Turma Formadores Certform 66

Monday, May 30, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 104

Nesta "espiral de silêncio" - que deriva das sondagens - em que as muitas - diárias "tracking poll" - nos afogam, vamos vendo as tendências do eleitorado bem como o comportamento "tardio" de alguns eleitores - "late swing" -, os chamados "indecisos". Esta situação de proximidade dos dois maiores partidos beneficiam o "challenger", isto é, o que desafia aquele que está no poder, no caso vertente o PSD face ao PS. Mas no decorrer da campanha eleitoral comemorou-se os dez anos do euro. O euro que tão celebrado foi, não deixou de ser importante, mas o seu fulgor e a sua força, seria bem vista enquanto as economias crescessem. Quando tal deixou de se verificar, veio ao de cima os diferentes nacionalismos dos vários países. Quando a crise - como esta que estamos a viver - é uma crise sistémica - e não só deste ou daquele país, como no início se pensou - não pode ser resolvido caso a caso como a UE a tem tratado. Daí se conclui que, talvez, o euro tenha sido criado antes da UE estar mais consolidada. Mas estas questões não as vemos tratadas na nossa campanha, trazendo-se para ela, apenas, os dados menores, como bem reconheceu Marcelo Rebelo de Sousa, quando afirmou que: "Esta é uma campanha pobre". Mas não terá sido também pobre a campanha presidencial? Não deixemos de considerar que estamos face a políticos menores e não a estadistas, como já os tivemos noutros tempos. Mesmo a nível de círculo vemos isso. Na passada semana, a antena 1 propôs um debate, com os cabeças-de-lista por Lisboa, em torno da saúde. Todos os partidos estiveram representados, excepto o PSD, porque o seu cabeça-de-lista, preferiu ir visitar o hospital D. Estefânia onde proferiu afirmações que vão contra o seu próprio partido! Mas, tal não nos surpreende demasiado, porque o tal cabeça-de-lista é Fernando Nobre! Isto não cria um clima salutar entre as forças políticas e o eleitorado, nem cria uma situação de aprofundamento das propostas que cada partido tem para Portugal. Isso até pode nem ser necessário, dirão alguns, porque o programa de governo será o da "troika" seja lá quem for que vai governar, por isso não haverá muito a dizer. Apesar de tudo, pensamos que não devia ser assim, porque os políticos deviam estar mais próximos dos eleitores que, afinal, os elegem, mas também achamos que esta proximidade não deveria apenas aparecer de quatro em quatro anos, mas sim, ao longo da legislatura. Esta é a prática em muitos países, mas entre nós ainda não, porque estes políticos não gostam das populações, apenas se servem delas para conseguirem um lugar que lhes dê condições de ter acesso ao poder. Mas a UE não escapa, também, a este desígnio. A UE está confrontada com um problema sério que é a possível saída da Grécia do euro. Isso tem implicações terríveis. Desde logo, terá que criar uma moeda nacional que aparecerá fortemente desvalorizada. O segundo ponto é saber se os países ricos estão interessados em afastar os países pobres do euro. Se a Grécia sair, Portugal será o que está imediatamente a seguir. Mas a saída de qualquer país da zona euro será também, estamos certos, o canto do cisne do projecto europeu. Isto são questões dramáticas que também podem passar por nós e que não vemos os políticos discutir nesta campanha eleitoral. Isto poderá ser a consequência do acordo da "troika" que nenhum dos partidos signatários - PS, PSD e CDS/PP - não falam. A redução de prazos que entretanto veio a lume, pode vir a criar dificuldades acrescidas, num processo já de si difícil, dado o calendário eleitoral e de tomada de posse que a lei portuguesa prevê. (Hoje, já teremos a primeira visita da "troika" para analisar a evolução daquilo que foi imposto para a ajuda externa em plena campanha eleitoral)! E face a isto, os partidos preferem andar entretidos a insultarem-se mutuamente. Passos Coelho visivelmente incomodado por ser "engolido" pela multidão em Amarante e Paulo Portas a dizer-se à esquerda do PSD nas questões sociais, são bem o exemplo do que se está a passar. (Embora não deixemos de considerar que o CDS/PP tem grandes compromissos com as questões sociais, bem mais evidentes e profundas do que o PSD que vai sempre escondendo ao que vem). O PS a tentar desviar as atenções dos compromissos que assinou e, os dois partidos mais à esquerda, a CDU e o BE, vão atacando tudo e todos porque, afinal, eles não têm nada a perder, nem a responsabilidade da governação. A campanha está na recta final, é tempo de começarem a pensar em nós todos, portugueses, que não quisemos eleições em momento tão difícil para Portugal, mas para elas fomos empurrados. Passos Coelho ou José Sócrates, um deles será o futuro PM, mas não esqueçamos, que qualquer que seja o rosto a política a aplicar será a mesma, já fixada pela "troika", à qual não podemos escapar.

