Turma Formadores Certform 66

Tuesday, September 30, 2014

Intimidades reflexivas - 4

Há pessoas que querem ser bonitas para chamar a atenção, outras desejam a inteligência para serem admiradas. Mas há algumas que procuram cultivar a Alma e os Sentimentos. Essas alcançam a admiração de todos, porque além de belas e inteligentes tornam-se realmente PESSOAS.

O Gato e a Espiritualidade

"Quem não se relaciona bem com o próprio inconsciente não topa o gato. Ele aparece, então, como ameaça, porque representa essa relação precária do homem com o (próprio) mistério. O gato não se relaciona com a aparência do homem. Ele vê além, por dentro e pelo avesso. Relaciona-se com a essência. Se o gesto de carinho é medroso ou substitui inaceitáveis (mas existentes) impulsos secretos de agressão, o gato sabe. E se defende do afago. A relação dele é com o que está oculto, guardado e nem nós queremos, sabemos ou podemos ver. Por isso, quando surge nele um ato de entrega, de subida no colo ou manifestação de afeto, é algo muito verdadeiro, que não pode ser desdenhado. É um gesto de confiança que honra quem o recebe, pois significa um julgamento. O homem não sabe ver o gato, mas o gato sabe ver o homem. Se há desarmonia real ou latente, o gato sente. Se há solidão, ele sabe e atenua como pode, ele que enfrenta a própria solidão de maneira muito mais valente que nós. Nada diz, não reclama. Afasta-se. Quem não o sabe "ler" pensa que "ele" não está ali. Presente ou ausente, ele ensina e manifesta algo. Perto ou longe, olhando ou fingindo não ver, ele está comunicando códigos que nem sempre (ou quase nunca) sabemos traduzir. O gato vê mais e vê dentro e além de nós. Relaciona-se com fluídos, auras, fantasmas amigos e opressores. O gato é médium, bruxo, alquimista e parapsicólogo. É uma chance de meditação permanente a nosso lado, a ensinar paciência, atenção, silêncio e mistério. O gato é um monge silencioso, meditativo e sábio monge, a nos devolver as perguntas medrosas esperando que encontremos o caminho na sua busca, em vez de o querer preparado, já conhecido e trilhado. O gato sempre responde com uma nova questão, remetendo-nos à pesquisa permanente do real, à busca incessante, à certeza de que cada segundo contém a possibilidade de criatividade e de novas inter-relações, infinitas, entre as coisas. O gato é uma lição diária de afeto verdadeiro e fiel. Suas manifestações são íntimas e profundas. Exigem recolhimento, entrega, atenção. Desatentos não agradam os gatos. Bulhosos os irritam. Tudo o que precise de promoção ou explicação quer afirmação. Vive do verdadeiro e não se ilude com aparências. Ninguém em toda natureza aprendeu a bastar-se (até na higiene) a si mesmo como o gato! Lição de sono e de musculação, o gato nos ensina todas as posições de respiração ioga. Ensina a dormir com entrega total e diluição recuperante no Cosmos. Ensina a espreguiçar-se com a massagem mais completa em todos os músculos, preparando-os para a ação imediata. Se os preparadores físicos aprendessem o aquecimento do gato, os jogadores reservas não levariam tanto tempo (quase 15 minutos) se aquecendo para entrar em campo. O gato sai do sono para o máximo de ação, tensão e elasticidade num segundo. Conhece o desempenho preciso e milimétrico de cada parte do seu corpo, a qual ama e preserva como a um templo. Lição de saúde sexual e sensualidade. Lição de envolvimento amoroso com dedicação integral de vários dias. Lição de organização familiar e de definição de espaço próprio e território pessoal. Lição de anatomia, equilíbrio, desempenho muscular. Lição de salto. Lição de silêncio. Lição de descanso. Lição de introversão. Lição de contato com o mistério, com o escuro, com a sombra. Lição de religiosidade sem ícones. Lição de alimentação e requinte. Lição de bom gosto e senso de oportunidade. Lição de vida, enfim, a mais completa, diária, silenciosa, educada, sem cobranças, sem veemências, sem exigências. O gato é uma chance de interiorização e sabedoria, posta pelo mistério à disposição do homem." O gato é um animal que tem muito quartzo na glândula pineal, é portanto um transmutador de energia e um animal útil para cura, pois capta a energia ruim do ambiente e transforma em energia boa, -- normalmente onde o gato deita com frequência, significa que não tem boa energia-- caso o animal comece a deitar em alguma parte de nosso corpo de forma insistente, é sinal de que aquele órgão ou membro está doente ou prestes a adoecer, pois o bicho já percebeu a energia ruim no referido órgão e então ele escolhe deitar nesta parte do corpo para limpar a energia ruim que tem ali. Observe que do mesmo jeito que o gato deita em determinado lugar, ele sai de repente, poi ele sente que já limpou a energia do local e não precisa mais dele. O amor do gato pelo dono é de desapego, pois enquanto precisa ele está por perto, quando não, ele se a afasta. No Egito dos faraós, o gato era adorado na figura da deusa Bastet, representada comumente com corpo de mulher e cabeça de gata. Esta bela deusa era o símbolo da luz, do calor e da energia. Era também o símbolo da lua, e acreditava-se que tinha o poder de fertilizar a terra e os homens, curar doenças e conduzir as almas dos mortos. Nesta época, os gatos eram considerados guardiões do outro mundo, e eram comuns em muitos amuletos. "O gato imortal existe, em algum mundo intermediário entre a vida e a morte, observando e esperando, passivo até o momento em que o espírito humano se torna livre. Então, e somente então, ele irá liderar a alma até seu repouso final." Fonte: The Mythology Of Cats, Gerald & Loretta Hausman.

Monday, September 29, 2014

E depois da luta fratricida...

