Turma Formadores Certform 66

Friday, December 30, 2011

Conversas comigo mesmo - L

Num mundo pejado de incertezas, termina 2011 sem grande saudade e novo ano se inicia. 2012 será para muitos o "anno horribiles", será o ano da crise na sua maior força, será o ano da profecia apocalíptica do fim dos tempos, será o ano de mais desemprego, será o ano de piores condições de vida para todos nós, e não falo só em Portugal, mas nesta malfadada Europa sem rumo e sem destino. Mas também será o ano da esperança. O ano duma esperança sempre renovada de ultrapassar-mos os problemas, de virar-mos mais uma página do calendário e da vida, pensando que daqui para a frente será bem melhor. Não sei se estou certo ou não, se calhar em algumas coisas acertarei, - qual profeta de pacotilha -, mas temos que ter acima de tudo muita fé em nós próprios, acreditarmos nas nossas capacidades, fazermos do destino algo que assumimos com força e determinação. Vêem-me à memória as palavras de Fernando Pessoa: "Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário. Alague o seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas. Se achar que precisa voltar, volte! Se perceber que precisa seguir, siga! Se estiver tudo errado, comece novamente. ... Se estiver tudo certo, continue. Se sentir saudades, mate-a. Se perder um amor, não se perca! Se o achar, segure-o!". Este é o nosso desígnio à muito traçado pela História, o destino do ser humano que habita este pedaço de rocha que vagueia pelo Universo. Com menos guerras, com menos ódios, com menos sofrimento imposto ao nosso semelhante que nem sempre vemos, aos animais que consideramos nossos inferiores, à natureza que consideramos inesgotável. A todos vós, sem excepção desejo um Feliz Ano Novo de 2012! Com horizontes largos de luz, de discernimento, de visão positiva face a tudo que nos rodeia. Que os votos desta quadra não se transformem em coisa habitual, em ritual de calendário. Que sejam mais do que isso. Que encerrem em si tudo o que de mais positivo transportamos dentro de nós. Feliz Ano Novo! Glückliches Neues Jahr! Nytar! Feliz Año Nuevo! Felicigan Novan Jaron!... Heureuse Nouvelle Année! Feliz Aninovo! Shaná Tová! Happy New Year! Felice Nuovo Anno! Akemashite Omedetou Gozaimasu! Não importa o idioma, os desejos são sempre os mesmos! Que 2012 seja um ano de muitas alegrias e realizações para todos nós, que tenhamos paz, sucesso e, principalmente, saúde para conseguir superar os obstáculos que surgirem nos nossos caminhos! Que possamos aprender a amar-nos mais e mais e que nos tornemos pessoas cada vez melhores. Esqueçam as profecias, façamos a nossa parte e, quem sabe, possamos contribuir para transformar o nosso mundo num lugar melhor para viver!

Thursday, December 29, 2011

Conversas comigo mesmo - XLIX

"As crianças são muito justas, minha tia, distinguem perfeitamente quando são repreendidas com razão ou com paixão. Tem de haver perseverança em seguir sempre o mesmo método e não ceder a lágrimas nem a empenhos. É muito mais fácil para uma criança renunciar por uma vez àquilo que deseja de que umas vezes sim, outras não". Carta de Leonor da Câmara escrita para Londres à sua tia a Marquesa de Alorna ou Condessa d'Oeynhausen. Mais uma vez aqui trago a correspondência da Marquesa de Alorna, pela sua actualidade face aos dias que correm. E isto porque depois do Natal encontrei um amigo que já não via à um par de ano que se lamentava de ter gasto algum dinheiro - que até lhe fazia falta! - para dar um determinado presente ao seu filho. Este apesar do pedido feito com muito empenho acabou por não lhe dar valor. A razão era um tanto ou quanto prosaica. O que ele pretendia veio de facto, mas não com a marca da moda, que era cara e o pai não lha podia dar. Todos sabemos que nos tempos que correm a imagem é tudo, ou quase tudo, mas o filho não tinha entendido as dificuldades da sua família para lhe dar aquilo que deu. Talvez não lhe tivessem explicado bem a situação, ou ele não tenha aceite as razões. O que fica é que esta criança - ainda tão jovem - já foi apanhada pela rede do consumismo imediato a que chamamos "moda", e para isso, vale tudo para se atingir tal estado. Limitações duma educação pertensamente moderna, que os pais mais jovens dão aos seus filhos, não percebendo que estão a criar potenciais "monstros" que lhes irão assombrar o resto dos dias. Daí a premência das cartas da Marquesa da Alorna que, embora dos séculos XVII e XVIII, mantêm uma actualidade bem próxima dos nossos dias. Tema de reflexão para os tempos difíceis por que estamos a passar e lição para o futuro sombrio que nos espera nos próximos anos. Criemos jovens com outros valores para além do consumismo desenfreado e efémero que nos conduziu ao estado em que nos encontramos hoje. Um bom tema para reflectir neste final de ano, e que o próximo seja encarado com mais profundidade do que os anteriores. Afinal, é muitas vezes na provação que encontramos as verdadeiras saídas para as nossas vidas, por vezes, sem sentido.

Wednesday, December 28, 2011

Adele - Live at The Royal Albert Hall

Queria aqui fazer referência a um DVD que chegou ao mercado português à algumas semanas, mas só agora o pude visualisar e daí este comentário. O concerto de Adele no The Royal Albert Hall é um acontecimento inesquecível. Queria aqui chamar a atenção aos possíveis interessados para a qualidade do espectáculo em causa. Usando uma linguagem um pouco desbragada, fazendo lembrar uma grande cantora dos anos 60, no diálogo que mantinha com o público, e já à muito desaparecida, Janis Joplin, ou com uma atitude um pouco provocadora ao bom estilo duma outra cantora também já desaparecida embora mais recentemente, Amy Winehouse, Adele consegue provocar na linguagem aquilo que dá com uma excelente "performance" num alinhamento de canções muito bem escolhidas, percorrendo praticamente toda a discografia de Adele. Com um "lay-out" cuidado, Adele converteu o The Royal Albert Hall numa sala sui generis onde os espectadores ostentam, inclusive, copos de cerveja na mão. Algo impensável à algum tempo atrás mas, também aqui, os tempo mudaram e muito. Depois chegou o grande momento "Someone like you" cantado em coro pelo audiência conseguiu comover a cantora que apareceu numa postura despujada, ostentando os pés descalços, quando a interpretou. (Algo que passou despercebido no concerto). Uma canção que lhe trás recordações e sofrimento, isso foi patente, num dos momentos mais altos do espectáculo. Este DVD vem acompanhado por um CD com o registo do mesmo espectáculo. Um momento grande, num registo inesquecível, que merece a melhor atenção de todos nós. A ver e ouvir com adoração, - o termo não é excessivo -, porque vale bem a pena!...

Tuesday, December 27, 2011

Conversas comigo mesmo - XLVIII

Passado o Natal, festa da liturgia cristão, - não a maior -, embora os crentes a tenham tornado na festa principal, é altura para perguntarmos, quem é este menino? A liturgia do Natal, em todos os seus momentos - vigília, meia-noite, aurora e dia - oferece-nos com abundância, palavras e expressões tão ricas de beleza como de doutrina e de mensagem. Elas pintam, de modo admirável, a identidade profunda e a missão d'Aquele cujo nascimento, mais uma vez, celebramos. Ele é o "verbo de Deus", a palavra que tudo cria e renova; palavra que é luz para iluminar todo o homem; palavra que é vida para se comunicar e nos fazer renascer como filhos de Deus. Ele é o "explendor da glória de Deus", a "imagem do Ser divino", o "Filho de Deus, cheio de graça e de verdade". N'Ele se revela e se nos oferece a bondade, a misericórdia e a fidelidade a Deus. Ele é o "Emanuel", o "Deus connosco". N'Ele e por ele, Deus entrou na nossa humanidade, fazendo-se nosso irmão, nosso amigo, nosso companheiro. Ele é o "Salvador do mundo", o "Deus forte, Deus valoroso", "consolador do seu povo", "conselheiro admirável", "príncipe da paz". Celebrar o Natal é contemplar, interiorizar e viver a sua mensagem fundamental: Deus ama-nos e valoriza-nos muito além do que poderíamos sonhar, e convida-nos a uma relação de amizade, de comunhão e de colaboração. Esta é a mensagem dos cristãos no Natal. Um convite sempre à espera de resposta. Que não transformemos esta mensagem num ritual sem sentido, numa mesa farta, nas prendas - por vezes inúteis -, numa festa sem introspecção e/ou meditação. Mas também não a consagremos como um ritual onde tudo é harmonia e amor fraternal, enquanto nos restantes dias do ano, fazemos precisamente o contrário. Afinal, se nos dizemos cristãos, nem precisaríamos deste aviso... E, como diz o poeta, "Natal é quando um homem quiser". Façamos dos nossos dias um Natal renovado, solidário, onde exista espaço para todos, mesmo para aqueles que não prefilham os nossos ideários.

