müller. Não resisti ao apelo e dei comigo a procurá-lo nas livrarias. Para minha surpresa o livro estava esgotadíssimo e a possibilidade de o encontrar parecia até muito remota. Contudo, e depois de muita procura e empenho, consegui que uma livraria de referência se comprometesse a tentar obtê-lo junto da editora. Depois de alguma espera, lá veio a boa nova de que me tinham conseguido obter o livro. Trata-se dum pequeno livro de bolso - mas enorme em conteúdo - com o prefácio - não menos interessante - de Alice Vieira. Diz Alice Vieira no seu prefácio: "Com os livros de Adolfo Simões Müller, eu aprendi que a nossa vida era aquilo que nós quiséssemos fazer dela. (...) com "O Príncipe do Mar" (que têm agora nas vossas mãos), eu aprendi a ter orgulho do povo a que pertenço - que se meteu à aventura sobre águas desconhecidas, rumo a terras desconhecidas, ouvindo as vozes de então garantir que a linha do horizonte era o fim do mundo, e que para lá do fim do mundo havia só dragões. Mas o Infante D. Henrique sabia que nada disso era verdade, que havia muitas terras para lá daquela linha que a nossa vista alcançava, e descobri-las foi o sonho e o trabalho de toda a sua vida". E é disso mesmo que o livro trata. Do início do período mais glorioso da nossa História com o início da senda dos Descobrimentos. Depois dum enquadramento histórico da época, Simões Müller começa a desenhar com grande pormenor como é que isso foi possível, saído dum sonho de um homem. Numa linguagem simples e apelativa, vemos desenrolar-se sobre os nossos olhos esta história fascinante que nos havia de dar um lugar na outra História, a História Universal. Sobre o autor, temos que Adolfo Simões Müller nasceu em Lisboa a 18 de Agosto de 1909 e viria a falecer a 17 de Abril de 1989 também em Lisboa. Para além de escritor foi também jornalista tendo trabalhado no jornal "Novidades" que fundou e de que foi diretor. Consagrou toda a sua vida a escrever para jovens a quem ele quis passar o seu testemunho. Obras como "Caixinha de Brinquedos" (1937) e "O Feiticeiro da Cabana Azul" (1942), foram ambos galardoados com o Prémio Nacional de Literatura Infantil. Para além destas, escreveu muitas outras, sendo de salientar a adaptação de várias obras para um público infantil, donde destaco "Os Lusíadas" e a "Peregrinação". A edição é da Biis, uma empresa do grupo Leya. E termino ainda com o prefácio de Alice Vieira: "(...) E só lhes peço que, depois de lerem (e relerem...) este "Príncipe do Mar", o guardem com muito cuidado na vossa estante. Para um dia chegar em bom estado às mãos dos vossos filhos, e deles às mãos dos vossos netos". Um livro imperdível a um preço quase simbólico. Aconselho vivamente apesar da dificuldade em o encontrar nos escaparates das livrarias.

Saturday, December 28, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 314

Quando se fala de austeridade e contenção nos custos é sempre bom olharmos com atenção para a prática seguida pelos governantes. Os carros são de luxo, as secretárias são várias para cada ministro, as assessorias são principescas. A propósito dos custos com que este Governo assumiu com assessorias, fizemos, há pouco tempo atrás, uma publicação acerca do assunto. Agora que se sabe que PSD/CDS-PP entregaram quase meio milhão de euros à Morais Leitão, Galvão Teles da Silva e Associados, pela assessoria jurídica com os contractos dos swaps, e ainda mais 500 mil euros à StormHarbour, pela assessoria financeira, aproveitamos para recordar que, em 2013, este Governo entregou também cerca de 700 mil euros à Vieira de Almeida e Associados, pela assessoria legal para a privatização dos CTT. São quase 2 milhões de euros pagos por dois processos apenas. Afinal, quem anda a viver acima das suas possibilidades? Ah, já agora, qual foi o resultado das milionárias assessorias contratadas para resolver os contractos dos swaps? Conseguiram uma brilhante solução que beneficia o Estado? Conseguiram poupar dinheiro ao contribuinte? Conseguiram cancelar os especulativos contractos de swaps, como fez um simples empresário de Barcelos? Não. Após cerca de um milhão de euros entregues em assessorias jurídicas e financeiras, o Estado resolveu pagar e calar. Para já, calcula-se que o custo dos swaps deverá rondar os mil milhões e seiscentos mil euros (1.600.000.000), que é mais do dobro do valor que este Governo quer cortar nas pensões de reformados. Estão, portanto, a tentar tirar dinheiro aos reformados para pagarem os swaps aos bancos. Assim não se motiva um país já de si depauperado, nem se motiva o cidadão para aceitar as enormes restrições que lhe vêm a ser impostas desde há quase três anos. "Olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço" parece ser o lema do executivo. Mas não é assim que se vai em frente. Não é assim que se acalma a descrença popular, campo sempre fértil para um qualquer "iluminado". É tempo de começarmos a olhar para os detalhes para que depois não fiquemos surpreendidos face às consequências.

Friday, December 27, 2013

"Defensores da austeridade sofrem de amnésia" - Kenneth Rogoff e Carmen Reinhart

Já há algum tempo trouxe a este espaço o magnífico livro de Mark Blyth, "Austeridade - A História de uma Ideia Perigosa", que recomendo vivamente a todos aqueles que se interessam por estas questões. Na mesma linha publico aqui, na íntegra, um artigo publicado no Expresso on-line de ontem sobre o mesmo tema. Porque vem na linha de Mark Blyth e também pela sua pertinência e atualidade aqui o transcrevo na sua totalidade.
 
"Em nenhum lado o estado de negação é mais agudo do que no caso da amnésia coletiva sobre as experiências anteriores de desalavancagem nas economias desenvolvidas - especialmente, mas não exclusivamente, antes da 2ª Guerra Mundial - que envolveram uma variedade de reestruturações de dívida soberana e privada, bancarrotas, conversões de dívida e repressão financeira", dizem Kenneth Rogoff e Carmen Reinhart, dois académicos especialistas em história das crises, num artigo publicado, esta semana, nos Working Papers do Fundo Monetário Internacional (FMI).
"A fase atual do ciclo de negação é marcada por uma abordagem oficial baseada na suposição de que o crescimento normal pode ser restaurado na base de uma mistura de austeridade, resignação e crescimento", escrevem os dois académicos em "Financial and Sovereign Debt Crises - Some Lessons Learned and Those Forgotten". Rogoff e Reinhart publicaram, em 2009, com um título irónico "Desta vez é diferente" (tradução pela Actual/Almedina, 2013), uma volumosa obra sobre "Oito Séculos de Loucura Financeira".
Os dois académicos foram criticados este ano por um outro trabalho académico, publicado em 2010, em que pretendiam que se verificaria historicamente um limiar na dívida pública (90% do PIB) a partir do qual a economia cairia em recessão, uma conclusão cujos fundamentos empíricos se relevaram errados. Esse pretenso limiar foi uma das justificações para a austeridade defendida na Europa nomeadamente pelo Eurogrupo e pelo Banco Central Europeu a partir dessa altura.
Em estado de negação
Rogoff e Reinhart sublinham, neste novo artigo, que o estado de negação dos governantes e de outras autoridades das economias desenvolvidas leva-os a defender que "não é preciso recorrer à caixa de ferramentas usada pelas economias emergentes, que incluiu reestruturações de dívida, inflação mais elevada, controlo de capitais e repressão financeira significativa" em décadas recentes, "esquecendo" inclusive que esses instrumentos foram "parte integrante da resolução de situações de sobre-endividamento" nas próprias economias desenvolvidas em diversas alturas no século XX.
Baseados na história das crises desde 1900, os dois autores apontam para cinco elementos de gestão das crises de sobre-endividamento que foram usados em separado ou em alguma combinação: crescimento económico; austeridade; reestruturação de dívida ou bancarrota; inflação inesperada; e repressão financeira com alguma dose de inflação. O crescimento económico como cura para o endividamento foi "relativamente raro". As restantes ferramentas implicam, sem dúvida, "uma dose de impopularidade ou de dificuldade prática", referem os autores.
Mas o que é grave é que os atuais governantes nos países desenvolvidos tendem a "esquecer" as reestruturações de dívida e a repressão financeira conjugada com alguma dose de inflação, argumentando que isso são "coisas" para as economias emergentes. Na verdade, as reestruturações de dívida foram frequentes nas economias desenvolvidas no período entre as duas Guerras Mundiais e a repressão financeira com inflação foi usada extensivamente após a 2ª Guerra Mundial.
Perdões de dívida
Rogoff e Reinhart recordam os perdões de dívida concedidos pelos EUA em 1934 às economias desenvolvidas. A França e a Inglaterra beneficiaram de reduções de dívida na ordem de 22 a 24% do PIB e a Itália ficou perto dos 20%. No caso das dívidas de outras economias ao Reino Unido, na mesma altura, nunca foram pagas ou entraram em situação de bancarrota. Estas operações "desempenharam um papel substantivo na redução do sobre-endividamento derivado quer da 1ª Guerra Mundial como da Grande Depressão".
Apesar do discurso "moral" atual contra as mexidas na dívida soberana na Europa, dois acontecimentos recentes ilustram o seu papel: a reestruturação da dívida grega na mão de credores privados - o que foi designado pelo acrónimo em inglês PSI, para envolvimento do sector privado - concluída em abril de 2012, que ajudou a afastar o medo de saídas de membros do euro e a esfriar o sobreaquecimento no mercado secundário da dívida dos periféricos; e a operação de troca na Irlanda das notas promissórias no valor de 25 mil milhões de euros com uma maturidade de 10 anos por dívida de muito longo prazo com uma maturidade média de 34,5 anos e com juros mais baixos, o que permitiu ao governo de Dublin aligeirar o fardo anual da dívida no pós-troika.
"Dada a magnitude da dívida atual e da probabilidade de um período sustentável de crescimento económico médio abaixo do par, é duvidoso que a austeridade orçamental seja suficiente, mesmo que combinada com repressão financeira. Pelo contrário, a dimensão dos problemas sugere que reestruturações [de dívida] serão necessárias, em particular para a periferia da Europa, muito para além do que tem sido discutido em público, até ao momento", concluem os autores.
Repressão financeira
Quanto à repressão financeira depois da 2ª Guerra Mundial, os dois académicos dizem que atuou, por exemplo, através de taxas de juro reais negativas sobretudo nos EUA e no Reino Unido ou por via da inflação, como nos casos de Itália e Austrália.
O conceito de repressão financeira foi desenvolvido pelos académicos John Gurley e E. Shaw nos anos 1960 e por Ronald McKinnon duas décadas depois. Pretende caracterizar as políticas governamentais tendentes a reduzir a remuneração obtida por aforradores e canalizar recursos para os emissores de dívida (como os próprios Estados sobre-endividados); é uma forma de redistribuição de capital. Incluem, os empréstimos diretos ao Estado por parte de entidades domésticas (como os fundos de pensões), tetos explícitos ou implícitos nas taxas de juro, regulamentação de movimentos de capitais e, em geral, uma ligação estreita entre os governos e os bancos locais.
Duas propostas recentes podem ilustrar um mecanismo típico de repressão financeira via impostos: a imposição de um imposto extraordinário progressivo sobre os depósitos bancários que foi rejeitado pelo parlamento cipriota, no âmbito do resgate daquele país pela troika em março; e a hipótese colocada, no "Fiscal Monitor" de outubro, por técnicos do FMI de um imposto extraordinário (de 10%) sobre a riqueza das famílias. Este tipo de medidas necessita, em geral, de controlo de capitais para poder ter eficácia.
Segundo Rogoff e Reinhart, um contexto de políticas desse tipo permitiu às economias desenvolvidas manter um rácio médio da dívida pública em relação ao PIB inferior a 30% entre 1970 e 1980, contrastando com níveis acima de 80% logo após a 2ª Guerra Mundial e em 2010.
Depois deste artigo, como depois de se ter lido o livro de Mark Blyth, nada fica como dantes. Parece que cada vez mais pessoas tendem a mostram o enorme embuste que está a ser criado junto dos países periféricos europeus, sob resgate, e de economias mais frágeis. Como já aqui defendi por diversas vezes, quando se diz que não há alternativa, isso personifica uma enorme mentira, basta para isso consultar os manuais do Keynesianismo que qualquer estudante destas matérias conhece. Depois de ouvirmos pessoas com o peso que estas têm na cena internacional e do prestígio que gozam junto dos seus pares, é fácil concluir que para além da austeridade existe algo, que esta não é o fim em si, que ela esconde um projeto político e económico - ultraliberalismo - que nos estão a esconder. É tempo de pensarmos que nem tudo se resume a um punhado de cortes a esmo, que a situação pode evoluir favoravelmente com políticas menos agressivas para as economias nacionais e para os seus cidadãos. Um artigo importante que nos deve motivar (se possível, ainda mais) a pensar sobre estas questões que nos vêm afligindo nos últimos anos. Um bom tema de análise e reflexão para nos levar ao passo seguinte, o de abrir horizontes para outras estratégias, que as há. 

