Turma Formadores Certform 66

Saturday, February 27, 2010

A crise financeira e a recessão - XV

Temos vindo a assistir a uma espécie de refluxo da crise económica e financeira. Este fenómeno está a ocorrer um pouco por todo o mundo, nomeadamente, o mundo de economia de mercado, acrescido por alguns indicadores preocupantes. Desde logo, o efeito dos bancos que parece que não aprenderam com a crise que provocaram no passado recente e insistem em operações, em tudo semelhantes, aquelas que conduziram a este estado de coisas. Depois a confiança dos empresários e dos consumidores que tem vindo a decrescer relativamente ao trimestre passado, facto a que Portugal não escapa como indiciam os últimos indicadores publicados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). No caso português, como se isto não bastasse, ainda tivemos esta semana as infelizes declarações de Manuela Ferreira Leite, associando, ela também, a economia portuguesa à grega. Depois do repúdio que as declarações do comissário Almúnia provocaram dos governos português e espanhol, e no nosso caso, de todos os partidos representados na Assembleia da República, - entre eles o PSD a quem MFL pertence -, vem a senhora fazer o mesmo, num acto de baixa política, para não dizer de falta de patriotismo. A diferença entre as suas declarações e as de Almúnia, é que este, até pelo lugar que ocupa, tem muita visibilidade e é escutado por muitos, e as suas declarações podem provocar efeitos demolidores, como se viu recentemente no caos que causou em Portugal e Espanha, enquanto a líder do PSD não tem esse efeito porque não é escutada por ninguém, nem pelos seus pares, que estão mortos por a porém a andar pela porta fora. Mas voltemos ao essencial que é este refluxo que é visível para os economistas em geral, embora ainda não muito perceptível para o público em geral. Aqui retomo um tema que neste espaço, - mais concretamente no mês passado, - me referi, a saber, que poderemos estar numa crise de contornos novos - e estamos seguramente - com um possível efeito em M, isto é, veio uma primeira vaga, depois as coisas parecem estar a entrar na normalidade, e de seguida vem uma nova vaga que poderá até ser mais devastadora do que a anterior. A acontecer seria a primeira vez que se verificava, mas existem muitos economistas que defendem esta tese, e convenhamos que, aquilo que temos assistido recentemente não indicia algo de muito diferente. Diria que estaríamos perante uma espécie de "apocalipse económico-financeiro". Veremos o que vem por aí, mas como disse à dias o economista húngaro George Soros, a primeira perda evidente de tudo isto seria para o euro, que poderia estar debaixo dum forte impacto que levasse ao seu fim, com as terríveis consequências que daí adviriam, desde logo, o efeito desagregador que, seguramente, teria na União Europeia (UE). Como sabemos, Jean Monet, o ideólogo da UE afirmou, e bem, que a criação da moeda única seria o último e derradeiro passo para uma integração efectiva, logo, é fácil compreender as consequências que adviriam da extinção do euro. É sabido que Soros é, por vezes, demasiado controverso, mas tenho seguido de perto o seu pensamento, e acho que ele pode ter razão, embora neste caso, gostasse que não fosse assim. O futuro o dirá, o mês de Agosto será determinante para termos uma perspectiva melhor após a publicação dos dados da economia americana que, queiramos ou não, ainda é o motor de tudo isto, e a sua influência é muita sobre a economia europeia. Basta ver a pressão que o dólar tem feito sobre o euro. Mais adiante, saberemos melhor os caminhos que todos nós, Portugal incluído, teremos que trilhar no futuro próximo.

Wednesday, February 24, 2010

Madeira - A traição da terra e da água

Assistimos ao impensável, a tremenda destruição da Madeira. A "pérola do Atlântico" como era conhecida, está agora quase irreconhecível. As imagens que a televisão nos trás até casa são de tal modo, que não nos podem deixar indiferentes. Alberto João Jardim, o tal que ia mascarado de Vasco da Gama, à alguns dias, para ver se encontrava o Portugal perdido, teve que abdicar do seu habitual orgulho e má educação e pedir ajuda a todos. As autoridades portuguesas, desde logo o governo, que tão vilipendiado tem sido por Alberto João, teve uma resposta rápida e eficaz, que o deve ter surpreendido. Afinal foi o Continente que tão insultado tem sido pelo truculento líder madeirense, é que o tem ajudado e de quem ele precisa como de pão para a boca. E a situação foi tão surpreendente para ele que, numa entrevista a Judite Sousa no Palácio do Governo, teve que agradecer ao governo e a Sócrates todo o empenho posto no socorro. Agora precisa do dinheiro que tem esbanjado em obras de fachada, que a ninguém serve, algumas das quais mal dimensionadas, - segundo alguns especialista - e que conduziram, ou melhor, agravaram esta tragédia. Um jornalista dizia que "este pode ser o aviso daquilo que Portugal precisa", isto é, uma "conjugação de esforços para ultrapassar os graves problemas que Portugal tem pela frente". Mas estou convencido de que quando o pior tiver passado Alberto João esquecer-se-à rapidamente daquilo que fizeram pela ilha e voltará à mesma política de sempre, ao conflito permanente com tudo e com todos. O PS anunciou a retirada da agenda política do envio da lei das finanças regionais para o Tribunal Constitucional, num gesto digno e responsável, que Alberto João também fez questão de saudar. A UE também já prometeu a sua ajuda. No fundo, e sem querer ser cínico, esta tragédia veio de certo modo resolver um problema financeiro complicado que a Madeira tinha que enfrentar. Afinal, a união política de todas as forças para derrubar Sócrates que tanto foi clamada por Alberto João, veio a ser precisa para salvar a sua própria terra. Ironias da História... Agora à que meter mãos à obra e reconstruir tudo aquilo que desapareceu, mas com método e sem as trapalhadas habituais naquelas bandas. Mas ainda mais curioso é que quando as populações encontram mais e mais cadáveres o número é sempre o mesmo!!! Mas mais curioso ainda é que até, ao que parece pelas últimas notícias, até diminuiu!!! Será que estamos perante casos de ressurreição? Alberto João, ao querer proteger a imagem da ilha no exterior, arriscasse a cair no ridículo e na incredulidade, será que ainda não percebeu que com os meios de comunicação social no terreno, isso até se pode virar contra ele?