Monday, December 26, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 157

Este Natal foi pródigo em presentes que o governo de Passos Ceolho nos deu. Foram os cortes nos subsídios, o aumento das taxas moderadoras, o aumento da jornada de trabalho sem remuneração, foi o fim dos três dias adicionais de férias para os trabalhadores mais assíduos, foram os cortes no subsídio de desemprego, foram os cortes nas prestações sociais e, depois de tudo isto, e para evitar constestação, eis a grande solução... emigrar. Até há um distinto (!) deputado europeu - Paulo Rangel - que acha que se deve criar uma agência para a emigração, se calhar com ele como presidente!!! E assim vai Portugal a caminho de 2012. O PR que acordou tarde para o verdadeiro problema de Portugal - ou seria má fé relativamente ao governo anterior? - lá vem dizer que é preciso não esticar a corda demasiado e que está preocupado com a coesão social, fruto dum certo desvario internacional. (Vá lá que já evoluiu, num passado recente a culpa era toda do governo de então...) Quem não anda a gostar destas declarações é o PSD, que através dum dos seus vice-presidentes já veio classificar as declarações de Cavaco como inoportunas e excessivas, lamentando-se da falta de solidariedade do PR para com o governo!!! Até parece que não existe!!! Contudo, nos votos de boas festas que o governo apresentou ao PR, este pediu muita energia ao executivo, para ver se sai alguma coisa de interessante que até hoje não vimos. Afinal quem tinha tantas soluções para a crise e logo em poucos dias não apresentou nada, pelo menos que se visse e fosse a favor dos portugueses. A "real" Madeira continua com o despesismo apesar dos alertas, veja-se o que está a acontecer com a importação de fogo-de-artifício para a passagem do ano... É caso para dizer que a bravata continua. Mas por cá as coisas não são melhores. Os Srs. deputados da Nação foram de férias sexta-feira passada e só voltam para o ano!!! Então as pontes não iam ser abolidas!!! Afinal será que já não estamos em crise? Ainda não demos por nada, mas se calhar nós é que não temos latitude intelectual para entender os Srs. deputados da Nação!!!... A EDP entretanto, seguindo o processo de privatização que encetou à vários anos, cedeu uma posição importante aos chineses da Chinese Three Gorges. Pensamos que foi uma medida acertada, pelo que veio a lume, de contrapartidas que os chineses prometem à economia portuguesa e à banca. O Financial Times classificou a operação dizendo que "Portugal foi sortudo" em caixa alta. Com uma Europa sem dinheiro, sem rumo, sem liderança, pensamos que o governo viu bem em negociar com os chineses que ficam agora com 21% da EDP, e buscar financiamento noutras latitudes. E estamos certos que tudo irá correr bem. Os chineses não esquecem, e não vão esquecer quem os ajudou a entrar no mercado europeu e americano, ambição que eles perseguiam desde à muito. Este pequeno país periférico foi a alavanca para isso e, estamos certos, que a China não deixará de apoiar um país que os ajudou nesta sua pretenção. Eles também com este negócio, dão um sinal de apostarem em Portugal, na sua economia e na sua recuperação. Vamos acompanhar o evoluir da situação, mas neste momento, estamos de acordo com a posição do governo português. Porque é necessário buscar outros apoios fora duma UE cada vez mais desagregada, em que o euro está na iminência de se dissolver, em que o eixo franco-alemão não consegue encontrar uma saída para a Europa, estando mais preocupados com os seus países, numa visão paroquial em tudo contrária ao espírito da UE e dos seus fundadores.

Wednesday, December 21, 2011

Conversas comigo mesmo - XLVII

Natal! Eis-nos chegados ao Natal! Mais um que o calendário vai assinalar. Festa da família por excelência. Festa das crianças por tradição. Festa de comunhão familiar para uns, festa de ausentes para outros, para quem a família não passa dum eufemismo. Num mundo em transformação acelerada, num mundo que parece andar, por vezes, às avessas, cumpre-se mais um Natal. Que seja mais do que uma simples efeméride que se celebra anualmente, já carente de sentido. Que seja mais do que luzes que ofuscam a razão, presentes - por vezes inúteis - que iludem a mente, mesa farta que tolhe os sentidos. Que seja mais do que tudo isso... Estou a escrever-vos de alma despojada. A minha alma é simples, transparente e real. É uma alma que se sente sem segredos, sem pontos escuros para ocultar, com muita coisa para contar e com muitos pensamentos para passar para o papel. Este ano cumprem-se onze anos duma véspera de Natal em que estava particularmente feliz, não tinha razões para isso, mas estava feliz. Mas está escrito nas estrelas que a felicidade não é uma benesse para todos. Oito dias depois, - véspera de Ano Novo -, recebi uma notícia que me abalou muito. Tomei consciência duma realidade que não vi até então, - ou não quis ver! -, que acabaria três meses depois com a perda da única pessoa de família que me restava. Mais do que a perda, foram as circunstâncias que a rodearam. Quando uma pessoa é vítima, - para além da doença -, da incompreensão, intolerância, em suma, do mais baixo da condição humana, as coisas doem com mais força. A partir daí deixei de ter Natal. Passou a ser apenas uma data, mais do que a celebração dum nascimento, passou a ser a celebração das memórias, a celebração dos ausentes. (E não se espantem com o que aqui vos digo, por vezes, é necessário renascer, e para isso, temos que morrer, nem que seja para um passado que nos incomoda, embora nem sempre tenhamos força para isso). Este ano não será diferente. O meu coração sangra, os meus sentidos entorpecem. O sentimento de culpa é enorme, - embora não tenha culpa alguma! -, apenas a de estar desatento. Mas nunca mais a alegria passou a ocupar espaço em mim. Quando ao fundo do túnel não vislumbramos a tão almejada luz mas antes mais túnel, não podemos estar felizes. Só não morri porque estava decretado que sofresse mais do que ninguém. Estou condenado a sofrer e a ver sofrer todos os que me são queridos. Estou condenado a sentir-me só, embora rodeado de pessoas, que é a pior das solidões. Estivemos juntos neste lugar em que escrevo, onde ainda estou na minha saudade. E a saudade é um sentimento que quando não cabe no coração, escorre pelos olhos. Contudo, neste Natal tenho um paliativo, algo que me faz sentir melhor. Quis o destino que nesse mais túnel que se me apresenta, aparecesse uma pequenina luz, uma luz que espero se torne mais forte e intensa com o passar do tempo. Mas será uma luz? Que digo eu!!! Não será antes o brilho luminoso duma flor, da mais bela flor do meu jardim de Outono que aparece para amenisar a minha tristeza? Pois é, a Inês do meu contentamento, passará o seu primeiro Natal entre nós. Será uma coisa boa, quando já desesperava para que algo de bom acontecesse. O maior presente que o Pai Natal me trouxe vai para dois meses, numa Natividade antecipada, mas celebrada qual presépio fora de tempo. Espero que esta felicidade que me invade, (e disso, penso estar seguro), não seja tão efémera; esta minha alegria não seja tão fugaz como aquela que tive à onze anos atrás. Será na fragilidade dessa criança que irei buscar a minha força, que irei viver a minha epifania, que irei obter, quiçá, a minha redenção. A Inês do meu contentamento está a fortificar-se, a ter uma percepção do mundo cada vez mais aguçada, a tempo de preencher o meu Natal. Com a sua serenidade e fragilidade de criança, com o seu olhar ainda pouco claro, ainda a descobrir o mundo, ela encerra em si aquilo que é a pureza do Natal. O Natal mais singelo, mais puro, mais contido, enfim, o Natal no seu verdadeiro espírito, na sua verdadeira essência. Foi algo de muito bom que me aconteceu na vida desde à muitos anos. Numa vida que a partir de determinada altura foi abraçada pela tristeza, com um abraço forte, do qual nunca mais me consegui desprender. Dói-me a ausência dos entes queridos. Já não é apenas o espírito e o coração que se sentem desamparados, é o corpo que me dói. O alfabeto tornou-se demasiado pequeno e as letras insuficientes para exprimir o tamanho da minha dor. Neste Natal de sombras, onde as memórias ocupam os maiores lugares à mesa, esta criança aparece com a sua fragilidade, mas também com a sua determinação, a tentar afastar as núvens negras que pairam sobre mim. Inês flor, Inês amor, Inês do meu contentamento, envolta no teu nome de rainha, a ti estou grato pelo muito que me dás sem o saberes, sem nada pedires em troca, o que torna o gesto ainda mais puro e valioso. Espero um dia, se o Inverno da vida ainda mo permitir, agradecer-te por tudo isto que representas para mim, mas também espero que, nessa altura, já com a percepção do mundo real, me ajudes na caminhada final, no escoar dos meus dias na ampulheta do tempo. Enfim, me ajudes a cumprir a minha lenda pessoal. Tu que és para mim o maior presente que recebi, que és a essência duma vida, que és a esperança dum futuro. A ti Inês estou grato por tudo, pela singeleza do gesto, pela delicadeza do olhar, pela alegria do sorriso. A ti Inês, a mais bela flor do meu jardim de Outono, te agradeço. Um dia compreenderás que enquanto houver um nosso semelhante que não tem nada na mesa para comer, enquanto houver um animal acossado, enquanto houver uma natureza vilipendiada, enquanto não percebermos que temos que ser mais solidários com o mundo que nos rodeia, não posso ter Natal, pelo menos, um Natal de paz, - em paz comigo mesmo -, de amor, de fraternidade. Mas vamos tentando que o mundo mude, é essa a expectativa em cada ano que se dobra no calendário, para que o Natal seja possível. Que tu, Inês, sejas luz no meio das trevas, que sejas esse farol que, no meio da noite, espalha luz à sua volta, servindo de referência, de orientação ou de aviso para os navegantes. E que eu seja competente em não a esconder, nem apagá-la, mas, isso sim, em reflecti-la, em espalhá-la através do meu testemunho de vida. Com esta luz que devemos acender dentro de nós, queiramos viver sempre alegres - se disso formos capazes -, não apagando o nosso fogo em ninguém nem despresando os dons dos outros, mas avaliando aquilo que é bom e orientando tudo para o bem comum. Que esta luz nos guie ao Natal, que aprendamos a ser testemunhas da luz e a viver o mandamento novo do amor, como única solução de todas as guerras, de todos os conflitos, de todas as desavenças. E que estas lágrimas que me correm pelo rosto enquanto escrevo representem para ti não as lágrimas da tristeza e do sofrimento que me corrói, mas antes as lágrimas de alegria, de júbilo de tudo o que desejo para ti. Assim, a todos vós que estais em paz e equilíbrio com o cosmos; a todos vós que estais em paz e equilíbrio com o universo; a todos aqueles de quem não gosto tanto; àqueles que não gostam de mim; àqueles que se cruzam comigo no espaço cibernético, mesmo não partilhando dos mesmos ideais; aos meus amigos fiéis e sinceros, companheiros na alegria e na tristeza, símbolos da verdadeira amizade ao longo dos anos; e, sobretudo, a vós que me fazeis sentir como fazendo parte duma família que já não tenho e com isso amenisando a minha solidão; a todos vós companheiros de jornada da vida desejo-vos umas Boas Festas. Vós que com a vossa diversidade coloris o mundo, - o nosso mundo -, fazeis com que a minha vida se preencha, sem olhar a credos, opções políticas, cor de pele, ou seja lá o que for que nos diferencie, a vós todos, sem reservas ou tibiezas, desejo um Feliz Natal!

