Turma Formadores Certform 66

Wednesday, August 31, 2011

Conversas comigo mesmo - XXV

Hoje trago-vos uma reflexão que entronca nos Evangelhos, e que diz o seguinte: "Mas a mulher veio prostrar-se diante d'Ele, dizendo: «Socorre-me Senhor». Ele respondeu: «Não é justo que se tome o pão dos filhos para o lançar aos cachorrinhos». Mas ela insistiu: «É verdade, Senhor; mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa de seus donos». Então Jesus respondeu-lhe: «Mulher, é grande a tua fé. Faça-se como desejas». A mensagem que aqui transparece é a de que estamos todos nos planos de Deus; não há fronteiras para os desígnios de Salvação; ninguém é excluído e ninguém tem o exclusivo da pertença: «A minha casa será chamada casa de oração para todos». Mas à luz desta mensagem, como entender, então, a atitude surpreendente de Jesus em relação àquela mulher cananeia? Porquê a sua indiferença inicial e o modo chocantemente duro, desprezativo e quase xenófobo - como diríamos hoje -, como a tratou? A resposta talvez se encontre nas palavras finais que lhe dirigiu: «Mulher, é grande a tua fé!». Tratou-se, então, de provocar e de pôr em evidência aquela fé que Ele já tinha pressentido nela, e mostrar assim, mais uma vez, aos seus discípulos e a todos, que há fé para além das fronteiras da nossa Terra e da nossa religião, e que, por isso mesmo, pode haver sempre «baptizados sem fé» e «crentes sem baptismo». Outro valor em destaque nesta cena do evangelho é a oração da cananeia, e as suas qualidades: uma oração de súplica e de intercessão, muito humilde, mas de inabalável confiança, insistente e persistente. Uma oração que dá frutos, confirmando aquelas palavras de Jesus: «Pedi e ser-vos-á dado. Procurai e encontrareis. Batei e abrir-se-vos-á».

Monday, August 29, 2011

Diciopédia no regresso às aulas

As férias estão a terminar e o regresso às aulas está quase a efectivar-se. Os pais entram no habitual corrupio para a compra dos manuais escolares, sempre e cada vez, mais caros. Sabendo das dificuldades que muitos pais têm para enfrentar este período, atrevo-me a aconselhar aquilo que considero um bom presente para um aluno, a Diciopédia. Porque hoje os mais jovens têm uma apetência natural pelos computadores, estes poderão ser e deverão ser uma excelente ferramenta de aprendijagem. A Diciopédia é uma destas grandes iniciativas que pode em muito ajudar um estudante. Ajustada aos programas escolares, a Diciopédia vai para muito além deles, na busca e incentivo ao conhecimento duma forma apelativa e muito dialogante com o utilizador. Por vezes, os pais gastam muito dinheiro em jogos para os seus filhos que em nada contribuem para a sua educação, a não ser, para o incentivo à violência gratuíta. Esta aplicação para além de ter alguns jogos é muito educativa. Outras aplicações no mercado cumprem muito bem esta função. Desde logo o Microsoft Encarta que tem um pequeno "handicap", não está traduzida em português. Existem várias traduções, mesmo em espanhol, mas em português não, pelo menos que seja do meu conhecimento. A Encarta é uma excelente aplicação, talvez a melhor. A Diciopédia tem um interesse acrescido e que já atrás referi, que é a de estar ajustada aos programas de ensino em vigor entre nós. Todos os anos sai uma nova versão, revista e actualizada, estando disponível no mercado a de 2010. A de 2011 estará para sair brevemente, isto mantendo aquilo que tem sido tradicional na já longa carreira que esta aplicação tem no nosso mercado. Não sendo uma aplicação barata, também não é demasiado cara, sobretudo, quando gastamos muito dinheiro em minudências que em nada contribuem para o nosso conhecimento ou desenvolvimento. Assim, aqui deixo esta ideia. Talvez não fosse mau que, no vosso já pesado encargo de manuais escolares e cadernos, não deixassem de incluir esta aplicação, que serve para todos, inclusivé para os pais que, certamente, já esqueceram algumas coisas que aprenderam noutros tempos. A considerar com atenção.

Sunday, August 28, 2011

Conversas comigo mesmo - XXIV

Nestes tempos difíceis que ocupam este tempo e espaço que vivemos, é bom reflectirmos sobre o que fizemos do mundo e das relações que temos com o que nos rodeia, pessoas, animais, bem como, o próprio planeta envolvente que vamos destruindo cirurgicamente. Nesta barca de tormentas em que vivemos, por vezes, - tal como nos escritos bíblicos - não equilibramos os nossos desejos e anseios com a nossa Fé. Somos, como na parábola, aqueles navegantes que, quando ao largo e logo que assume os primeiros sinais de tempestade, não sabemos o que fazer. Agarramo-nos por vezes, a fetiches que nos parecem tentadores e salvadores, mas no nosso íntimo a dúvida continua a fazer o seu percurso. Lembro-me da passagem em que Cristo caminha sobre as águas e os discípulos incrédulos, só acreditam quando lhe fazem o desafio de poderem ir ter com Ele caminhando também sobre as águas. Mas quando o primeiro sinal de afundamento aparece, a nossa Fé esvaie-se rapidamente. Nestes tempos conturbados estamos na nossa barca sem saber que rumo tomar. Na barca não está a sra. Merkel como alguns dizem, na barca estamos todos nós, vítimas de jogos pouco claros em que os pobres são mais pobres e os ricos acabam sempre por se "safar" nesta roleta russa para que nos arrastaram. É tempo de sairmos para a vida, enfrentando-a com imaginação, sinalizando os escolhos que a barca terá que evitar para não se afogar. Como diz Frei Fernando Ventura - sempre ele - "é tempo de deixarmos a religião e nos tornarmos homens de Fé" e acrescenta "que ninguém se atreva a vir à missa, sem antes ter saído do seu espaço para a vida". Numa altura, prenhe de interrogações onde o futuro é incerto, só a solidariedade com o outro - que por vezes está ao nosso lado e nem o vemos -, na paz para com os animais, no respeito para com a natureza e com o mundo, seremos capazes de levar esta barca a bom porto. "É tempo de trazer para a rua a revolução dos não-violentos antes que os violentas tragam a revolução para a rua", mais uma vez e ainda Frei Fernando Ventura. Mudemos a nossa visão da vida e do mundo, que este espaço e tempo que nos foi dado viver, seja preenchido com um espírito mais solidário e imaginativo. Já o Padre Américo de saudosa memória dizia, entre muitas outras coisas, "que cada paróquia cuide dos seus pobres". Pobres de dinheiro e de bens, mas também, aqueles outros - que embora tendo muito - são, por vezes, os pobres de espírito de que muitas vezes ouvimos falar. Tudo o que possuímos, - dinheiro, posição, bens materiais -, não passam dum empréstimo que a vida nos faz, que logo, legamos aos nossos descendentes ou a terceiros, quando a vida se esgota, quando a Páscoa - aqui entendida no verdadeiro sentido etimológico da palavra - a passagem -, nos diz que é tempo de deixarmos este palco para que outros ocupem o seu lugar, nesta infinita representação da vida. Sei que não é fácil entender isto para muitos, apenas o começamos a percepcionar quando os dias se vão esgotando e a teoria das probabilidades começa a ser-nos desfavorável. Talvez nessa altura, já seja um pouco tarde, embora, como diz o povo, "mais vale tarde do que nunca".