Monday, February 22, 2010

Tempo de reflexão - Intermezzo

Por vezes os tempos mudam, aquilo que julgava-mos impensável e que só acontecia aos outros, acaba por nos bater à porta duma forma violenta. Porque perdemos seres que nos são queridos - mesmo que sejam animais que valem mais que muitos humanos, - quer porque a incompreensão dos homens se revela quando não a esperamos, quando a intolerância vem daqueles de que menos esperaríamos que viesse, numa descrença na vida que nos vai corroendo até aos ossos, quando pensamos que já não à amanhã. Por vezes, as palavras mais pungentes não dão a dimensão do que sentimos, por vezes, as ideias que temos, boas ou más, não dão a imagem do drama que vivemos. Muitas vezes passamos ao lado de alguém que tanto precisa dessa nossa ajuda, mas nós nem o vemos, sobretudo se estamos felizes e pensamos que o Universo está a nosso favor e que nunca desceremos a escada da vida. Dos menos afortunados, há os crentes e os não crentes, para os primeiros ainda há a esperança da redenção num Deus em que crêem de todo o coração e em quem confiam como num pai, para os não crentes há o vazio, o nada absoluto, a não-matéria cósmica, no final o próprio cosmos, que contemplamos como a um Deus, - para aqueles que não aceitam outro, - como diria Carl Sagan. Por vezes reconhecemos os nossos passos mal-andados e tentamos recomeçar de novo naquilo que pensamos ser o rumo certo. Outros, não sabem que caminho escolher, mesmo aquele que trilham aparentemente sem sucesso, nem sequer sabem se mais à frente desembocam numa estrada larga e soalheira se num beco escuro e sem saída. Por vezes tentamos descobrir e realizar aquilo que essa entidade suprema a que alguns chamam Deus espera de nós, utilizando os meios mais próximos para a sua realização, como a família, a igreja, o mundo, os que nos rodeiam. Outros estão no vazio, o vazio interior, mesmo que rodeados por multidões, mas mesmo assim, o vazio, o nada absoluto. Por vezes tentamos servir de coração aberto e generoso todas as causas e iniciativas por um mundo melhor no âmbito da justiça, da cultura, da convivência pacífica e fraternal. Outros já não conseguem abraçar causas, por que ninguém abraçou as suas - por vezes liminares - ou já não conseguem acreditar na redenção dum mundo e do ser que, todos os dias, tem um prazer sádico em se auto-destruir. Por vezes caminhamos conscientes na vida, sabendo que não somos donos absolutos do nosso tempo, dos nossos talentos e dos nossos bens. Outros, por seu turno, podem ou não caminhar conscientes na vida, mas rejeitam o seu tempo que não os aceitou ou compreendeu, sabendo que aquilo que fizeram foi ignorado e será seguramente esquecido, e que nem sequer bens têm para lhes dar a sensação de sentido de posse e com isso auto-estima. Os primeiros podem ter a noção de que são simples administradores daquilo que a vida lhe dá e tentam não perder de vista o seu bem e o bem de todos. Os segundos, não se sentem administradores de coisa nenhuma, mas sim, humildes servidores que nada têm para repartir, ignorados pelos restantes. Para os primeiros o encontro com o seu Deus, escutando a sua palavra de coração aberto, tentam encontrar a luz e a força de que precisam. Para os outros, apenas resta o niilismo, de coração vazio, trilhando a estrada escura onde sentem, a cada passo, o medo do passo seguinte e apenas cansaço em vez de força. O cansaço de quem já não tem forças para continuar. Os primeiros reúnem-se com os seus pares da comunidade para alimentar a fé e a crença no futuro num mundo melhor e mais próspero, aquele em que seguramente habitam. Os segundos, já não têm vontade de se reunirem com ninguém, nem ninguém está interessado em se reunir com eles. Os primeiros acreditam que o amanhã será melhor, os segundos acham que não à amanhã. Os primeiros ainda acreditam no mistério da vida, os segundos apenas no seu contrário. Um célebre filósofo e sociólogo francês, Émile Durkheim, no seu livro "O Suicídio" dizia que este, o suicídio, era o acto supremo, o auto filosófico por excelência. Para muitos será a saída possível, face à não-saída que a vida lhes proporciona, para outros não passará duma tontaria, porque a vida lhes deu tudo e, por enquanto, nada lhes retirou. Enfim, toda a medalha tem o seu reverso, o problema é quando se está do lado errado da face. Porque quem está do lado certo, nada tem a recear. Estamos em tempo de Quaresma, em tempo de intervalo (intermezzo), em tempo de reflexão. Possamos escolher o lado certo da vida - certo para o comum dos mortais - porque a diferença é castradora, redutora e estigmatizante, só sendo celebrada após a morte. Mas que este seja um tempo de reflexão e não de morte - que também pode significar ressurreição - , um tempo de busca e (re)encontro.

Friday, February 19, 2010

O adeus à nossa querida Mimi

Hoje é um dia particularmente triste para nós. Ontem, cerca das 20,00 horas, morreu uma das nossas cadelinhas queridas a Mimi. A Mimi era uma cadelinha que nasceu num autêntico buraco, filha duma cadela vadia. Era a mais pequena de todas e aquela que nunca comia, porque os seus muitos irmãos e irmãs comiam-lhe tudo dada a muita fome que passavam. Talvez porque tenha sido a última da ninhada, a Mimi era muito débil e fraca. Ía-mos dar-lhes de comer, e começamos a ter uma ternura muito especial pela Mimi. Os outros foram sendo levados - esperamos que tenham tido boa sorte, assim como a mãe - e nós ficamos com a Mimi. Inicialmente em casa dos meus sogros, até que à cerca de dois anos ela teve um AVC que a deixou num estado horrível, nem pensávamos que tal pudesse acontecer a um animal. Isto aconteceu de madrugada e de imediato foi de urgência para uma clínica. Ao fim de alguns dias, lá foi recuperando, acabando por vir para a nossa casa para a necessária recuperação. Nós lá lhe fomos fazendo a fisioterapia recomendada e a valente Mimi, - uma verdadeira sobrevivente - recuperou. Embora ficando com algumas sequelas que são inerentes a estes problemas de saúde, tal como nos humanos, para quem não soubesse, ela era uma cadelinha normal. Como temos outros cães em casa, estes não só a receberam muito bem, apercebendo-se da sua saúde frágil - que grande exemplo para muitos humanos - como rapidamente a integraram e, a partir daí a nossa Mimi lá foi vivendo em harmonia com os restantes, em plena brincadeira com as mais pequenas que temos, tal como ela era uma cadelinha pequena. E ainda sobreviveu mais dois anos. Mas, para além da doença, a idade ia fazendo o seu percurso, e a Mimi hoje com quatorze anos, era aquilo que se pode chamar um animal velho. Apesar disso, só estava bem onde eu estivesse, bem junto de mim, e todas as manhãs, era ver a felicidade e as brincadeiras que fazia quando me via. Quando eu saía, ficava a chorar até que eu voltasse. Era inacreditável, nem existem palavras para descrever o que ela fazia, o amor que me dava e que eu lhe retribuía. Depois de ir começando a emagrecer rapidamente, embora comesse imenso, a Mimi foi-se debilitando, e praticamente só ontem, o dia da sua morte é que começou a recusar a comida e a água, que bebia sempre em grandes quantidades. Ainda ontem à tarde, desceu as escadas sozinha para ir ao quintal, onde tantas vezes brincou, como se se quisesse despedir do espaço onde foi tão feliz. Ao início da noite, na nossa presença, a Mimi despediu-se de nós, com muita calma e serenidade. Esperemos que lá onde estiver esteja muito feliz por saber que deixou cá quem muito a amou e tanto gostou dela até ao seu último sopro de vida. Esperemos que lá onde estiver, esteja num lugar de luz, de alegria, de felicidade e amor, tanto quanto aquele que, dentro das nossas possibilidades, lhe pudemos proporcionar. Mimi lá onde estiveres saberás sempre que foste muito amada e que nos deixas muitas saudades. Descansa em paz. P.S.: A foto que aqui publico foi tirada cerca de vinte e quatro horas antes da sua morte e foi a sua última foto. Ficará como um legado de memória.