Tuesday, December 20, 2011

"Marquesa de Alorna" de Maria João Lopo de Carvalho

"Marquesa de Alorna - Do cativeiro de Chelas à corte de Viena" de Maria João Lopo de Carvalho é um excelente livro que relata a vida cheia da marquesa de Alorna figura importante da nossa cultura que fez parte dum grupo literário chamado "os estrangeirados". Leonor, Alcipe, condessa d'Oeynhausen, marquesa de Alorna - nomes de uma mulher única e plural, inconfundível entre as elites europeias. Com a sua personalidade forte e enorme devoção à cultura, desconcertou e deslumbrou o Portugal dos séculos XVIII e XIX, onde ser mãe de oito filhos, católica, poetisa, política, instruída, viajada, inteligente e sedutora era uma absoluta raridade. Viu Lisboa e a infância desmoronarem-se no terramoto de 1755, passou dezoito anos atrás das grades de um convento por ordem do marquês de Pombal e repartiu a vida, a curiosidade e os afectos por Lisboa, Porto, Paris, Viena, Avinhão, Marselha, Madrid e Londres. Viveu uma vida intensa e dramática, sem nunca se deixar vencer. Privou com reis e imperadores, filósofos e poetas, influenciou políticas, conheceu paixões ardentes, experimentou a opulência e a pobreza, a veneração e o exílio. "Marquesa de Alorna" é uma história de amor à Liberdade e de amor a Portugal. A história de uma mulher apaixonada, rebelde, determinada e sonhadora que nunca desisitiu de tentar ganhar asas em céus improváveis, como a estrela que, em pequena, via cruzar a noite. A autora, Maria João Lopo de Carvalho, é licenciada em Letras pela Universidade Nova de Lisboa. Foi professora de português e de inglês em todos os graus de ensino. Passou pelas áreas de educação e cultura na Câmara Municipal de Lisboa e foi copywriter numa agência de publicidade. Começou a publicar na Oficina do Livro em 2000, com Virada do Avesso. Tem quarenta títulos editados, vários bestsellers, entre romances, livros infantis, livros de crónicas e manuais escolares e é também autora do novo método português como língua estrangeira publicado pelo Instituto Camões. Tem tido grande destaque na literatura infanto-juvenil com a colecção 7 Irmãos e é autora recomendada pelo Plano Nacional de Leitura. É cronista regular na imprensa escrita e na televisão. Marquesa de Alorna é o seu primeiro romance histórico. Resta dizer, como atrás já foi indiciado, que a edição é da Oficina do Livro. Nesta altura natalícia onde tentamos encontrar prendas para dar, - aquela prenda especial -, fica aqui a sugestão deste excelente livro duma figura ímpar da nossa cultura. É um livro imperdível.