Depois do fim da querela dentro do PS será bom refletirmos sobre o que sucedeu. Um líder eleito em congresso - António José Seguro - com duas vitórias eleitorais - nas autárquicas e nas europeias, a primeira com resultados que nunca tinham sido atingidos por ninguém - é posto em causa pelo seu camarada de partido António Costa. (E não pretendo fazer nenhum juízo de valor nesta guerra dos António's sobre quem seria melhor para o PS, se Seguro ou Costa, afinal as diferenças não eram praticamente nenhumas). E aqui começam as questões a aparecer. António Costa poderia ter tomado conta do partido por duas vezes e não o fez, dizendo que tinha um mandato para cumprir como presidente da Câmara de Lisboa. Quando as legislativas se aproximam e a vitória do PS é dada como certa, apenas ficando no ar a sua expressão, eis que o autarca lisboeta aparece e já não se importa de deixar a Câmara de Lisboa. Depois foram as primárias. (As primárias tão atacadas por Costa e seus sequazes e ontem, depois da vitória de Costa, afinal passaram a ser um grande avanço na forma de fazer política em Portugal!) Marca a que António José Seguro ficará sempre ligado, - quer queiram quer não -, e que a sua aceitação por parte das populações afetas ao PS coloca uma questão embaraçosa aos outros partidos - os chamados do arco da governação essencialmente - que não podem ignorar o que se passou. Foi algo de novo dentro da política em Portugal. Seguiram-se os debates. Ora estando melhor um e depois outro, nesse alternar de momentos que estes figurinos encerram, mas onde se falou muito da fratura do PS. É certo que ainda é cedo para se saber o que irá acontecer daqui para a frente, mas quando essas afirmações vêm de pessoas como Mário Soares ou Jorge Sampaio - gente ilustre a quem a democracia muito deve - deixa-me perplexo. Será que Mário Soares já se esqueceu do violento conflito que travou com o Secretariado Nacional há uns anos atrás que deixou feridas que muito levou a sarar? Será que Jorge Sampaio já se esqueceu da luta travada com António Guterres, quando foi desafiado por este, cujas sequelas ainda hoje perduram? Daqui se infere que não é legítimo acusar Seguro de contribuir para a fraturação do PS, porque a haver um prevaricador seria Costa. O mesmo Costa que levou à sua volta gente que por ambição pessoal deixou o partido para se candidatar, por exemplo a câmaras municipais, e que depois de o renegarem apareceram ao lado de Costa na campanha. Isto para já não falar num grupo mais ou menos parasitário que andou em torno de Sócrates - os grandes líderes geram sempre esta geração de pigméus - que se colaram a Costa na tentativa de buscarem privilégios passados. Já para não falar de alguns ex-deputados europeus que foram preteridos por Seguro que se apressaram a alinhar com Costa na tentativa de colher mais à frente a visibilidade perdida, um certo desagravo digamos assim. Resumindo, o chamado aparelho de funcionários que fazem da política a sua profissão porque outra não têm, percebendo que Seguro afrontava os poderes instalados e nem sempre evidentes e visíveis, apressou-se a juntar-se a Costa que, qual pára-raios aí estava para os acolher numa legião de "afrontados". Alguns até teriam eventualmente medo quando Seguro falava em trazer seriedade à política, porque eles representam o seu contrário, sentindo estas palavras como chicotadas nas suas ambições pessoais. Quando Seguro falava em separar negócios da política quantos tremeriam de aflição. E quando falou em reduzir o número de deputados aqui foi demais. Todos saíram das tocas onde se tinham acolhido porque isso era o fim das suas carreiras, pelo menos para alguns. Assim, o que se passou no PS é um pouco aquilo que existe em Portugal. O salve-se quem puder, onde é mais importante salvar a sua posição pessoal do que o país. Quando se pretende ser sério, quando se pretende trazer algumas regras para a política não se é popular porque haverá sempre alguém que se sentirá atingido. Os aparelhos dominam os partidos. Quebrar essas regras é arriscar muito. Seguro tentou-o e perdeu. Mas o gesto ficará. Espero que germine para bem do próprio regime. Porque o "status quo" apenas serve para premiar quem trai, quem crava facas nas costas de camaradas de partido, rasgando acordos firmados, numa ambição desmedida pelo poder. Se estivesse a pensar votar PS, abandonaria a ideia. Nunca votaria no PS enquanto Costa fosse líder porque me sentiria a avalizar gente que trai, sem ética, apenas almejando a sua ambição pessoal e mesquinha de ser primeiro-ministro, quiçá, já a pensar em Belém. Julgo que o PS irá passar momentos menos bons, não no imediato mas num futuro próximo. (Para já, o que ressalta foram as democráticas felicitações de Seguro a Costa que não tiveram reciprocidade por parte deste último, onde o nome de Seguro nem sequer foi pronunciado. E nem uma palavra ao terço de militantes que não votaram nele mas que pertencem ao seu partido. E diz bem ao que Costa vem. Afinal, os que traem são premiados). Porque estas coisas deixam marcas por mais que se tente varrer para debaixo do tapete os estilhaços. Porque um partido que traí um líder democraticamente eleito, um partido que permite que alguém crave uma faca nas costas do líder e depois o vai eleger, é seguramente um partido doente, com má consciência. Essa má consciência há-de aparecer mais cedo ou mais tarde. Não apoiei nenhum dos candidatos, - não avalizo lutas fratricidas - mas estive e estarei sempre ao lado daqueles que pretendem trazer alguma moral, alguma ética, para a política que tão carente dela anda. Num país onde a ética já se perdeu, os partidos são bem o espelho dessa situação. Uma democracia doente, com partidos doentes, num país doente.

Intimidades reflexivas - 3

Há caminhos que faço questão de desaprender nomes também. O tempo que se passa andando em círculos não congela a vida, não pára os relógios, não obriga quem seguiu em frente a nos esperar. Mas se aprende, na inércia, a solidão necessária, o desdobrar dos avessos, o sentido de se ter alguém perto para acrescentar-nos e acrescentar-se. Se diferente, não é caminho, é emboscada melhor desaprender a rota e o rosto; melhor andar em círculos antes de aventurar uma nova estrada. Ou, como diz o tal ditado, 'antes só do que mal acompanhado'! As pedras que actualmente ando a recolher do meu caminho, fazem-me concordar com tudo isso! Mas é com essas pedras que vou um dia construir o meu castelo.

Sunday, September 28, 2014

A poesia de Vitorino Nemésio I - "Retrato"

Hoje deu-me para a poesia. Será do tempo chocho. Será o meu Outono de romantismo. Eu sei lá! Vai daí lembrei-me de mergulhar na poesia de Vitorino Nemésio. Para começar, trago-vos "Retrato" uma espécie de visão que Nemésio tinha sobre si próprio, inserido no livro "Nem toda a noite a vida" (1953).

Um figura açoreana que viveu numa época onde outros açoreanos de letras fizeram escola. O canto da ilhas, onde "há mais mar que terra" como dizia Nemésio, que elevaram a poesia e a literatura portuguesa e que hoje estão tão esquecidos, arredados dos livros escolares. Como tratamos mal os nossos.


RETRATO

Cruel como os Assírios,
Lânguido como os Persas,
Entre estrelas e círios
Cristão só nas conversas.

Árabe no sossego,
Africano no ardor;
No corpo, Grego, Grego!
Homem, seja onde for.

Romano na ambição,
Oriental no ardil,
Latino na paixão,
Europeu por subtil:

Homem sou, homem só
(Pascal: "nem anjo nem bruto"):
Cristãmente, do pó
Me levanto impoluto.

É caso para dizer que Nemésio se tinha numa excelente posição, ele que para além de poeta e romancista, foi um homem que viu a sua vida povoada de amores. Poesia a recordar deste grande escritor que tem em "Mau Tempo no Canal" a sua obra maior. Será que ainda se recordam dos seus programas de televisão "Se bem me lembro!" que a RTP de antanho passou ainda a preto e branco? Pois ele aqui está em toda a sua expressão.

Friday, September 26, 2014

Intimidades reflexivas - 2

Lei é lei. E não é da lei do homem que estou falando. Lei que é lei é a lei da vida. E dessa, meu irmão, ninguém escapa. Amanhã será o reflexo de hoje. Assim como hoje foi o reflexo de ontem. Então dê amor para depois querer ser amado. Dê respeito para poder ser respeitado. E um pouco mais de consideração a quem merece, porque não sabemos o dia de amanhã. Como bem disse o poeta Carpinejar, essa vida é uma dança das cadeiras. Um dia sentado, n'outro de pé.

Thursday, September 25, 2014

Equivocos da democracia portuguesa - 235

E lá foram todos festejar o aumento do salário mínimo nacional (SMN). É certo que na visão miserávelista da sociedade em que vivemos, é sempre melhor este aumento do que nenhum. É verdade, mas em torno desta questão existem alguns pontos que é preciso esclarecer. O SMN está congelado desde 2010, o que significa que o último ajustamento se verificou em 2011. A "troika" foi um fator de impedimento para novos ajustes também é verdade. Mas agora, já depois da "troika" ter ido embora há já bastante tempo, só nesta altura se fez o ajuste. Desde logo porque era importante que aparecesse antes das "primárias do PS", depois porque é chegado o tempo das "boas notícias" que o calendário eleitoral estimula. Mas este aumento - 20 euros/mês ou 0,66 euros/dia - entra em vigor apenas a 1 de Outubro próximo e por 15 meses! Isto é, depois o governo que vier que se amanhe a encontrar soluções. E elas são dados contraditórios e por isso de difícil ajuste. Vejamos. Neste momento, (depois do acordo assinado em 2010), o SMN deveria andar pelos 600 euros. Fica pelos 505 e com uma redução de 0,75% na TSU para a entidade patronal que o pratique. Isto é, quando se fala tanto na sustentabilidade da Segurança Social, vai-se reduzir a TSU de 23,75% para 23%, nos casos em que os empregadores tiverem trabalhadores com o salário mínimo. Já agora, e as empresas que já pagavam um pouco acima dos SMN não irão beneficiar deste abaixamento da TSU. (Resumindo, os patrões pagam menos de TSU suportando apenas 85% do SMN e os trabalhadores pagarão mais TSU fruto do aumento salarial). Mas se este já é um problema, fala-se também na baixa do IRS. Se o abaixamento da TSU abre a porta para novos abaixamentos, a possibilidade de baixar o IRS diminui a receita fiscal - e o governo anda a falar muito no assunto, - as eleições andam por aí - o que põe em causa a execução orçamental dentro daquilo que será a trajetória para os próximos anos. A velha máxima de "quem vier atrás que feche a porta" aplica-se aqui em toda a linha. A maioria vê como pouco provável continuar no governo - apesar da barafunda dentro do PS - e vai daí, deixa a batata quente para quem vier a seguir, que terá que introduzir fatores de correção, contando logo com a impopularidade mal tome posse. Uma esperteza saloia que deve manter atentos todos nós. Daí o aumento do SMN agora, depois de tanto o terem arrastado, e o abrir portas a "boas notícias" que podem ser um presente envenenado. E até a Associação dos Têxteis já anda a pedir contrapartidas para a perda de competitividade, esquecendo os Ferrari's que muito empresários de algumas regiões ostentam. Isto não significa que o aumento no SMN não seja bem vindo, sobretudo para aqueles que o ganham e que necessariamente são os mais carentes, mas os empresários também deveriam pensar que se o trabalhador está lá a trabalhar deveria merecer algo mais - pouco que fosse - a cima do SMN. (Este aumento dá apenas para um café por dia!). É uma questão de dignidade para quem o recebe, é uma questão de justiça para quem o paga. E, como diz o presidente da UGT, "é pouco mas dá para pagar a explicação ao filho". Será, mas a 20 euros não será fácil arranjar explicadores, talvez só, em Figueiró dos Vinhos. 