Thursday, February 18, 2010

Equivocos da democracia portuguesa - 45

Aqui fica uma bofetada de luva branca para todos aqueles que fizeram de Vitor Constâncio a panaceia de todos os males, onde tudo era culpa sua, tendo sido apelidado de incompetente na própria comissão parlamentar de inquérito ao caso BPN. Nunca nos esqueceremos dessa famosa comissão, onde o principal responsável do BPN, Oliveira e Costa, se divertia com chalaças, quando afirmava que a banca não gosta de pagar imposto, e outras barbaridades que tais, perante o sorriso deleitado, para não dizer cúmplice, dos vários deputados presentes. Isto não significa que não tenhamos críticas a fazer a Vitor Constâncio, - ele próprio admitiu que aligeirou em algumas coisas, - mas daí a responsabilizá-lo por tudo o que aconteceu, quer no BPN, como no BPP, como no Mileniuum BCP, é um pouco demais. O seu único crime era ser político e socialista. Mas isso não chega para apagar a imagem de ninguém, e bem andou Silva Lopes, distinto economista afecto ao PSD, que lhe teceu rasgados elogios. Como já em tempo afirmamos neste espaço,Vitor Constâncio teve um papel muito relevante nos anos 80, quando Portugal sofreu a intervenção do FMI, sendo ele então, ministro das finanças. O trabalho que desenvolveu, associado à sua juventude, granjeou-lhe imensos elogios, alguns dos quais, ironicamente, vieram do interior do próprio FMI, na maneira corajosa e desnudada com que defendeu os interesses de Portugal. Entre nós a diferença do "bestial" ao "besta" tem a espessura do fio de navalha, todos o sabemos, é a nossa veia latina e irreverente. Mas muitos do que o criticaram e que ainda hoje o criticam, estão longe da sua capacidade e saber. É fácil dizer que ele falhou na supervisão, estamos de acordo de que nem tudo correu bem, mas só quem não sabe a dificuldade que isso tem, perante alguns truques que a banca usa, é que pode ficar agarrado a essa visão redutora. Mas quem tem qualidade têm-na sempre, e não são meia dúzia de políticos de circunstância que a vão por em causa. E se dúvidas houvesse, elas cairiam por terra com a nomeação, esta semana, de Vitor Constâncio para o cargo de vice-presidente do BCE. É a primeira vez que tal cargo é confiado a um português, o que, desde logo, dá bem a ideia da capacidade e prestígio internacional do próprio. Claro que continuarão a chover algumas críticas, mais de incómodo do que outra coisa, porque não é fácil engolir certos sapos que, pela sua dimensão, são bem indigestos. Vitor Constâncio vem juntar-se assim, a uma senda de grandes nomes portugueses a ocupar posições de relevo na UE, como são os casos do presidente da comissão europeia, Durão Barroso, e mais recentemente, a nomeação do embaixador da UE para os EUA, que recaiu sobre João Vale de Almeida. Isto mostra que o governo português está atento, que a diplomacia portuguesa está a fazer um excelente trabalho, mas sobretudo, que Portugal tem nas suas gentes homens com valor reconhecido internacionalmente, mesmo quando alguns pigmeus com ares de gigantes, os pretendem abater. A qualidade, mais cedo ou mais tarde, acaba sempre por se opor à mediocridade, e este é bem um exemplo disso mesmo.

Monday, February 15, 2010

Carnaval - Ninguém leva a mal?

Estamos em plena época carnavalesca onde, segundo a tradição, ninguém leva a mal. Mas o problema é mais profundo. Sabemos bem que os portugueses são ávidos de festas e feriados, talvez por isso, estamos em permanente Carnaval à já algum tempo, neste circo político e mediático que vivemos diariamente. Parece que Portugal não está a enfrentar uma terrível crise, parece que não existe desemprego entre nós, parece que todos os dias abrem empresas e nenhuma fecha, parece enfim, uma imensa sala de espelhos onde se visualiza uma realidade cada vez mais virtual. Mas então, não vêem que é Carnaval? Depois à corsos onde a justiça até funciona, onde a polícia consegue controlar o crime, onde a imprensa informa correctamente os cidadãos, onde os políticos governam, onde existe um Portugal ideal sem crise, palavra que nem sequer vislumbramos o seu significado. Mas estão admirados, não vêem que é Carnaval? No meio de tanta animação, os foguetes ribombam no ar, e no meio de tanta música, tanta serpentina e tanto confetti, aparecem uns figurantes que dizem que se apresente uma moção de censura ao governo. Tal provoca muita risada da populaça, porque como todos sabemos, ninguém atacou o governo, ninguém pôs em causa a honorabilidade da imagem e da honra do primeiro-ministro, por isso, a animação ainda é mais evidente. Mas por quê tanto espanto, não vêem que estamos no Carnaval? Depois aparecem uns senhores que dizem ser jornalistas com umas máquinas de filmar feitas de cartão, de lápis apontado aos seus blocos de notas e telemóvel em punho para notícia célere. E aqui é que ficamos um pouco confusos. É que apesar da temperatura não ser a mais apropriada, vemos alguns semi-nus, como se estivessem no Rio de Janeiro, a dizer que vêem assim, para por a nú algumas coisas, embora não ousem o nú integral, como no Brasil, por pudor dizem, ou talvez porque não possam mostrar as suas reais motivações, e outros que vêem com umas máscaras sumptuosas, semelhantes às de Veneza, dizem que vestem assim, para ocultar a sua verdadeira identidade e, talvez, as suas verdadeiras intenções. E lá vai o corso animado e folião e a populaça lá fica feliz a saltar e a dançar porque no fundo, estamos no Carnaval. E como diz o povo, no Carnaval ninguém leva a mal.

