Turma Formadores Certform 66

Friday, July 30, 2010

Boas férias para todos

Eis-nos chegados às tão almejadas férias. O tempo da canícula aí está a convidar a um mergulho nas águas do oceano, para refrescar o corpo e a mente. A nossa justiça parece que não se sentia bem em ir de férias sem deslindar o caso Freeport. Afinal, como é usual entre nós, a montanha pariu um rato. Ficam claras as intenções que levaram a uma campanha negra contra o PM - e nós bem sabemos como isso acontece - e no fim, o processo que tão mediático se tornou, afinal não passa duma pequena burla de empresários... Mas estas coisas deixam mossas nas pessoas. O que é extraordinário é que tenham passado seis anos (!), para se compreender tão pequena coisa. (Afinal até Mário Crespo tem que rever a sua verborreia porque se arrisca a cair no ridículo). Antes de partirmos ainda assistimos ao desfecho da novela da PT/Vivo. A solução encontrada parece ser aquela que satisfaz todos, o governo porque permanece com uma posição no Brasil, a Telefónica porque consolida a posição na Vivo, a PT porque com a Oi vai abarcar o mercado latino-americano e não só o Brasil - como acontecia na Vivo - e, por fim, os accionistas que não querem saber de nada disto, apenas se preocupando com os seus dividendos. À que salientar esta unanimidade no negócio, coisa muito difícil, diríamos mais, impossível no mundo dos negócios, sobretudo, em negócios com esta dimensão. Mas como nem tudo são rosas, vimos com surpresa o adiamento da leitura da sentença do processo Casa Pia, que parece que se vai eternizar no tempo. Veremos se será em Setembro que terá o tão propalado desfecho. Mas enfim, agora vamos de férias, que é a coisa mais importante neste momento. Isto significa que iremos parar por alguns dias a edição deste espaço, mas fica aqui o compromisso de que, se tal se justificar, voltaremos a ele. Neste ciclo que se cumpre, fica a sensação de que estamos a braços com problemas muito sérios, - a que a visão redutora de pensar-se que deriva do actual executivo -, é deveras enganadora. Não temos dúvidas que, para além das dificuldades por que estamos a passar, outras se perfilam no horizonte, apenas adiadas por este interregno que as férias propiciam, fazendo esquecer as dificuldades - será que fazem? - que quando regressar-mos teremos que enfrentar novas dificuldades. Mas parece que já todos percebemos que não poderemos fugir a elas. Por isso, à que enfrentar a situação e esperar por melhores dias. Agora apenas se faz um parêntesis - que as férias proporcionam - para ver se regressamos com mais determinação. Assim, desde este espaço, endereçamos os votos dumas excelentes férias para todos. Até breve.

Monday, July 26, 2010

Sepulcro - A confirmação de Kate Mosse

"Sepulcro", segundo livro da trilogia de Kate Mosse, tornou-se imediatamente um "best-seller", seguindo a trajectória de seu antecessor, "O Labirinto Perdido". Alcançou o primeiro lugar na lista do Reino Unido e de vários outros países como Canadá, França e Itália. Actualmente a autora negocia os direitos de adaptação para o cinema dos dois livros. Em "Sepulcro", duas histórias paralelas estão separadas por mais de um século. Em Outubro de 1891, a jovem Léonie Vernier e seu irmão Anatole saem apressadamente de Paris para o Domaine de la Cade, a imponente propriedade da família de sua mãe, próxima da cidadela medieval de Carcassonne. O rapaz corre risco de vida e divide um segredo com sua tia Isolde, que mora no local. Logo, Léonie também terá seu segredo guardado sob a copa das árvores das florestas escuras da região, dentro da sinistra câmara mortuária que ali se esconde desde tempos imemoriais. E cuja chave é um baralho de tarot muito particular, de poder inimaginável. Mais de cem anos depois, em Outubro de 2007, a bordo de um comboio recém-saído de Paris, Meredith Martin tem muito sobre o que reflectir. O que a leva ao exclusivo Hotel Domaine de la Cade parece ser apenas a pesquisa de uma biografia do compositor Claude Debussy. Mas ela sabe que há mais: o desejo de descobrir as origens de sua família, que parecem remontar à misteriosa região. A velha partitura de piano amarelada e as fotos antigas que foram só o que sua mãe lhe deixou são a única chave de que dispõe. E as cartas, em que até então nunca acreditara. As encruzilhadas que ligam Léonie e Meredith são o grande mistério de "Sepulcro". Os antigos enigmas que as cercam - se desvendados - podem levar a um grande tesouro, de serenidade e crescimento pessoal. Afinal, em Carcassonne "nenhum contador de histórias fica sem inspiração e nenhum visitante consegue escapar ao charme, à beleza e ao esplendor de um paraíso natural esculpido pelo tempo", revela Kate Mosse. E podem crer que é verdade, porque já lá estive várias vezes nesse lugar de sonho, com uma rica história exotérica, como se verifica em toda a região do Languedoc. É um excelente livro para levar para férias, não só para deleite, mas também, para alguma reflexão. A edição é das Publicações D. Quixote, no catálogo Livros d'Hoje.