Thursday, December 26, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 313

Precisamente ontem, dia de Natal, e cumprindo o tempo que a legislação lhe confere, veio-se a saber que o Presidente da República não vai enviar o OE2014 para fiscalização preventiva. Se já aqui, e por diversas vezes, assumimos a divergência com Cavaco Silva sobre a sua atuação durante este período difícil que Portugal atravessa, neste caso, não poderíamos estar mais de acordo. Desde logo, porque tal implicaria que o próximo ano se iniciasse com uma gestão por duodécimos, depois pela imagem que iríamos projetar no exterior. Neste momento difícil porque passamos, somos de opinião que algumas atitudes têm que ser preservadas para não criar ainda mais turbulência do que aquela que, o próprio executivo só por si, teima em criar no país. O Presidente da República tem sempre a oportunidade de, caso tenha alguma dúvida sobre algumas normas, de enviar o documento para a fiscalização sucessiva dessas mesmas normas que lhe causam mais dúvidas, salvaguardando assim, a fiscalização das mesmas, bem como, evitando que o país entre no novo ano sem um orçamento aprovado. Isto não quer dizer que estejamos de acordo com tudo aquilo que nele se diz, mas como existe sempre a possibilidade duma fiscalização "à posteriore", pensamos que é melhor assim. Aceitamos que alguns critiquem esta atitude de Cavaco, mas estamos certos de que o fazem mais por tática política do que por pensarem que isso seria o melhor para Portugal. Assim, neste caso, achamos que esta foi a atitude correta.

Tuesday, December 24, 2013

Parabéns, Nicolau!

Hoje passam 11 anos sobre a chegada do Nicolau - o meu mais jovem cão - a minha casa. Tal como hoje, também nesse dia estava um temporal enorme. Durante a noite ouvi ganir um cachorro, mas pensei que fosse dos prédios fronteiriços. Que estivesse em alguma varanda como, infelizmente, havia muitos. Mas não. De manhã bem cedo fui buscar o pão - tinha uma confeitaria por baixo de minha casa - e vi, completamente encharcado e a tiritar de frio, um pequeno cachorrinho que gania muito. Não fiquei indiferente e trouxe-o para casa. Visivelmente iria ser um cão grande embora na altura cabe-se na palma duma mão. Nessa altura vivia num apartamento e já tinha uma outra cadela - a Tuxa - e daí a adoção ser problemática. Mas o coração falou mais alto e ele lá ficou. A minha mulher lá lhe deu um banho quente e uma alcofa bem quentinho onde ele dormiu profundamente. Como se haveria de chamar? Era a questão seguinte. Como era véspera de Natal e dia de S. Nicolau, pois nada melhor que se chamar Nicolau. Assim ficou até hoje. A Tuxa adotou-o facilmente. Foi ela que o criou. Ainda me lembro do desvelo da cadela para com ele, como o ensinou a andar. (É preciso dizer que, segundo a veterinária, ele teria sido abandonado ao fim de três semanas!). Triste destino para um recém-nascido não fosse o ter encontrado e trazido comigo. Hoje é um cão forte e determinado. É o meu companheiro. A Tuxa já velha e doente ainda o vai repreendendo aqui e ali, mas sempre lhe tolerou tudo, como uma boa mãe. Ele assume-se como líder e já não lhe dá a atenção doutros tempos. Sabe que é mais jovem e mais forte. Assim, passados 11 anos, aqui fica a homenagem a mais um cão de rua que resgatei - a Tuxa também foi resgatada à rua - e de que nunca me arrependi. É um grande companheiro, e o simples facto de ter entrado na minha vida numa véspera de Natal, faz com que jamais esqueça essa data. Foi, na altura, um belo presente de Natal. Porque gostei dele desde que o vi, porque me senti bem por ter salvo uma vida, porque adoro animais. E quando fazemos algo por um cão abandonado sentimo-nos bem  porque temos a certeza de que arranjamos um amigo para o resto da vida. Foi este o caso. Parabéns, Nicolau!