Sunday, May 29, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 103

E a campanha lá vai andando, com o cortejo de insultos dum lado e do outro, mas nunca uma palavra para esclarecer os portugueses sobre os problemas que estamos a enfentar. E por vezes até chega a ser caricato, como foi o caso daquela senhora, já entrada de anos, que agarrando Passos Coelho lhe disse que desse uma ajuda à agricultura, e Passos Coelho ficou sem saber o que dizer. Mas o problema de Passos Coelho não é exclusivo dele, porque estes políticos não têm nada para dizer, porque vão ter que governar com o programa da "troika", por isso, apenas se está a escolher, nestas eleições, o rosto que vai aplicar o programa e não um governo, desenganem-se quanto a isso. Daí o desviar os temas para a brejeirice, o insulto, o caso diário que se trás para a campanha, apenas e só, porque não há mais nada para dizer. E no entretanto, nós assitimos a este cortejo de máscaras de gosto mais do que duvidoso, afogado num mar de sondagens (até diárias), que em vez de esclarecer os eleitores, apenas servem para os confundir mais. Mas os casos do dia continuam, agora Passos Coelho admite referendar de novo o aborto. (Achamos curioso que não esteja explícito no programa do seu partido esta medida). Nunca pensamos vermos o líder do PSD num retrocesso civilizacional, mas não vale desesperar para já. Porque se calhar daqui a dias ele virá dizer que não é bem assim, que não perceberam bem as suas palavras e por aí adiante. E não foi preciso esperar dias. Horas depois, Passos Coelho veio dizer que não propôs nenhum referendo ao aborto e até acrescentou que a quando do último referendo até votou... sim!!! Como bem disse Bernardino Soares: "Passos Coelho de manhã complica e à tarde explica". Mas, caso ainda existissem dúvidas, estamos agora certos, da sua impreparação e incapacidade para enfrentar os desafios sérios da governação que temos pela frente. Um PM assim, não serve aos difícieis desafios que temos que enfrentar. Mas também não menos lamentável é continuarmos a assistir a jornalismo de facção. Não temos nada contra esse tipo de jornalismo, mas então, que o canal em causa (SIC) diga aos seus espectadores ao que vem, para não termos que levar em cima com um jornalista - que até confessou que enquanto esteve nos EUA sempre votou republicano - que, a coberto da pluralidade da estação, esteja sempre a condicionar o voto numa certa área. É lamentável para quem o faz, e mais lamentável para a estação que o permite. Parece que o dito jornalista ainda não digeriu bem a sua saída da RTP à muitos anos atrás. Mas nós, nada temos que ver com isso, apenas temos que exigir um jornalismo imparcial, limpo. Depois foi o tema dos dois documentos da "troika" e afinal, o PSD que levantou o tema, vem agora dizer que afinal a diferença não existe, é apenas de questões pontuais, mas, como diz o povo "apanha-se mais depressa um mentiroso do que um coxo", e foi o que aconteceu com Passos Coelho, que lá acabou por dizer - por lapso, com certeza - "que o programa da "troika" ajuda o PSD a aplicar o seu programa". Em Braga - como já era esperado - os adeptos de PSD e PS envolveram-se em escaramuças que em nada dignifica a tolerância democrática. É impressionante que os directores de campanha, sabendo disso, não organizem as coisas a evitar este triste espectáculo. Sabemos que os militantes do PSD criaram as condições para que tal acontecesse - notícia confirmada por Anabela Neves jornalista da SIC - mas que não haja ninguém responsável para refrear os ânimos e dizer aos militantes do PSD que a convivência e a tolerância são os pilares da democracia, é que achamos estranho. Claro, como veremos ao longo do mandato, caso Passos Coelho seja eleito, este perante a confusão... fugiu. O mesmo Passos Coelho que tanto lutou para afastar os ditos "barões" do seu partido e que agora, estranhamente, não consegue passar um dia sem que um ou vários estejam a seu lado. Até Ferreira Leite que ele tanto criticou e contra a qual se apresentou na disputa da liderança do PSD. Isto significa que, ou Passos Coelho já não confia nos seus - até os manda de férias para o Brasil para se calarem - ou, os "barões" já tomaram conta da candidatura do PSD e a controlam duma forma sibilina. Daí as afirmações de Pacheco Pereira a dizer que "não recebo lições de Passos Coelho" depois deste o acusar de fazer campanha contra o seu próprio partido. Numa semana cheia de casos, como vem acontecendo sempre, agora Cavaco parece também não escapar, depois do Expresso ter publicado que o PR tinha dúvidas da eficiência do governo com apenas dez ministérios. Embora Cavaco tenha vindo desmentir a informação, o Expresso mantém a "caixa", o que levou a algum desconforto entre os seguidores de Passos Coelho. Como bem disse Sócrates: "Governos com dez ministros só em Andorra e San Marino", para concluir com a habitual acusação de que Passos Coelho está a ser populista. No meio desta confusão, continuamos a dizer, que Paulo Portas tem feito uma campanha serena, inteligente e com ética - coisa difícil de ver nestes momentos - que, estamos certos, dará os seus frutos no final. Mas tenhamos paciência, só falta mais uma semana para tudo isto terminar, e ver se finalmente, nos debruçamos sobre aquilo que é importante, a saber, Portugal e os portugueses.