Saturday, July 24, 2010

Equivocos da democracia portuguesa - 52

Estamos quase a partir de férias, com metade do país já a banhos, mesmo assim, ainda existe quem queira que partamos com a consciência em ebulição para o merecido descanso. Desde logo, o projecto de revisão constitucional que foi divulgado pelo PSD. A trapalhada é monumental e, como dizia ontem Manuel Alegre, "o reforço dos poderes presidenciais parecem feitos à medida". Mas a confusão desde logo instalou-se com a facilidade de mexidas a nível do emprego, o que despoletou um coro de protestos. Já o reforço dos poderes do PR o tinham causado, mesmo dentro do PSD, desde logo por Santana Lopes e João Jardim, mas Paulo Rangel não deixou de ser muito crítico relativamente a tudo isto. A fuga de informações sobre este projecto, provocou desde logo, um desconforto nas hostes laranja. Na quinta-feira passada, no Jornal da Noite da SIC, António Arnaut - figura destacada do PSD - dizia que "esta fuga levava a que ele, bem como o líder do seu partido, andassem a apagar fogos, para estancar o desconforto que estas informações causaram". Não pensávamos que Passos Coelho, apesar de liberal, levasse tão longe as suas teorias. O estilhaçar do estado social é uma evidência, quer a nível do ensino e da saúde, onde a iniciativa privada emerge com toda a força. Veja-se o que se passou em França, quando Sarkozy ameaçou o estado social, que lá é bem mais forte do que entre nós. Desde propostas que nos levam aos tempos do PREC - reforço dos poderes do PR - até às mais retrogradas posições que nos conduzem ao mais desenfreado neo-liberalismo - destruição do SNS e do ensino público. Propostas inaceitáveis que poderão ter custos políticos para o próprio PSD, como o próprio líder do PSD já o admitiu, o que conduziu a que se fizessem alguns ajustes - embora insuficientes - para atenuar o coro de críticas que surgiu dos mais variados quadrantes. Enfim, o contínuo círculo das trapalhadas e dos equívocos, parece que se pegou à nossa democracia como sarna. Depois são as SCUTS que ora têm portagens, ora não têm. Num emaranhado de confusões em que o PS se envolveu com o acordo do PSD, que entretanto se afasta, já desgastado com o processo de revisão constitucional. Depois foi o alargamento dos horários dos hipermercados ao domingo. Algo que nunca deveria ter acabado, porque quem trabalha é ao fim-de-semana que tem mais disponibilidade para fazer compras. O que desde logo vai criar mais postos de trabalho que bem carentes deles andamos. A Sonae já anunciou a criação de mais dois mil postos de trabalho fruto desta decisão. Mas, por mais surpreendente que parece, foi o episcopado que veio a terreiro contestar tal medida!!! O mesmo episcopado que acusa o governo de estar a ir por caminhos duvidosos, vem agora acusá-lo de apelar ao consumismo... Todos sabemos que alargando os horários, vai haver necessidade de criar novos postos de trabalho e, mesmo que levem ao consumismo, tanto melhor, porque se as pessoas compram - para além de terem dinheiro -, leva a que as empresas produtoras tenham que produzir mais, o que conduz a nova criação de postos de trabalho, dinamizando assim a economia portuguesa que tanto carente anda de dinamismo. Quando se diz que a pobreza aumenta dia a dia - o que é verdade - é incompreensível esta tomada de atitude por parte Igreja, a menos que esta também já tenha sido contaminada pelos equívocos em que nos vamos enredando dia após dia. Enfim, vamos para férias com um sentimento amargo de que muito ainda falta fazer e que tempos bem difíceis nos esperam. Seria bom que estas trapalhadas dessem lugar ao bom senso para que possamos todos, serenamente, pensar a situação difícil em que estamos e o modo de a ultrapassar. Seria mais útil do que a permanente crítica sues que vemos todos os dias nos "media" que em nada contribuem para a melhoria da situação, contribuindo apenas para maior instabilidade e falta de discernimento que não é boa conselheira.