Monday, December 19, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 156

Nem nesta caminhada para o Natal e para o fim do ano parece que deixamos de ter assunto, e logo, pelas piores razões. Passos Coelho numa entrevista infeliz ao Correio da Manhã de ontem veio indicar o caminho da emigração aos professores sem mais delongas. Aliás, na senda daquilo que já um secretário de Estado deste governo tinha feito, e que os centros de emprego têm vindo a seguir, isto é, a aconselhar aos desempregados a emigrar porque por cá não têm solução. Todos sabemos que à medida que a população envelhece a população escolar vai diminuindo, logo os professores começam a ser excedentários. Mas um PM não pode dizer aquilo que Passos Coelho disse e, sobretudo, da forma como o disse. Porque nestes casos - o dos professores - costumam estar enquadrados num programa bilateral no âmbiro duma relação entre estados que favorecem a ida e a integração. Passos Coelho embora tenha falado no Brasil e em Angola não se conhecem quaisquer acordos com estes países para a ida de professores para lá. Obviamente que os sindicatos aproveitaram para dizer que quem devia emigrar era o PM pelo desgoverno do país. Os mesmos sindicatos que insultaram Sócrates e apoiaram declaradamente o actual PM. É caso para dizer, afinal de que se queixam? Até Marcelo Rebelo de Sousa se insurgiu contra esta afirmação, vindo até a criticar Passos Coelho por vir revelar conversas privadas que teve com o líder da oposição. Coisa que, como diz MRS: "Nunca aconteceu comigo e com António Guterres". Isto só vem provar a falta de seriedade que o PM está a colocar nas suas relações com a oposição e, se calhar, na próxima reunião António José Seguro deveria jogar á defensiva porque está a falar com uma pessoa sem estatuto algum que desvaloriza a cada passo o relacionamento instituicional entre as diversas entidades e ainda correndo o risco de ver a sua conversa devassada na praça pública. Mas isto não nos surpreende, porque deste governo já não esperamos nada. Mas Passos Coelho continua agora dizendo que em 2015 haverá menos impostos. Não temos dúvidas disso. Não porque a situação esteja melhor mas porque é ano eleitoral. O mesmo se irá verificar em 2013, a quando das eleições autárquicas, daí a pressão que está a ser feita sobre todos nós e com mais aquidade em 2012, para aliviar em 2013. É o calendário eleitoral a comandar a estratégia e não o interesse nacional a definir o rumo. Esse pouco importa, agora que chegaram ao pote. Veja-se o que aconteceu com o ministro da segurança social que rapidamente trocou a moto pelo Audi topo de gama. Ou o ministro da defesa que vai de Falcon à Mauritânia (!) enquanto o PM diz que viaja em económica!!! Mas Passos Coelho vai mais longe incentivando os portugueses a poupar, a fazer planos de poupança reforma. É caso para dizer se o PM está a brincar com todos nós, ou simplesmente foi um lapso - mais um! - para depois vir pedir desculpas. Como é possível a um português poupar quando o dinheiro não lhe chega para comer? Além de ridículo acaba por ser insultuoso para todos nós. Cada vez mais se prefigura no horizonte aquilo que vimos dizendo à algum tempo. Esta política está gasta, os partidos actuais já não dão resposta às angústias e anseios das populações e a renovação começa a ser imprescindível. E isso, só será possível com a instauração da 3ª República que aproxime os partidos dos portugueses e da resolução dos problemas de Portugal duma forma mais consistente e articulada porque agora, pelo que estamos a ver, já não são capazes. Para além disso, temos que nos ir preparando para o esfarelar da UE e do euro, política que tem sido seguida duma forma cirúrgica pelo eixo franco-alemão. De reunião histórica em reunião histórica nada se decide, tudo se adia e os problemas avolumam-se. Se isso vier a acontecer, como pensamos que será o caso mais cedo ou mais tarde, a Europa mergulhará num conturbado ciclo político donde não é de excluir uma nova guerra que acabará com o pouco que restar. E Portugal terá que estar preparado para isso, porque as núvens que se adensam no horizonte são cada vez mais indiciadoras dessa situação. Neste final de 2011 e início de 2012, não temos razões para estar satisfeitos, nem despreocupados. A curto prazo as coisas podem vir a descambar em algo de proporções apocalípticas e os pequenos estados como Portugal devem, desde já, irem-se preparando para que não o façam demasiado tarde.

Sunday, December 18, 2011

Conversas comigo mesmo - XLVI

E a caminhada está quase terminada. "Lighthouse": casa da luz, assim se diz farol em inglês. Na verdade, o farol é uma casa ou torre que, no meio da noite, espalha luz à sua volta, servindo de referência, de orientação ou de aviso para os navegantes. É uma bela imagem da missão de Jesus. Neste quarto e último domingo do Advento, a nossa preparação está quase a terminar para O recebermos. Que este período seja um tempo de reflexão, de entrega, de partilha, de solidariedade. Era bom que o fosse todo o ano, mas já que não é assim, que o seja pelo menos nesta época. A nossa caminhada em direcção ao Natal está quase concluída. Ele vai chegar a todo o momento. Aí está o Natal, mais uma vez, a colocar-nos diante deste mistério e desta verdade essencial da nossa fé. Deus valoriza o homem muito além do que poderíamos sonhar e convida-nos a uma relação de amizade, de comunhão e de colaboração. Maria disse sim. E através da sua humilde mas generosa disponibilidade, Deus tornou-se "Deus connosco", nosso próximo e companheiro, nosso Salvador para sempre. Hoje, a sua encarnação, a sua presença e acção no meio de nós, precisam do nosso sim, um sim consciente e generoso como o de Maria. Saibamos dá-lo para que o Natal continue a ter sentido. Que a coroa de Natal encerre no seu círculo o princípio e o fim, sempre renovado num novo princípio, mais fraterno e amigo, mais consciente e positivo, mas próximo e solidário.

Cesária Évora - A morte ao 70 anos

Hoje morreu Cesária Évora em Cabo Verde! Desde muito cedo se interessou pela música, - ela nasceu numa família de músicos -, e rapidamente começou a cantar e a encantar nos bares e hotéis do Mindelo, sua terra natal. Daí ao sucesso foi um pulo. Depois de ter ultrapassado uma crise de alcoolismo, Cesária Évora, já na casa dos 40, começou a fazer-se notar, sobretudo, a nível internacional. Foi em França que o seu sucesso passou para um patamar mundial e o tema "Sôdade" viria a eternizá-la, tema que a ela ficou e continuará a ficar colado. Desde muito cedo que ouço Cesária Évora, a voz que deu dimensão a Cabo Verde, que o cantou e eternizou. A diva dos pés descalços tornou-se na rainha da morna, género que também interpretava, com o sentimento crioulo que só a mestiçagem permite. Cesária Évora está para a morna, como Amália para o fado. Foram duas divas no seu tempo, e continuarão a sê-lo. Para além do lado físico ficará a memória. Cesária Évora transportou muitos de nós às terras áridas de Cabo Verde, às águas azuis e límpidas das suas praias, à amabilidade das suas gentes. Cesária Évora já é uma lenda. Já entrou na galeria dos imortáis. Foi o exemplo de alguém que, oriunda de uma família modesta, consegue triunfar e subir ao mais alto patamar da fama, elegendo-se como um símbolo do seu povo e do seu país. Aqui lhe presto homenagem, singela mas sentida. Cesária Évora, que aqueceu os corações de muitos de nós, partiu! R.I.P.