Intimidades reflexivas

Viver é povoar desertos, tentar colher flores em jardins de concreto. Não basta subir as escadarias e olhar o mundo. É preciso pular no precipício e, sem asas, arranjar um jeito de aterrar; sobreviver e continuar, continuar, continuar. Indefinidamente e com vontade, a despeito de abismos, céus, medos ou coragens, lágrimas ou sorrisos. Que a porta nunca se feche sem que tenhamos visto pelo menos uma flor!

Wednesday, September 24, 2014

Um mês depois. eterna saudade, Tuxa!

Um  mês passou. 30 dias volvidos. Parece que foi agora, neste momento. A minha querida Tuxa partiu. Deixou-me para trás. Não que o lamente. Prefiro ver os meus queridos patudos partirem à minha frente do que deixá-los para trás, entregues à sua sorte. 30 dias passaram sem que deixasse de visitar a tua sepultura no local onde tanto gostavas de estar a apanhar sol. 30 dias passaram e parece que foi agora. O seu filho adotivo não deixa de a ir visitar. Todos os dias, tal qual eu. Anda triste por não ter a sua companhia. Falta-lhe algo. Mudou o seu comportamento radicalmente. Mas percebe, a cada dia que passa, que não a terá mais. 30 dias passaram. O tempo voa inexorável. A sua ampulheta não pára. Mas as memórias dos tempos que a tive comigo estão aí vivas. Desde o seu abandono ao seu resgate, desde o seu tratamento até à recuperação plena, desde as muitas horas de folia até ao derradeiro sopro depois de muito sofrer, tudo isso são recordações que a memória não pode, nem quer, apagar. 30 dias passaram e parece que foi agora. Naquele domingo solarengo de Verão, naquela tarde em que se dirigiu para o seu local de eleição e ali expirou. Quantas memórias, quanta saudade. Jamais te esquecerei. Pelo que sofreste desde pequena, até ao teu sofrimento derradeiro. Uma vida de sofrimento que enfrentaste sempre com alegria e coragem, digna duma guerreira como tu eras. 30 dias passaram e as recordações batem de novo enquanto escrevo estas linhas. As lágrimas rolam incontroláveis. O coração bate mais acelerado. Porque me deste muito, que eu tentei compensar. Não sei se o fiz bem. Não sei se fui capaz de estar à altura dos teus gestos, dos teus sentimentos. Mas aqui estou a eternizar a tua memória. Descansa em paz, Tuxa!

Tuesday, September 23, 2014

Sobre a felicidade

Todos nós passamos por dificuldades na vida. Para alguns falta o pão na mesa, a outros a alegria da alma. Muitos lutam para sobreviver, outros são ricos mas mendigam o pão da tranquilidade e da felicidade. Não adianta dominar o mundo a fora e não dominar o mundo interior, o enorme território da sua alma. De que adianta ser um gigante na ciência, mas um frágil menino que não consegue navegar nas águas da emoção? Quando a humanidade aprender a amar, derramará lágrimas de alegria. Sentirá não pelas guerras, mas pelas injustiças. Aprenderá que não encontrará a felicidade mesmo que percorrer todo universo. A felicidade, Deus escondeu em um lugar que ninguém pensa em procurar: dentro de si mesmo.

Passos Coelho e Karl Marx - A relação improvável ou talvez não

A expressão utilizada pelo primeiro-ministro num discurso a propósito de Educação foi ouvida com surpresa. Fomos à procura da origem do conceito. Esta segunda-feira, ficámos a saber pelo primeiro-ministro que o sistema educativo em Portugal é uma fábrica de salsichas - um conceito, à primeira vista, transformador de professores em operários e de alunos em enchidos e que surgiu pela pena de Karl Marx, numa leitura do escocês Neil Smith, professor universitário que se sentia nesse ambiente, onde "alguns de nós são as salsichas, alguns de nós enchem a tripa com a carne, alguns de nós só manejam as máquinas e alguns são os gerentes". O geógrafo e antropólogo não se importava especialmente com a imagem que, no início do século passado, já era usada em relação a algumas escolas inglesas e cuja raiz é negativa, sem ofensa para as fábricas de enchidos de carne picada temperada. Neil Smith estava mais preocupado com um fenómeno que lhe parecia global e que por isso exigia uma solução à altura. A sua inquietação principal era, aliás, quem iria governar essa fábrica que tem imensas filiais locais. Mas nunca restringiu a questão à simples "salsicha educativa", como o fez Passos Coelho, embora possa ser uma maneira de combater a ideia dos estudantes de que a maioria da matéria é "chouriço educativo". Passos versou assim esta segunda-feira, na sessão solene de abertura do ano letivo do Conselho Nacional de Educação, em Lisboa: "Sabemos melhor do que ninguém que aumentar a chamada salsicha educativa não é a mesma coisa que ter um bom resultado educativo. Foi assim que, no passado, a generalização de novos graus de ensino não corresponderam a um salto qualitativo mais exigente no produto escolar. Temos muitos mais alunos a frequentar o ensino básico e secundário, esperamos poder vir a ter significativamente mais alunos a frequentar o ensino superior, mas é importante que o resultado final corresponda a uma melhoria da qualidade do ensino que é prestado." Mas quem é que usa esta expressão? Se Passos diz "a chamada salsicha educativa" é porque já ouviu alguém falar nela. Numa rápida busca na Net, verifica-se que em português a estreia parece pertencer-lhe e que no resto do mundo fala-se na questão levantada por Neil Smith, mas apenas na "fábrica de salsichas educativa", embora se saiba de antemão que, se numa verdadeira fábrica de salsichas se produzem os tais enchidos de carne picada e temperada, numa escola formam-se estudantes. Por esta ótica, o aluno é a salsicha. No caso da expressão usada pelo líder do governo português, como não soa muito bem dizer "aluno educativo", talvez a salsicha seja a própria escola, o que faria do Estado e dos privados proprietários de estabelecimentos de ensino fabricantes de salsichas. A educação é cada vez mais uma mercadoria e as escolas fábricas. "Quem governa a fábrica de salsichas?" é o título do artigo escrito por Neil Smith em 2002, dois anos antes da sua morte prematura, publicado na revista Antipode e inspirado num parágrafo de "O Capital", de Karl Marx, que, numa tradução livre, dizia: "Um professor é um trabalhador produtivo, quando, além de trabalhar a cabeça dos alunos, se esfalfa para enriquecer o proprietário da escola. E essa relação não se altera, lá porque o capitalista investiu numa fábrica de ensinar em vez de numa fábrica de salsichas". Os sistemas universitários de Estocolmo a Sidney, de Seul a São Paulo - dizia o professor escocês no início deste século -, preocupavam-se, nos anos 1970, em fornecer um ensino público. Agora, correm a reinventar-se como "emblemas" de organizações empresariais. Trata-se, no seu ponto de vista, de uma corrida global, cujos efeitos se começaram a fazer sentir na última década do século XX. Foi o avanço do neoliberalismo, da modificação das relações comerciais, que levou ao mercantilismo no ensino, à transformação da educação em mercadoria com os olhos postos num alvo: o lucro. A "nova" forma de encarar a escola ganha espaço à medida que a relação entre o capital e o Estado se torna mais íntima e o Estado faz uma retirada estratégica de algumas das suas "antigas" incumbências sociais, sustentava Neil Smith. O professor escocês acreditava que valia a pena lutar pela fábrica de salsichas, uma vez que, se as universidades dessem um passo atrás, teriam dificuldade em desempenhar a sua missão, em especial na parte de investigação. Todavia, seria preciso que, globalmente, se erguessem conjuntos de vozes que pusessem em causa os proprietários, os operários e os produtos das filiais. Passos Coelho, assumindo-se como neoliberalista, parece estar consciente de todo este processo: não só aceita completamente o conceito - a utilização da expressão no seu discurso surge sem qualquer apreciação ou dúvida -, como está disposto a engordá-lo, se assim se pode dizer quando se trata de enriquecer uma salsicha educativa. Fica-se a saber quem manda na fábrica, apesar de o ministro desta indústria ter demonstrado algumas dificuldades na colocação de "enchedores de tripa".