Monday, July 19, 2010

Gotan Project - Tango 3.0

Neste período que já vai sabendo a férias, onde a disponibilidade para o relaxamento é maior, aconselho-vos a audição do excelente CD do Gotan Project de seu nome "Tango 3.0". O Gotan Project já nos tinham surpreendido com o excelente "La Revancha del Tango", editando agora este excelente "Tango 3.0", que não desmerece. O Gotan Project é um grupo musical formado em Paris, constituído pelos músicos: Philippe Cohen Solal, de nacionalidade francesa, Eduardo Makaroff, de nacionalidade argentina e Christoph H. Muller, de nacionalidade suíça. O grupo juntou-se em 1999. O primeiro "single" a ser lançado foi "Vuelvo Al Sur/El Capitalismo Foraneo" em 2000, seguido do álbum "La Revancha del Tango" em 2001. A sua música insere-se no estilo do tango, mas com elementos eletrónicos que dão ao seu estilo uma nova forma de fazer tango: o chamado tango electrónico. O nome deste trio vem da inversão das sílabas da palavra tango, seguindo o costume do lunfardo, a gíria argentina, de pronunciar as palavras "al revés", ou seja, de trás para a frente. Também fazem parte da discografia os álbuns "Inspiración Espiración", "Lunático" e "El Norte". Dentro duma linha de renovação do tango - iniciada por Astor Piazzolla - o Gotan Project - que até é uma mescla de nacionalidades e não puramente argentino - trouxe uma nova sonoridade para um velho som, o celebérrimo tango. Este último disco "Tango 3.0" merece uma audição atenta - embora despreocupada, porque o tempo é de férias - mas não deixem de escutar as subtilezas em alguns temas que começam com a imitação do som mono a fazer lembrar nomes famosos do tango argentino doutros tempos, como Carlos Gardel e Francisco Canaro, que o celebrizaram. A ouvir com atenção e deleite. Já agora, peço-vos a atenção para a capa, uma verdadeira obra de arte, onde corpos nus masculinos e femininos se entrelaçam para fazer o nome do grupo, sobre num fundo negro, que faz realçar as letras assim formadas. Um disco excelente pela música e pela apresentação cuidada. Não o deixem passar ao lado.

Saturday, July 17, 2010

Mataram o Sidónio!