Sunday, December 22, 2013

Boas Festas, amigos

Depois da minha pré-crónica de Natal - como eufemisticamente lhe chamei - que foi publicada há cerca de três semanas, julgo não haver muito mais a dizer. Mas é sempre de bom tom alinhar algumas palavras nesta altura a todos aqueles que me seguem neste e noutros espaços. Como vos disse então, o Natal para mim vale, sobretudo, pelos preparativos. Já era assim na minha feliz infância, embora depois na noite de Natal, ela atingisse o seu zénite com os famosos brinquedos que então, - nesses tempos já longínquos -, só por essa altura se recebiam. Mas à medida que fui crescendo e as responsabilidades foram substituindo a irresponsabilidade da meninice as coisas foram mudando. Apenas restou esse sabor maior do Natal a quando dos seus preparativos, dos enfeites que saem das suas caixas onde dormem durante um ano e que nos surgem em todo o seu esplendor. Depois vem o aproximar da data maior, e aí a angústia vai crescendo fruto de tempos menos bons por que passei. A memória dos meus ausentes também não ajuda. É para eles que vai sempre o pensamento por mais que não o queira, mas eu quero. Porque nessa altura eles estão ali, ao meu lado, como estiveram noutros tempos, enchendo-me de momentos de felicidade que guardarei até ao fim dos meus dias. E nesta altura, também o pensamento vai para os meus semelhantes que não conseguem ter aquilo que eu tenho, como também vai para os animais sofredores e de que poucos (muito poucos) se lembram nesta época, como não pode deixar de ir de igual modo para a natureza envolvente que não respeitamos. (E muitos pensam que respeitá-la é amputar árvores que servem para ostentar enfeites que passada a época são destruídos. Tradição introduzida por D. Fernando de Saxo-Coburgo-Gotha que era de origem austríaca e que foi marido da nossa rainha D. Isabel II, e que trouxe essa moda que é natural dos países do Norte). Mas estas três vertentes são recorrentes no meu discurso, correndo até o risco de se tornarem enfadonhas, mas são três pilares que julgo serem importantes para a definição dum bom caráter. Fui assim educado e, seguramente, que já é tarde - muito tarde mesmo - para mudar. Nos dias que correm as coisas vão tendo outro sabor e vão amenizando as agruras que as memórias, por vezes, nos reservam. Depois da entrada da minha afilhada Inês na minha vida, é para ela que celebro o Natal. Tento fazer o melhor imitando - com as devidas distâncias - aquilo que outros fizeram comigo quando tinha a idade dela e depois nos anos subsequentes. Ela é a razão da minha vida, ela é a minha epifania, ela é para mim o símbolo do Natal. Pela sua pequenez, pela sua fragilidade, pelo seu deslumbramento de tudo o que vê de novo, faz-me lembrar esses mesmos sentimentos que tive então. E só por isso, o Natal já vale a pena! Não são os prazeres da mesa que me motivam, nem as prendas - cada vez mais simbólicas - que me fazem correr. A Inês é, de facto, o centro, o meu "leit-motiv", o motivo maior do meu Natal, do meu (triste) Natal, como o apouquei há umas semanas atrás. E é dela que se irradia esse brilho, essa luz, esse calor que faz com que a palavra "triste" tenha que ser forçosamente retirada, porque seria injusto para ela, ser tão pequenino e tão frágil. Ela que transporta em si toda a alegria do mundo, ela que encerra em si todas as expectativas que tenho. Daí o Natal valer a pena porque uma criança tem sempre esse dom - que nós adultos já esquecemos - de transformar a tristeza em alegria, esbater sofrimentos, irradiar amor. Aquele amor que se celebra nesta quadra e que muitas vezes esquecemos face a uma mesa farta que elimina aquilo que de mais profundo e espiritual transportamos. Não enxergamos para além do imediato, a que só a inocência duma criança é capaz de pôr ordem. Assim, é com este espírito que caminho em direção ao meu Natal. E é com este espírito que vos desejo a todos, aos amigos e também àqueles de quem não gosto tanto e/ou que também não gostam de mim, umas Boas Festas. Não por ser Natal, mas porque deve ser assim. A nobreza do perdão, não a ignomínia do esquecimento; a mão que se estende não para esmagar, mas para ajudar o outro caído a reerguer-se. Como diz o poeta "Natal é quando um homem quiser". Como já disse na outra crónica, por vezes não queremos Natal, por vezes queremos mas não acontece Natal. Mas quem tem uma criança já conquistou o mundo. O seguir o caminho guiado por uma mão pequenina, que encerra a inocência e a pureza, só por si, já é o milagre do Natal. O Natal na sua forma mais pura e cândida. Feliz Natal para todos.

Friday, December 20, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 312

Mais um chumbo - e este foi por unanimidade - do TC ao governo! Afinal, este governo que tanto defende a teoria do bom aluno, porta-se como um cábula que não é capaz de aprender com os seus próprios erros. Quatro chumbos do TC já começam a ser demais. Mas o mais original de tudo isto é que o OE2014 ainda nem entrou em vigor e já vai necessitar dum retificativo! Coisas originais se passam nesta terra lusa! Talvez agora, e face a mais este chumbo, o PR pense que deve enviá-lo para fiscalização preventiva, porque caso não o faça, estamos perante um absurdo colossal. Quando se sabe que o OE está ferido de várias inconstitucionalidades será difícil entender a aprovação do mesmo pelo PR e manter o país em suspenso durante mais uns meses porque, seguramente, os partidos da oposição enviá-lo-ão para fiscalização sucessiva. Paradoxos em que este governo PSD/CDS-PP se envolveu com um PR a alinhar pelo mesmo diapasão não fosse ele, também, membro do PSD. E não basta agora vir dizer que o país estava "quase lá" - como ontem vimos por um membro do partido laranja - porque o "quase" tem muito que se lhe diga. Ainda ontem - dia de muitos acontecimentos - o líder da "troika" Subir Lall, membro do FMI, afirmava que o "ajustamento de Portugal vai levar mais 10 a 15 anos"! Coisa que ninguém achou estranho porque todos vemos que o país está a afundar dia após dia sem fim à vista. Já Vítor Gaspar - ainda se lembram do ex-ministro das finanças? - afirmava que "o governo não percebia o que se passava no mundo do trabalho". O problema é que o governo não só não percebe o que se passa no mundo do trabalho como tem dificuldade em perceber o que se passa nos "outros mundos" que o rodeiam. A estratégia passa por aligeirar a pressão sobre a economia com menos austeridade. Há uns meses atrás, Sócrates numa sessão académica numa universidade parisiense, afirmou que "a dívida não é para pagar mas para ser gerida". Na altura muita gente se insurgiu com esta afirmação - aliás correta - mas, ainda não vimos ninguém se pronunciar sobre a afirma que ontem Alberto João Jardim fez ao afirmar que "a dívida não se paga, o que se paga é o serviço da dívida". Assim, preto no branco, em linha - como agora se diz - com a afirmação de Sócrates. Porque é mesmo assim. Qualquer estudante de economia sabe que se deve ir amortizando, sempre que possível, a dívida do país, mas a grande preocupação é com cumprir com o serviço da dívida e não deixar a dívida crescer em demasiado. Aparentemente, o governo acha que não e vai daí reduz à miséria as populações, vende a retalho o país, sobe impostos como nunca, enquanto o desemprego não pára de aumentar, bem como a dívida. Contudo, e segundo alguns ameaços do PM, parece que a saga irá continuar, e o aumento do IVA poderá vir a acontecer ou em alternativa a contribuição de solidariedade. Qual delas a melhor. O governo não percebe que quando se segue uma mesma estratégia para obter resultados diferentes já prefigura a estultícia. E não é preciso ser nenhum Einstein para entender isso. Como nos apetece citar Shakespeare: "Much ado about nothing" (tanto barulho para nada). Apenas será necessário explicar à "troika" que temos um estado de direito, uma Constituição que não pode ser violada, e por isso, nem tudo se pode fazer às cegas. A menos que, como afirmou Pacheco Pereira - também ele PSD - "o governo escolhe medidas que sabe à cabeça que são inconstitucionais"! Resta saber por que o faz. Ou talvez não...