Sunday, February 14, 2010

Equivocos da democracia portuguesa - 44


E o circo continua... Agora, as tentativas de enlamear os governantes, - logo, a causa pública -, passou também para os jornalistas, como afirmamos em anterior crónica. E que alianças estranhas se estão a verificar... Só para quem não anda atento ou não está muito dentro destas situações é que tem escapado tal descaramento. Uns por frustração, outros por mau perder, outros sabe-se lá bem porquê... O enlamear figuras públicas é uma prática muito latina, com expressão máxima em Portugal e Espanha, Itália e por vezes, em França. Nós que também tivemos alguma visibilidade pública, a nível profissional, noutros tempos, também sentimos na pele o que é sofrer injustamente com a perseguição da comunicação social que, em muitos casos, inventa, trunca afirmações, etc., com vista a tornar verdadeira uma mentira, servindo os seus fins inconfessáveis. Ainda falam de censura, isto a que estamos a assistir é a um triste espectáculo de informação dirigida como acontecia no Estado Novo, - só que desta vez contra o governo e, sobretudo, Sócrates - e duma maneira mais evidente e brutal, como o foi na Itália de Mussolini ou na Alemanha de Hitler. Somos defensores da liberdade de expressão, mas somos defensores da liberdade de expressão responsável. A comunicação social ergueu-se a um pilar do Estado, duma forma despudorada, onde atacam tudo e todos, consoante as conveniências, sem olhar a meios, e quando são questionados ou enfrentados, apelam logo à falta de liberdade de expressão. Esta liberdade de expressão não é aquela que queremos, porque não serve a democracia, mas sim, a corrói até ao tutano. Numa altura em que se está a comemorar o centenário da República, seria bom reflectir sobre isto, e analisar a imprensa da época e a forma como ela contribuiu para o instaurar da ditadura. Será que é isso que pretendem? Achamos que deve haver liberdade de expressão, mas com limites, - os limites da responsabilidade -, e não esta que temos do vale tudo. Quantos jornalistas foram condenados em tribunal entre nós nos últimos anos? É que até a justiça parece ter medo de os enfrentar. Justiça que também tem sido um pilar bem pouco sólido da nossa democracia. Para além da falta de meios, - que os há -, para além de leis nem sempre boas, - que existem -, há também um deixar correr. Como dizia recentemente o Bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto, "acabem-se com os tribunais, afinal os julgamentos são feitos na praça pública e nos "media" diariamente". E parece que cada vez mais ele tem razão, por isso é incómodo, porque não tem medo de falar. No fundo, como já o dissemos noutra altura, os problemas que estamos a assistir no nosso país é, sobretudo, fruto do questionar sobre o governo - este e o anterior -, fizeram a algumas corporações, que até agora ditavam as leis neste país. Só por essa coragem de enfrentar as corporações, Sócrates merece a nossa admiração, apesar das divergências que temos sobre outras matérias. Mas estamos convictos que só daqui a alguns anos será possível avaliar o contributo importante que ele deu a esta país, e talvez nessa altura, se reponha alguma verdade que anda por aí travestida, se calhar por influências do Carnaval.

Friday, February 12, 2010

Equivocos da democracia portuguesa - 43

As últimas semanas têm sido férteis em acontecimentos, e esta, que ora termina também não deixa de o ser, e logo pelas piores razões. Desde logo, pelo alarde feito por Paulo Rangel em Bruxelas sobre a falta de liberdade de expressão em Portugal. Foi algo que muito humilhou o nosso país, logo num momento em que, por outras razões, o nosso país está sobre observação internacional, como é do conhecimento geral. Mas a afirmação tinha tanto de despropositado como de misterioso, tendo criado um certo desconforto mesmo nas hostes do PSD. A razão disto veio a lume um pouco mais tarde, é que Paulo Rangel, se preparava para anunciar a sua candidatura à liderança do PSD. E para estes políticos tudo vale, nem que seja afundar num atoleiro o nome do seu próprio país. Esperamos que os militantes do seu partido lhe dêem a resposta que ele merece. Ele que tanto atacou os outros candidatos, como foi o caso do Prof. Vital Moreira, dizendo que este não iria cumprir o seu mandato até ao fim, e ele só tinha o pensamento em Bruxelas. Que baixeza, e ainda têm coragem de chamar mentiroso ao primeiro-ministro. Mas como se isto já não fosse suficientemente grave para a imagem de Portugal, começou a verificar-se nos meios de comunicação a criação dum facto político, eles - os jornalistas - que tão bem sabem como fazê-lo, em torno, mais uma vez da falta de liberdade de expressão em Portugal. A bandeira desta vez, foi o semanário Sol, que publicou uma alegadas escutas que deveriam ser do foro privado, conforme a determinação dos tribunais. Mas aos tribunais e à justiça ninguém liga - ou melhor dizendo - os poderosos destes país nem lhe "passam cartão". E assim, depois dum rocambolesco episódio para a entrega duma providência cautelar, o jornal lá foi para as bancas com a manchete de "O Polvo". O argumento foi que não receberam qualquer providência cautelar a tempo, depois daquilo que as televisões tinham mostrado no dia anterior. Analisamos esta questão. Se a providência cautelar fosse dirigida a qualquer de nós - cidadão comum - e se por qualquer motivo tivéssemos entrado no jogo ignóbil que vimos ontem, já tínhamos à porta, em casa ou noutro sítio qualquer, um batalhão de polícias, normalmente fortemente armados e, se possível, encapuçados para dar um ar mais dramático - e sempre fica bem na televisão - mas se por acaso, ainda assim, tivéssemos publicado o que quer que fosse, arriscaríamos a prisão imediata, a apresentação a um juíz que decerto não aplicaria o termo de "identidade e residência" mas sim a "prisão preventiva", dado o perigo que esse cidadão representaria para a comunidade. Esta é a justiça que condenamos, esta é a justiça que não queremos em Portugal e que a todos envergonha. Ontem, aproveitaram as cenas rocambolescas da providência cautelar, e entrevistaram o presidente do sindicato dos magistrados do ministério público. Ele que é sempre tão firme quando se trata de atacar terceiros, - leia-se o governo, - acabou por dizer, por trás dum sorriso cúmplice, que as leis são para se cumprir. Estas pessoas que se encostam aos sindicatos para nada fazer e viver à custa deles - e sabemos bem do que falamos, porque já negociamos com vários - terão que ter a consciência de que têm contribuído e muito, para a degradação da justiça. Como um conhecido sociólogo - António Barreto - afirmava à dias na rádio, "o sindicato dos professores tem ajudado a criar uma imagem negativa dos professores, sendo um motor de degradação dos professores, da escola, em suma, do ensino". Já por várias vezes afirmamos neste espaço que, somos claramente contra os sindicatos em alguns tipos de classes profissionais, como a polícia, forças armadas, justiça, bombeiros. Não pensem que somos contra os sindicatos "in liminé", não se trata disso, mas existem corporações onde o trabalho que desempenham é mais nefasto do que benéfico. Esta é a imagem triste que Portugal está a dar ao mundo, e à Europa, à qual pertence. Há assuntos que, como nas famílias, devem ser dirimidos entre portas e não na praça pública. Quando se ataca um governo e um primeiro-ministro despudoradamente como tem acontecido com Sócrates, sem que até à data nada tenha sido provado, é um suicídio, desde logo para o país que devia estar concentrado na resolução dos seus graves problemas e atrair sobre si as atenções do mundo por outros motivos mais convenientes. Temos dificuldade em perceber que, um único homem, tenha concentrado em si, em determinado momento, todo o mal do mundo. O que está a acontecer é que aqueles que, apesar do que têm feito contra ele, não o conseguiram derrubar, o povo volto a confiar nele, e agora querem tentar ganhar fora da refrega eleitoral aquilo que não o conseguiram em eleições livres e democráticas. Ontem vimos Mário Crespo, na apresentação do seu último livro de crónicas, de braço dado com Manuela Moura Guedes. Que amigos que eles são!!! Quem os viu e quem os vê... Será que o Sol até tem razão quando fala do polvo. O que falta é pôr os nomes aos tentáculos, e pelo que vemos, até nem é difícil, embora possa não ser conveniente.