Thursday, August 25, 2011

Um dia de efemérides

Hoje comemoram-se duas datas de duas personalidades importantes da história da música: Carlos Seixas e Leonard Bernstein. Carlos Seixas nasceu em Coimbra a 11 de Junho de 1704 e viria a falecer a 25 de Agosto de 1742 em Lisboa, completando-se assim hoje 269 anos do seu falecimento. Foi um dos grandes compositores e organistas portugueses do século XVIII foi um compositor e organista que cedo se tornou uma referência na Europa, tendo contactos com Domenico Scarlatti, o que diz bem do prestígio que obteve no seu tempo. "Tantum Ergo" e "Ardebat Vincentius" são algumas das suas famosas peças corais, por contraponto à "Abertura em Ré" e "Concerto em Lá", que são algumas das suas peças instrumentais mais conhecidas, para além das mais de cem sonatas que lhe são atribuídas. O outro compositor e maestro que hoje recordo neste espaço é Leonard Bernstein que hoje completaria noventa e três anos se ainda estivesse entre nós. Bernstein nasceu a 25 de Agosto de 1918 em Lawrence e viria a falecer em New York a 14 de Outubro de 1990. Vencedor de vários Emmys, viria a ser o primeiro compositor norte-americano a ficar famoso mundialmente, atingindo o seu maior reconhecimento com os Young People's Concerts - Concertos para Jovens - que entre 1954 e 1989 fizeram as delícias de muitos jovens, que assim viriam a descobrir a música dita clássica, e que entre nós também tiveram o seu espaço no início das tardes de domingo na RTP que era, à época, o único canal televisivo que operava em Portugal. Entre as suas obras mais famosas estão "Candide" e "West Side Story", esta última viria a integrar cantores líricos com cantores de "music-hall", - uma inovação para a época -, onde prepassam os ritmos afro-cubanos de que todos gostamos. Para além destas obras, entre as muitas que compôs, gostaria de salientar uma obra muito interessante intitulada "The Mass", que na sua gravação original, foi uma das primeiras obras, senão mesmo a primeira, a ser gravada em formato quadrifónico que era uma novidade para a época e lhe dava uma amplitude sonora sem precedentes. Assim, este dia 25 de Agosto se tornou um dia de efemérides, uma recordando um falecimento, outra lembrando um nascimento. Dois grandes músicos e compositores que, embora separados por séculos, são figuras incontornáveis da história da música. Se não conhecem as obras destes atrtistas, esta será uma boa altura para buscar muito do que existe publicado entre nós de ambos.

Tuesday, August 23, 2011

Conversas comigo mesmo - XXIII

Nestes períodos conturbados que agora vivemos, a Fé é algo em que muitos se refugiam para enfrentar as agruras da vida. Mas a Fé não é uma redoma que nos protege da intempérie, nem um seguro que nos garante uma travessia da vida, sem problemas nem angústias. Pelo contrário, como nos preveniu Jesus, temos de estar preparados para enfrentar ventos contrários bem como as dificuldades e tormentas que eles nos podem criar e criam tantas vezes. O que a Fé nos garante é uma presença que sempre no envolve e nos diz, também, nessas ocasiões: "Tende confiança. Não temais. Eu estou convosco!". Uma presença capaz de nos transmitir a luz e o ânimo, a paz e a esperança de que necessitamos para prosseguir a viagem e a luta. A oração é a porta que abrimos para que essa presença - a presença de Deus - seja real e actuante entre nós. O próprio Jesus nunca dispensou o Evangelho. Depois de um dia agitado cheio de movimento, canseiras e emoções, Ele procurou um tempo e um espaço de recolhimento e de silêncio, não apenas para restaurar forças e equilíbrios, mas, sobretudo, para um encontro mais profundo com o Pai. Ele é, na verdade e fundamentalmente, um Homem de oração, pois de tal modo é profunda e constante a sua ligação ao Pai e o seu diálogo com Ele. A oração em Jesus nunca é fuga para fora da vida, mas a sua parte integrante, algo em relação constante com a sua missão e atenção permanente à vontade do Pai. Por isso não a dispensa. E nós - que até nos dizemos cristãos?