Thursday, December 19, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 311

Temos vindo a assistir a uma pressão inqualificável sobre o TC, quer da "troika", quer do governo e seus sequazes como aconteceu a semana passada com Braga de Macedo numa conferência na Universidade do Texas, em Austin, que deu a ideia de que o TC está ao serviço duma qualquer revolução comunista, embora os seus membros sejam indicados pelos partidos, desde logo, os do governo. A deturpação e a falsificação da realidade são de tal ordem que só se explicam ou por ignorância absoluta, o que parece não ser o caso, ou por vontade de causar uma impressão num auditório que se supõe estar à espera de ouvir daquilo. Depois foi o relatório sobre os famosos "swaps" que tentam ilibar a ministra das finanças. Com o maior dos despudores, afirma-se a "grave responsabilidade do governo anterior e dos gestores públicos" e aqui cumpre fazer uma pergunta, então a ministra das finanças quando estava na REFER não era um gestora pública? Por ser diretora financeira não a iliba das responsabilidades, bem pelo contrário. E enquanto membro do governo o ter deixado deslizar o problema o que provocou a duplicação dos encargos potenciais de 1.600 para 3.200 M euros, também não é sua responsabilidade? São este assobiar para o lado quando toca ao governo ou à maioria que descredibiliza a política e a democracia. Isto já para não falar do diz que se está a negociar e se desdiz ao mesmo tempo em que o governo entrou após as afirmações de Mario Draghi sobre o eventual "programa cautelar ou outra coisa qualquer" para se seguir à "troika". Isso só por si já não era uma boa coisa, que simplesmente prova que a política seguida por este governo, afinal, não tem dado os resultados esperados. E não basta apontar o dedo ao TC para "sacudir a água do capote". Ângelo Correia há dias na SIC Notícias afirmava que este programa cautelar terá a duração de um ano - daí não ser preciso o acordo com o PS como afirmou o PM - mas esqueceu-se de dizer que ele é renovado de seis em seis meses. Como a dívida não para de aumentar, como o governo continua a não aceitar a sua renegociação, isto significa - como dizia o entrevistador - que "esta vai ser a nossa vida no futuro". E não basta dizer que queríamos seguir o exemplo irlandês por duas ordens de razão: em primeiro lugar, porque com a rejeição dum programa cautelar deixou Portugal sem referência; depois, porque a Irlanda, apesar da mediatização da saída dos países resgatados, não será um lugar feliz para se viver nos próximos anos. Porque os bancos foram resgatados com os dinheiros públicos que, embora se tenha evitado o risco sistémico, depauperou a economia colocando-a a níveis bem atrás, equivalente a muitos anos. "A Irlanda resgatou os seus bancos e depois apostou numa recuperação liderada pelas exportações-fantasmas que criam muito poucos empregos e só se tornam possíveis pelo artifício fiscal. Aparentemente, é esse o exemplo da Grécia" - Mark Blyth, in "Austeridade", pág.348. Ao baixar as taxas para as empresas tornaram a Irlanda um país apetecível pela multinacionais. Foi ver a Google, a Apple, a Microsoft e o Facebook a mudarem para lá as suas sedes. Estas empresas pagam 12,5% de IRC, cerca de um terço do que pagariam nos EUA. Só que essas empresas fazem exportações fictícias e criam um número muito pequeno de postos de trabalho locais. A Irlanda contabiliza as receitas das multinacionais que operam fora do país como exportações de serviços irlandeses, mesmo que não tenham nenhuma atividade em curso. O que potencia as exportações mais do que o ritmo adequado duma forma irrealista. A tendência do PIB na Irlanda segue a mesma variante da portuguesa, afinal foi fruto da mesma receita de austeridade. Em 2007 a dívida em relação o PIB irlandês era de 32% e hoje, depois de três anos de austeridade, situa-se nos 108,2%. Portugal começou com cerca 95% e agora já vai acima dos 127%. A mesma receita produz os mesmos efeitos, e quem esperava outra coisa era, seguramente, tolo, como diria Einstein. E a Islândia ia seguindo o mesmo paradigma, não fosse o diferente rumo que tumou aos desvalorizar a moeda - não tem o euro - e depois o deixar ir à bancarrota os bancos. Aqui recorremos mais uma vez a Mark Blyth: "A Islândia, sob muitos aspetos, era a Irlanda descontrolada. (...) Mas houve uma diferença importante. Enquanto a Irlanda seguiu o mantra da austeridade, cortou na despesa e resgatou os seus bancos, a Islândia deixou os seus bancos irem à bancarrota, desvalorizou a moeda, criou controlos de capitais e reforçou o Estado Social. Uma comparação entre as duas é a coisa mais próxima que pode encontrar de uma experiência natural dos efeitos da austeridade e dos resgates." - idem, pág, 348. O que só vem reforçar a ideia de que a austeridade não vai servir de nada. Os efeitos que provoca no imediato serão facilmente anulados no futuro, com uma economia destroçada, com as populações empobrecidas, com o desemprego fora de controlo. Nos anos 80 Portugal foi vítima da PAC (Política Agrícola Comum) - já aqui fizemos referência à maneira como Cavaco Silva então PM distribui dinheiro (10.000 contos aproximadamente 50.000 euros) para que os armadores destruíssem os seus barcos e os agricultores arrancassem as suas vinhas e deixassem de cultivar a terra -  e, agora, somos vítimas duma estratégia de empobrecimento que está a destruir o tecido industrial. Portugal tem vindo a perder as suas indústrias mais emblemáticas - de que os ENVC são apenas mais uma - para se transformar num país de serviços, em que a banca terá um lugar importante, bem como o sol, num país com uma enorme costa marítima e uma enorme vocação turística. Isto já nos era ensinado na Universidade quando por lá passamos e, nessa altura, nem sequer ainda tínhamos aderido à então CEE percursora do atual UE. O desenho já estava feito. A riqueza a norte com as indústrias de maior valor acrescentado, o sul com o turismo, onde os senhores do norte vêm descansar uma vez por ano. Daí que à luz destes princípios a austeridade ultraliberal até seja compreensível embora inaceitável. Mais uma vez, nos apoiamos em Mark Blyth: "A austeridade tem sido posta em prática e continuará a sê-lo, pelo menos na zona euro, até ser abandonada ou afastada pelo voto. De facto, como vimos repetidamente, aumenta a dívida em vez de a diminuir. Portanto a dívida existe e precisa de ser paga, ou perdoada. Dado que o perdão está fora do confessionário é improvável, e que as outras opções, inflação e incumprimento, são ainda piores, é em grande medida inevitável que nos próximos anos a repressão fiscal e os impostos mais elevados sobre os maiores ganhadores se tornem parte da paisagem. (...) É assim que vamos tratar das nossas dívidas - através de impostos e não através de austeridade. Não porque a austeridade seja injusta, que o é, não por haver mais devedores que credores, que os há, e não por causa de a democracia ter uma tendência inflacionista, que a tem, mas porque a austeridade simplesmente não funciona". - Idem, págs. 358 e 359. Agora que o governo já vai preparando o discurso para um novo aumento de impostos para 2014, apoiado num possível não do TC sobre a convergência de pensões, parece que tudo fica mais claro. A saga do empobrecimento continuará, a depauperação do país continuará a ser uma realidade, e as miragens dum quase "milagre económico" não passará disso mesmo, como a retoma será uma figura de retórica política. A menos que, como afirmou Mark Blyth que atrás citamos, toda esta política seja rejeitada, ou por uma alteração da correlação de forças na Europa, ou pelo voto.

"O Noivado do Sepulcro" - António Soares dos Passos (1826-1860)

Descobri este poeta portuense através de mão amiga, refiro-me ao meu amigo, Paulo Oliveira, que me deu a conhecer o poeta António Soares de Passos através dum belo poema que transcrevo abaixo com o título "O Noivado do Sepulcro". António Augusto Soares de Passos nasceu no Porto a 27 de Novembro de 1826 e faleceu na mesma cidade a 8 de Fevereiro de 1860. Frequentou o curso de Direito em Coimbra. Enquanto estudante, funda o jornal "O Novo Trovador". Nele colaboraram poetas da segunda geração romântica. Terminado o curso, regressa ao Porto, onde colabora nos jornais "O Bardo" e "A Grinalda". Os seus poemas foram publicados em 1856 numa colectânea intitulada "Poesias". Soares de Passos faleceu prematuramente, sendo, no entanto, um dos mais significativos poetas ultra-românticos portugueses. A sua composição mais conhecida é "O Noivado do Sepulcro" (este poema que a seguir transcrevo), de que os escritores realistas fizeram grande chacota. (Dados biográficos retirados de Projecto Vercial (http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/index.HTML). "Pode parecer tétrico para a época festiva de que aproximamos mas, sempre que olho para a Lua cheia lembro-me do poema "O Noivado do Sepulcro" do poeta portuense Soares de Passos (1826-1860)" escreveu Paulo Oliveira na sua página oficial do Facebook:

O NOIVADO DO SEPULCRO
BALADA

Vai alta a lua! na ma...nsão da morte
Já meia-noite com vagar soou;
Que paz tranquila; dos vaivéns da sorte
Só tem descanso quem ali baixou.

Que paz tranquila!... mas eis longe, ao longe
Funérea campa com fragor rangeu;
Branco fantasma semelhante a um monge,
D'entre os sepulcros a cabeça ergueu.

Ergueu-se, ergueu-se!... na amplidão celeste
Campeia a lua com sinistra luz;
O vento geme no feral cipreste,
O mocho pia na marmórea cruz.

Ergueu-se, ergueu-se!... com sombrio espanto
Olhou em roda... não achou ninguém...
Por entre as campas, arrastando o manto,
Com lentos passos caminhou além.

Chegando perto duma cruz alçada,
Que entre ciprestes alvejava ao fim,
Parou, sentou-se e com a voz magoada
Os ecos tristes acordou assim:

"Mulher formosa, que adorei na vida,
"E que na tumba não cessei d'amar,
"Por que atraiçoas, desleal, mentida,
"O amor eterno que te ouvi jurar?

"Amor! engano que na campa finda,
"Que a morte despe da ilusão falaz:
"Quem d'entre os vivos se lembrara ainda
"Do pobre morto que na terra jaz?

"Abandonado neste chão repousa
"Há já três dias, e não vens aqui...
"Ai, quão pesada me tem sido a lousa
"Sobre este peito que bateu por ti!

"Ai, quão pesada me tem sido!" e em meio,
A fronte exausta lhe pendeu na mão,
E entre soluços arrancou do seio
Fundo suspiro de cruel paixão.

"Talvez que rindo dos protestos nossos,
"Gozes com outro d'infernal prazer;
"E o olvido cobrirá meus ossos
"Na fria terra sem vingança ter!

– "Oh nunca, nunca!" de saudade infinda
Responde um eco suspirando além...
– "Oh nunca, nunca!" repetiu ainda
Formosa virgem que em seus braços tem.

Cobrem-lhe as formas divinas, airosas,
Longas roupagens de nevada cor;
Singela c'roa de virgínias rosas
Lhe cerca a fronte dum mortal palor.

"Não, não perdeste meu amor jurado:
"Vês este peito? reina a morte aqui...
"É já sem forças, ai de mim, gelado,
"Mas inda pulsa com amor por ti.

"Feliz que pude acompanhar-te ao fundo
"Da sepultura, sucumbindo à dor:
"Deixei a vida... que importava o mundo,
"O mundo em trevas sem a luz do amor?

"Saudosa ao longe vês no céu a lua?
– "Oh vejo sim... recordação fatal!
– "Foi à luz dela que jurei ser tua
"Durante a vida, e na mansão final.

"Oh vem! se nunca te cingi ao peito,
"Hoje o sepulcro nos reúne enfim...
"Quero o repouso de teu frio leito,
"Quero-te unido para sempre a mim!"

E ao som dos pios do cantor funéreo,
E à luz da lua de sinistro alvor,
Junto ao cruzeiro, sepulcral mistério
Foi celebrada, d'infeliz amor.

Quando risonho despontava o dia,
Já desse drama nada havia então,
Mais que uma tumba funeral vazia,
Quebrada a lousa por ignota mão.

Porém mais tarde, quando foi volvido
Das sepulturas o gelado pó,
Dois esqueletos, um ao outro unido,
Foram achados num sepulcro só.

Com a devida vénia e o agradecimento a Paulo Oliveira que me deu a conhecer o poeta e a poesia que inseriu no Facebook a
16 de Dezembro de 2013.