Thursday, February 11, 2010

Nelson Mandela - Um Homem de perdão


Passam hoje vinte anos sobre a libertação de Nelson Mandela, líder sul-africano que passou muitos anos preso apenas por defender a igualdade entre brancos e negros, no regime de "aparthaide" que à luz dos nossos dias temos muita dificuldade em compreender. Este advogado e antigo líder do ANC sempre cumpriu aquilo que disse que faria se fosse libertado. Cinco anos depois da sua libertação, e após a sua condução à liderança do país, Mandela deixou o poder ao seu sucessor e afastou-se da política. Homem de consensos não teve dificuldade em encetar um acordo com o líder da federação de rugby - símbolo então do poderio branco - e buscar um acordo para que a partir daí se unificasse a África do Sul. Este evento foi muito recentemente passado a filme que está, neste momento, em exibição. Sempre defendendo o entendimento entre brancos e negros, tentando pôr uma pedra sobre o passado, Mandela - o prisioneiro 466664 de Robben Island - mostrou ao longo dos anos o seu sentido humanitário e de perdão para com os seus torcionários. Hoje, vinte anos após a sua libertação, Mandela dá um gesto de suprema clemência, convidando para um jantar em sua casa, o seu antigo carcereiro, sem ódios ou rancores, estendendo a mão áquele que, como muitos outros, o fizeram sofrer na prisão durante tantos anos. Numa sociedade onde a violência é a palavra de ordem, onde o perdão é muitas vezes associado a fraqueza, a História vai-nos mostrando que no meio de nós estão alguns dos maiores seres humanos que deveriam ser imitados. Gandhi foi seguramente um deles, Madre Teresa de Calcutá também, Mandela será outro, com a sua grandeza e o seu desprendimento. Neste século XXI de grande competição e conflitualidade, ainda existem autênticos faróis de Humanidade que deveriam (deverão) ser a nossa força de inspiração. Muitas vezes vamos aos Templos, mais por rotina do que por vocação, muitas vezes apelamos a Santos, sobretudo, nos momentos de maior aflição, mas quase nunca olhamos para os nossos semelhantes, muitas vezes autênticos Santos que passam ao nosso lado e que ignoramos. Porque existem muitos, só que não damos por eles. Gandhi, Madre Teresa e Mandela tiveram mais visibilidade, mas quantos anónimos, mesmo ao nosso lado, não despertam a nossa atenção. Aqui fica a homenagem a um Homem, sem ódios ou rancores, que teve a grandeza de perdoar. Olhamos para Cristo - os de inspiração católica - com reverência para um Ser que nos inspirou vai para mais de dois mil anos, porque não olhar para os "outros Cristos" que estão próximos - nossos contemporâneos - que dão, também eles, o seu supremo exemplo igual ao de à dois anos atrás.

Wednesday, February 10, 2010

Equivocos da democracia portuguesa - 42


Como temos vindo a assistir, estamos perante um problema muito sério ao nível da economia portuguesa. Não que não o tenhamos sentido à muito, embora muitos portugueses não tenham bem a noção do que se passa ao nível macroeconómico. Perante estas dificuldades o desemprego assume algo de muito importante combater, porque este não pára de crescer e porá em causa, mais cedo ou mais tarde, a estabilidade social. Como também é do conhecimento geral, Portugal está sobre observação da União Europeia, bem como, das empresas de "rating", e estas, têm um poder imenso que têm colocado os juros da dívida, para Portugal, a um valor muito elevado e que têm crescido muito nos últimos dias. Perante este cenário de perturbação é verdadeiramente inqualificável que ainda ontem, no parlamento europeu, o euro-deputado do PSD, Paulo Rangel, tivesse pedido a palavra para fazer uma intervenção sobre a "falta de liberdade de expressão em Portugal", e de que "Portugal já não era um estado de direito". Isto baseado em algumas notícias que têm saído a lume na imprensa na última semana. Não deixa de ser estranho que um euro-deputado do maior partido da oposição, tenha dado uma imagem tão negativa além fronteiras. Não sabemos o que Paulo Rangel tem em mente, mas este é, para nós, um acto de "lesa pátria" que devia ser sancionado pelo nosso país, que tem pessoas que tão má imagem dão da sua própria pátria. Ficamos perplexos quando ouvimos as afirmações na televisão, nem queríamos acreditar naquilo que estávamos a ouvir. Se existe roupa suja a lavar - e até achamos que existe, e muita - tal deve ser feito dentro das nossas fronteiras e não no exterior, trazendo a ignomínia sobre o nosso país. Continuamos a dizer que não sabemos o que Paulo Rangel quis atingir com estas afirmações, mas seguramente que, não foi o bem-estar e a boa imagem do país a que ele próprio pertence. Foi um acto de ignomínia que cobre de vergonha todos nós, e que teve uma reacção muito firme dos outros euro-deputados de outras famílias políticas. Numa altura que é necessário que todos cerremos fileiras para obviar à crise, existem pessoas que pretendem desqualificar o nosso país, não percebendo que, elas mesmas, não deixam de se desqualificar a si próprios. Como dizia Constança Cunha e Sá no "Correio da Manhã", a "oposição já percebeu que não existe alternativa credível a Sócrates", neste momento. O PSD, mais uma vez no certo do turbilhão, assumiu uma atitude irresponsável, junto a tantas outras que já teve nos últimos anos. O PSD ainda não percebeu que não basta querer ganhar noutros fóruns aquilo que não foi capaz de ganhar nas urnas. Os portugueses têm-lhe lembrado isso, mas parece, que por aquelas bandas, à muita falta de discernimento.