Monday, September 22, 2014

Equivocos da democracia portuguesa - 234

A palavra dada logo desmentida, a informação veiculada logo desdita, o compromisso celebrado logo adiado, fazem parte duma falta de ética que vai corroendo a nossa democracia. Já por diversas vezes vimos alertando para isso, mas há sempre algo de novo a lembrar-nos que o tecido está a ser corroído, senão mesmo já apodrecido. Se muitos exemplos do que aqui deixamos poderiam ser enumerados, escolhemos hoje o tema do aumento do salário mínimo nacional por ser de grande acuidade nos tempos que vivemos. Foi congelado em 2011 e sabe-se a razão por quê. Podemos não estar de acordo mas compreendemos as razões, desde logo, a urgência em que Portugal se encontrava. Mas tal não poderia ser prolongado demasiado no tempo porque quando as classes mais baixas vissem a quebra abrupta do seu rendimento, logo deixariam de comprar, o que iria ajudar a uma certa estagnação económica. Se a medida foi saudade pelas entidades patronais, os sindicatos afrontaram-na. No fundo, cada um cumpriu o seu papel no espectro daquilo que se lhes exigia. Assim, desde há algum tempo se vem falando no seu ajuste, numa tentativa de repor algum poder de compra, e dar mais algum alento à economia. O governo foi sempre adiando justificando com isto e com aquilo e agora, com eleições ao dobrar da esquina, não deixa de apoiar a medida embora fazendo-a deslizar no tempo o mais possível para próximo do futuro ato eleitoral. Os sindicatos vão aumentando o tom do seu discurso dentro daquilo que se espera de tais organizações. As entidades patronais também, mas com um jogo de cintura lamentável. Se desde à muito dizem que se devia aumentar o salário mínimo nacional, quando essa inevitabilidade se começou a colocar com mais afinco na mesa negocial, o discurso foi-se enviesando. Primeiro é a discussão do montante, depois é a manutenção de cortes nos feriados e nas horas extras para o próximo ano, com a justificação de que as empresas não estão preparadas para tal embate. Já tinham conseguido o adiamento em Junho último para o fim do ano, agora acham que até final do próximo ano se deve manter a situação. São estas atitudes que descredibilizam a classe empresarial. Porque na sua ganância de mais e mais, não percebem que se estão a colocar de fora dum tempo em que a situação se colocará com mais força. E já se vai tarde para isto, o aumento para 500 euros era devido à muito tempo, hoje colocá-lo a esse nível vem ajudar, mas não repor uma das assimetrias mais incríveis que se fizeram. E quando muitos empresários já espumam com a antecipação daquilo que irá acontecer inevitavelmente, outros até acham que se poderia ir mais longe, como o presidente da Confederação do Comércio (CCP). A política dos salários baixos não resolve nenhum problema de produtividade, como muitos defendem, ou até de competitividade. (A menos que estejam a pensar no formato chinês de contratação). Se os trabalhadores não estão satisfeitos, eles não se esforçarão, a produtividade não será uma realidade. Até alguns empresários, - poucos na realidade -, já o afirmaram. Afinal são as teses de Keynes que andam por aí e que alguns pretende fazer de conta que não vêem. Dada a realidade económica atual o aumento deve ir para além dos 500 euros, porque há folga para isso e, sobretudo, porque só assim se colocará alguma justiça ao nível daqueles que têm um nível de rendimento tão baixo. E não nos falem em problemas na competitividade. As empresas portuguesas, na sua maioria, são mal geridas por gente impreparada apenas visando o lucro o maior possível. Conhecemos bem a realidade nacional, bem como, a realidade internacional. Vemos portugueses a serem altamente produtivos em empresas estrangeiras quando cá parecem não o ser. E afinal de quem é a culpa? Do salário mínimo nacional? Da falta de formação dos trabalhadores? Ou haverá outras razões bem mais complexas para as quais não queremos atender?

Saturday, September 20, 2014

"Last Dance" - Keith Jarrett & Charlie Haden

Venho hoje propor-vos um grande disco que julgo já se encontrar disponível no mercado nacional. Trata-se de "Last Dance" a última gravação do grande pianista Keith Jarrett - o mesmo do famoso "THE KÖLN CONCERT" (Concerto em Colónia)" - aqui em parceria com o contrabaixista Charlie Haden. Um verdadeiro CD de antologia, um daqueles disco de mesinha de cabeceira. O diálogo entre o piano e contrabaixo é impressionante, a serenidade que perpassa pelo disco é incrível. A cumplicidade é total. O diálogo é fascinante. Este é um daqueles discos que se devem ouvir pela noite dentro, no seu silêncio envolvente, com ou sem bebida por perto, mas seguramente, com uma bela companhia. Disco fascinante que não deixa ninguém indiferente, mesmo aqueles que não gostam deste género de música - o jazz. Mas talvez por isso mesmo, o devem escutar porque seguramente irão mudar de opinião e, sobretudo, irão perceber que a grande música aí está independentemente dos rótulos que se lhe coloquem. Mas este disco está também envolto numa séria ironia. Desde logo pelo nome, "Last Dance" (Última Dança) e a derradeira faixa chama-se permonitoriamente "Goodbye" (Adeus). E a ironia está em que estas duas frases dão a ideia duma partida sem retorno. E foi isso mesmo que aconteceu com Charlie Haden, poucas semanas depois da edição deste disco. Quando partiu para a eternidade. Mas ainda foi a tempo de assinar mais um grande registo na senda dos muitos que assinou ao longo da sua enorme carreira. Por tudo isto, este é um CD de referência, um daqueles discos que ficam para a eternidade, com música etérea apenas capaz de ser produzida por grandes intérpretes como foi aqui o caso. Resta acrescentar que este disco tem o selo da não menos famosa ECM que nos vai brindando com grandes registos ao longo do tempo. Um disco a todos os títulos recomendável.