Wednesday, December 18, 2013

"Austeridade - A História de uma Ideia Perigosa" - Mark Blyth

Hoje em dia, tanto na Europa como nos Estados Unidos defendem-se políticas de austeridade duras e radicais a fim de salvar a economia, como se os culpados fossem os contribuintes. E para a solução da crise financeira implementam-se políticas draconianas de corte na despesa pública como uma espécie de castigo sobre os cidadãos, acusados de terem vivido acima das suas possibilidades - e que agora terão de "apertar o cinto". Esta visão esquece - muito convenientemente - a origem do endividamento, que não foi apenas a orgia despesista do Estado mas, sim, o resultado direto do resgate e da recapitalização do sistema bancário. Através destas operações, a dívida privada passou a ser dívida pública e, enquanto os verdadeiros responsáveis deste processo saem impunes, o Estado empobrece e os contribuintes carregam - como uma penitência imposta pelos poderosos - o fardo do aumento de impostos, do desemprego, da perda de direitos sociais e de mais endividamento gerado pelas políticas seguidas. Estaremos dispostos a pagar o custo da austeridade? Para o economista e professor Mark Blyth, autor deste livro, a viragem global para as políticas de austeridade é uma ideia muito perigosa. Em primeiro lugar, não funciona. Como os últimos quatro anos e os exemplos históricos do último século o demonstram, a tentativa do Estado em conter a despesa, barrando os caminhos do crescimento, até pode ter algum resultado prático, mas nunca quando todos os países o praticam em simultâneo - isso só leva à recessão global. Em segundo lugar, pedir aos inocentes (os cidadãos, os contribuintes) que paguem pelos erros dos culpados (os Estados, os grandes bancos) é sempre má política. Em terceiro lugar, a receita da austeridade apenas enriquece os ricos, não traz prosperidade para todos, contraria o princípio da igualdade de oportunidades e só leva à pobreza e à desigualdade social. Mark Blyth nasceu em Dundee, na Escócia. Doutorou-se em Ciência Política, nos EUA, na Universidade de Columbia (NY), em 1999, e ensinou na Universidade John Hopkins até 2009. Atualmente é professor de Economia Política no departamento de Ciência Política da Universidade Brown, em Providence, EUA. Entre outras obras e muitos artigos científicos dedicados às relações internacionais e globalização, Mark Blyth é também autor do aclamado "Great Transformations: Economic Ideas and Institutional Change in the Twentieth Century". Este é um livro pleno de atualidade que merece uma leitura atenta e cuidada. A austeridade não é a única e inevitável saída como nos querem fazer crer. Este livro desmistifica a questão e torna a austeridade, de facto, "numa ideia muito perigosa". Como diz o autor, "transformámos a política da dívida numa moralidade que desviou a culpa dos bancos para o Estado. A austeridade é a penitência - a dor virtuosa após a festa imoral -, mas não vai ser uma dieta de dor que todos partilharemos. Poucos de nós são convidados para a festa, mas pedem-nos a todos que paguemos a conta". Este é o livro absolutamente definitivo sobre o assunto. Ninguém lhe pode ficar indiferente. Imperdível. Resta dizer que a edição é da Quetzal.

Equivocos da democracia portuguesa - 310

Mario Draghi - o ultraliberal que Merkel impôs ao BCE - lá deixou escapar que Portugal precisa de algo mais no fim do programa da 'troika' "só não se sabe o quê". Seja programa cautelar ou outra coisa qualquer, com este ou outro nome, mas seguramente com a mesma finalidade. Afinal, o que o governo dizia de "nem mais tempo, nem mais dinheiro" esboroou-se, como vem acontecendo a tudo o que o executivo se tem proposto "adivinhar". Depois de ter feito a substituição de dívida, para com isso ter obtido mais tempo, afinal agora, parece que pode necessitar de mais dinheiro, com um programa que ficará para além da saída da "troika". Porque se um programa cautelar - se for esse o caso - pode funcionar como um seguro, isso também significa que, caso os ditos mercados não olhem com bons olhos para este pedaço de território no extremo oeste da Europa, terá que ir à Europa, através desse fundo, buscar mais dinheiro, isto é, o dinheiro de que precisa e que ninguém esteve disposto a emprestar. Isto quer dizer que, depois de ter reduzido o país à miséria, vendendo parte do seu património ao desbarato, o executivo tem para oferecer uma mão cheia de nada. E logo em época natalícia! Mas isto não nos surpreende. Já aqui vimos alertando há muito tempo para o enviesamento da economia portuguesa e que assim  não sairemos desta situação tão rápido como gostaríamos. Desde logo porque estamos a assistir à criação de pequenos negócios que as pessoas vão construindo com vista a fazer face às dificuldades da vida, mas essas micro empresas não potenciarão emprego, nem serão motivo para alavancar a economia. Se como dissemos à tempos, o setor primário não será motor da economia, este também não o será. Daí a debilidade da economia portuguesa. Esta só crescerá e criará emprego se o efeito de crescimento atingir os 2%. Só a partir deste patamar é que podemos, de facto, dizer que a economia está a recuperar. E o emprego, ou melhor, a falta dele é desde logo consequência disto mesmo. E se este está a diminuir isso é fruto não do crescimento económico como o governo pretende insinuar, mas sim, do elevado número de pessoas que saem do país em busca de uma oportunidade - cerca de 10 mil/mês! - que somadas àquelas pessoas que já desistiram de o procurar, potencia um ratio que o governo deveria ter vergonha de ter e não embandeirar em arco com a "recuperação" de umas décimas fruto do que atrás já afirmamos. A austeridade do "custe o que custar" foi a isto que conduziu do mesmo modo que pelos restantes países de economias mais débeis tem acontecido. "Os poucos casos positivos que conseguimos encontrar explicam-se facilmente pelas desvalorizações da moeda e pelos pactos flexíveis com sindicatos" afirma Mark Blyth, in "Austeridade" pág. 337. E por cá é isso que vemos. A moeda não pode ser desvalorizada porque não temos moeda nacional, quanto aos pactos mais flexíveis com os sindicatos parece coisa de difícil monta. Porque o problema não está nas pessoas nem nas economias. O problema está desde a primeira hora no sistema bancário que foi quem criou esta crise. A estratégia seguida foi uma espécie de retorno ao padrão-ouro com as dificuldades já conhecidas de outros tempos de o fazer funcionar em democracia. Se olharmos com atenção para o sistema bancário, vemos que ele está em queda, que o crédito será cada vez mais seletivo, que os encargos daí recorrentes serão cada vez mais elevados. E se, de facto, os bancos não recuperarem de tudo isto duma forma evidente? Se isso se vier a verificar, significa que o dinheiro de todos nós investido na sua salvaguarda foi deitado fora. Antecipando o que John Quiggin escreveu no seu livro "Zombie Economics",  talvez tenhamos resistido à austeridade para trazer de volta os moribundos. Mas o mais grave é que isso foi feito com o dinheiro público que foi desviado da saúde, do ensino, enfim, do estado dito social, para salvar estas instituições, retirando-o desde logo da economia e condenando esta à estagnação e ao empobrecimento. Mais uma vez recorremos ao extraordinário livro de Mark Blyth "Austeridade" onde se lê: "Se os feitores da política económica europeia, tal como os médicos, tivessem de jurar 'não fazer mal', seriam todos proibidos de 'praticar' economia", in "Austeridade", pág. 338. Como vemos, estamos a viver uma política de vendedores de ilusões que nos dizem uma coisa e fazem o seu contrário. Só que o problema é muito mais vasto do que o que nos consome em Portugal. A Europa está com o mesmo problema embora ainda dê ares de que não. Com o tempo estamos convencido que a verdade virá ao de cima. E nessa altura será o tempo de dizer "bem vindos à realidade"!

Tuesday, December 17, 2013

Na celebração do 77º aniversário do Papa Francisco

Francisco, nascido Jorge Mario Bergoglio é o 266.º Papa da Igreja Católica e atual chefe de estado do Vaticano, sucedendo o Papa Bento XVI, que abdicou do papado em 28 de Fevereiro de 2013. Jorge Bergoglio nasceu a 17 de Dezembro de 1936 em Buenos Aires, na Argentina, completando assim 77 anos no dia de hoje. Homem que muito tem revolucionado a Igreja abafada por um elevado grau de conservadorismo que o Papa Francisco pretende sacudir. Se será capaz de o fazer ou não, só o tempo o dirá. Contudo, é minha firme convicção de que nada ficará como dantes depois da passagem deste papa pelo Vaticano. Curiosamente, hoje também o meu avô e padrinho José, comemoraria o 110º aniversário se ainda estivesse entre nós. Quis o destino que estes dois homens que muito admiro celebrassem os seus aniversários no mesmo dia. Não sei se é uma mera coincidência se uma predisposição do insondável. Por isso, e para não alimentar mais quaisquer possíveis fantasias, apenas quero deixar aqui os meus parabéns a este grande chefe da Igreja Católica de que muitos esperam grandes coisas, mesmo aqueles que não sendo religiosos, o muito admiram por tudo aquilo que já fez e disse em tão curto pontificado. Parabéns, Papa Francisco. Que esta data se repita por muitos e bons anos.