Monday, February 08, 2010

Equivocos da democracia portuguesa - 41


Pensamos estar a viver um momento sui-generis da nossa democracia. Assistimos todos os dias a espectáculos degradantes que assombreiam o nosso regime. A corrupção alastra um pouco por todo o lado. João Cravinho disse a semana passada, que ela, "a corrupção, se instalou na classe política". Julgamos que tem razão, porque vemos todos os dias falar-se no combate à corrupção, mas nada é feito, e ela continua a evoluir como gangrena. Ainda citando João Cravinho, "é por isso, que ninguém lhe quer por termo". Mas para haver um combate eficaz à corrupção, é necessário, desde logo, que exista uma justiça eficaz, credível e séria. Ora aqui está outro cancro da nossa democracia, a justiça. Esta, como vemos diariamente, não é capaz de resolver os seus próprios problemas, dando uma imagem que leva a que os portugueses já não acreditem nela. Desde logo, o segredo de justiça que diariamente é violado, e nunca se consegue determinar donde partiu a fuga. Como dizia um conhecido jurista - Garcia Pereira - a semana passada, "ela tem que vir de dentro do próprio sistema judiciário, porque é lá que a informação se encontra". Mas o certo é que nada acontece. O Presidente do Supremo Tribunal de Justiça manda destruir escutas, por as considerar inócuas, e ninguém executa a ordem, como vimos recentemente, invocando sempre um despacho que não chegou. Vemos os julgamentos perpetuarem-se no tempo acabando muitas vezes por prescrever. Vemos os poderosos a saírem incólumes de tudo isto. Vemos pessoas até condenadas a candidatarem-se e a serem eleitas. Enfim, é a balbúrdia instituída onde menos deveria estar. Agora são os meios de comunicação social, numa campanha que até parece orquestrada, primeiro com a TVI, depois com Manuela Moura Guedes, mais tarde com Mário Crespo, à dias com o semanário Sol. Não pomos em causa a bondade de tudo isto, mas que parece mais uma campanha do que outra coisa, lá isso parece. Tudo, ao fim e ao cabo, pretende visar a figura do primeiro-ministro. Não vamos dizer que ele está acima de qualquer suspeita, mas também achamos que todo o mal não se pode concentrar numa única pessoa, num determinado momento. Nem sempre estivemos de acordo com Sócrates, por vezes até em profunda divergência, mas também pensamos que, de um momento para o outro, Sócrates se tornou num pára-raios que tudo atrai, e nestes momento nem sempre se pode manter a calma. Segundo a nossa convicção, tudo isto deriva, desde logo, pelo incómodo que algumas (muitas) corporações sentiram quando viram afectados os seus privilégios. Lembram-se da reacção do presidente da Associação Nacional de Farmácias, logo no primeiro discurso - o de posse de Sócrates no anterior governo? Palavras para quê... Até achamos que, dado o volume de lama que lhe tem sido atirada, ele tem resistido estoicamente, coisa que muito poucos conseguiriam. Pode até dar-se a ideia - errada - de que se Sócrates não existisse não haveria crise, nem intempéries, que o "sol cobriria a eira, e a chuva o nabal". Seria o paraíso... Como dizia ontem Marcelo Rebelo de Sousa na sua habitual crónica na RTP1, "o que Sócrates tem a fazer é passar por cima de tudo isso, porque o país tem coisas mais importantes para ele se concentrar". Mas as coisas não são assim tão fáceis. Mas o que é mais extraordinário é que, numa altura em que Portugal se encontra a braços com inúmeros problemas, quando o Orçamento de Estado vai ser apresentado esta semana, quando estamos sobre observação das instituições internacionais, parece que nada disto existe, e o único objectivo é abater o primeiro-ministro, dando uma imagem, cada vez menos credível do nosso país no exterior, como se isso fosse ajudar o que quer que fosse. No meio de tudo isto, os portugueses lá vão tentando resistir como podem às dificuldades do dia-a-dia, ao desemprego que não pára de aumentar, ao futuro incerto que a todos envolve. Será que os orgão fundamentais da democracia ainda não entenderam que o que os portugueses querem é uma solução para o país e para as suas vidas e não andar neste Carnaval indecoroso, cada um com sua máscara, para não revelar a sua verdadeira identidade, nem as suas verdadeiras intenções, tentando achar soluções para os seus próprios problemas e esquecendo um país e um povo? Como dizia um conhecido político, "é preciso é que tenham juizinho".

Saturday, February 06, 2010

Equivocos da democracia portuguesa - 40


E lá foi votada a lei das finanças regionais. E embora o impacto seja diminuto no Orçamento de Estado, representa apenas 0,03% do valor do déficit, não deixou de causar perplexidade nos meios internacionais. Não sabemos se viram o que se passou ontem na CNN. O comentador disse achar incrível que, apesar das dificuldades que Portugal atravessa, ainda existam partidos a defender e a aprovar mais endividamento para o Estado. Inclusivé, contactaram o ministro das finanças, Teixeira dos Santos, que acabou por lhes conceder uma entrevista. Estas coisas são como a "mulher de César" não basta sê-lo é preciso parece-lo. E apesar disto tudo, como se já não bastasse, a Bolsa de Lisboa continuou em queda, ainda restos, - assim esperamos -, dos estilhaços que o comissário Almunia produziu. Contudo, estas situações poderão não causar grandes estragos, se a curtíssimo prazo, Portugal der sinais de que está a enfrentar a crise com determinação e com sucesso. Para isso, tem um ministro das finanças que goza de grande prestígio nacional e internacional, não se colocando em qualquer momento, a sua falta de competência. Aliás, e como vimos na notícia da CNN, que nunca fala de Portugal, e ontem fê-lo, - isto só para dar uma ideia do impacto que a lei das finanças regionais teve -, Teixeira dos Santos já veio dizer que, em último recurso, utilizará a "bomba atómica", isto é, travará as transferências para a Madeira, utilizando os poderes que a Lei do Enquadramento Orçamental lhe confere. Curiosamente, esta lei foi criada nos anos 80 por Manuela Ferreira Leite quando era ministra das finanças! Esta é a suprema ironia. Mas ontem ainda fomos surpreendidos com a notícia do semanário "Sol" sobre as famigeradas escutas a Sócrates, que deviam ter sido destruídas, conforme ordenou o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça. Mais uma vez o famoso "segredo de justiça" posto em causa. Isto cobre, de novo, a justiça de ridículo e suspeição. Como ontem um comentador dizia, a haver fuga ela teria que ter origem dentro do próprio sistema judicial. Isto mais parece uma "república das bananas", uma daquelas repúblicas latino-americanas onde vale tudo, - mesmo tudo -, do que um país europeu, membro da União Europeia. Como também ontem, um outro comentador afirmava, esperemos que o "Sol", tão célere em alimentar factos políticos, tenha a mesma atitude para com os seus patrões angolanos. Não sei se terão coragem para fazer coisas desta ao Presidente de Angola ou às restantes autoridades, mas se o tiverem, talvez se dêem mal. Este é um tipo de jornalismo "tablóide" que se esgota em si mesmo. Portugal já tem demasiados e graves problemas para resolver que afectam toda a população, e será nestes problemas que temos que concentrar toda a nossa atenção. O resto, talvez seja a influência da época, o Carnaval que aí esta, onde alguns andam travestidos de jornalistas.