Nesta ano de 2010 em que se comemora o centenário da República seria surpreendente que não vos trouxesse algo sobre essa efeméride. Nada melhor do que o romance - baseado em documentos reais - de Francisco Moita Flores que tem por título "Mataram o Sidónio!". O assassínio do Presidente da República Sidónio Pais, ocorrido em 1918, é um mistério. Apesar de a polícia ter prendido um suspeito, este nunca foi julgado. A tragédia ocorreu quando Lisboa estava a braços com a pneumónica, (também popularmente conhecida por gripe espanhola) a mais mortífera epidemia que atravessou o séc. XX e, ainda, na ressaca da Primeira Guerra Mundial. A cidade estava exaurida de fome e sofrimento. É neste ambiente magoado e receoso que Sidónio Pais é assassinado na estação do Rossio em Dezembro de 1918. Francisco Moita Flores constrói um romance de amor e morte. Fundamentado em documentos da época, reconstrói o homicídio do Presidente-Rei, utilizando as técnicas forenses e que, de certa forma, continuam a ser reproduzidas em séries televisivas de grande divulgação sobre as virtualidades da polícia científica. Os resultados são inesperados e (Morro Bem. Salvem a Pátria?) é um verdadeiro confronto com esse tempo e as verdades históricas que ao longo de décadas foram divulgadas, onde o leitor percorre os medos e as esperanças mais fascinantes dessa Lisboa republicana que despertava para a cidade que hoje vivemos. E sendo polémico, é terno, protagonizado por personagens que poucos escritores sabem criar. Considerado um dos mestres da técnica de diálogo, Moita Flores provoca no leitor as mais desencontradas emoções que vão da gargalhada hilariante ao intenso sofrimento. Um romance que vem da História. Uma história única para um belo romance. Francisco Moita Flores foi inspector da PJ, hoje ocupa o cargo de Presidente da Câmara Municipal de Santarém. Tem uma vasta obra, donde saliento "Ballet-Rose" e "O Processo dos Távoras" ambos já adaptados ao cinema e à televisão. Resta dizer que a edição é da Casa das Letras. Um livro a descobrir neste centenário da República, sobre uma das suas figuras mais controversas que dividiu a sociedade portuguesa da época. Um livro excelente para preencher este tempo de férias que se avizinha.

Friday, July 16, 2010

Equivocos da democracia portuguesa - 51

Ontem foi o dia do debate do estado da nação. Todos sabemos que a nação vai mal, não por culpa do governo - embora este também tenha as suas responsabilidades - mas, sobretudo, por culpa desta malfadada crise que assola todos os países ocidentais. Mas é certo que, como é normal em democracia, a oposição culpe o governo, e este apresente o seu melhor para justificar o desempenho. Mas este debate serviu, sobretudo, para tornar claras as clivagens que existem entre o governo e a oposição. Nada de substancialmente novo foi dito para além aquilo que já é conhecido. Contudo, o debate ficou marcado pela intervenção final de Paulo Portas, já quase no fim do debate, a propor que o primeiro-ministro se demita e, logo de seguida a apresentar uma solução dum governo alargado em que o CDS-PP fizesse parte!!! Que se peça a demissão do primeiro-ministro, é normal em democracia, mas que se tenha o descaramento de se pôr em bicos de pés para entrar no governo é algo de extraordinário. Paulo Portas tem-nos habituado a um discurso de "sound-byte" que o tornou famoso, mas nunca pensamos que teria o desplante de se auto-propor para o governo. É algo de insólito e toca as raias do desaforo. Paulo Portas gosta de dar nas vistas, mas aqui pensamos que o deu da pior maneira. Sócrates apressou-se a sair do hemiciclo para comentar o desaforo, e fê-lo com substância, acusando o líder do CDS-PP de não olhar a meios para ir para o governo, "não olhando a arranjinhos" (sic). Já antes Luis Montenegro do PSD tinha comentado, ainda durante o debate, esta ideia peregrina de Paulo Portas, dizendo que "o PSD só iria para o governo quando os eleitores assim o desejassem". À noite na SIC Notícias, Passos Coelho questionado por Mário Crespo, afirmaria o mesmo e indo ainda mais longe, dizendo que "o problema do país não era o primeiro-ministro". Apesar de fortemente influenciado pelo jornalista da SIC - que odeia Sócrates - Passos Coelhos não tergiversou e manteve a sua ideia. Ainda na Assembleia da República, - onde assistimos ao debate -, uma jornalista no fim dos trabalhos, nos dizia que Paulo Portas está sedento de poder e, possivelmente pressionado pelas sondagens. Estas dão o PSD próximo da maioria absoluta, o que a verificar-se, excluiria o CDS-PP do arco governamental, vindo até, possivelmente, a perder votos para o próprio PSD, sentindo-se esmagado entre este e o PS. Passos Coelho tem-se vindo a revelar um homem com ideias muito consistentes e interessantes, apesar de neo-liberal, mas isso, não pode ser considerado um estigma. É um político da nova geração, que poderá ser um bom contra-poder à situação actual. Embora a "guerrilha" pública que vem travando com o PS, para depois, no recato dos gabinetes, vir a formar com este maiorias para apoiar certas políticas mais impopulares, nos faça lembrar velhos hábitos de velhos políticos. Somos dos que defendem a renovação dos políticos em Portugal, para que nos reencontremos com novas políticas e novas ideias. Mas temos sempre que ter cuidado quando atacamos desenfreadamente os políticos - e nós tê-mo-lo feito por diversas vezes - duma forma gratuita. Porque este comportamento faz-nos lembrar o que aconteceu com a República de Weimar, e as trágicas consequências que daí advieram, com a ascensão do nazismo. Mas que isso, por outro lado, não nos impeça de sermos críticos (construtivos), daquilo que se passa no nosso país, porque é a vida de todos nós que está em causa e, sobretudo, a vida das gerações futuras. Já agora, porque não seguimos o exemplo inglês de propor aos seus concidadão que lhes forneçam ideias para reduzir a despesa do Estado? Até para isso utilizaram o "facebook"!!! Não há dúvida de que por aqui se vê o que é uma velha democracia face a uma outra que, apesar de ter mais de trinta anos, ainda pode ser considerada muito jovem.