À memória de um grande Homem

Hoje faria 110 anos caso fosse vivo. Um grande Homem! Não em estatura, mas grande de coração. Os grandes homens não se medem com fita métrica, mas avaliam-se pelo seu carácter. Teve os seus altos e baixos na vida. Começou por jardineiro, (aqui fica uma foto que o recorda assim a tratar das suas muitas e belas flores), numa altura em que só os muitos ricos iam estudar, mas nunca perdeu uma visão aguçado do futuro. Terminou a vida como empregado bancário num banco inglês importante. Sofreu as agruras da vida, com o desemprego, - e nessa altura não se sabia o que era o estado social -, com a morte prematura de dois filhos. Um ainda bebé, o outro poucos anos antes de ele mesmo falecer (e depois de ter enterrado a sua mulher, companheira de mais de 60 anos) - já desapareceu à mais de duas décadas -  apenas ficando uma filha - a minha mãe - que também já desapareceu. E que dor imensa será quando um pai vai enterrar um filho!  Adorava os seus netos e quanto a mim, sempre esteve por perto na minha educação. Já o tinha feito com o filho que foi estudar num tempo em que poucos o faziam. Depois comigo, ajudou-me muito. Colocou-me nas melhores escolas públicas e privadas. Escolas de referência onde se apruma o carácter para além da exigência do ensino. Ele buscava a excelência e eu tudo fiz para não o desiludir. Mas os grandes homens não ficam parados e ele não foi exceção. Ajudou muito os jovens que com ele se cruzavam, ensinava-lhes as primeiras letras, a ler e a contar. Afinal era o básico porque os seus conhecimentos não iam mais além. Mas ficava contente por ver os mais jovens evoluírem. Nunca o fez a troco de nada para ele seria um sacrilégio. Nunca deixou de dar um conselho amigo a outros, embora menos jovens, que por vezes, andavam desviados daquilo que ele considerava ser o caminho correto. Sem admoestações, sem paternalismos. Apenas e só como um amigo. E que amigo ele era! Ainda hoje há muita gente que o recorda, e que me fala disso mesmo. Pessoas que eram crianças e que ele ajudou a crescer, outros que já eram homens em idade e que ele ajudou a serem verdadeiros homens em caráter. Este Homem de grande estatura moral, superior até, era o meu avô materno. José como eu! Afinal para além de avô era também meu padrinho. A ele devo a minha educação, a minha formação de caráter, a minha visão do mundo, a que depois dei o meu toque pessoal. Mas as bases lá estavam. Os alicerces firmes já haviam sido lançados há muito por ele mesmo. Hoje era o seu dia! Hoje é o meu dia! O dia de venerar a sua memória. A memória dum Homem vertical, por vezes, duro, mas sempre disposto a ajudar a troco de nada. Na vida ajudou muitos. Nem todos lhe retribuíram essa ajuda. Mas aos grandes homens isso pouco importa. Talvez até os engrandeçam pelo desprendimento das coisas comezinhas, das coisas menores. Ele não perdia tempo com tais questões porque via longe. Olhava para o infinito. Tinha uma obra a concluir. O seu legado. E eu fazia parte do seu legado. Por isso, é minha obrigação venerá-lo neste dia. Curvar-me à sua memória. Hoje, passados todos estes anos, tento ir passando aos poucos esses valores à minha afilhada. Os valores do respeito pelo outro, o amor aos animais, a veneração da natureza. Ela ainda é muito pequenina apenas tem dois anos. Muita coisa ainda não entende apesar da sua sagacidade. Espero ainda ter tempo de a ajudar a formar o seu carácter. Afinal, tentar fazer aquilo que o meu avô e meu padrinho fez comigo. Será uma maneira de o homenagear também e perpetuar a sua memória. Foi com ele que tudo começou. Ele passou-me o testemunho, é tempo de eu ajudar outros e passar o testemunho a esses numa espiral de aperfeiçoamento do ser humano. Hoje seria o dia de aniversário desse grande Homem. Neste momento já tem um lugar destacado na minha galeria de ausentes. Descansa em paz, avô José! A tua memória perdurará enquanto eu existir. E que estejas bem lá onde estiveres pelo bem que espalhaste em teu redor e de que eu aqui dou testemunho. Hoje é o dia dum grande Homem! O meu avô, José!

Monday, December 16, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 309

Mais uma semana se cumpriu, as mesmas agruras de sempre. Um Natal que se aproxima e que os portugueses celebrarão com aperto. As dúvidas do TC que em breve serão esclarecidas a ver se teremos ainda mais austeridade. Uma coisa temos como certa, o Tratado Europeu amarra-nos muito para além de 2030. E não basta o "relógio" que Portas ontem inaugurou para a contagem decrescente da saída da "troika". Porque o problema vai muito para além dela. Ainda antes de Portugal, a Grécia ou a Irlanda terem pedido um resgate externo o problema já existia. De origem bancária é esta crise porque foi daí que tudo veio. "Em Viena, em 2009, e muito antes de qualquer resgate grego ou irlandês, foi assinado um acordo entre os bancos ocidentais e a 'troika' (UE-FMI-BCE) e a Roménia, a Hungria e a Lituânia que obrigava os bancos da Europa Ocidental a manter os seus fundos nos seus bancos da Europa de Leste se os governos se comprometessem com a austeridade para estabilizar os balanços dos bancos locais". Esta iniciativa foi desencadeada por cartas enviadas à CE por vários bancos da Europa Ocidental que tinham forte exposição na Europa de Leste. (Sobre este tema aconselhamos a leitura de "Foreign Banks and the Vienna Initiative: Turning Sinners into Saints" de R. de Haas, Y. Korniyenko, E. Loukoianova e A. Pivovarsky. Este foi um documento de trabalho do BERD nº 143, Londres 2012). Porque quando se diz que os problemas dos novos países saídos da desagregação da ex-União Soviética, - os chamados REBELL -, davam o exemplo aos novos países em dificuldades do sul da Europa, tal não corresponde à verdade. A austeridade foi matando as economias, o emprego, a procura interna. "Quando os líderes mundiais, ávidos de legitimar os danos que já causaram à vida de milhões dos seus concidadãos, vão buscar exemplos como estes para justificar os seus atos, aplaudindo esses países - REBELL (Roménia, Estónia, Bulgária, Letónia e Lituânia - por criarem miséria, isso mostra acima de tudo uma coisa: a austeridade continua a ser uma ideologia imune aos factos e à refutação empírica básica. É por isso que continua a ser, à parte de todas as provas que possamos juntar contra ela, uma ideia muito perigosa" - Mark Blyth in "Austeridade", pág, 333. Porque se quer passar a ideia de que tem que ser assim e que não pode ser doutra maneira. Nada de mais errado. Senão, perguntemos aos países do norte da Europa se estão disponíveis para sacrificar um pouco do seu poderio económico para ajudar os países do sul - os PIIGS? E a resposta é óbvia, não! Porque a austeridade é um pressuposto ideológico e não a panaceia para todos os males. Depois de tudo isto, com ou sem relógio, apenas ficaremos mais pobres, muito mais pobres. Com uma economia destroçada. Com uma dívida impagável e que não pára de crescer. Há dois anos e meio a dívida era de 95% do PIB aproximadamente, hoje é mais do que 127%! O desemprego atingiu valores históricos! E ainda nos falam de "milagre económico"! Os países do sul terão muita dificuldade em sair do nível em que estão, não porque não queiram, mas simplesmente porque este não é o problema desses países mas duma economia globalizada a que a Europa não soube encontrar soluções. A saída da "troika" será importante, mas não deixemos de pensar que os problemas ficarão por cá. Porque a sua essência é bem profunda a que a carga ideológica ainda aprofundou mais.

Friday, December 13, 2013

O novo álbum de André Rieu

André Rieu aparece com novo CD neste final de ano, um duplo CD, pleno de música de grande qualidade. O primeiro com o título "Music of the Night" que abre com a nostalgia da música do agrupamento inglês The Beatles e o célebre "Yesterday" e que se vai espraiando por temas sempre suaves com "Hymne à l'Amour" ou "La Vie en Rose" sempre numa toada nostálgica para recordar outros tempos e escutar à lareira nestas noites frias e húmidas de Inverno. Rieu não esqueceu alguns "standards" dos musicais de Andrew Lloyd Webber como é o caso do soberbo "Phantom of the Opera". No outro CD, André Rieu celebra a música dos ABBA que tem por título precisamente "Celebrates ABBA". Temas que já foram recriados por muita gente, de variadas maneiras e em géneros musicais diferentes. Mas apesar disso, Rieu dá-lhe o seu cunho pessoal e leva-nos a revisitar alguns dos mais famosos temas do agrupamento sueco como "Mamma Mia", "Waterloo", "Chiquitita", "Fernando" e tantos outros. Durante cerca de uma hora somos mergulhados no mais puro revivalismo tratado com qualidade superior. Rieu disse que quando lhe propuseram recriar a música dos ABBA teria dado pulos de satisfação, e aqui o resultado final dá a ideia disso mesmo, música muito tratada e com o bom gosto que Rieu já nos habituou há muitos anos. Se ainda não tem uma compra para este Natal e pretende oferecer um disco talvez seja este aquele que procura. Este duplo CD tem a fantástica produção das produções de André Rieu e transporta-nos a um imaginário de há alguns anos atrás sem que isso possa parecer entediante ou bafiento. Um disco que aconselho vivamente a todos os que gostam de boa música tratada instrumentalmente por artistas de primeiro plano. Recomendável a todos os títulos.