Monday, August 22, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 130

Apesar do defeso político, mesmo assim, não deixam de se verificar alguns episódios recambulescos na nossa democracia. Desde logo, a tão polémica e despesista Madeira. Alberto João conseguiu um triste record, duplicou a dívida do território em apenas cinco anos. Isto diz bem da política que está a ser seguida à mais de trinta anos e que ninguém - dentro do PSD - parece querer ver. Agora, como dizia alguém, Alberto João já "não tem mais autonomia para disparates". É fácil fazer obra com o dinheiro dos outros, mesmo obra inútil apenas para ganhar eleições e dar dinheiro a ganhar aos parasitas que gravitam à sua volta, veja-se como exemplo, o que aconteceu a quando dos temporais que por lá se verificaram à dois anos. Isto é uma amostra da irracionalidade dos investimentos feitos, e do desperdício de dinheiros públicos, que vão daqui do Continente para serem enterrados nesse sorvedouro jardinista. Agora que se vê em maus lençóis, João Jardim até se diz de esquerda, num arremedo populista dos muitos que teve ao longo da sua estadia política no território. (Também Hitler e Mussolini o afirmavam e vejam lá no que isso deu). Por cá, as coisas não andam melhor. Passos Coelho continua sem saber bem o que fazer, e a alteração da TSU será, seguramente, a maior "batata quente" que terá que enfrentar nos próximos tempos. Com isso, que será compensado com o aumento do IVA, levará a que muitas empresas, já a braços com imensos problemas, tenham que encerrar, engrossando assim, o cortejo de desempregados que já é assustador. (Vejam o que pensa Marcelo Rebelo de Sousa (MRS) sobre esta matéria, não deixa de ser ilucidativo vindo dum militante do PSD). E não se deixem iludir com a diminuição do desemprego - apenas umas décimas - porque estamos no Verão e o emprego sazonal tem, nesta época, o seu melhor período. Depois vamos assistindo à confusão generalisada em torno da privatização da RTP. O governo decidiu que vai privatizar parte da estação oficial, mas se assim é, é incompreensível a "dica" de Miguel Relvas sobre o querer levar Mário Crespo para a estação. Quem compra, não tem que levar em cima com uma pessoa com que pode nem estar de acordo, a menos que isso signifique que se vende a RTP, mas o pessoal fica a cargo do Estado, como aconteceu com a desastrosa negociação do BPN. MRS afirmou isto e bem, ele que parece estar a ficar preocupado com a deriva do governo do seu partido. Mas para aumentar ainda mais a confusão, o governo decidiu criar uma comissão para estudar o assunto. Que trabalho vai fazer a comissão, se o governo já decidiu vender? Será uma maneira de arranjar mais uns dinheirinhos para alguns "boys" desfavorecidos? Também aqui MRS se mostrou desagradado e com razão. Mas os equívocos continuam, numa semana que foi fértil neles. Este prende-se com o tão vilipendiado TGV, bandeira que foi agitada pelo PSD contra o governo anterior. Agora, parece que afinal o TGV que era para pôr de lado, pode vir a avançar!!! Neste emaranhado de confusões e mentiras, a classe política sai, mais uma vez, perfeitamente enlameada e desacreditada face à opinião pública. Para aqueles que achavam que Passos Coelho era a solução, talvez já se tenham arrependido - embora no silêncio da consciência - mas, não nos esqueçamos, que este governo tem apenas dois meses, e com este ritmo de disparates arrisca-se a entrar para o "guiness". Mas lá por fora, as coisas não andam melhor. Porque a UE é constituída por países com governos fracos e sem ideias como o nosso, não seria de esperar outra coisa. O modelo ultraliberal que é determinista hoje na UE - o mesmo modelo que existe em Portugal - é enfermo e refém de si próprio. Não está ajustado à nova realidade e a "histérica" Sra. Merkel é bem o exemplo de tudo isto. Merkel e Sarkozy - esse par "romântico" da política europeia - tiveram a ideia peregrina de criar uma espécie de governo europeu - e um ministro das finanças europeu -, para se impôr aos países, nomeadamente os periféricos, no controle das contas. Desde logo desautoriza a Comissão Europeia e Barroso, que em boa verdade não sabe o que anda a fazer - mais um ultraliberal -, mas impôr uma tutela sobre os outros países é um pouco demais. Merkel já se esqueceu que o seu país precisou da ajuda dos outros a quando da reunificação e ninguém lhe cobrou nada por isso. Sarkozy, mais preocupado com as mulheres do que com o seu país, ainda não viu que a economia francesa está estagnada, e que a curto prazo, pode vir também a precisar de ajuda. Quando às "eurobonds" nem é bom falar, porque seriam demasiado federalistas para uma UE ultraliberal que está a ser empurrada por estes para o abismo e desagregação. Não auguramos nada de bom para esta UE e para o euro se até lá não se arrepiar caminho. Mas para isso acontecer, seria necessário que aparecessem na Europa verdadeiros estadistas, como já existiram num passado recente, e não continuar a ser governada por cretinos que de economia nada sabem e que têm como único objectivo destruir o projecto europeu. Se a Europa está a ser governada por uma histérica e um mulherengo, por cá, como diz Frei Fernando Ventura, "vivemos numa barraca com um submarino à porta" e, já agora, acrescentamos nós, com uma parabólica para ver-mos os disparates que lá por fora se fazem em nome de todos nós, europeus. O futuro apresenta-se sombrio e as expectativas são cada vez mais baixas. Não nos surpreendamos que a rua comece a falar. E, talvez, isso seja urgente. Citando ainda Frei Fernando Ventura, "é tempo dos não violentos trazerem para a rua a revolução, antes que os violentos a tragam para a rua".