Friday, December 16, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 155

Se a semana passada foi fértil em acontecimentos - embora pelas piores razões - esta parece que não lhe quer ficar atrás. Continuam ainda os ecos da Cimeira da UE efectuada à quinze dias, e com efeito, (porventura preverso), da auto-exclusão do Reino Unido. A atitude deste país está a por em causa a imagem de união na Europa. Claro que a economia britânica pode, com o peso quem tem, impôr algum desconforto à UE, como tecnicamente se diz tem capacidade de "opting out", coisa que as economias mais pequenas, (as periféricas como a nossa), nunca conseguiriam. Mas se as coisas já não estavam bem, ficaram piores depois da atitude inconformista do Reino Unido, embora o seu governo tenha sofrido fortes críticas internas, porque esta atitude é uma arma de dois gumes, tanto pode excluir o Reino Unido das grandes decisões internacionais, como o pode colocar à margem da própria UE, situação que os eurocépticos já estão a aproveitar. Mas entre nós, tal como na Europa, as coisas não andam melhor. Desde o vice-presidente do PS que afirma que se está a "marimbar" para os credores até ao presidente do Bundensbank que compara os países dependentes aos alcoólicos, há de tudo um pouco, a mostrar que o desnorte campeia um pouco por todo o lado. (Contudo, é curioso como se tentam obter dividendos políticos do que se disse por cá, e ninguém fala sobre o que disse o presidente do Bundesbank, que nos humilha fortemente, além do forte impacto internacional que têm tais afirmações!) Apesar do alinhamento constante de Passos Coelho com Angela Merkel, tal não parece estar a beneficiar a posição do governo português. Enredado nas teias que ele próprio vai criando, vai ziguezagueando conforme a força dos "lobbies" que vai atingindo, tendo inclusivé, visto uma reprimenda - ou seria um apoio explícito - de Durão Barroso para os afrontar rapidamente e duma forma definitiva conforme o memorando da "troika" preconiza. Mas tal não parece ser tarefa fácil. Vítor Gaspar já veio dizer na AR que vai alargar o prazo para que os bancos não sintam a interferência do Estado passando este de três para cinco anos, de acordo com as pretensões dos banqueiros. Viram-se os aumentos brutais das taxas mediadoras na saúde - com a ameaça de novos aumentos - que vêm destruindo o SNS e criando condições para que os mais desfavorecidos não tenham capacidade económica para se tratarem. Como dizia o deputado João Semedo: "À que acrescentar mais um euros aos exames e às consultas da especialidade". E acrescentou: "O ministro pode ser bom a fazer contas, mas é insensível ao social". Depois foi a embrulhada da fábrica de baterias da Nissan em Cacia que já não avança, porque a mobilidade eléctrica deixou de ser opção do governo, embora este apareça com outra justificação como seria normal. O ministério da economia - do tal ministro de quem nunca nos lembramos do nome - é cauteloso e não grava declarações públicas para as televisões. Afinal o esforço do anterior governo foi em vão quando tentou criar um "cluster" da mobilidade eléctrica em Portugal. Isto significa postos de trabalho que se perdem e com o perigo de contágio às outras indústrias a montante. Como se isto não bastasse, veio a OCDE afirmar que o nosso poder económico está atrás do... grego!!! E entretanto, o governo anuncia com pompa e circunstância que o déficit fica abaixo dos 4,5%, mas não pensem que é fruto duma boa gestão, bem pelo contrário, é fruto sim de receitas extraordinárias - como foi o caso da transferência dos fundos da banca - para que tal se consegui-se, caso contrário ficaria nos 8,9%!!! O desemprego continua a subir já vai nos 12,9% e não vai ficar por aqui, infelizmente. E agora ficamos a saber que o desemprego ficará acima dos 10% até 2025(!), segundo se lê no relatória do OE para 2012. E continuará a agravar-se enquanto não for definida uma estratégia de crescimento para a economia. (Se não fosse tão trágico até dava vontade de rir! Então estes senhores que tinham medidas para resolver a crise em 30 dias não conseguem fazer melhor? Os mesmos que tinham um plano imediato para cortar nas gorduras do Estado num mês, afinal ainda não foram capazes de cortar nem um bocadinho? Chega de tanta mentira, porque já se começa a estar farto disto). E como se isto tudo não bastasse, vem o "The Economist" dizer que "novas medidas têm que ser tomadas, e novo aumento de impostos será inevitável, e que em 2016 o país não terá condições de se financiar nos mercados estrangeiros", contrariando aquilo que o governo vem dizendo, como foi o caso do ministro da economia - o tal de quem nunca nos lembramos do nome - que decretou que em 2013 Portugal já teria ultrapassado a crise. Nesta senda de ilusões, até o PM veio afirmar algo parecido, talvez porque pense - e talvez bem - que ao seu ministro da economia já ninguém o leva a sério. E se dúvidas houvesse, é agora a toda poderosa Merkel que vem dizer, que "a crise vai levar tempo a passar". Afinal, é caso para perguntar, para quê todos estes sacrifícios? Passos Coelho afirmou várias vezes que estava a ir para além do memorando da "troika" porque queria que Portugal regressasse aos mercados já em 2013!!! Pura ilusão. Como já aqui o vimos afirmando à muito tempo, o fim desta crise ainda vem longe, e os sacrifícios impostos aos portugueses vão servir de pouco. E se não acreditam, esperem pelo final do ano que vem, 2012, e verão se temos ou não razão. Os portugueses é que começam a ficar fartos de tanto sacrifício inconsequente, depois de tantas promessas, basta ver o que aconteceu à dias em Matosinhos, com a vaia ao PM. As pessoas começam a chegar ao limite da sua capacidade e começam a perceber no logro em que caíram. E ainda passaram pouco mais de seis meses... Portugal hoje é o terceiro país mais pobre da UE onde o PIB per capita em 2009 e 2010 correspondia a 80,1% da média europeia e arrisca-se a que, quando sair da crise estar ao nível da... Albânia! Isto, se tivermos sorte...

Wednesday, December 14, 2011

Conversas comigo mesmo - XLV

Nestes tempos difíceis porque passamos dou comigo a pensar que sem sonhos, a vida não tem brilho, sem metas, os sonhos não têm alicerces, sem prioridades, os sonhos não se tornam reais. Sonhem, tracem metas, estabeleçam prioridades e corram riscos para executarem os vossos sonhos. Melhor é errar por tentar do que errar por omitir! "Quando o mundo cai ao meu redor e as forças se vão, encontro abrigo em Ti, segura-me, segura as minhas mãos..." Assim vos digo, meus amigos, eu sei que dá vontade de guardar tudo numa mala e atirar ao mar para nunca mais a encontrar. Eu sei. Mas toda a gente sofre. Não tentem fugir disso, ou acabarem com isso. Acontece com toda a gente. E passa. E quando passa, vocês ficam mais fortes. A vossa dor não é diferente das outras, nem especial… Não tentem fugir disso não, a dor sempre vos acha. E quanto mais fugir, mais ela aumenta e vos persegue. Não vale a pena. Vai e luta. O tempo leva tudo, vocês superam. Eu sei que sim. Vocês vão sorrir de novo, podem apostar. E sorrir forte, de verdade, com aquele tom de “foi díficil mas eu estou aqui”. Isto também é algo que se aprende em casa, - há coisas que a escola não ensina -, e quando falo sobre isto, vêm-me à memória os métodos educacionais que fizeram escola num passado não muito distante, que têm a ver com o pensamento de dois grandes filósofos, Locke e Rousseau. Numa altura em que se satisfazem todos os caprichos, todos os anseios, das crianças e dos jovens, que muito os limitarão no futuro, sobretudo, num futuro que se perfila no horizonte com elevado grau de incerteza, exigência e competitividade, esses jovens ficarão sempre limitados para o enfrentar. Na ânsia de terem tudo, rapidamente e sem esforço, vão castrando a capacidade de enfrentar a dura realidade. Aqui o papel dos pais é fundamentel, porque é deles que parte, na maioria dos casos, essa atitude. Sempre que falo disto, lembro-me das palavras duma mulher extraordinária, grande intelectual do seu tempo, a Condessa d'Oeynhausen, que entre nós é mais conhecida por Marquesa de Alorna. Numa das suas cartas à sua irmã Maria, ela escrevia: "... Sabe mana, não cedo aos caprichos de meus filhos, não choram nem gritam nunca. Creio que não há neste mundo crianças menos incómodas que as minhas, nem mais alegres, porque, desde que nasceram, nunca fiz nenhum caso das lágrimas e conhecem a inutilidade desse meio. O despotismo, nesta idade, é a origem de muitos desgostos futuros. Ceder é fraqueza. Qualquer coisa as distraie as diverte... ". Poderá parecer cruel, mas mais tarde os mais jovens reconhecerão que essa atitude - incompreensível para eles na altura que foi tomada - os ajudou a singrar no futuro. Num contexto como aquele que se aproxima, - refiro-me à época natalícia -, onde as crianças querem satisfazer os seus anseios duma forma desmedida, é bom lembrar estas palavras, porque se este ano, as limitações orçamentais poderão criar alguns impedimentos, é importante que as crianças vejam isso como um método e não como uma debilidade dos seus progenitores. Por vezes, pensamos que as crianças subestimam certas coisas, mas não é assim, elas têm os sentidos muito apurados, apenas não sendo capazes de os exprimir, ou por incapacidade - sobretudo nos mais novos -, ou por estratégia - quando falamos dos mais crescidos -, mas todos têm a percepção da maneira como podem controlar os seus pais. Isto vem a propósito dum desabafo dum pai que à dias me falava da incapacidade de satisfazer os anseios do filho quanto a prendas neste Natal dadas as dificuldades porque está a passar, ele que sempre comprou o carinho, amor, quiçá, até alguma paz com as prendas caras que dava ao filho. Esta pessoa achou que o mais importante era que o filho se sentisse superior face aos seus amigos, porque tinha mais brinquedos, mais caros, mais exóticos. Contudo, e como lhe disse na altura, não o soube preparar para o futuro. A sua própria reacção é disso exemplo, e espero que daqui a alguns anos o seu filho não se sinta atado por limitações as mais variadas face às agruras da vida porque não o prepararam para tal. E talvez nessa altura culpe os seus progenitores. Vem-me à memória as palavras do Dalai Lama: "Quando surge um problema, você tem duas alternativas: ou fica se lamentando, ou procura uma solução. Nunca devemos esmorecer diante das dificuldades. Os fracos se intimidam. Os fortes abrem as portas e acendem as luzes". Quantos dos nossos jovens estão preparados para o futuro? Quantos terão a capacidade de lutar? Quantos não se sentirão esmagados pelo destino? Estas são reflexões que deixo nesta época natalícia, onde o consumismo é mais exacerbado - mesmo em tempos de crise - onde o Natal se resume aos presentes, onde o simbolismo que encerra não é lembrado, onde o ofuscar das luzes - este ano menos do que o habitual - e o brilho das montras fazem esquecer algo muito mais importante, a solidariedade que deveria existir entre todos, sobretudo, nestes momentos difíceis, onde o essencial do espírito natalício fosse mais importante do que a prenda efémera que logo se põe de lado na expectativa duma outra que há-de vir rapidamente mais cara e extravagante.