Tuesday, July 13, 2010

A crise financeira e a recessão - XXXIV

Voltamos ao ciclo infernal da análise das agências de "rating". Hoje a Moody's reviu em baixa o "rating" da República Portuguesa de Aa2 para A1. Significa isto no imediato que, os custos que o Estado tem que enfrentar são mais elevados, e a banca terá que reajustar - uma vez mais - os preçários do crédito. Mas mais grave do que isto, Portugal fica ao nível de Malta e da Eslovénia, estando apenas acima da Grécia. Isto é por demais importante, embora esta notação não tenha surpreendido os mercados que já estavam à espera que isto acontecesse, fechando a sessão sem dramatismos. Contudo, há que pensarmos que entramos no ciclo inevitável da pobreza, assunto para o qual já tínhamos falado em anteriores crónicas. Com a economia despedaçada, com a situação política muito crispada, começa a desenhar-se um cocktail explosivo que pode eclodir a qualquer momento. Daí o saudarmos a afirmação do ex-ministro Manuel Pinho - que muito admiramos - para que se pensasse rapidamente numa solução de bloco central para levar em frente as medidas que são necessárias para fazer frente ao problema. Já aqui, também, o tínhamos defendido, embora tenhamos a consciência de que o PSD, com a ideia, - que as sondagens vão confirmando -, de que pode vir a ser governo a curto prazo, não nos pareça que esteja interessado em aparecer colado ao actual governo do PS. Não sabemos sequer, se esta seria a melhor solução, mas criaria condições para um amplo espectro de apoio que seria boa para a estabilidade política que se deseja nos próximos tempos. Já Cavaco Silva o insinuou ontem, e todos sabemos o quão ouvido é o actual PR dentro do PSD. Embora estejamos a pensar que se estivesse-mos na pele do primeiro-ministro, como gostaríamos de sair de cena rapidamente, antes que as coisas piorem ainda mais. Também não deixemos de apontar um dedo à actual UE, que com as medidas restritivas que impõe aos diversos Estados, para fazer face à dívida, contribui para o aumento do número de desempregados, sacrificando o crescimento económico ao controlo do déficit. A defesa do euro, sem dúvida que é importante, até porque dela depende, quiçá, o futuro da própria UE. Paul Krugman alertava à dias para a possível crise dentro da UE se Grécia e outros países, nomeadamente, Portugal tivessem que abandonar a zona euro. Embora esta seja uma visão dum liberal, - ainda por cima americano -, a juntar a outros liberais que hoje dominam a Comissão, não podemos deixar de pensar que se o euro fosse posto em causa, seria a própria União Europeia a sê-lo, e nem saberíamos se esta sobreviveria a tal situação. Podemos não ter a certeza sobre o futuro, mas que dias especialmente difíceis por aí vêm, pensamos que ninguém tem dúvidas. A revisão em baixa feita para 2011 pelo Banco de Portugal que hoje foi tornada pública, é bem o sinal dos tempos difíceis que estamos a viver e que se agravarão ainda em 2011 com o aumento inevitável do número de desempregados. O ciclo da pobreza, tão conhecidos dos economistas, aí está com toda a sua força. Veremos quem vai resistir a esta avalancha que parece esmagarmos a todo o momento. As especulações começam a aparecer - veja-se o que se disse sobre o Millenium BCP no passado fim-de-semana - que em nada vêm ajudar uma situação já de si caótica. Mas é nestes momentos que temos que ter a determinação para ir em frente, para não baixarmos os braços, para ficarmos sentados na berma da estrada a ver passar este cortejo de miséria que já nos percorre dia após dia. Tudo o resto não passa de verborreia política que já nos vai cansando por ineficaz e balofa.