Sunday, August 21, 2011

"O Céu Existe Mesmo" - Todd Burpo e Lynn Vincent

Aqui está um bom livro para um período de férias, que apesar de tudo merece a nossa atenção e reflexão. Colton Burpo tinha quatro anos quando foi operado de urgência. Meses mais tarde, começou a falar daquelas breves horas em que esteve entre a vida e a morte, e da sua extraordinária visita ao céu. O seu relato só agora foi revelado pelos pais. E tornou-se num fenómeno editorial sem precedentes. Em 2003, numa viagem com a família, o pequeno Colton, sentado na sua cadeirinha no banco de trás do carro, começou a falar sobre os anjos que o tinham visitado durante a operação à apendicite aguda... O pai, sacerdote, nem queria acreditar. Estacionou, respirou fundo, e fez algumas perguntas ao filho. E o miúdo respondeu, sem dar muita importância ao assunto. Falou dos seus encontros com Deus e com Jesus, das visões que teve durante a cirurgia, da mãe e do pai a rezarem enquanto ele era operado. Foi apenas o início. Nos anos seguintes, nas alturas mais inesperadas, a criança recordaria a sua breve passagem pelo céu. Vinham-lhe à memória imagens de factos que não conhecia, nem poderia conhecer: como o bisavô, que tinha morrido há mais de 30 anos, ou a "irmãzinha mais nova" - um aborto da mãe mantido há anos em segredo pela família. Como era possível? Todd Burpo, pai mas também homem da Igreja, encarou a situação com enorme cepticismo. Consultou elementos da sua congregação, investigou sobre o assunto. E aos poucos teve de se render à evidência: o seu filho tinha de facto visitado o céu, e trazia consigo uma importante mensagem para partilhar... Noticiado pelos canais televisivos como a CNN ou a FoxNews, "O Céu Existe Mesmo" é uma história real que está a comover milhões de leitores na América. Os autores: Todd Burpo é pastor numa pequena vila no Nebraska. Elemento muito activo da comunidade, dá aulas de luta livre para jovens desfavorecidos e é ainda bombeiro voluntário. A sua mulher é catequista e cuida dos três filhos do casal. Colton Burpo, o menino que visitou o céu, tem hoje 11 anos, e é uma criança extremamente feliz; Lynn Vincent é a autora de vários "bestsellers", como por exemplo a biografia de Sarah Palin, "Going Rougue, An American Life". Autora e co-autora de nove livros, escreve para a revista "World" e dá aulas de escrita criativa no King´s College de Nova Iorque. Vive em San Diego, na Califórnia. A edição é da Lua de Papel. Um livro que merece a vossa atenção. Imperdível.

Friday, August 19, 2011

Conversas comigo mesmo - XXII

Muitas vezes, tal como na política, olhamos para a religião como um clube. Quantos de nós, que até nos proclamamos cristãos, respeitamos os seus princípios? Quantos de nós, que até nos proclamamos cristãos, praticamos os seus ensinamentos? Quantos de nós, que até nos proclamamos cristãos, fazemos dela a nossa filosofia de vida? Vem isto a propósito duma afirmação que é comum fazer-se de que ser cristão é assumir um estilo de vida sempre inspirado no seu fundador, Jesus Cristo. Mas o estilo de Jesus, que a Bíblia nos transmite, é estar atento aos outros e sempre disponível para servir. Quantos de nós estamos atentos aos outros, ao nosso semelhante que por vezes, ao nosso lado, tanta ajuda precisa e nós ignorá-mo-lo, e contudo, até nos proclamamos cristãos. O Seu gesto fundamental - de Jesus - que nós devemos perpetuar a seu mandado é a "fracção do pão", isto é, o gesto que exprime uma vida que se entrega e se dá para que todos tenham vida e vida em abundância. Será que, de facto, perpetuamos no nosso dia-a-dia esse gesto? E, contudo, até nos proclamamos cristãos. O Evangelho lembra-nos amiúde, que temos de aprender a viver num estilo mais fraternal e solidário, mais atentos às necessidades do homem de hoje - seja ele quem for - e sempre dispostos a repartir o que somos e temos para darmos a resposta positiva às suas fomes mais prementes. E será que o estilo de vida dos nossos dias é compatível com isto? Será que estamos dispostos a abdicar de um pouco de nós e daquilo que possuímos, para partilhar mais fraternal e solidariamente com o outro? E, contudo, até nos proclamamos cristãos. A fraternidade de Jesus, a que Ele viveu e ensinou, é a resposta concreta e objectiva a todas as fomes que nos podem afligir: fome de pão e de cultura, fome de respeito e de confiança, fome de amor e de justiça, fome de liberdade e de paz, fome de Fé e de esperança, fome de saúde e de alegria, fome de dignidade e de compreensão, fome de sentido para a vida, fome de atenção, fome de Deus... Quantos de nós entendem esta filosofia? Quantos de nós fazem disto o seu paradigma? E, contudo, até nos dizemos cristãos. Muitas vezes me interrogo se hoje Jesus aparecesse entre nós com a mesma mensagem - embora adaptada aos nossos dias - se teria muitos seguidores. Quantos de nós, que até nos dizemos cristãos, seríamos capazes de abdicar de tudo, ou quase tudo, para o seguir, numa sociedade marcada pelo sentido de posse, pelo sentido do ter mais do que pelo sentido do partilhar? E o próprio Jesus, como cumpriria os seus dias? Como terminaria? Seria que lhe concederiam muitos anos de vida, ou lhe abreviriam estes - como à dois mil anos - invocando uma qualquer teoria da conspiração liderada por um qualquer interesse instalado? Estas são interrogações que temos, e devemos, colocar-nos quando afirmamos que somos cristãos, que até frequentamos a Eucaristica domingo após domingo, - talvez mais como um rito, do que pelo apelo da Fé -, que até tentamos seguir uma vida exemplar, embora aqui o "exemplar" seja entendido como aquilo que a sociedade entende como tal e não como o cristianismo a vê, que até pode ser algo bem diferente. Estas são questões que nos devemos colocar, quanto mais não seja para podermos decidir - em consciência - se, de facto, queremos ser ou não cristãos. É que em questões tão profundas, que condicionam a nossa vida, temos que ser como a mulher de César! Quantos de nós terão coragem para o fazer duma forma séria e comprometida? Quantos de nós, lhe passarão ao lado, porque estas questões são incómodas e podem até ser inconvenientes, expondo-nos a alguma idolatria que confundimos com religião e seus ensinamentos? E, contudo, até nos dizemos cristãos...