Monday, December 12, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 154

Ainda andam no ar os estilhaços da última cimeira da UE. Não somos dos que alinham pela perda de soberania ou pela menor democracia. Afinal somos federalistas e como tal a centralização no seio da UE do controle das contas e dos orçamentos dos países não é algo que nos repugne. Temos, isso sim, algumas dificuldades em aceitar tal atitude vindo do eixo franco-alemão, na sua senda ultraliberal que tanto tem ajudado a destruir e a desintegrar a Europa. Não é uma decisão dos Estados-membros, mas uma imposição alemã, e isso é que é grave. A não aceitação por parte da Grã-Bretanha - sempre com o seu isolamento e exclusivismo que os britânicos tanto gostam de ostentar - enfraqueceu a posição europeia porque a economia britânica não é uma economia qualquer. Mas, mesmo para o Reino Unido, as coisas não parecem que tenham ficado bem - as divisões na coligação são assumidas publicamente - porque leva a que o país possa vir a ser marginalizado, perdendo assim, uma voz activa que é importante nestes espaços, e mesmo, a nível mundial. Apesar de tudo, as medidas aparecem tardiamente e duma forma pouco consistente, que parece que vêem criar mais fracturas do que agregar os Estados. Uma coisa é certa, - e essa sim negativa -, é que a UE se vai descaracterizando cada vez mais, assumindo-se a Alemanha como o motor da UE, que com todas as exigências que está a fazer não sabemos para onde irá conduzir o projecto europeu. A Alemanha já levou, por duas vezes, a Europa, para a guerra e não sabemos o que irá acontecer no futuro próximo se a pressão alemã levar a uma ruptura no seio da UE. É que as exigências feitas aos Estados-membros, nem sempre são cumpridas pela própria Alemanha, que já as violou por dezasseis vezes!!! (Referi-mo-nos ao limite de 5% que querem ver inscritos na Constituição). E isto leva a uma outra questão: Se se inscrever o limite ao endividamento na Constituição, como querem Sarkozy e Merkel, e já agora, - o seu secretário em Portugal, Passos Coelho - o que acontecerá se este não for cumprido? O Tribunal Constitucional vai vetar o OE? Todos sabemos do atraso da aprovação das contas entre nós, se tal se vier a verificar que espaço de manobra terá o Tribunal Constitucional? Estas são questões importantes que nos devem pôr a pensar, como ontem Marcelo Rebelo de Sousa dizia, ele que também tem sérias dúvidas sobre o evoluir de tudo isto. Daí o ser-mos contra a inscrição de tal limitação no âmbito da Constituição, podendo ficar em lei do orçamento - como sugeriu o Prof. Jorge Miranda - ou noutra lei qualquer, por exemplo uma lei forçada, mas nunca na lei fundamental do país. Claro que, Passos Coelho, iria alinhar pelo diapasão de Merkel, assumindo-se, cada vez mais, como uma espécie de secretário de Merkel para Portugal e não como o PM eleito do nosso país. Já o sabíamos de à muito e tal não constituiu surpresa para nós, mas mesmo assim, não deixa de ser chocante. De tudo isto, o euro sai cada vez mais enfraquecido - daí muitos Estados e empresas estarem a pensar, e a estudar os impactos, do regresso à anterior moeda -, e os mercados continuam desconfiados. Por cá, e da espuma dos dias, ficaram as afirmações de José Sócrates em França. E aqui cumpre dizer o seguinte: Não sabemos se Sócrates se referia ao pagamento integral da dívida ou não, mas se se estava a referir ao pagamento total, ele estava correcto quando diz que a dívida dos Estados não é para ser paga mas sim gerida. Todos os economistas o sabem, e esta política chega a ser corrente nas empresas, e quanto maiores elas forem mais tal se verifica. No caso português, até não deixa de ser curiosa a ofensa sentida por alguns políticos caseiros. Todos sabem - e eles também - que Portugal não tem capacidade para pagar os juros da dívida quanto mais a dívida. Aqui sim, é caso para dizer que se trata duma criancice. O que não deixa de ser surpreendente é que, Sócrates, tão mal querido entre muitos, ainda consiga fazer mexer as coisas. Parece que só os grandes políticos o conseguem, por isso, aqui fica o aviso: Senhores políticos não se ofendam tanto, não dêem demasiada importância às palavras do anterior PM, porque à força de o constestarem acabam por lhe dar razão. E para ele ter razão apenas será preciso esperar um pouco mais...

Friday, December 09, 2011

Coliseu - Pedro Abrunhosa & Comité Caviar

Nesta altura natalícia em que se buscam ideias para prendas de Natal, trago-vos uma ideia que não sendo cara é de altíssima qualidade. Refiro-me ao CD e/ou DVD de Pedro Abrunhosa gravado no Coliseu do Porto em Novembro do ano passado e agora editado. Aqui acompanhado pelos Comité Caviar, Pedro Abrunhosa aparece com uma voz poderosa - como sempre - chamando o público a participar no espectáculo - espectáculo que muitas vezes se passa fora do palco como o próprio Pedro Abrunhosa faz questão de dizer - num registo de alta qualidade dum dos músicos de excelência da música portuguesa. As canções percorrem toda a obra do cantor, por vezes, com roupagens novas, mas nunca perdendo a qualidade que as tornaram célebres. Com letras da sua autoria que são autênticas preciosidades, que aqui me atrevo a chamar de poemas, porque alguns deles são isso mesmo, poemas e de grande beleza. Esta edição é feita em dois formatos: em CD e em DVD. Curiosamente, os dois registos, em termos de áudio, são exactamente iguais, coisa que não é comum no meio discográfico, onde o alinhamento do CD é normalmente amputado do registo do DVD, quer por questões de espaço, quer para criar a necessidade de adquirir os dois registos, nomeadamente, para os coleccionadores. Aqui tal não acontece, com os dois registos exactamente iguais. Deixo a sugestão, quer como apreciador de Pedro Abrunhosa, quer como apreciador de música com qualidade, porque este registo encerra em si excelência como Pedro Abrunhosa nos habituou desde o início da sua carreira. A ideia aqui fica para os interessados.