Thursday, December 12, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 308

E a crise continua apesar da "festa" governamental quando aparecem algumas décimas de sentido positivo. É um pouco como o pedinte que, não tendo nada, acha muito à pequena moeda que se lhe dá. Mas para além disso, das tais tão propaladas "melhorias", o certo é que a vida dos portugueses não dá sinais no mesmo sentido. E a razão é simples. "Quatro caminhos para se sair de uma crise financeira - inflacionar, deflacionar, desvalorizar e incumprir. Pode-se ainda acrescentar outro, a repressão financeira." - Mark Blyth in "Austeridade", pág. 272. Como afirma Mark Blyth na frase acima, dos quatro caminhos sugeridos nenhum parece ser o aplicável. Inflacionar é interdito pelo BCE que mantém um férreo controle da inflação na zona euro. Deflacionar é algo a que estamos a assistir mas ao estado que as coisas chegaram apenas está a agravar a nossa situação, sobretudo, pelo forçar o abaixamento dos salários. Desvalorizar não é possível porque não temos moeda própria. Incumprir tem sido o fantasma que o governo tem afastado afirmando o seu contrário. Quanto à repressão financeira ela está a existir mas apenas está a servir para definhar ainda mais a economia. O que significa que a austeridade só por si não funciona por mais que nela insistamos. Chegados aqui, mais uma vez citamos Blyth :"A austeridade não funciona, pura e simplesmente, independentemente da quantidade de vezes que se praticar" - Mark Blyth in "Austeridade", pág.274. Uma evidência Lapaliciana que já foi testada com os mesmos péssimos resultados ao longo da História, sobretudo, a quando dos problemas inerentes ao padrão-ouro que derivou do pós-guerra. E aqui levanta-se-nos uma enorme interrogação. Quando Christine Lagarde - a diretora-geral do FMI - afirma que os países sobre resgate precisam de mais tempo para fazer os seus ajustamentos porque será que os seus "escriturários" que por aí andam não seguem a mesma bitola? E só duas respostas são admissíveis: os tais "escriturários" não percebem o que a senhora diz; ou então, ela é apenas um "verbo de encher" político a quem ninguém dá importância. Porque ninguém percebe as afirmações a duas vozes vindas do FMI. É certo que para além do FMI existem as outras componentes europeias daquilo a que se convencionou chamar de "troika" e isso é que é um grande problema. Porque a influência alemã é enorme e parece que ninguém a consegue contrariar, mesmo este acordo da CDU de Merkel com o SPD acaba por não ser benéfico para os países sobre resgate. Porque não se vê uma alteração substancial no rumo traçado. Afinal foi o SPD que começou com esta saga quando foi governo. A Alemanha impôs o BCE para controlar a inflação e descaracterizar os bancos centrais nacionais - já disso demos conta numa outra altura - e com o euro (que a Alemanha transformou numa espécie de Deustche Mark a que todas as outras moedas tiveram que ajustar as paridades das suas antigas moedas nacionais) fez o resto sem que se tivesse em conta as especificidades de cada um dos países a ele aderentes. Ao impor um enorme controle da inflação, evita que os países devedores sintam as suas dívidas mais pesadas, aliás, indo ao arrepio daquilo que fez a própria Alemanha no pós-guerra. Para consolidar esta ideia nada melhor do que ver o que escreveu Albercht Ritschl: "A inflação mostrou ser um arma formidável contra credores de indemnizações, pelo menos a curto prazo. Ajudou a isolar a Alemanha da recessão internacional de 1920-1921, melhorando a sua posição exportadora e estimulando a procura interna (...) Também explorou os restantes credores estrangeiros da Alemanha, em grande medida países neutrais, depreciando as reservas de marcos de papel que tinham acumulado durante o período de estabilização (...) Acima de tudo, paralisou o sistema financeiro que teria sido necessário para organizar uma transferência ordenada das indemnizações" - Albercht Ritschl: "The German Transfer Problem", pág. 7. Foi assim, utilizando a arma da inflação que  Alemanha viria a ultrapassar as mazelas da I guerra mundial, criando artificialmente uma hiperinflação que viria a fazer com que esta país não pagasse a dívida. O mesmo sucederia aquando, anos depois, se verificou a II guerra mundial em que a Alemanha voltou a não pagar aos credores criando problemas a muitos deles, especialmente a França cujas sequelas na economia ainda hoje são visíveis. Assim, este país nega aos outros aquilo a que recorreu impondo um euro forte como mecanismo de ajustamento. Mais uma vez recorremos a Mark Blyth: "Hoje o euro exige deflação e austeridade, na medida em que continua a ser o principal mecanismo de ajustamento da zona euro" - Mark Blyth in "Austeridade", pág. 273. Claro como água cristalina. Podemos dar a ideia de que somos favoráveis à saída de Portugal da zona euro. Coisa mais errada. Esse não é o caminho - até porque não se conhecem as consequências que daí adviriam mas que seguramente não seriam as melhores - o que achamos é que a manutenção da paridade do euro e fazer dele o principal motor de ajustamento levará a que os países com economias mais débeis vejam a austeridade perpetuar-se "sine die". E quando o governo diz que só faltam seis meses para a saída da "troika", isso só é verdade pelo aspeto físico da questão, porque quanto à manutenção da austeridade e do esmagamento das classes sociais, essa vai continuar. Desde logo, porque os membros componentes da "troika" ficarão de vigilância até 2030 (!), depois porque com o euro a servir de mecanismo de ajustamento, esta situação poderá eternizar-se por muito mais tempo, sem que se possa apontar uma data. Daí que o problema que hoje nos aflige é mais vasto do que a simples mudança dum qualquer governo, porque necessita de uma alteração de políticas não só dentro do país, mas sobretudo, vindas de Bruxelas. Coisa que ainda não vimos e que esta leva ultraliberal que se instalou na Europa não equaciona. Por isso, temos a firme convicção de que ainda temos um longo caminho a percorrer.

Nadir Afonso a morte aos 93 anos

Ontem foi um dia de contrastes. Um dia de regozijo pelo 105º aniversário de Manoel de Oliveira, que aqui fizemos eco, mas também um dia de tristeza pela morte dum grande artista como foi Nadir Afonso. Nadir Afonso Rodrigues foi arquiteto, mas também pintor e pensador que nasceu em Chaves a 4 de Dezembro de 1920, e que ontem, dia 11 de Dezembro viria a falecer com 93 anos de idade. Este grande artista português trabalhou com Le Corbusier e Oscar Niemeyer. Viveu em Paris e no Rio de Janeiro, um verdadeiro cosmopolita num período em que Portugal era uma pequena aldeia onde campeava o analfabetismo. Cursou arquitetura na Escola de Belas-Artes do Porto. Era considerado o mestre da abstração, um modernista que fazia a apologia do geometrismo abstrato. Hoje, a quando do seu desaparecimento, muito se fala dele e da sua obra, até pela boca de muitos que nunca lhe prestaram nenhuma atenção. Afinal a natureza humana é assim mesmo. Mas o importante é o homem e a sua obra e essa não pode ser ignorada. Como ele gostava de dizer, "a maioria das pessoas não se interessa nada pelo que eu faço". É sempre assim, mas a obra e o mestre que a concebeu perdurará no tempo, enquanto a memória das gentes comuns desaparecerá num ápice. É esta a grandeza da arte e da cultura em contraponto com aquilo que de mais mesquinho existe na humanidade. Nadir é o termo hebraico para "raro", e ele de fato, o foi, porque não é todos os dias que nos cruzamos com homens desta dimensão, sobretudo num país pequeno como o nosso, onde o ser artista é uma aventura incomensurável. Nadir Afonso deixou-nos uma obra vasta reconhecida em Portugal e no estrangeiro pelo seu pioneirismo e originalidade. O homem parte a obra fica para ser apreciada pelas gerações futuras. Nadir Afonso estava internado no Hospital de Cascais onde veio a falecer. Com ele faleceu um dos últimos, senão o último, artista modernista português, quando o tempo e o espaço nunca o faria supor. Descansa em paz, Nadir Afonso!

Wednesday, December 11, 2013

Manoel de Oliveira completa hoje 105 anos de idade

Manoel de Oliveira, de nome completo Manoel Cândido Pinto de Oliveira, é um cineasta português e, atualmente, o mais velho do mundo em atividade. Nasceu à 105 anos a 11 de Dezembro de 1908 no Porto. É casado com Maria Isabel Brandão de Meneses de Almeida Carvalhais desde 1940. Ficou célebre com um filme que retratava o Porto nas décadas de 30 e 40, o famoso "Aniki-Bobó". Vivendo sempre como um homem livre, ainda teve que se confrontar com a PIDE - a polícia política do anterior regime - onde veio a passar ainda alguns dias nos calabouços dessa horrenda polícia por causa de alguns dos diálogos que usava nos seus filmes. Sendo detentor de numerosos prémios e galardões, Oliveira é uma figura mítica pela sua capacidade de trabalho e força de vontade. Ainda no ano passado estreou mais um filme "O Gebo e a Sombra" e com a sua imensa capacidade de trabalho ainda está a tentar recolher fundos para mais um filme. 105 anos volvidos, Manoel de Oliveira continua a ser uma referência da cultura portuguesa que já há muito extravasou fronteiras. Falar dele e da sua obra encheriam imensas páginas, daí que apenas aqui deixe a referência ao homem de cultura que ele é e os inevitáveis parabéns a quem tanto tem dado ao cinema português. Que se repitam ainda por muitos mais anos é o meu desejo. Parabéns, Manoel de Oliveira!