Wednesday, August 17, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 129

Cá voltamos aos nossos equívocos, mesmo em período de acalmia com o país a banhos, que é quando os governos implementam as medidas mais gravosas para evitar a contestação social. (Veja-se o caso do aumento brutal do IVA - 17% - nas tarifas da electricidade e gás). E já com a promessa de aumentar mais - talvez 2 pontos percentuais - já em 2012. Para um governo que tanto criticou o anterior pelo aumento de impostos não deixa de ser caricato. Só vem provar que - como dissemos em tempo oportuno - do que se tratava era de ir ao pote e não no bem estar dos portugueses que vêm a sua vida agravada fortemente com um governo que só está em funções à dois meses. E para quem tinha tantos projectos para a diminuição da despesa não deixa de ser estranho que ainda nenhuma tenha vindo a lume, embora Passos Coelho no Pontal, tenha afirmado que cortam na despesa diariamente, só que deve ser tão pouco, que ainda nenhum português deu por nada. Pelos vistos, nem os membros da "troika" que não se coibiram de o afirmar em conferência de imprensa. É preciso lembrar que foi em nome destes equívocos que o PSD e o CDS, ajudados pela esquerda radical, derrubaram o governo de Sócrates mergulhando o país numa crise política a somar à económica que seria determinante para a ajuda externa chegar e colocar o nosso país de joelhos, situação em que actualmente nos encontramos. Até gente mais próxima do actual PM, como Luís Delgado, já não podem esconder o desconforto da política seguida, ele que tanto criticou Sócrates até já veio - embora duma forma suave e cibilina - defendê-lo. É que o PEC 4 não implicava restrições tão fortes e, mesmo que viessem a existir outros, - e nós achavamos que seriam inevitáveis -, nunca chegaríamos à situação de protectorado em que actualmente nos encontramos. Apesar de mais de três décadas de democracia, os portugueses ainda não aprenderam que em política se deve racionalizar, mesmo - e sobretudo - em período eleitoral, e não encarar a refrega como um jogo de futebol. A resposta aí está, e aquilo que parecia o paraíso anunciado transformou-se num inferno social, por contraponto ao mal instituído de que se falava que afinal, veio-se a verificar que defendeu melhor os interesses de Portugal e dos portugueses, bem melhor do que os actuais governantes, na sua maioria inexperientes, que para além de não saberem o que fazer, andam a enriquecer o seu currículum para depois irem ocupar mais uns lugares de "boys" dos muitos que por aí existem. O desnorte está instituído e o mais fácil é ir sobre os mais débeis, em vez de atacar os mais ricos - veja-se a não tributação das mais-valias e dividendos - num circo de triste memória. A ânsia que tinham não era de ajudar Portugal e os portugueses, mas sim, como o actual PM confessou, o de "ir ao pote". Se dúvidas houvessem aí está a resposta, clara e contundente, que esmaga os portugueses diariamente, e ainda o pior não chegou. Para quem dizia e defendia que a crise tinha a ver com Sócrates e até negava a existência da crise internacional, só vem demonstrar que os interesses que tinham eram inconfessáveis e que, mais uma vez, os portugueses embarcaram no canto da sereia. Até Marcelo Rebelo de Sousa já não esconde algum incómodo que a política do seu correligionário político lhe está a causar. Mas a crise é generalizada, vejam-se as dificuldades que atingem os tão poderosos EUA, como aquela que desarticula, cada dia com mais evidência, a UE. Enferma dum modelo ultraliberal que não se ajusta aos princípios federalistas que nortearam a fundação da UE, os seus actuais dirigentes estão a desagragá-la, dia após dia, estilhaçando tudo aquilo que a Europa tinha conseguido criar como modelo social avançado, onde até os EUA vieram beber inspiração. Mas isso não importa aos actuais dirigentes que estão mais interessados em defender o seu projecto ultraliberal - que nunca foi solidário - face a uma Europa mais virada para o social, que foi a Europa que encontraram quando chegaram e que vêm a destruir. E se dúvidas houvesse, basta ver o que saiu da última cimeira entre Sarkozy e Merkel. Agora Sarkozy e Merkel falam dum governo europeu e até dum ministro das finanças europeu. Até já falamos disso nestas crónicas - afinal somos federalistas - mas atenção que aquilo que Sarkozy e Merkel defendem é um governo liderado pela França e Alemanha e nada mais do que isso. E nesta farsa liberal mascarada de federalista não nos incluímos de todo. É ver a reacção que eles têm quando se fala de "eurobonds", isso sim, um passo importante na afirmação federalista da UE. A Europa está em declínio, os EUA estão feridos - não se sabe se de morte ou não - mas estão sem a pujança de outros tempos. E com tudo isto, é visível que as coisas não estão a correr bem e que uma nova crise se aproxima inexorável e devastadora. Não queremos ser profetas da desgraça como Roubini, nem pessimistas como Zoelick, mas é evidente que algo se aproxima e não é necessário ser economista para o entender. Será o fim do sonho no célebre "no médio/longo prazo estamos todos mortos" de Keynes, ou será, em alternativa, o abrir duma nova perspectiva uma nova visão para o mundo, menos materialista - no conceito capitalista do termo - mas mais solidária, ou algo bem diferente de tudo isto, e que ainda não somos capazes de perspectivar? Teremos que aguardar para saber a resposta, e pensamos que não temos que aguardar muito para o saber.

Monday, August 15, 2011

BBC Proms 2011

Neste regresso à actividade deste espaço, trago-vos uma notícia já um pouco desfazada no tempo. Estão a decorrer desde 15 de Julho e vai durar até 10 de Setembro de 2011 mais uma série dos famosos concertos promenade em Londres. Embora já atrasado, aqui venho chamar a atenção para este evento que anual e ciclicamente se repete na capital britânica, onde se juntam várias formas de música, desde a clássica com variegados compositores, até formas mais próximas do jazz e até da música ligeira, num evento paralelo chamado "Electric Proms". Por isso mesmo, este evento congrega em seu redor espectadores das mais diversas idades e preferências musicais. Para os interessados, os "Proms" podem ser seguidos através da BBC Radio 3 e BBC Four (televisão por cabo) - normalmente - ou, em alternativa, através da Antena 2 - a rádio clássica portuguesa - que sempre se associa a este grande evento. (Também pode ser seguido na internet através das mais diversas plataformas em actividade). As emissões são emitidas em HD. A sugestão aqui fica, porque a maioria das pessoas conhecem apenas o concerto final e a festa em seu torno, a chamada "Last Night of the Proms", desconhecendo o resto do programa que, normalmente, é extenso e variado. Aqui deixo a ideia para os interessados. Ainda vão a tempo. Não percam porque vale bem a pena.