Friday, February 05, 2010

Equivocos da democracia portuguesa - 39


Ontem foi um dia particularmente difícil para Portugal e para o parlamento. Desde cedo começaram as reuniões entre os partidos para ver se seria possível um consenso sobre a Lei das Finanças Regionais. Desde cedo, e já em sede de comissão, se viu que o PS tudo faria para evitar que tal acontecesse. Os restantes partidos forçaram a votação que veio a realizar-se, sendo hoje apresentada em plenário para as votações finais. Quando se pensava que o assunto estaria arrumado, até pelo apelo do Conselho de Estado que, em comunicado, pediu "ponderação e bom senso", as coisas iriam complicar-se, tendo Sócrates telefonado a Ferreira Leite para uma reunião de emergência em S. Bento. Já noite dentro, o ministro das finanças, Teixeira dos Santos, anuncia uma comunicação ao país. Quando todos pensavam que ia anunciar a demissão do governo, Teixeira dos Santos fez precisamente o contrário. Apelou de novo à rejeição da lei, que caso não se verifique, o governo utilizará todos os mecanismos ao seus dispôr para a travar, desde logo através da Lei das Transferências. E se mesmo assim, não se poder evitar recorrerá ao veto do Presidente da República. Estas são as medidas "jurídicas e políticas" que o governo pode ter. Isto foi uma verdadeira bomba atómica, porque coloca Ferreira Leite num dilema que é, ou travar hoje a votação, votando ao lado do PS, - coisa que pode ser difícil -, ou poderá colocar em dificuldade o Presidente da República. Quanto ao PR pode até ser uma pequena vingança do que Alberto João Jardim disse em tempo idos. Todos se lembrarão, nos anos 80, do famoso Sr. Silva, epíteto com que o líder da Madeira mimoseou Cavaco, então primeiro-ministro, e sobre precisamente a lei das transferências para a Madeira. Pode ainda servir-lhe como um piscar de olho ao eleitorado do PS, visto as eleições presidenciais estarem a aproximar-se. Pode até servir para mostrar como o PR está acima destas questões e da sua preocupação com as contas públicas. Nesta embrulhada política, Ferreira Leite tem seguramente o papel mais difícil a desempenhar. No entretanto, a imagem do país começa a ser fortemente afectada. É certo o que o governo diz, - da incompreensão dos mercados internacionais -, que face às dificuldades financeiras de Portugal, não entenderiam que fossem transferidas mais verbas para a Madeira, por menores que elas sejam. É conhecida a senda despesista de Alberto João Jardim, o que ainda torna a questão mais polémica. Basta ver as infelizes declarações do comissário Almunia sobre as economias de Portugal e Espanha colando-as à Grécia. Os mercados reagiram de imediato, tendo-se ontem verificado uma quebra histórica na Bolsa de Lisboa, que caiu mais de 5%. Embora a UE tenha vindo dar o dito por não dito, o mal estava feito, o que provocou, e bem, uma reacção forte de Lisboa e Madrid. O que torna a questão mais bizantina é que o valor da dívida português (7,3%) é menor do que a média da zona euro (7,8%). Comparar Portugal com a Grécia que está em bancarrota é no mínimo estranho. E porque não dizer o mesmo de Itália e Irlanda, que estão na mesma situação? Será que Berlusconi tem assim tanta força e impõe tanto receio? E a Irlanda, que durante muito tempo foi mostrada como um exemplo para a Europa do Sul e que caiu dum dia para o outro? Não cremos que seja por ignorância, mas então que clarifiquem a verdadeira intenção de tudo isto. Hoje será um dia particularmente agitado, desde logo, para ver como a Bolsa de Lisboa vai abrir, e depois, para vermos o que se irá passar no parlamento. Neste intrincado novelo de equívocos, Portugal e os seus cidadãos, são os que mais têm a perder, sobretudo, porque a maioria da população nem saberá avaliar concretamente o que está em causa, e muito menos, o que estas decisões podem afectar a sua vida no dia-a-dia.