No 210º aniversário de Hector Berlioz

Louis Hector Berlioz nasceu em La Côte-Saint-André a 11 de Dezembro de 1803 - cumprindo-se hoje o 210º aniversário - e viria a falecer em Paris a 8 de Março de 1869. Berlioz foi um famoso compositor francês do chamado período romântico. Detentor de vasta obra, seguramente que as que mais o celebrizaram foram a "Sinfonia Fantástica" (1830) e o "Requiem" (1837). Para além destas, ainda temos como obras célebres "Les Troyens" influenciada pela "Eneida" de Virgílio ou a "Danação de Fausto" com a marca do "Fausto" de Goethe. Descobri Berlioz há muitos anos atrás, depois de ter ouvido uma obra que me empolgou e que ainda hoje me marca profundamente, que foi a "Sinfonia Fantástica". Depois de a escutar, não parei de ouvir Berlioz e descobrir muitas das suas obras famosas como "Romeo et Juliette" ou "Haroldo na Itália". Aqui vos deixo um link https://www.youtube.com/watch?v=QwCuFaq2L3U onde podem escutar a "Marcha para o suplício" uma das partes que compõe a "Sinfonia Fantástica". Resta dizer que Berlioz está sepultado no cemitério de Montmartre em Paris, onde ainda hoje se pode visitar o seu mausoléu. Um compositor a escutar com muita atenção porque é um dos nomes mais importantes e significativos vindos de França e que marcou o período romântico duma forma bem vincada.

Monday, December 09, 2013

John Milton nasceu à 405 anos

Celebra-se hoje o 405º aniversário do nascimento de John Milton que nasceu neste dia 9 de Dezembro de 1608 e viria morrer a 8 de Novembro de 1674 em Chalfont St. Giles-without-Cripplegate, na Inglaterra e seria enterrado na Igreja de Santa Margarida na Cidade de Westminster, na Inglaterra. John Milton foi um proeminente escrito inglês, um dos mais representativos do classicismo inglês. Para além de escritor e poeta, John Milton também foi político, tendo-se aventurado nos caminhos da dramaturgia e também se concentrou no estudo das religiões. Foi um apoiante da república tendo tomado parte na rebelião ao lado de Oliver Cromwell. Nessa refrega viria a ser preso e acabou cego, vítima da vingança real. Foi na prisão que ditou a sua obra-prima "Paraíso Perdido", que conta a história da queda de Lúcifer. Este livro viria a ser publicado em 1667. Quatro anos mais tarde, lança o livro "Paraíso Recuperado" (1671), uma espécie de sequência do primeiro, onde aborda o tema da vinda de Cristo à Terra para reconquistar o que Adão teria perdido. Para além destes poemas épicos, Milton escreveu também vários "poemata", isto é, poemas em latim e em grego. Para além destas obras há a salientar outras como "L'Allegro" (1631), "Il Penseroso" (1633), "Comus (a masque)" (1634), "Lycidas" (1638), "Areopagitica" (1644) e ainda "Samson Agionistes (Sansão Guerreiro)" (1671). O mergulhar na obra de John Milton é como entrar num universo de mística e religiosidade muito ao gosto da época. Tanto quando julgo saber, não existem muitas obras traduzidas em português, mas para quem poder e/ou souber, inglês aconselho a lerem as versões originais - embora num inglês antigo - mas que dão toda a melodia das palavras de Milton naquilo que elas encerram de mais pungente. Um escritor importante do classicismo inglês que é urgente (re)descobrir.

Saturday, December 07, 2013

Mensagem de Pedro Abrunhosa na dia da morte de Nelson Mandela

Não resisti a transcrever a mensagem que ontem Pedro Abrunhosa escreveu na sua página oficial no facebook, sobre a morte de Nelson Mandela. Pela sua importância e profundidade transcrevo-a aqui na íntegra: " ' O Tempo que temos é finito. Eterna apenas a Obra que deixarmos: vivemos, pensámos, agimos. Eis a nossa marca. A Vida não deve ser, em nenhuma circunstância, um acto impassível de contemplação perante o fatal rodar dos ponteiros, mas uma permanente revolta interior de busca por uma existência mais digna, para nós e para todos. Há Homens que nunca se deixam dominar, que não se subjugam à falsa inevitabilidade do destino dedicando todas as suas energias a mudá-lo. Durante a tentativa, alguns conseguem-no, arrastando toda a Humanidade na sua peugada, na sua difícil dialéctica de cavalgar os dias. Contudo, tentar, é já uma forma maior de se fazer prova de vida, de mudança, de futuro, de inconformidade. E essas são as características que nos separam de todas as espécies existentes: o destino do Homem não é ser escravo. É libertar-se  Nelson Mandela é um exemplo que moldará para sempre a maneira como se escreverá a História do Mundo. Quando injustiçado, lutou. Quando preso, resistiu. Quando eleito Presidente da Republica, perdoou. E aos que durante décadas o torturaram, humilharam e privaram da liberdade, mostrou, como só os magnânimos sabem fazer, que os inimigos apenas duram o tempo que lhes concedermos, e ao terem agido por ignorância, isso não faz deles maus, mas homens. E assim, Mandela venceu. Por nós, tinha que vencer.  Hoje, findo o tempo da sua existência terrena, acredito que se tornará poeira a sua matéria, e Infinito o infinito legado que deixa à Humanidade.  Vives em mim. Viverás assim em tantos e tantos mais. Obrigado, Madiba!' Pedro Abrunhosa. " Estas são duas figuras que muito aprecio. A de Pedro Abrunhosa pela sua arte, pela sua escrita, pela sua música, pela sua cultura. A de Nelson Mandela pela admiração e espanto que sempre nos causa - a qualquer um - um homem, desta dimensão humana, desta grandeza, que os reduz a todos (pobres mortais) à insignificância das coisas menores. “O importante não é as vezes que caímos, mas sim, a maneira como nos reerguemos”, disse Nelson Mandela citando Buda. Há homens assim. Outros não têm a mesma força. Porque caíram demasiadas vezes, têm medo de se erguerem de novo porque receiam uma nova queda. Por isso, nos devemos curvar à memória de homens que têm esta força interior, que são donos do seu destino, que moldam a vida à sua dimensão. Mandela foi um desses homens. Homens que reduzem os outros à sua ínfima dimensão. Quem se lembra dos seus algozes? Quem sabe os seus nomes? Mandela exclui-os para o lixo da História. Mandela quebrou as grilhetas que outros homens lhe colocaram. Agora, quebrou as amarras que a vida ainda mantinha. Mandela hoje já é da eternidade. Descansa em paz, Nelson Mandela! E parabéns Pedro Abrunhosa por nos lembrares isso mesmo com as tuas palavras.

Friday, December 06, 2013

222ª aniversário da morte de Mozart

Passaram ontem 222 anos sobre a morte de W. A. Mozart, que nasceu a 27 de Janeiro de 1756 em Salzburgo na Áustria e viria a falecer neste dia 5 de Dezembro de 1791 e viria a ser sepultado a 7 de Dezembro no cemitério de São Marcos na Áustria. Wolfgang Amadeus Mozart foi um prolífico e influente compositor austríaco do período clássico. Mozart mostrou uma habilidade musical prodigiosa desde sua infância. Deste extraordinário compositor nada mais há a dizer, pelo simples facto de que, já tudo foi dito. Desde menino prodígio a compositor consagrado que continua a atravessar várias gerações e vários séculos, Mozart continua a ser reconhecido como uma das figuras mais influentes da música dita clássica. Prolifico na sua obra Mozart assina extraordinárias composições como Die Zauberflöte, Don Giovanni, Requiem, Le nozze di Figaro, Sonata para piano n.º 11, Così fan tute, Serenade No. 13, Sinfonia nº 40, Die Entführung aus dem Serail, Piano Sonata No. 16, Symphony No. 41, Coronation Mass, Piano Concerto No.23 in A major, Piano Concerto No.20 in D minor, Idomeneo, re di Creta,, Sonata for Two Pianos in D major, Twelve Variations on "Ah vous dirai-je, Maman", Concerto para Clarinete, Exsultate, jubilate, Ave verum corpus, Piano Concerto No.21 in C major, Zaide, Piano Sonata No. 8, Bastien und Bastienne, La clemenza di Tito, Serenade No. 10, Clarinet Quintet, Symphony No. 25, Sinfonia Concertante for Violin, Viola and Orchestra, Great Mass in C minor, Vesperae solennes de confessore, Symphony No. 35, Der Hölle Rache kocht in meinem Herzen, Der Schauspieldirektor, Violin Concerto No. 3, Symphony No. 6, Flute Concerto No. 1, String Quartet No. 19, Oboe Concerto, Piano Sonata No. 13, Symphony No. 1, A Musical Joke, Piano Sonata No. 12, Mitridate, re di Ponto, Piano Concerto No.9 in E-flat major, Piano Sonata No. 10, Sparrow Mass, Piano Sonata No. 14, Kegelstatt Trio. E muitas mais, que o rol é imenso. é um dos meus compositores preferidos. Para assinalar  a data deixo aqui uma passagem do Concerto para piano, No. 21 - Andante que podem escutar aqui: https://www.youtube.com/watch?v=df-eLzao63I . Obra superior de que muito gosto. Esta efeméride pode e deve ser uma ocasião para se descobrir a obra fantástica de Mozart ou, para aqueles que já a conhecem, uma oportunidade de a voltar a escutar.