Friday, September 19, 2014

Equivocos da democracia portuguesa - 233

Pensávamos que já tínhamos visto tudo, mas não, ainda tínhamos algo para ver. Depois das medidas ultra-liberais, rocambolescas muitas delas, que nos colocaram na vereda da indigência, onde as medidas para o crescimento económico não existem, ou são torpedeadas pela austeridade sem fim, mesmo indo ao arrepio do ortodoxo Ecofin que já veio insistir no crescimento económico para por fim a uma crise que vai esmagando a Europa, ainda nos restava ver o perdão - estratégico ou não - duma governação em desagregação. Se a quando da nomeação de Vítor Bento para o Novo Banco, logo apareceram as laudas de muitos, logo foram arrumadas num canto quando a administração do Novo Banco começou a divergir da orientação governativa, que o quer vender a qualquer preço e rapidamente, talvez ainda antes do fim do ano, para não vir agravar o défice já de si problemático. Entrou a nova administração e, esta sim, é que é a verdadeira a genuína. Curiosamente o comunicado que Eduardo Stock da Cunha - o administrador que se segue - emitiu, vai no sentido de valorizar o banco e não vendê-lo a qualquer preço, o que parece ser uma ironia face àquilo que o governo e o regulador pretendem. Se calhar aqui, não deixará de se pensar num "pedido de perdão pelos erros cometidos". Mas logo surgiu a ministra da Justiça a pedir perdão face ao descalabro do Citius que pôs os tribunais parados e a justiça na iminência da rutura, coisa que a senhora ministra sempre achou exagerado, até ao dia que não pode continuar a esconder debaixo do tapete aquilo que já toda a gente tinha visto. Mas logo, Nuno Crato não quis ficar atrás, e vai daí, desloca-se à Assembleia da República para também ele ali pedir perdão, desta feita pela barafunda do início do ano escolar e pela controversa fórmula que colocou os professores. Tanta barafunda na governação é, de facto, demais. Sempre ouve uma certa acrimónia entre os ministros e entre os partidos da coligação. Mas isto é a imagem mais clara que, passados três anos, a confusão é total onde as coisas parecem, cada vez mais, surgirem do nada e duma forma desgarrada. Isto para já não falarmos nas declarações de Portas e Pires de Lima sobre os impostos em confronto com as ideias defendidas pelo primeiro-ministro. Ele que, - e para dar o exemplo -, já em tempo veio pedir perdão aos portugueses por aquilo que tem andado a fazer. Este é um governo do "perdoa-me" no pior dos sentidos. Porque o pedido de perdão nunca chegará de todos aqueles que foram vítimas de tão torpe governação em nome duma "troika" - onde muitas das medidas aplicadas nem sequer constavam do memorando - quando o que se passou foi o querer ir-se muito para além das autoridades internacionais. E um país que se viu empobrecido dum dia para o outro, uma classe média que sempre cresceu encostada ao Estado tal como aconteceu em toda a Europa, e se viu espoliada de quase tudo vivendo alguns na margem da miséria, um desemprego galopante, um défice que era para ser pequeno e talvez não seja assim, duma dívida que não pára de aumentar, com certeza, que um país assim, não pode perdoar a uma governação que tão mal lhe fez. Mesmo sendo um país maioritariamente católico, pensamos que mesmo assim, não haverá espaço para perdão.

No dia da homenagem a Frei Bento Domingues

Frei Bento Domingues sublinhou em Tomás de Aquino: “Se faço uma coisa porque está mandado, mesmo que seja por Deus, não sou livre, só sou livre quando faço, ou deixo de fazer, porque é mal ou é bem”. Quis ser um homem livre. Tinha pó a Salazar. Deu-se com Sá Carneiro ou Salgado Zenha. Acolheu membros das Brigadas Revolucionárias na clandestinidade. Vive num convento em Benfica. Nasceu em 1934 numa terra onde se “plantam carvalhadas”. Este é Frei Bento no tempo em que ainda não era Frei Bento. O que nasceu nas Terras de Bouro, creu em bodes e bruxas no cruzamento de caminhos, leu às ovelhas orações em latim. E este é Frei Bento que fez discursos considerados subversivos, que foi apontado como "persona non grata" nos anos 60, que andou por África e pela América Latina. Este é Frei Bento, com quem muitos se enfureceram porque defendeu a ordenação de mulheres, e que esteve de costas para um baile porque um padre não podia assistir a um baile. Um heterodoxo. Colunista do Público. Conversador fascinante. Espírito livre. Parece mais novo do que é. Fala com sofreguidão. Sem tabus. “Eu até achava que se alguém me chamasse pai me insultava!” Este é o homem que hoje vai ser homenageado na Fundação Gulbenkian. Homem atento ao mundo desalinhado em que vivemos. Homem desencantado pelo que vê no nosso (seu) país. "Quando a política diz que não há alternativas, os políticos deviam ir para casa, porque não estão a servir para nada". Como esta frase nos prende aos tempos de hoje, neste país desencantado onde nos vendem ideias definitivas que nos colocam cada vez mais na miséria, com a chancela da inevitabilidade. Homem que olha para o mundo e não vê apenas a desordem, mas a falta de vontade de o ordenar. Faz-me lembrar João Paulo I - que reinou apenas 33 dias no Vaticano - quando escrevia crónicas e afirmava, citando Tomás de Aquino uma rábula em que estava um sábio e um louco. O primeiro dizia: "Temos que começar a pensar em fazer a paz" ao que o louco ripostava: "E porque não fazê-la já agora?" Esta é a imagem de Frei Bento, que acha que "os problemas resolvem-se, quanto mais não seja, quando morremos, porque aí eles deixam de existir". Este é um homem dos seus dias, dos nossos dias, atento e nunca subserviente. Um homem que, por isso mesmo, é incómodo, mas uma luz de clarividência nestes nossos dias de raiva por que passamos. Acha-se indigno da homenagem, nem sequer a queria e diz "isto é como uma missa de defuntos", que ele não é e recusa-se a servir apenas de "bibelot" de galeria. Este é o homem que deveríamos ser todos.

Wednesday, September 17, 2014

Conceito de carga fiscal e os seus equívocos

Qual o conceito de carga fiscal? A carga fiscal é uma medida do esforço ou preço que uma sociedade paga por beneficiar dos serviços prestados pelo seu Estado. Tecnicamente a carga fiscal é o rácio simples entre o total de impostos e contribuições obrigatórias (por exemplo para a segurança social) e o produto interno bruto gerado numa economia num mesmo período (habitualmente um ano). Matematicamente podemos calcular o rácio e compará-lo num mesmo país ao longo da história, podemos calculá-lo para diversos países num mesmo ano ou podemos juntar as duas análises comparando a evolução da carga fiscal ao longo do tempo em vários países ou espaços económicos. Os impostos e as contribuições para a segurança social são utilizados pelo Estado para produzir bens e serviços que são depois colocados à disposição da população seguindo as orientações constitucionais mas também, mais detalhadamente, as opções políticas dos governos nacionais, regionais e municipais democraticamente eleitos de forma regular. Em Portugal, neste momento, o pagamento da dívida e dos seus juros revela-se um dos maiores “ministérios” em termos de percentagem de receita fiscal que absorve, mas os impostos e contribuições suportam também as pensões, diversos subsídios como o de desemprego, o serviço nacional de saúde, a escola pública e parte da do terceiro sector, a justiça, os serviços de defesa e segurança, entre outras atividades. Ora como nem todos os Estados prestam o mesmo nível de serviços, nem o fazem com igual grau de eficácia não é correto comparar exclusivamente os níveis de carga fiscal sem usar informação complementar. Por exemplo, na Finlândia, mesmo depois do enorme aumento de impostos em Portugal, provavelmente o cidadão comum, o consumidor e a empresa pagarão uma percentagem maior da sua riqueza para sustentar o Estado do que sucede em Portugal. Quer isso dizer que em Portugal estamos melhor por pagar menos impostos? Não necessariamente. Tudo dependerá do que o contribuinte finlandês e o contribuinte português recebem por cada euro de impostos que pagam. Se o excesso de impostos pagos na Finlândia conseguir gerar serviços públicos como transportes públicos gratuitos para o utilizador, creches gratuitas com cobertura universal, cuidados de saúde mais completos que incluem a saúde dentária, taxas de pobreza claramente inferiores às registadas noutros países, um sistema judicial muito mais eficiente do que o de outros países, etc, de modo a que uma parte daquilo que seria a margem de lucro necessário num regime de fornecimento privado seja “devolvida” aos contribuintes de tal forma que no final paguem menos do que pagariam caso o Estado cobrasse menos impostos mas uma parte destes serviços tivesse de ser adquirida a empresas privadas, os finlandeses podem revelar-se muito mais contentes com a sua comparativamente elevada carga fiscal do que um português poderia esperar. Poderão ter mais impostos a pagar, mais bem estar social e até mais rendimento disponível. No fundo pode-se invocar que estamos perante opções e convicções ideológicas, diferentes modelos de sociedade, mas também perante a necessidade de garantir que se está a comparar o que é comparável quando se querem avaliar diferentes regimes fiscais ou evoluções orçamentais. A pergunta fundamental em ambos os casos, repetimos, é a mesma que se coloca em várias decisões durante a nossa vida: qual é o custo e qual é o benefício das várias alternativas? Olhar apenas para as etiquetas com o preço sem comparar o que se está a comprar não é muito inteligente. Nos últimos três anos Portugal terá tido um dos mais rápidos aumentos de impostos e certamente de carga fiscal da sua história. Dados provisórios estimam que a carga fiscal em percentagem do PIB possa ter subido entre 4 a 8 pontos percentuais entre 2010 e 2013. O choque foi evidente e terá sido diferenciado se considerarmos a incidências sobre os trabalhadores, sobre o consumo ou sobre os rendimentos de capital. Não há ainda, contudo, dados finais de 2013 para a Europa – já há para Portugal e apontam para que um aumento de 8,1% face a 2012 fixando-se nos 34,9% do PIB (era de 32,4%) -, no entanto, imaginamos que, para surpresa de alguns leitores, apesar deste enorme aumento de impostos em tão curto espaço de tempo, a carga fiscal em Portugal provavelmente estará, mesmo agora, em 2014, muito abaixo da média da Zona Euro.