Wednesday, December 07, 2011

Conversas comigo mesmo - XLIV

Faz frio lá fora. O Inverno vai-se fazendo anunciar. Dezembro vai continuando o seu percurso. O Natal está a dias. Contudo, costumo ficar muito eufórico com os preparativos de Natal, embora quando este chega entre em mim uma tristeza imensa. Porque as ausências doem, porque elas vão preenchendo os lugares à mesa, numa mesa que já teve muita gente à volta. Este ano, não sei porquê parece estar a verificar-se o contrário. Os preparativos de Natal já começaram e eu sinto-me triste, alheado de tudo, com a ânsia de que a data passe depressa, que a festa termine. Não sei como estarei a sentir-me no dia de Natal, mas até agora, parece que tudo se inverteu. A tristeza que por vezes transportamos dentro de nós, nem sempre é perceptível, embora a ausência daqueles que mais amamos - e duma forma irreversível - se faça sentir com força. Mas é também a tristeza do sofrimento que me rodeia que me trás nesta angústia. Tristeza pelo meu semelhante que passa dificuldades, que terá a sua mesa de Natal quase vazia - ou mesmo vazia! - que a voragem da crise assim determinou. É a solidão dos velhos - e porque não dos novos muitas vezes perdidos em ilusões fáceis - que se sentem excluídos, ou pelo peso dos anos, ou pela ausência de família, ou simplesmente porque estão à margem do mundo que lá fora continua a girar. Tristeza pelos animais que sofrem. Tenho tido muitos pedidos de ajuda para este pobres infelizes que, tal como nós, sofrem com o frio, com a intempérie e, sobretudo, com a incompreensão - para não dizer outra coisa - do ser humano. Os animais nossos amigos e companheiros de jornada, aqueles que nos apoiam incondicionalmente nos momentos difíceis - e sei bem do que falo -, animais que nunca nos viram as costas, não nos abandonam, sofrem connosco, nunca dizem mal de nós, e que nós - alguns de nós, felizmente - praticam o seu contrário contra eles. A bestialidade de algumas situações é de tal maneira profunda que nem tenho coragem de falar sobre elas, e que me leva a descrer - mais uma vez - na capacidade de redenção do ser humano. Ser humano que se acha superior aos animais e que, com o seu comportamento, desce ao nível da desqualificação. O ser humano que se julga o centro do Universo - a Igreja também tem ajudado a isso nunca pregando o equilíbrio que o ser humano devia ter com os animais e a natureza - e que no fundo é mais selvagem do que muitos animais, mesmo os mais ferozes, que nunca são capazes de se exterminar como acontece com os humanos, que caçam apenas para se alimentar, bem longe do "desporto" que muitos humanos praticam, que são solidários, coisa cada vez mais rara entre nós os humanos que nos achamos no centro do mundo. Como Galileu demonstrou que a Terra não era o centro do Universo, outro Galileu há-de aparecer para mostrar à evidência que o Homem não é o centro do Mundo e da Vida. Não é senhor da vida e da morte, qual deus desqualificado, menor em audácia, cobarde por natureza. Por tudo isto, o meu Natal é triste. Mas também pela natureza que diariamente subjugamos, destruímos, alterando o equilíbrio deste eco-sistema de vida que nos mantém a todos - natureza, animais, humanos - a caminhar sobre este planeta azul. Por mais que se alertem das terríveis consequências que daí advirão, parece que o ser humano se alheia disso tudo, porque se julga omnipotente, qual deus - ou concorrente com Ele -, determinando assim, o seu próprio futuro como espécie, e não pensando no mundo que vão delegar - se houver mundo para delegar! - às gerações vindouras. O ser humano em cuja redenção acredito cada vez menos, vai esmagando, vai trucidando, tudo aquilo que milhões de anos foram forjando para que hoje tivessemos um planeta como este, onde a vida é possível. Por tudo isto o meu Natal é triste. Porque tenho dificuldade em me sentar à mesa, com a parca família que me resta, e fazer de conta - mesmo que seja por uma noite - que tudo está bem, que o equilíbrio das esferas é uma realidade, que o mundo será melhor logo na manhã seguinte. Só que a manhã vem e tudo continua igual, senão pior, e constato que caí de novo na ilusão, no logro, na perfídia do mundo que habito. Com o avançar da idade vamos percebendo que as ilusões não passam disso mesmo, já sem a expectativa de que vamos mudar o mundo para melhor como o sentimos enquanto jovens, mas vamos percebendo que nesta batalha que travamos ao longo da vida, somos sempre os vencidos, os perdedores, mesmo que digamos o contrário. Por tudo isto o meu Natal é triste. Porque gostaria de fazer do mundo uma epifania e não o vale de lágrimas que é, perdido, sem rumo, afundado em crises, sejam elas económicas, financeiras, de valores, de esperança. Num mundo sem retorno, sem amanhã, que o passar dos dias, não passam disso mesmo, dum passar inexorável do tempo até que o nosso tempo se esgote. Por tudo isto, o meu Natal é triste, porque um Natal sem esperança, sem redenção. Entretanto lá fora, a madrugada continua fria, prenunciando o Inverno que se aproxima e o Natal está aí a chegar...

Monday, December 05, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 153

A contestação começa a aumentar de tom à medida que o agravar da situação se começa a fazer sentir. No fim-de-semana passado, Miguel Relvas foi alvo disso mesmo, no congresso das autarquias, mas o mais relevante disso tudo, como frisou ontem Marcelo Rebelo de Sousa, foi que a maioria dos autarcas são PSD, logo Miguel Relvas foi contestado pelos seus próprios correligionários. E isso, ainda segundo Marcelo, tem a ver com a falta de comunicação que o governo tem tido com o resto do país para explicar e incentivar as medidas que estão a vir por aí. Aliás, Rebelo de Sousa foi mais longe quando afirmou: "O governo a comunicar é um desastre!" É caso para perguntar que, se os seus próprios correligionários não entendem as medidas, como vai o comum dos cidadãos as entender? Mas agora que o fim do ano se aproxima, o governo recorreu a medidas extraordinárias para controlar o déficit que, segundo o PM, vai ficar bastante abaixo dos 5,9% previstos. Mas desenganem-se todos, isto foi uma mera operação contabilística para corrigir o déficit, desta feita, recorrendo aos fundos de pensões da banca, que não será possível utilizar no próximo ano. Mas com esta operação de coméstica, o Estado ficou com um encargo de cerca de 500 milhões de euros para pagar anualmente aos pensionistas que passam a estar agregados à Segurança Social, que o mesmo é dizer, que cada um de nós ficou com um encargo brutal apenas e só por uma operação de cosmética. É caso para perguntar para quê tudo isso? Afinal a "troika" não gostou da ideia, os mercados sabem que o déficit atingido é artificial, então qual o interesse em construir esta situação, criando um encargo adicional para o Estado, isto é, para todos nós, de assegurar as pensões dos reformados da banca. Ninguém percebe esta política nem a estratégia que lhe está subjacente, apenas nos deixamos levar pelas circunstâncias, falta saber até quando. Na Europa as coisas não andam melhor. Depois das hesitações da UE em fazer face à crise no seu seio, levou a uma forte crítica de Delors, quando este começa a perceber que o euro pode estar em causa. A renegociação dos tratados são disso o exemplo. Quando Merkel e Sarkozy querem fazer uma Europa à sua medida e à medida dos seus interesses, talvez não estejam a pensar nas consequências que daí advirão. Muitos governos estão a estudar a situação após a saída do euro - o português também, numa afirmação do PM que nunca deveria ter feito em público - mas é bom lembrar que a queda do euro pode ser fatal não só para a Europa como até para os EUA. Mas o rumo das coisas está a mudar. Agora a própria Alemanha começa a sentir no seu seio os problemas da hesitação que tivera em acudir às economias periféricas. O Comerzbank, o segundo maior banco alemão, poderá vir a ser nacionalizado a curto prazo. O governo alemão detém já 25% do seu capital, mas parece que mesmo assim, não é o suficiente. É caso para dizer que Merkel está a provar do seu próprio veneno. A crise veio para ficar, todos já vimos isso, e daí os sacrifícios impostos vão durante bem para além de 2013, contrariando alguns dos nossos governantes que teimam em criar essa ilusão. O capitalismo como o conhecemos parece que morreu, aparecerá duma outra forma, mas nunca da forma com que actuou nos últimos anos, tornando as economias dos países autênticos casinos, e criando a ilusão nas populações de que tudo estava ao alcance da mão. Afinal agora, e duma maneira bem cruel, constatamos o contrário.