Sunday, July 11, 2010

Reflexões em torno da relatividade humana

Muitas vezes perde-mo-nos em discussões académicas e esquecemos o duro chão da vida que, por vezes, faz brotar as maiores e melhores respostas. Passamos o tempo a falar do outro, o próximo, nem sempre para o glorificar, e esquece-mos que o Próximo é todo aquele que está ao nosso lado; todo aquele que encontramos em apuros na estrada da vida; todo aquele - indivíduo, grupo, instituição, comunidade - cujos problemas, anseios, necessidades, estão à frente dos nossos olhos e não pudemos ignorar nem passar adiante como se não nos dissessem respeito. Falamos também do bom samaritano, e quase nunca fazemos nada para o imitar, e esquecemos que o Samaritano é todo aquele que se compadece com a dor alheia e não "lava as mãos" nem inventa desculpas para passar ao lado...; é todo aquele que é capaz de alterar o seu "programa", o seu fim-de-semana, para se entregar aos gestos fecundos da participação e da colaboração, da ajuda fraterna e da fraternidade; é todo aquele que não pergunta apenas o que é que os outros podem e devem fazer por ele, mas interroga-se, também, sobre o que ele mesmo pode e deve fazer pelos outros; é todo aquele que não se sente justo só pelo facto de não fazer mal a ninguém mas está atento a todo o bem que pode realizar e o realiza; é todo aquele que tem consciência de que a indiferença também mata, e que só o amor faz viver; é todo aquele que vive em harmonia com a natureza e a respeita; é todo aquele que é amigo dos animais, num mundo cada vez mais desumano e não solidário para com estes seres que são vítimas da tirania de alguns de nós; é todo aquele que respeita o mundo em que vive, em que todos vivemos. Como dizia S. Francisco de Assis, "irmão lobo", irmã árvore", "irmã água", num respeito profundo por tudo o que preenche este mundo que pensamos ser só nosso e nos esquecemos que o partilhamos com outros seres vivos. Dois meses após o falecimento do meu sogro que hoje se cumprem, dou comigo a pensar sobre a relatividade da Vida. Após a exumação dos restos mortais de alguns familiares muito próximos, pensamos que afinal, para além da importância que cada um tem na vida, acabamos tristemente humildes, com uma humildade que nem sempre sabemos ter enquanto vivemos. Nas lutas do dia-a-dia pela sobrevivência, na luta contra o outro, na luta egoísta de estarmos acima do outro. Só quando nos vemos confrontados com a realidade da vida, diria melhor, da morte, é que pensamos na inutilidade de sobrevalorizarmos o acessório em detrimento do essencial. Penso, neste momento, em Mahatma Gandhi, o grande Apóstolo da Paz, que disse: "Não há caminho para a Paz. A Paz é o caminho! Não há fórmulas mágicas para se chegar à Paz, mas há que se viver uma luta contínua pela Paz que é inseparável da Justiça. Há que começar a caminhar. Comecemos por pequenos passos: uma reconciliação, um perdão, uma aproximação carinhosa, um serviço delicado, uma palavra e um diálogo, uma denúncia límpida, uma luta corajosa. Mais vale um gesto pacífico do que muitos discursos sobre a Paz... O Caminho da Paz nunca termina. Mas com os teus gestos no Mundo haverá mais Paz."