Tuesday, September 16, 2014

"Gotas de Paz" - Gilvanete Ricardo


Serenidade é conquista diária do espírito. Cada prova vencida é elevação espiritual adquirida, mérito na boa colheita. Para superar as grandes provações, todos são testados nas pequenas contrariedades cotidianas. Retire quanto possas de teu coração as farpas do desânimo evitando a solidão no trabalho de caridade e perdão levado ao seu semelhante. Muita Paz!

Depois...

Depois da tempestade, a bonança. Depois da chuva, o sol. Depois do inverno, a primavera. É bom acreditar e esperar um depois que há de vir carregado de esperanças. Um amanhã que se espera mesmo por toda a vida. Acreditar que a tormenta passará. Que se abrirá um céu azul cheio de paz. Acreditar que após uma noite escura de vigílias, há de nascer um dia lindo, brilhante e promissor. Depois da lágrima chorada na despedida, o regresso há de colorir de sorrisos a saudade. Depois da briga, a reconciliação. Depois do ódio, o perdão. Depois da batalha perdida, uma nova luta. Depois da queda, um novo passo. Depois do barulho, o silêncio. Acreditar num depois faz o homem caminhar. Mesmo cansado, mesmo desiludido. Grande é o homem que não se deixa abater pelas tormentas do dia. Feliz o homem que acredita, mesmo decepcionado. Uns caminham machucando e outros machucados. Em meio a tanta mentira, há os que acreditam. Em meio a tanta covardia, há os que enfrentam as derrotas sem esmorecimento. Depois dos campos queimados, a volta do verde. Nas árvores despidas, a nova folhagem e o matriz das flores. Tudo se renova quando se acredita no caminho, no objetivo e naquilo que se propõe a fazer. O melhor depois, é quando se tem a consciência de um dever cumprido com responsabilidade e amor.

35 anos de Serviço Nacional de Saúde (SNS)

Comemora-se hoje o 35º aniversário da criação do SNS (Serviço Nacional de Saúde). Idealizado pelo socialista António Arnaut, ele representa o mais puro serviço à comunidade dentro duma visão maçónica de que Arnault é um dos seus. (Para quem a contesta aqui fica a prova de que nem tudo é mau).Trata-se de uma estrutura através do qual o Estado Português assegura o direito à saúde a todos os cidadãos de Portugal. A sua criação remonta a 1979, após se terem reunido as condições políticas e sociais provenientes da reestruturação política portuguesa da década de 1970. Para assinalar a data realiza-se, esta segunda feira, em Lisboa, a conferência dos 35 anos do Serviço Nacional de Saúde. Depois de muitos ataques, sob a capa da sua reestruturação e sustentabilidade, o SNS lá vai resistindo, como um marco de Abril, também ele libertador. Antes a saúde era para os ricos, os pobres passavam pela humilhação de pedirem um atestado da sua situação para serem tratados. 35 anos depois tudo mudou, embora pareça que existem alguns que defendem a política do atestado. Parabéns ao SNS e, sobretudo, ao seu idealizador, o Dr. António Arnault.

Monday, September 08, 2014

Equivocos da democracia portuguesa - 232

É curiosa esta estranha maneira que os senhores da governação têm de tratar os seus concidadãos, dando a ideia que estes são uns adolescentes irresponsáveis, de baixa instrução, a quem pode ser vendida toda e qualquer ilusão, que não dão por nada. Esta anomalia da nossa democracia - existem outras - é transversal a várias governações, não sendo por isso, um exclusivo deste executivo. Mas este é que o está em funções e é a este que temos que desmascarar os embustes que vão surgindo. Modos de falar no chamado "discurso redondo" que não clarifica. Apenas confunde e deturpa pelo menos face aos menos preparados. Tudo isto para chamar a atenção da meta prevista do défice para este ano, que a governação ultraliberal tem apontado para os 4%, cumprindo assim os acordos com os credores. Contudo, não há bela sem senão, e os 4% parecem que serão um pouco mais, na casa dos... 10% do PIB!!! Quem o vem revelar é a UTAO - Unidade Técnica de Apoio Orçamental, que diz que andaremos próximo deste número, em contabilidade nacional, ao incluir as medidas extraordinárias com a recapitalização do Novo Banco. A UTAO afirma que "a confirmar-se a classificação do reforço do capital do Novo Banco como uma transferência de capital em contas nacionais, as operações de natureza extraordinária contribuem para agravar o défice em 5,9 pontos percentuais do PIB". A UTAO admite assim que "embora o défice ajustado seja idêntico nos dois orçamentos retificativos, o défice total difere significativamente, sendo revisto de 4% no primeiro orçamento rectificativo para 10% no segundo rectificativo" deste ano. E acrescenta: "Este valor coloca o défice total das administrações públicas ao nível mais elevado dos últimos anos, apesar de o défice ajustado [excluindo as operações extraordinárias] ser, pelo contrário, um dos de menor dimensão em percentagem do PIB, dado o elevado montante das operações extraordinárias". Isto que o governo está a fazer não é algo de anormal apenas não está a esclarecer toda a envolvente, escondendo uma parte da verdade. Esta esperteza saloia duma governação que acha que passa a perna aos incautos tem destas coisas, são logo "apanhados" por um organismo do Estado que muito tem contribuído para o esclarecimento e aprofundamento de matérias de índole orçamental, cujo trabalho se tem revelado tecnicamente isento e de grande qualidade. Como diz o povo, "apanha-se mais depressa um mentiroso do que um coxo". Aqui não se trata duma mentira "lato senso", mas duma verdade que apenas é dita pela metade. E os retificativos aí estão para o esclarecer, embora nem todos os saibam ler. Claro está que uma parte deriva deste último retificativo e prende-se com a subscrição do Novo Banco pelo fundo de Resolução (-2,9% do PIB), a reestruturação financeira da CP (-2,3% do PIB) e da Carris e STCP (-0,7% do PIB). A isto ainda se acrescenta o "write-off" de crédito mal parado do BPN Crédito pela Parvalorem (-0,1% do PIB). Já agora, e apenas a título de esclarecimento, indicamos as cinco medidas anteriores que já vinham de trás com o anterior retificativo, a saber, as indemnizações por rescisão (-0,2% do PIB), as transferências de saúde dos CTT (+0,1% do PIB), os dividendos da EGREP (sem impacto em percentagem do PIB), a concessão dos Portos e Marinas (+0,1% do PIB) e a concessão da Silopor (também sem impacto no PIB). Com esta clareza cristalina, se vê a maneira como é usual dizer-se "com papas e bolos se apanham os tolos". Como se isto não era já, só por si suficiente, a ministra das Finanças admitiu na passada semana na Universidade de Verão do PSD que, afinal, a austeridade não terminará tão rápido quando se dizia e que ainda teremos algum tempo - muito tempo, dizemos nós - pela frente até que tal aconteça. A dívida aí está para nos lembrar o enorme embaraço em que estamos metidos, embora a governação tente sempre desvalorizar o inevitável. (Se analisarmos aquilo que a "troika" definiu para o crescimento da dívida e a realidade, verificamos uma diferença enorme de vários milhões de euros. Esse "gap" deve-se à austeridade excessiva e errada, segundo muitos, - nós incluídos -, que se seguiu. Daí que as palavras desassombradas de Draghi a semana passada nos EUA - e logo repudiadas pela Alemanha - mostrem que a Europa - excluindo a Alemanha - está a fazer o seu ato de contrição. Aqueles que não aceitaram as regras do jogo como a Grã-Bretanha estão a crescer, enquanto a zona euro está estagnada. E isso significa o empobrecimento dos países e das populações, regra a que Portugal não escapará e que já está a sentir na pele desde à algum tempo). E o embaraço é tal que, no mesmo local a ministra das Finanças até acha que se deve agora discutir a questão da dívida no Parlamento! (Talvez já seja um pouco tarde para isso, não acha, Sra. Ministra?) Deste modo a ideia peregrina de Paulo Portas "do fim do protetorado" não é bem assim. Como temos um controlo por parte da "troika" por mais vinte anos, já estamos esclarecidos. A vinda destes senhores - os do "protetorado" - está para breve. E como escrevemos em tempo oportuno, se Portas falava numa espécie de 1640 da economia, deveria saber - e ele sabe - que a independência não aconteceu logo como que por milagre. Foi algo que durou muito tempo e não menos trabalhos. Talvez se Portas esclarecesse isso aos portugueses não fosse mau - ou ele pensa que todos sabem, ou a verdade é inconveniente - e os portugueses agradeceriam a clareza, sinceridade e transparência. Fatores que andam tão arredados da nossa política e que levam à descrença de cada vez mais pessoas naquilo que essa classe - sim, porque são uma classe - lhes diz, ou melhor, não lhes diz. Enquanto os políticos pensarem assim, a democracia é seguramente flagelada, o país empobrecido, as pessoas não motivadas. E não será seguramente assim que poremos fim ao tal "protetorado".