Sunday, August 14, 2011

"O Cemitério de Praga" - Umberto Eco

Durante o século XIX, entre Turim, Palermo e Paris, encontramos uma satanista histérica, um abade que morre duas vezes, alguns cadáveres num esgoto parisiense, um garibaldino que se chamava Ippolito Nievo, desaparecido no mar nas proximidades de Stromboli, o falso bordereau de Dreyfus para a embaixada alemã, a disseminação gradual daquela falsificação conhecida como Os Protocolos dos Sábios de Sião (que inspirará a Hitler os campos de extermínio), jesuítas que tramam contra maçons, maçons, carbonários e mazzinianos que estrangulam padres com as suas próprias tripas, um Garibaldi artrítico, com as pernas tortas, os planos dos serviços secretos piemonteses, franceses, prussianos e russos, os massacres numa Paris da Comuna em que se comem os ratos, golpes de punhal, horrendas e fétidas reuniões por parte de criminosos que, entre vapores de absinto, planeiam explosões e revoltas de rua, barbas falsas, falsos notários, testamentos enganosos, irmandades diabólicas e missas negras. Óptimo material para um romance-folhetim de estilo oitocentista, para mais, ilustrado como os feuilletons daquela época. Há aqui com que contentar o pior dos leitores. Salvo um pormenor. Excepto o protagonista, todos os outros personagens deste romance existiram realmente e fizeram aquilo que fazem. E até o protagonista faz coisas que foram verdadeiramente feitas, salvo que faz muitas que provavelmente tiveram autores diferentes. Mas quando alguém se movimenta entre serviços secretos, agentes duplos, oficiais traidores e eclesiásticos pecadores, tudo pode acontecer. Até o único personagem inventado desta história ser o mais verdadeiro de todos, e se assemelhar muitíssimo a outros que estão ainda entre nós. Quanto ao autor, Umberto Eco, é muito conhecido. Nasceu em Alessandria, em 1932. Filósofo, medievalista, semiólogo, estreou-se na narrativa com O Nome da Rosa (Prémio Strega, 1981), seguido de O Pêndulo de Foucault, A Ilha do Dia Antes, Bandolino e A Misteriosa Chama da Rainha Loana. Entre as suas numerosas obras ensaísticas (académicas e outras), destacam-se: O Signo, Os Limites da Interpretação, Kant e o Ornitorrinco, Obra Aberta, Dizer Quase a Mesma Coisa - Sobre a Tradução e Como se faz uma Tese em Ciências Humanas. Organizou ainda os livros ilustrados História da Beleza e História do Feio. Resta apenas dizer que a edição é da Gradiva. Um livro a não perder.

Saturday, August 13, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 128

Esta foi uma semana cheia de acontecimentos, que viria a terminar com o maior esbulho do governo sobre os portugueses, a saber, o aumento brutal do IVA na electricidade e no gás. Já aqui falamos dos estilhaços provocados pela venda do BPN, onde até Marcelo Rebelo de Sousa não ficou indiferente, quando afirmou que "as condições do BPN foram impostas pelos credores". Afinal, não é só a "troika" a impor coisas aos portugueses, num governo de figurantes sem rumo ou estratégia. Depois foi o escândalo dos "boys" do PSD e do CDS - são 75, por enquanto - a quem foi dada a oportunidade de engordar o Estado e os seus bolsos pessoais, numa altura em que se pede que a despesa deste diminua, coisa bem difícil de se ver, apesar das críticas e das sugestões(!) dadas ao anterior governo. Depois foi o imposto extraordinário que taxou toda a gente, mas deixando de fora os dividendo e as mais-valias, numa clara e escandalosa protecção a todos aqueles que já têm muito. Também aqui MRS viria dizer que "só os trabalhadores pagam". Agora, foi o aumento "colossal" do IVA para a electricidade e gás, que passa da taxa reduzida para a taxa normal, isto é, de 6% para 23%!!! Ainda se deixa no ar a possibilidade de aumento de impostos para 2012, num saque organizado a todos nós e digno de processo criminal. Para quem se propôs não aumentar impostos antes de ser governo, não deixa de ser interessante verificar o despudor destas medidas, porque quanto à despesa do Estado ainda não se viu nada, como ontem Poul Thompson do FMI, bem salientou. É mais fácil atacar aqueles que nada podem fazer do que as mordomias dum Estado corrupto onde tudo parace ser legitimado à luz de algo que o cidadão comum não vê. Só para dar um exemplo, e como afirmamos na última crónica, o caso da chefe de gabinete do ministro da economia que está a ganhar o dobro da sua antecessora, só porque é "boa". Medidas como esta do aumento do IVA, para além de ser um roubo perpetado sobre as populações, não é inevitável, como o ministro das finanças quis fazer crer. Por