Sunday, December 04, 2011

Conversas comigo mesmo - XLIII

Iniciou-se o advento à duas semanas. Hoje é o segundo domingo dos quatro que nos conduzem ao Natal. O advento que agora principia é o tempo da esperança, fundada na certeza da fidelidade de Deus para connosco. Uma esperança activa que nos chama à vigilância e ao trabalho. Vigilância que é exercício de atenção e reflexão para não adormecermos nem nos afastarmos do rumo e do alvo que Deus quer ser para nós. Trabalho que é o agir de acordo com o que vamos descobrindo ser a vontade de Deus, pois, como nos diz o Evangelho, Ele não dispensa a nossa colaboração na construção e na vinda do seu reino cada um de nós tem a sua tarefa. Advento tempo para reconhecer e assumir... Mais uma vez recorro à Bíblia e ao profeta Isaías: "Vou enviar à tua frente o meu mensageiro, que preparará o teu caminho". E no Novo Testamento, ouvimos uma voz que clama no deserto: "Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas". Mais uma vez, Isaías e João Baptista, duas figuras luminosas do advento, proclamam o anúncio fundamental: O Senhor vem para nós! Vem como pastor, grita Isaías, pastor com uma só preocupação, a de dar vida às suas ovelhas, congregá-las e conduzi-las para a paz e o descanso do seu reino. Vem como espírito que nos quer habitar por dentro, anuncia João Baptista aos que o procuram no deserto. Espírito que nos faz dizer "meu Pai" diante de Deus e "meu irmão" diante de todo e qualquer ser humano. Mas ambos nos dizem também - e S. Paulo sintoniza com eles - que não se pode esperar o Senhor de braços cruzados ou adormecidos. É necessário preparar o caminho que nos proporciona o encontro com Ele. Mas para isso, não basta só olhar para o nosso semelhante - o nosso irmão -, mas também para a natureza que nos cerca e que é a manifestação d'Ele, dos animais que nos rodeiam que estão cá para mostrar aos seres humanos o que é a fidelidade, enfim, no planeta nossa casa comum que tão maltratamos diariamente. Alguns dirão que isto não passa duma certa ilusão. "A religião é o ópio do povo" proclamava Marx. Mas, para todos aqueles que tanto o têm criticado ao longo dos tempos, será pertinente perguntar: "E eu o que fiz para ser diferente?" Mas não pensem que só Marx questionou a religião. E Hegel que achava que tudo isto não passava duma ilusão para amenizar os sofrimento dos povos mais oprimidos, e o seu contemporâneo Schopenhauer, que alinhava pelo mesmo diapasão, onde a religião era apenas para distrair as pessoas de outras coisas mais essenciais, onde o Deus que criou o catolicismo foi um Deus vingativo semelhante ao que os judeus criaram, um Deus egocêntrico que impõe leis cruéis e fidelidades totais, onde o seu desvio leva a condenações eternas, e Nietzche que achava que Deus estava morto, que tinha sido assassinado "por ti e por mim"? E tantos outros, alguns nossos contemporâneos. Mas seja ou não uma ilusão, pois deixem que ela passe por nós. Com a proximidade do Natal parece que as pessoas se sentem melhores, mais solidárias, mais próximas, só por isso, a ser uma ilusão, ela só por si já seria benéfica. Afinal, estamos a lidar em terrenos da Fé, onde a crença de cada um é primordial. Onde a metafísica entra facilmente verificamos que esta não pode ser testada, é o determinismo daquilo em que acreditamos - e que muitas vezes nos foi inculcado na infância - determinará o nosso comportamento futuro. Nada tenho contra isso, desde que isso sirva para o ser humano ser melhor, ser mais solidário com o próximo, seu semelhante, ser mais amigo e tolerante com os animais, ser mais próximo da natureza, enfim, preserve a riqueza e a diversidade do mundo em que vivemos. Enquanto reflectimos sobre tudo isto, o mundo vai girando, o calendário vai fazendo passar os dias, o advento aproxima-se e o Natal aí está. Mas que seja um Natal solidário, não o Natal afogado nos exageros da mesa, nas prendas caras, nas futilidades que o mundo nos apresenta, mas sim, um Natal onde haja um pensamento - melhor é que houvesse uma acção - para aqueles que não o têm, os nossos semelhantes que passam por dificuldades, os animais que sofem, a natureza vilipendiada, o planeta maltratado. Se tivermos um pensamento, uma reflexão que seja - se tivermos uma acção será bem melhor - já poderemos dizer com propriedade que passamos um Natal diferente, um Natal mais próximo da condição humilde que a nossa crença judaico-cristã nos legou, em vez, daquela que o consumismo nos transmite diariamente, bem diferente, não solidário, mais egoísta. Onde a Fé não existe, é meramente decorativa, porque o deus-consumo é que reina e aquele que a Natividade anuncia perde-se na bruma dos tempos, nos mais de dois mil anos que leva de história. Esse não é o espírito do Natal, será duma outra coisa qualquer, mas nunca do Natal, daquele Natal que anualmente celebramos a 25 de Dezembro. Daquele Natal que se pretende simples, contido, onde reine o amor fraternal e não o egocentrismo de outras coisas que o dinheiro proporciona.

Friday, December 02, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 152

Esta série chama-se de "Equívocos da democracia portuguesa" e nunca um título destes assumiu tanta propriedade e actualidade. Nos últimos dias temos assistido a verdadeiros equívocos que nos irão afectar nos próximos (muitos) anos. Desde logo o OE 2012 que aparece como a panaceia para todos os nossos males e que, afinal, parece que não vai ser bem assim. Quem o disse foi o PM em entrevista à SIC na passada quarta-feira. Afinal, diz Passos Coelho, o OE 2012 vai conduzir a uma recessão e contracção grandes da economia portuguesa, "o que conduzirá a que se tenha que aplicar mais austeridade em 2012". A isto chama-se "espiral recessiva" a mesma que Manuela Ferreira Leite denunciou à umas semanas atrás. Inclusivé admitiu que o governo está a estudar a hipótese de saída do euro. Esta seria uma declaração que um PM nunca deveria assumir em público, mesmo que verdadeira. Mas os equívocos não ficam por aqui. Pacheco Pereira, seu companheiro de partido, disse na"Quadratura do Círculo" que "Passos Coelho apresentou-se com um discurso dum gestor de uma empresa falida". Como é do conhecimento público, o governo tem feito uma cruzada contra os feriados em Portugal. Isto por si só, demonstra uma incompreensão do problema duma forma bizantina. O que se devia combater não eram os feriados, mas sim, as pontes a que davam origem, essas sim, lesivas da economia portuguesa. Mas, para sermos sinceros, estas - as pontes - também não eram, só por si, o problema. Como todos sabem estas, normalmente, são compensadas por tempo dado a mais em jornada laboral ou, noutros casos, compensados com férias. Assim, não se pode dizer que as coisas estavam muito mal. Mas o incompreensível é que, dada a agitação social, o governo já tenha anunciado que mantém a tolerância de ponto para o Natal e Ano Novo!!! Afinal em que ficamos? Se a situação é tão gravosa, se são precisos mais esforços, mais trabalho, se o problema está do lado da despesa, logo implicando o funcionalismo público, como se compreende que afinal a tolerância se mantenha e logo nas duas datas? Será que a agitação social dos últimos dias tolheu os argumentos do governo? Será que não queriam repetir aquilo que Cavaco Silva fez, à muitos anos atrás, com a tolerância de ponto para o Carnaval? Seja esta a resposta ou outra qualquer, não deixa de ser incompreensível para o comum dos portugueses a quem são impostos muitos sacrifícios. Agora desdobram-se em esclarecimentos de que a situação portuguesa depende do que vem do exterior, à seis meses atrás negavam essa evidência - inclusivé o PR! - porque todo o mal que afectava Portugal, quiçá o mundo, era da responsabilidade do governo anterior. "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades" cantava Camões coisa que este governo tão bem é capaz de reconhecer. Com o desemprego a subir em flecha, quando os juros da dívida não param de crescer, - o que prova que a confiança na política deste governo é nula -, quando a classe média está em vias de extinção, se é que não está já extinta, com a pobreza a atingir valores próximos daqueles que tínhamos durante o anterior regime, o ministro da segurança social, Mota Soares - o tal que gosta de andar de "scooter" - afinal decidiu que o melhor era andar de carro - e que carro! - porque ministro não pode saber o que é austeridade. Mas as coisas não ficam só por aqui. É a escola pública a desboroar-se, é o SNS a caminhar para o seu fim. Nunca um governo em tão pouco tempo conseguiu destruir tanto um país. E não é só para cumprir o plano da "troika" mas sim para aplicar a sua agenda ultraliberal que a Sra. Merkel lhe terá induzido. Manuela Ferreira Leite já tinha afirmado que "este governo só sabe cobrar impostos. Chegou-se ao limite. Agora aumentar a carga fiscal não implica aumento da receita". Será que Passos Coelho ainda não apreendeu o conceito de "propensão marginal" que também se aplica aos impostos? Qualquer aluno de economia o sabe, logo que chega à Faculdade. E Passos Coelho é economista!... Embora, ao que parece o PR vá afirmando que de finanças o governo pouco ou nada sabe!!! A falta de vergonha, o desaforo é tal, que é difícil passar a mensagem por mais evidente e necessária que seja. Lá fora as coisas não andam melhor. O directório que governa a UE duma forma ditatorial não dá sinais de ser capaz de resolver o problema, caminhando no sentido de estilhaçar o projecto europeu e destruir aquilo que foi maior inovação na Europa, o euro. Numa altura em que não existem políticos à altura - como diz Mário Soares -, onde os estadistas não existem, apenas meros funcionários da política, mais preocupados com o seu "tacho" do que com os benefícios dos seus concidadãos, as coisas nunca andarão bem, e a derrocada será inevitável. Será que a incapacidade é a palavra-chave ou, por outro lado, essa é a intenção? Esta é a questão de fundo, porque tanta incompetência começa a ser difícil de explicar...