Wednesday, July 07, 2010

A crise financeira e a recessão - XXXIII

Portugal como os restantes países europeus continuam a enfrentar uma crise sem precedentes. Esta situação continuará ainda por mais algum tempo, facto que até os políticos já vão reconhecendo. A situação entre nós, que é aquela que mais nos interessa, é deveras preocupante. A falta de liquidez da banca portuguesa, a incapacidade desta se vir a financiar regularmente no exterior, o ataque que o euro tem vindo a sofrer desde a algum tempo, a exigência da UE para que os seus membros apliquem restrições fortes de molde a controlar o déficit externo, - todas esta razões -, não são de molde a nos deixar tranquilos. O desemprego que não pára de aumentar, o crescimento económico incipiente - divergimos diariamente da UE - não nos pode deixar descansados. Isto é tanto mais preocupante quando parece que estamos a viajar em círculo sem rumo definido. Se a economia não cresce ou cresce pouco - crescimento da ordem dos 0,7% é praticamente a estagnação - não se pode criar emprego. Os empresários ficam receosos e a criação de postos de trabalho são uma miragem. Mesmo que não se criem novos postos de trabalho, não podemos esquecer aqueles que chegam ao mercado de trabalho, nomeadamente jovens, que não vêm futuro nas suas legítimas aspirações, e que vêm engrossar as fileiras dos desempregados. O acesso ao fundo de desemprego é mais limitado porque o Estado começa também a ter falta de recursos, o que conduz ao ciclo de "espiral de pobreza", designação do léxico dos economistas, que encerra uma terrível verdade, dramaticamente testada ao longo dos tempos, o de começarmos a cortar nos gastos que levam a uma queda da aquisição de bens, as empresas não produzem porque não escoam o produto no mercado, logo há excedentes de trabalhadores que são enviados para o desemprego, o que conduz a mais restrições ao consumo. Mas para além disso, a não actividade económica ou uma actividade mais reduzida, conduz inevitavelmente à recessão económica que queríamos cada vez mais longe de nós, e que de novo se começa a perfilar no futuro. Não devemos entrar em pânico mas devemos ter a consciência que os tempos vão difíceis e continuarão assim ainda por mais algum tempo.