Wednesday, September 03, 2014

As "cruzadas" do Oriente

O mundo está estupefacto com a barbárie que todos os dias nos entre portas adentro. O conflito no Médio Oriente, a criação dum califado de inspiração islâmica radical e a participação crescente de muitos jovens ocidentais nesta demanda, não nos pode deixar tranquilos. Mas analisemos com mais detalhe esta situação. A ideia dum radicalismo islamita é condenável, tal qual o deveria ter sido, há alguns século atrás as "cruzadas". Em nome dum Deus - que deveria representar amor e paz - levou-se a morte bárbara e infame a tanta gente, apenas e só porque acreditavam em Deus duma outra forma. (Sim, porque acho que a crença no Além, em algo superior, é comum ao ser humano, diferindo apenas e só a forma como o fazemos. Daí as diferenças. Daí os conflitos). O assunto das "cruzadas" do passado contra os muçulmanos foi sempre um assunto muito polémico e nunca resolvido à luz da História. Incentivado pelo papado de então, vemos hoje com ironia, esse mesmo papado a apelar à paz. (Lembro aqui uma parte duma oração ordenada por Pio XI a 11 de Dezembro de 1925 que diz assim: "... Sede rei de todos aqueles que estão ainda sepultados nas trevas da idolatria e do islamismo..." Não será seguramente assim que se constrói o diálogo entre civilizações. E isto foi a apenas 89 anos!). Sei que os tempos são outros, mas talvez para esses povos seja ainda - fruto do seu atraso a todos os níveis - a Idade Média de que nos libertamos à muito. Quando ouço alguns "jihadistas" - será que eles sabem o que isso verdadeiramente é? - a falar no Al-andaluz, vêm-me à memória esses equívocos históricos nunca resolvidos. Gente de cariz fascizante - senão mesmo fascista - arrebanha jovens em nome duma causa que eles nem conhecem, apenas contando com o voluntarismo próprio da idade, para irem servir causas tão abjetas. Agora ampliado com o conhecimento que se vai tendo de muitos jovens ocidentais - alguns portugueses ao que se sabe - que se deixam arrastar por causas que nem sequer são as suas. Que os leva a isso? Ao que se sabe alguns deles são até jovens com boa formação académica que de um dia para o outro têm esta "revelação", não divina como julgam, mas assediados por gente sem escrúpulos para quem o valor da vida não existe. Dir-se-á que noutros tempos também os "cruzados" eram oriundos de várias partes da Europa. É verdade. Mas a fé num Deus cristão superior aos outros, talvez uno, levava a que essas gentes tão diversas tivessem uma causa comum. Os islamitas poderão pensar o mesmo. Já dos jovens ocidentais é mais difícil entender. Porque muitos são cultos ao que parece, porque vivem num mundo mais evoluído, não são fruto duma qualquer marginalidade social, estão integrados nas suas comunidades, e tudo isto só por si, é fator para uma enorme interrogação. Afinal o que é isto a que estamos a assistir? Sabe-se que estes radicais estão a ser apoiados por gente do Qatar e da Arábia Saudita. Não quer dizer que sejam os seus governantes, mas é de lá que vem o dinheiro. O mais estranho é que esses países tanto contacto buscam com o Ocidente, apesar do dinheiro do petróleo ou talvez por isso, o que parece ser uma terrível contradição. O Qatar é um bom exemplo disso mesmo, duma abertura ao Ocidente até para a realização de eventos desportivos. Face a isto, o Ocidente tem que estar cada vez mais atento. A intervenção americana no Iraque abriu uma espécie de "caixa de Pandora" que agora se tornou incontrolável. Saddam era um ditador, mas foi um produto do ocidente. Khadaffi era um ditador mas também era um produto do ocidente. Ainda me recordo de ele afirmar que era necessário que ele se mantivesse no poder, caso contrário a Europa ir-se-ia arrepender. (Se já se veio a arrepender ou não, nunca o saberemos, porque estas coisas não se dizem em público mesmo que se sintam). al-Assad na Síria é outro produto do ocidente. Parece que o Ocidente não percebeu que ao engendrar estas personagens que a geopolítica impunha estava a criar os seus próprios monstros, as suas assombrações, os seus próprios Frankenstein's que deixaram de poder controlar. Daí ao reviver das "cruzadas" foi um instante. A "Primavera árabe" trazia no seu seio o ardor do demónio, para o qual o mundo está agora a despertar. O bárbaro assassinato de dois jornalistas americanos foi uma monstruosidade, mas parece que só assim, o Ocidente e, sobretudo, os EUA acordassem do seu torpor. Que ele, refiro-me ao primeiro, tenha sido feito por um ocidental é algo que nos deve levar a refletir. Em nome da democracia não deve ser tudo permitido, caso contrário, estamos a criar condições para a sua destruição. A falta de controle dos "curriculum" escolares nas escolas árabes do ocidente, em nome duma certa liberdade religiosa, deu nisto. E a democracia não pode deixar que se gere no seu seio condições para a sua destruição, invocando o tema da liberdade. De que nos serve a liberdade se não existir democracia? Este absurdo paradoxo parece que ainda não colheu no seu seio a devida nota. Como é costume dizer-se, a História repete-se, mas nunca da mesma maneira e, seguramente, não com os mesmos protagonistas. Mas repete-se e aí está a resposta. Curiosamente, já Nostradamus tinha falado nesta situação. Mesmo para aqueles que não gostam destas coisas do hermetismo, seria bom darem uma boa leitura sobre este tema. Talvez fiquem surpreendidos. Não sei se isso se prende com adivinhação, mas seguramente prende-se com o ciclo repetitivo da História que ao que parece Nostradamus bem conhecia. (Já agora, e no mesmo sentido, a Bíblia no seu Livro do Apocalipse ou da Revelação). O Ocidente impôs o estado de Israel no fim da II Guerra Mundial. O Oriente está a impor um califado no século XXI. No fundo os terroristas de hoje são os parceiros políticos amanhã. A História está cheia destes exemplos. (Ela - a História - é sempre escrita pelos vencedores, não nos esqueçamos disso). O que ainda ninguém foi capaz de fazer foi o diálogo civilizacional que se impõe. É urgente fazê-lo. No fundo somos tão diferentes e definitivamente tão iguais. O que é preciso é que olhemos uns para os outros sem reservas e de coração aberto. Percebamos os pontos de vista duns e de outros sem que queiramos impor o nosso como o inevitavelmente mais correto. Até que isso aconteça os homens matam-se uns aos outros, naquilo que julgam ser o louvor ao seu Deus, - seja lá Ele qual for -, semeando o caos, o horror e o ódio que vai dividindo o mundo, nesta caminhada de demanda de poder, de aniquilação do outro, de saque de riquezas alheias, que nos está a conduzir à autodestruição.