exemplo, porque não se aumentou o IVA sobre alguns produtos que não têm incorporação nacional, como por exemplo, os plasmas, e se foi atacar a electricidade e gás de que carecem as populações e a indústria? Como se pretende tornar as empresas mais competitivas, quando este aumento da energia vai levar algumas à ruptura, e as que sobreviverem, não terem grande margem de manobra para competirem no exterior? Como se pretende incentivar o crescimento económico utilizando medidas restritivas como esta? Este governo anda à deriva, porque não sabe o que fazer. Vejamos outra questão, a saber, o encerramento de escolas, política tão contestada pela anterior oposição - hoje governo - e que logo se apressou a aplicar o modelo como algumas pequenas alterações, só para dizer que não era igual, mas com as mesmas consequências. Agora, os professores que tanto criticaram o governo anterior, ainda nada disseram, nem vieram para a rua. Será que têm a consciência pesada por terem ajudado a colocar este governo no poder, pensando que iam resolver o seu problema? Mas ainda voltando à questão orçamental, o ministro afirmou à dias que havia um desvio de 1,1% face aos objectivos para este ano, para justificar o imposto extraordinário. Agora sabe-se que o desvio é de 1,7% já contabilizado o referido imposto!!! Afinal em que ficamos? Para quem acusava o anterior governo de mentir, convenhamos que este não é um modelo de seriedade. Ainda ontem os elementos da "troika" afirmavam que "não deviam existir apenas cortes, mas se deviam criam condições para o crescimento". E que vemos? Por cá, parece que ninguém percebe nada - e se calhar não - porque medidas para o crescimento nem vê-las. Alterou-se o código laboral, os trabalhadores ficaram mais vulneráveis, agora afirma-se que se vai baixar fortemente a TSU, - compensadas pelo aumento do IVA, pois claro -, mas as gorduras do Estado lá continuam. Com todos estes problemas em cima da mesa, Passos Coelho, lá foi de férias após ter trabalhado menos de dois meses!!! Desta irresponsabilidade estamos todos cheios. Isto são atitudes que não dignificam nem os políticos nem a política, onde a mentira faz parte da estratégia, ainda mais agravada porque apareceram no poder, acusando de mentiroso o governo anterior, prometendo tudo a todos, para logo que lá chegaram fazerem ainda pior. Para quem tanto criticou o PEC 4 - ainda se lembram? - que era bem menos restritivo do que a política que se está a seguir. Até Merkel - com todas as críticas que lhe fazemos - reconheceu que seria - o PEC 4 - uma boa estratégia para Portugal. Prefilam-se no horizonte privatizações muito importantes que nos vão atingir a todos nós, desde logo, as "Águas de Portugal". Um bem público, que devia continuar público, vai ser entregue à voracidade do capital privado. Nesta política de terra queimada, onde o empobrecimento do país e das populações é por demais evidente, não se vislumbram grandes coisas para benefício das populações. A única maneira de ter benefícios e mordomias, nestes tempos difíceis, é arranjar um lugar no governo, ou um lugar dum qualquer "boy" seja lá onde for. Como ontem afirmava um conhecido jornalista, quando comentava o aumento do IVA, "bem prega Frei Tomás". O despudor e a insensibilidade com que tudo isto é feito é bem a evidência da política ultra-liberal que este governo professa e para a qual tanto alertamos no passado recente. Não deixa de ser curioso que, muitos dos que criticavam o anterior governo, agora se mantenham calados, pelo incómodo que tudo isto lhes trás. Talvez um certo peso na consciência seja a razão disso, e não venham dizer que todas estas medidas têm a ver com o passado. Porque não é assim, e até prometeram não o fazer, embora de vez em quando caiam na tentação, porque os argumentos lhes fogem. Política de mentira, governo de mentira. Governo fantoche, representante dos interesses estrangeiros que tanto se quis evitar e que os actuais (des)governantes tudo fizeram para que viessem, na sua assumida ânsia de ir ao pote. Só que, enquanto se governa no pote tão desejado, as populações estão cada vez mais depauperadas, e Portugal cada vez mais pobre e divergente duma Europa que, embora também ela em crise, aparece bem mais robustecida. Pobre país este que tem esta classe política, embora, se calhar, temos os políticos que merecemos e que alguns ajudaram a colocar no poder. Entre o passado recente e a actual governação, façam a comparação, sincera e desapaixonada, e vejam ao resultado que chegam. E ainda a procissão nem sequer saiu do adro...