Monday, July 05, 2010

Equivocos da democracia portuguesa - 50

Voltamos aos equívocos em que a nossa democracia é fértil. Vem isto a propósito do caso da venda da brasileira Vivo. O Estado andou bem, na nossa opinião, quanto utilizou a "golden share" para travar o negócio, sobretudo, quando não se conhecem negociações que conduzam a um efeito de compensação da saída da PT do Brasil. Contudo, algumas questões se colocam neste processo. Desde logo, as "golden shares". A UE já veio criticar esta utilização, podendo até, impugnar a atitude do governo português. Sócrates disse ontem que a UE está a seguir caminhos ultra-liberais. Todos já o sabíamos e ele também. Basta ver Durão Barroso, que Portugal tudo fez para o manter à frente da UE... Esta atitude de defesa do interesse nacional, que até foi saudada pelo próprio Presidente da República, tem também um senão. Se estamos na UE é para cumprir as normas dela imanadas. Não faz sentido, estarmos na UE e querermos seguir caminhos diferentes quando tal dá jeito. É incongruente. Mas desde logo, o também liberal Passos Coelho, líder do PSD, veio dar uma entrevista no mínimo confusa. Disse Passos Coelho que é contra as "golden shares" do Estado, mas que achou que este fez bem, e se fosse primeiro-ministro teria feito o mesmo!!! Enfim, seria bom que Passos Coelho,- o defensor do mesmo liberalismo que conduziu o Ocidente à balbúrdia que se conhece hoje -, explicasse com umas meras quinhentas acções do Estado travariam o negócio da Vivo, se não fossem "acções douradas"? Por vezes, a tentação de falar é maior do que a de pensar, pensar sobretudo, naquilo que se deve dizer sem cair na irrealidade. Claro que as "golden shares" são algo contra-natura num modelo liberal como aquele que predomina em Bruxelas, e a questão é saber se faz sentido lutar pela sua manutenção ou não. Nós achamos que sim, porque são uma garantia de defender os interesses nacionais, sempre que necessário, como foi o caso. Sobretudo, quando se sobrepõe ao interesse imediatista e sempre abrutico dos accionistas que pensam primeiro no seu dinheiro e só depois no interesse nacional.

Thursday, July 01, 2010

Reflexões em torno de "Os Jardins de Luz" de Amin Maalouf

Todas as revoluções e utopias trazem o projecto de um Homem novo: um homem mais livre, mais justo, mais solidário, a viver responsavelmente em comunidade. Esse homem novo é o fermento dessa humanidade, onde cada um se sentirá e agirá como membro dum só corpo. O homem novo é possível. É um dever. É uma tarefa a realizar. Mas não será o fruto espontâneo de nenhum decreto ou revolução, nem consequência normal de meras transformações económicas e sociais. O seu nascimento exigirá sempre, como condição, a rejeição do homem velho que se aloja no íntimo de cada um de nós: esse homem fechado e egoísta que quer ser acolhido mas não sabe acolher; que quer ser amado mas não sabe amar; que quer ser compreendido mas não sabe compreender; que quer ser ajudado mas não se dispõe a ajudar; que quer ser respeitado mas não respeita; que quer ser desculpado mas não desculpa... Rejeição que não se faz sem sacrifício, sem renúncia, sem cruz... Rejeição que não é obra de um instante mas propósito e esforço de cada dia. Neste início do segundo semestre de 2010, - depois da euforia dos Santos Populares, da participação portuguesa no Mundial, que muito nos alienou dos problemas actuais -, neste início de semestre em que passamos a ganhar menos e a descontar mais para o omnipresente Estado, com as férias aí ao dobrar da esquina, pensemos um pouco em tudo isto. Vêem-me à memória ainda os ecos do livro "Os Jardins de Luz" de Amin Maalouf,quando Mani afirma: "Respeito todas as crenças, e é afinal este o meu crime aos olhos de todos. Os cristãos não escutam o bem que digo do Nazareno, eles censuram-me por não dizer mal dos judeus e de Zoroastro. Os magos não me ouvem quando faço o elogio do seu profeta, só querem ouvir-me amaldiçoar Cristo e Buda. De facto, quando reúnem o rebanho dos fiéis, não é em volta do amor mas do ódio, é apenas em face dos outros que eles se encontram solidários. Apenas se reconhecem como irmãos nos interditos e nos anátemas. E eu, Mani, longe se ser o amigo de todos, em breve passarei a inimigo de todos. O meu crime é o de querer conciliá-los. Pagá-lo-ei, pois eles unir-se-ão para me condenar. No entanto, quando os homens se tiverem farto dos ritos e dos mitos e das maldições, hão-de recordar-se de que um dia, no tempo em que reinava o grande Sapor, um humilde mortal fez ressoar um grito através do mundo". Reflictamos sobre tudo isto, e tentemos buscar a união dentro da nossa diversidade, que será tão necessária para enfrentar as dificuldades que nos assolam neste momento e que, infelizmente, continuarão a apoquentar-nos ainda, durante algum tempo.