Miguel Reis: "Separação do BES pode ser uma grande vigarice"

O advogado Miguel Reis, que integrará a equipa que irá defender os pequenos acionistas do BES, é contundente na análise que faz ao colapso daquela instituição financeira. Em entrevista publicada na edição desta segunda-feira do jornal i, Miguel Reis alerta para “a grande vigarice” de que a divisão entre banco bom e banco mau poderá revestir-se. A separação do BES "envolve várias ficções e uma enorme mentira. Mais do que uma mentira, é provavelmente uma grande vigarice”. As acusações são feitas pelo advogado Miguel Reis, cujo escritório participará no consórcio que está a ser formado para defender judicialmente os pequenos acionistas do BES, que tudo perderam.Isto porque, sustenta, “é impossível fazer uma cisão em 24 horas”, à imagem do que sucedeu com o banco que era presidido por Ricardo Salgado”. Em entrevista ao i, o antigo jornalista considera que “é inaceitável que o processo de liquidação do BES seja feito à custa dos que investiram de boa-fé”, realçando que “todo este processo peca por uma enorme falta de transparência e uma grande opacidade”. Ao mesmo tempo, destaca, “é inaceitável que o Novo Banco se tenha apropriado da escrita do BES e de todos os seus dados”. E, além de imputar os responsáveis diretos pela crise que culminou no desmantelamento do BES, Miguel Reis não isenta o Presidente da República de ‘culpas no cartório’. “Houve clientes que foram convencidos a investir no BES por causa das declarações de Cavaco”, faz sobressair. Já no que à estratégia para defender os lesados com a crise do BES diz respeito, Miguel Reis adianta que a mesma passará pelo Tribunal de Justiça Europeu, avançando também que é sua intenção interpor várias queixas-crime coletivas. O "Notícias ao Minuto" coloca o dedo na ferida duma das dúvidas mais gigantescas que tem assolado os portugueses, mesmo aqueles que estão por dentro dos processos da alta finança. Este é, definitivamente, um país de equívocos.

Tuesday, September 02, 2014

Equivocos da democracia portuguesa - 342

Nem neste defeso que foi o período de férias, - ou talvez por isso -, não deixamos de assistir a momentos verdadeiramente equívocos da democracia portuguesa. Um deles, - e talvez por ser o mais dramático para as pessoas aqui o trazemos -, é o desemprego. Não deixou de ser interessante o enorme foguetório que a maioria e o governo fizeram em torno da redução deste número. Número equívoco que carece de mais detalhada análise. Não deixa de ser estranho que o governo se regozije com aquilo que dizem ser a maior variação homóloga negativa do rácio. É verdade, mas para quem tem um milhão de desempregados (!) não deixa de parecer ridículo. Muitos sem qualquer apoio social porque dele foram excluídos como se se tratassem de marginais. Que afinal não procuraram essa situação, mas foram apenas e só, vítimas dela. E ainda é mais estranho tal algazarra quando somos um dos países com enorme desemprego na Europa. Longe ainda duma situação equilibrada quando olhada por qualquer ângulo, mesmo o duma economia de mercado. Qualquer economista sabe que assim não se vai lá e ainda existe um longo caminho de pedras a fazer, caminho esse atapetado com pedras bem pontiagudas. Entretanto, Mario Draghi veio a terreiro e agitou as águas. Depois vimos a ministra das Finanças a fazer de comentadora das palavras de Mario Draghi sobre a situação europeia. O ministro das Finanças alemão apareceu logo a dizer que se estavam a interpretar mal as palavras de Draghi. Porque elas causaram incómodo por nunca se tinha ido tão longe na análise da situação europeia como Draghi foi, colocando o dedo na ferida na austeridade excessiva que, muitos e desde à imenso tempo, vêm denunciando. Apelando a um aumento da procura interna como fenómeno redutor desta situação embrulhada em que a Europa se vê envolvida e não consegue sair mesmo que os políticos digam o contrário. De tudo isto, em muitos momentos da vida tal como na economia, as más opções podem levar a um perfilar de outros situações bem mais preocupantes. E isso está a acontecer na Europa, logo em Portugal também. Trata-se do fenómeno da deflação. Já por diversas vezes, e ao longo de mais de dois anos, que vimos alertando para esta situação. O caminho seguido para isso conduzia, e agora ela aí está. Este fenómeno de abaixamento dos preços é muito grave, porque a dívida de quem a tem, é automaticamente ampliada, o investimento desaparece, podendo até vir a potenciar um novo ciclo de desemprego ainda mais devastador do que aquele por que estamos a passar. Em França, (só para dar um exemplo duma grande economia europeia), a economia cresceu 0,3%! Em Portugal a situação ainda é bem pior. Não percebemos porque é que não se fala disto às populações. Que os políticos não o façam até compreendemos, que os economistas ou jornalistas económicos se mantenham calados é mais grave e até preocupante. O meter a cabeça na areia nunca foi uma boa estratégia fosse para aquilo que fosse, e neste assunto também não o é. Porque ignorando o caso, ou ocultando-o, ele aí está e pode ter consequências bem devastadoras que poderão irromper nos próximos anos. E deste equívoco foguetório vem que carece de pouca motivação, e que temos que, rapidamente, ir apanhar as canas.

Monday, September 01, 2014

Comemoração da abertura da fronteira polaca durante a II Guerra Mundial

Hoje celebra-se a abertura da fronteira da Polónia durante a II Guerra Mundial. Neste dia - 1 de Setembro de 1939 - as tropas nazis invadiram a Polónia. Um facto histórico e dramático. Porque tudo aquilo que a II Guerra Mundial produziu foi horripilante, com o seu cortejo de ignomínia, assassinatos, deportações, destruição de famílias. Não esqueçamos que foi na capital deste país, Varsóvia, que se desenrolou um dos fenómenos mais trágicos desse conflito, que passou à História com o nome do "gueto de Varsóvia". Gente que foi isolada, condenada a uma morte lenta e aviltante, durante o holocausto, perpetrada pelos senhores da guerra de então, como tantos outros senhores da guerra hoje tentam imitar. O levantamento foi um acto de heroísmo por quem já nada tinha a perder e que se transformou num dos maiores momentos mais cruéis e sanguinários do conflito. E já agora que falamos da Polónia e do "gueto de Varsóvia" aconselho aos interessados a verem ou reverem um grande filme de Roman Polanski - ele também de origem polaca - que relata esse momento inacreditável da história da Humanidade. O filme tem por título "O Pianista". A nota aqui fica para que momentos destes não se voltem a repetir numa altura em que velhos fantasmas hegemónicos aparecem no horizonte a ensombrar esta Europa em crise, como é o caso da situação na Ucrânia. Novos tempos, velhas questões, sempre as mesmas atitudes que arrastam as populações para conflitos de que elas próprias são as maiores vítimas.