Sunday, August 07, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 127

Apesar do período de férias, estes dias não têm deixado de ser férteis em equívocos, e por isso, nos vemos forçados a voltar a este espaço. Desde logo, o caso do líder da JSD da Madeira - Jaime Ramos - que foi protagonista dum episódio pouco dignificante no protetorado de João Jardim. Ele, após uma rixa num bar, acabou por urinar num carro da PSP. Se fosse com outro, era logo intimado e sabe-se lá mais o que lhe aconteceria, mas Jaime Ramos apresentou-se como líder da JSD da Madeira e teria avisado os agentes que "bastaria um seu telefonema para o comandante e o assunto morria ali mesmo". Quando os "media" fizeram eco do caso, João Jardim veio afirmar que "este senhor era membro permanente da Comissão Política e no governo regional e que o melhor era deixar as coisas assim, porque tudo não passava de mais um caso inventado pelos jornalistas". Como a barulheira dos "media" não parou a PSP - depois de ter passado muito tempo - lá acabou por levantar o auto que deveria ter levantado a quando do acto. Isto diz bem dos "complots" que existem na Madeira onde Alberto João compra tudo e todos amarrando-os depois com a sua mão de tiranete. Mas Alberto João ainda não percebeu que está a ir longe de mais? Só para dar um exemplo, o déficit da Madeira - comparado com o do Continente - é incomensuravelmente maior. "O dinheiro nunca chega por mais que se dê" afirmou o director-adjunto do Expresso, João Garcia. E acrescenta "até Guterres limpou o déficit da Madeira agravando assim as contas no Continente". Porque é que o PSD não põe na ordem este "tiririca" madeirense? Porque lhe tolera tudo sem pestanejar por mais insolente que ele se apresente? Que é que ele saberá que faz tanto medo a todos os dirigentes do PSD que não o enfrentam? Mas os equívocos não ficam por aqui. Soubesse no último dia acordado com a "troika" - dia 31 de Julho - que o assunto BPN ia finalmente ter um desfecho. Depois de várias propostas apresentadas, o ministro das finanças acabou por fazer o acordo com o BIC-Angola. Até aqui tudo parece normal. Mas o mais estranho é que, segundo se conhece, esta foi a proposta mais baixa apresentada!!! Porque é que Vítor Gaspar acaba por vender o BPN à proposta menos lucrativa para o Estado? Não deixa, também, de ser curioso que o homem que conduziu a negociação foi o líder do BIC-Portugal, Mira Amaral, um ex-ministro de Cavaco Silva!!! E aqui é que o problema se levanta. A proposta de venda de 40 milhões de euros foi a mais baixa de todas, e ainda soubesse que, ela pressupõe o despedimento de cerca de 750 trabalhadores quando havia outras que não implicavam despedimentos!!! (Acresce ainda que as indemnizações dos trabalhadores dispensados correrá a expensas do Estado, ou seja, de todos nós, bem como, os respectivos subsídios de desemprego. E já agora, quem vai gerir o fundo de pensões dos trabalhadores?). Porque será que isto aconteceu? Será que isto já pressupõe algo mais abrangente, criando condições para os angolanos se posicionarem para as privatizações que se seguirão? Por mais justificações que se dêem, a dúvida permanecerá sempre, dando a entender que se trata de mais um "arranjinho" político para servir próximos do partido do poder e do próprio governo. Agora ficou-se a saber que havia um grupo de investidores portugueses que pagava mais de 100 mil milhões de euros e mantinha os postos de trabalho!!! O mistério adensa-se... Para dar explicações sobre este caso BPN foi chamada ao governo a secretária de Estado do tesouro. Porque não o ministro? De que tem medo o governo quando inviabilizou a proposta da oposição para ir lá o ministro? Agora fala-se de que o Montepio só queria comprar partes do banco. Mas foi isso mesmo que comprou o BIC! E ainda por cima, o Estado tem que injectar 200 mil milhões de euros para recapitalizar o banco, bem como as indemnizações e fundo de desemprego daqueles mais de 750 trabalhadores que vão para a rua. Para quem prometeu tanta transparência não deixa de ser estranho que este acontecimento - como outros - estejam a tornar Passos Coelho cada vez mais desfocado na fotografia. Entretanto, Vítor Gaspar já veio dizer que a economia portuguesa vai decrescer nos próximos 9 trimestres com o inevitável aumento do desemprego. Enquanto o seu homólogo da economia contrata uma super-chefe de gabinete que ganha mais de 50% do que ganhava a sua antecessora!!! Porquê? Porque o ministro a acha "boa"(sic)!!! E não têm vergonha de pedir cada vez mais sacrifícios aos portugueses. Mas este governo, embora esteja no poder a pouco mais de um mês, tem-se vindo a embrulhar em trapalhadas que nunca mais acabam. Agora foi a polémica chamada teste para o INEM, enquanto o seu director prestava declarações na AR. É vergonhoso e até criminalmente imputável este tipo de atitude. Qualquer cidadão que o fizesse, se fosse detectado, era punido, o PSD seguramente não. Esta revelação feita em directo na comissão de saúde da AR por uma obscura deputada, que por o ser, utilizou essa atitude para se tornar mais visível, - esquecendo que o seria pelos piores motivos -, veio pôr em causa o próprio dirctor do INEM. Mas as trapalhadas continuam, agora com Silva Carvalho, o ex-director do SIED, que afinal protagonizou fuga de informações para uma empresa privada - Ongoing - onde viria a ocupar um elevado cargo. Tudo envolto num emaranhado digno de qualquer 007 de série B. (E há até quem diga que o governo prepara um qualquer negócio para que a Ongoing tome parte da RTP! Veremos se é assim). Enquanto este festival de incongruências acontece, os contribuintes - todos nós - cá estaremos para pagar a conta do desaforo e da sem-vergonha. E, como se não bastasse, ainda vem, cabotinamente, preparar aquilo que chama de política social, embora se fique a saber que os mais pobres são portugueses de segunda, onde os medicamentos de fim de prazo podem ser prescritos sem qualquer problema. O ministro da saúde já veio dizer que não existe nenhum problema, mas será que ele sabe o que diz? Será que ele está disposto a tomá-los? Como os vão distribuir gratuitamente, talvez seja a forma legal de controlar a população, mas a mais pobre, não vá o diabo tecê-las!!! Agora até o dirigente das IPSS já vem dizer que estas estão a preparar-se para distribuir refeições, mas sem que a ASAE esteja por perto. Afinal, que é isto? Que está a acontecer no nosso país? Contudo, o governo que dar mostras de grande contenção de custos - que ainda não apresentou de forma sustentada - baixando as remunerações dos administradores da CGD! Baixam 6.400 euros(!) que não é mais do "peanuts" para usar a feliz expressão de José Adelino Maltez. Depois de ter destruído, ou em vias disso, o Estado Social, o governo prepara-se para destruir um dos marcos importantes do governo anterior, as Novas Oportunidades, que, como o nome indica, deu muitas oportunidades a muita gente. Mas o conhecimento e a cultura, são algo que o governo liberal não gosta - até acabou com o seu ministério - porque, tal como noutros tempos, quanto mais ignorante for o povo melhor. Mas lá por fora as coisas também não andam melhor. A UE vai estar a curto prazo a braços com mais um país em dificuldade, neste caso trata-se do Chipre. Os EUA têm andado numa grande confusão para a aprovação do novo "plafond" para a dívida. Os democratas acham que se devem aumentar os impostos para os mais ricos, bem como, sobre as maiores empresas. Os republicanos não concordam e acham que se devem baixar as despesas de saúde, com a forte pressão da ala mais conservadora, - o "tea party" -, muito próximos da extrema-direita norte-americana. É preciso lembrar que Obama pretendeu estabelecer uma espécie de SNS à europeia, visto a saúde nos EUA ser feita através de seguros, normalmente para os mais abastados, ficando os mais pobres de fora. (Nem tudo o que vem da América é bom e este é, seguramente, o melhor exemplo). E neste vai não vai, a agência de "rating" chinesa Dagong vai baixar o "rating" dos EUA porque acha que, embora vá haver acordo, os EUA não estão em condições de assumir os seus compromissos na totalidade. É preciso não esquecer que a China é o principal credor - detentor da dívida - dos EUA. Mas se a China o fez, não tardou que a Standard & Poor's baixa-se o "rating" americano de AAA para AA2. Agora, até os americanos acham que estes senhores não sabem fazer bem as contas, discurso bem diferente daquilo que diziam quando os países periféricos europeus dela necessitaram. Neste mundo cada vez mais a preto e branco em que vivemos, e perante esta avalanche económica e financeira que promete mergulhar o mundo numa segunda crise, a Sra. Merkel está de férias, pois então, que estas coisas não são para ela. Isto diz bem da falta de liderança da Comissão Europeia, de que muitos já falam, não escondendo o seu desagrado. Mas até que tudo isto seja corrigido ainda muita água há-de passar sob as pontes.