Thursday, February 04, 2010

Equivocos da democracia portuguesa - 38


A nossa democracia e os nossos políticos não deixam de nos surpreender. Como se isso não bastasse, agora são os jornalistas que fazem a manchete. Isto tem a ver com o caso "Mário Crespo". Ninguém nega ao jornalista as suas qualidades, mas por vezes, pensamos que vai muito para além do razoável, sabendo que tem nas mãos um poder imenso que não é praticamente controlado. Isto não se aplica só ao jornalista da SIC, visto haverem muitos outros a fazer coisas verdadeiramente execrandas todos os dias. Nós que até somos admiradores de Mário Crespo e vemos religiosamente o seu "Jornal das Nove", temos assistido a entrevistas verdadeiramente demolidoras, para não dizermos outra coisa, efectuadas sobretudo, a membros do governo. Sabemos que Mário Crespo tem alguns assuntos não resolvidos quando foi "despejado" da RTP, feridas que pelos vistos ainda não sararam, se é que vão sarar alguma vez. Já o vimos entrevistar membros de outros governos sem a sanha avassaladora que ele tem posto em relação aos membros do anterior e actual executivos. Seria bom lembrar o mirabolante governo de Santana Lopes que foi criticado por todos os quadrantes, e nunca assistimos a nada que se parecesse. Quanto a Medina Carreira, que é um brilhante fiscalista, que até já foi ministro de governos PS, mas ultimamente tem aparecido com um discurso que não o credibiliza de todo. Será que será amargura por não ter sido convidado para ministro? Mas ainda voltando a Mário Crespo, que em tudo isto tomou uma posição sibilina, não deixa de ser estranho que o seu director Nuno Santos tenha vindo ontem a público dizer que as coisas não aconteceram exactamente como o seu jornalista as disse. Todos sabemos que José Sócrates tem, por vezes, alguns tiques autoritários, mas também temos que considerar que uma pessoa como ele, que tem sentido na pele uma perseguição implacável, apenas e só, porque abalou o "status quo" de algumas corporações, não é fácil resistir a tanta pressão. Sem o querermos justificar, até porque não conhecemos a fundo o problema, achamos que estamos perante mais uma tentativa de atentado à imagem, que se tem vindo a repetir desde à cinco anos. Neste assunto, como o conhecemos, fez-nos lembrar o regime anterior, onde uma simples conversa de café, por mais inocente que fosse, levava à prisão e ao degredo, por vezes até, à morte. Pensavamos que esses tempos já tinham passado, pelos vistos não, parece até que há quem os tente ressuscitar de novo. Mas esta semana tem sido fértil em acontecimentos que vão muito para além destes pequenos problemas. Desde logo, a discussão da Lei das Finanças Regionais. É do conhecimento público que a Madeira tem ultrapassado desavergonhadamente todos os limites de endividamento, e cada vez mais reivindica mais e mais dinheiro. O despesismo de Alberto João é conhecido de todos, mas isso não significa que venha a todo o momento pedir aos contribuintes do Continente - ele que tanto diz desprezar o Continente - para financiar as suas extravagâncias. Somos dos que achamos que a lei deveria ficar como está, embora saibamos bem, que os arranjos políticos não são assim tão cristalinos. E depois da convocação do Conselho de Estado pelo Presidente da República, parece que a tempestade amainou um pouco. Achamos que Cavaco Silva esteve bem, antecipando o Conselho, para evitar uma crise política que a ninguém interessava, desde logo, ao país. Mas os equívocos vão mais longe, tendo três deputados do PS apresentado um execrando projecto de publicação na internet dos rendimentos dos contribuintes. É inadmissível esta situação de "voyeurismo" fiscal como já alguém lhe chamou. Estamos profundamente contra esse projecto de lei, e parece que os três deputados estão isolados mesmo no seio do grupo parlamentar, a acreditar nas declarações do seu líder parlamentar, Francisco Assis. Lamentamos ver o deputado Afonso Candal, filho dum grande socialista e advogado de Aveiro, Carlos Candal já falecido, associado a este projecto de lei. Seu pai deve estar a revolver-se no túmulo com tudo isto. Mas, como diz o povo, no melhor pano cai a nódoa. Só nos resta esperar que esta semana que tem sido muito agitada, venha a acalmar, e que se busquem os consensos que melhor sirvam o país e a liberdade dos cidadãos.

Monday, February 01, 2010

Equivocos da democracia portuguesa - 37


Estamos no tempo de apresentação do Orçamento de Estado (OE) para 2010. Este foi um orçamento muito negociado, como não poderia deixar de ser, visto o governo não dispôr de maioria qualificada. Embora o CDS/PP e o PSD tivessem acordado na viabilização do mesmo, com voto de abstenção, não deixaram de na Assembleia da República o criticarem duma forma tão corrosiva que até parece que não se puseram de acordo para o aprovar. Sabemos que essas coisas dão votos, embora já tenha dado mais votos do que hoje, porque as pessoas começam a entender os mecanismos e aquilo que se passa, ampliado pelos orgãos de comunicação social. É certo que a não aprovação teria consequências dramáticas para Portugal, mais a nível externo, dado que o governo poderia sempre governar por duodécimos, embora essa não fosse, de todo, a melhor situação. Com uma concordância alargada, mesmo que tácita, o que fica de mais polémico é o valor o déficit, e sobretudo, pela surpresa que parece ter sido para o ministro das finanças, bem como, para o governador do Banco de Portugal. É algo que nos causa alguma perplexidade, visto a monitorização de algumas rúbricas serem sempre feitas quer pelo ministério, quer pelo Banco de Portugal. Há quem diga que tal foi um arranjo do governo para vir a "brilhar" na recuperação este ano. Não cremos que assim seja, mas não deixamos de pensar que algo de anormal se passou em tudo isto. Contudo, parece que foram ouvidas algumas das nossas palavras já aqui transcritas neste espaço, e assim, o governo parece estar a negociar com estes dois partidos um acordo de médio prazo, para os próximos três anos, isto é, para a legislatura, o que faria com que esta se fosse fazendo com alguma tranquilidade. E ela é bem precisa face aos problemas que temos que enfrentar, que são muitos e graves. Este é um espírito responsável que é de saudar, porque há decisões que não podem ter efeitos só numa legislatura, e estarem sempre a mudar ao ritmo da mudança do governo. É saudável que tal aconteça e será, seguramente, bom para o país. Já sabemos que mais à frente haverão os aproveitamentos políticos, estes serão inevitáveis, mas seguramente menores do que o bem estar do país e de todos os portugueses. A discussão está agendada para os dias 11 e 12 deste mês de Fevereiro, mas dado o calendário eleitoral anómalo que tivemos, a discussão na especialidade só terá lugar lá para meados de Março, o OE só entrará em vigor lá para Abril ou Maio, levando até lá, o governo a ter que gerir o país em duodécimos, situação de todo desaconselhada na actual conjuntura. Mas o importante é que o país tenha um orçamento e que os partidos que de algum modo o vão ajudar a viabilizar façam um pacto de defesa do mesmo, para que seja dado um sinal claro às empresas de "rating" sobre o sentido e a vontade de Portugal assumir o compromisso que fez com Bruxelas de ter, em 2013, um déficit inferior a 3%. É difícil, todos o sabemos, mas não é impossível. Vamos acreditar que assim vai ser. As empresas de "rating" apressaram-se a criticá-lo, tendo até a Moody's, como realçou Teixeira dos Santos, feito a sua crítica poucas horas depois do mesmo ser tornado público, - não esqueçamos que foi pelas 22 horas(!), - sendo o texto em português, com a necessidade da habitual tradução, das suas mais de 300 páginas!!! Teixeira dos Santos afirmou, e no nosso entender bem, que há interesses comerciais por trás destas agências, todos o sabemos, e já aqui tínhamos feito referência a isso em anterior crónica, mas se Portugal não deve comprar uma guerra com essas agências, é bom que diga algo, para não continuarmos a ser tratados como um país terceiro-mundista que, felizmente, já não somos. Veremos agora, a sua aplicação e que resultados vai o país, e por extensão todos nós, colher de tudo isto.