Thursday, May 26, 2011

"O Palestiniano" - Antonio Salas

Depois de seis anos inflitrado sob a identidade fictícia de Muhammad Abdallah em diversas organizações terroristas surge "O Palestiniano", uma crónica surpreendente em que o conhecido jornalista de investigação Antonio Salas nos relata este tempo vivido até ao limiar, para tentar revelar aos leitores o que existe de verdadeiro ou de falso nas aterradoras notícias que nos atingem todos os dias acerca da escalada da violência no mundo. Espanha, Palestina, Israel, Marrocos, Tunísia, Síria, Mauritânia, Venezuela, Egipto, Suécia, Líbano... são os cenários desta investigação sem precedentes, tão valiosa que ultrapassa as fronteiras do papel. Antonio Salas desenhou uma revolucionária página web, de consulta complementar à leitura do livro, com material inédito que ajudará a compreender melhor o gigantesco "puzzle" do terrorismo internacional. "O Palestiniano" é uma nova forma de entender o jornalismo de investigação. Para os que quiserem visitar a página web pode fazê-lo no site www.antoniosalas.org e consultar as suas revolucionárias conclusões. Sobre o autor, Antonio Salas, é um pseudónimo de um conhecido jornalista de investigação que tem de manter a identidade oculta desde que a primeira obra, "Diário de um skin", se tornou no livro mais vendido em Espanha em 2003, também com três edições em Portugal em 2007, devido às impressionantes revelações. Esta investigação levou à condenação do grupo neo-nazi Hammerskin Espanha. O mesmo viria a acontecer com um outro livro seu, "Um Ano no Tráfico de Mulheres", cuja publicação desencadeou uma investigação sobre os donos da prostituição espanhola, assim como a levada a cabo pelo governo mexicano a respeito do tráfego de meninas de Chiapas. Neste livro que hoje vos proponho, Antonio Salas arrisca uma infiltração nas redes do terrorismo internacional. Sob a identidade de Muhammad Abdallah e armado com uma câmara oculta, ele vai estar perto dos atentados de Amã e Casablanca, dos assassínios selectivos da MOSSAD israelita, das lutas fratricidas nos bairros mais perigosos da Venezuela ou do treino terrorista nos campos das FARC colombianas, não esquecendo os seus compatriotas da ETA, ou do terrorista mais famoso da história Carlos "O Chacal". Um livro muito interessante e desmistificador. Uma visão do rosto mais cruel do medo, documentado com o rigor e a peculiar ironia de uma das vozes mais autorizadas do panorama jornalístico. Um livro recomendável. A edição é da Planeta.

Wednesday, May 25, 2011

Equivocos da democracia portuguesa -102

A campanha eleitoral lá vai andando, cada vez mais crispada e insultuosa, coisa que todos devíamos rejeitar. O PSD é o único partido que tem enveredado pelo insulto explícito, o que não fica bem ao maior partido da oposição, e um dos candidatos a vencer as eleições. É Morais Sarmento a comparar Sócrates a Saddam, é José Luis Arnauld a comparar Sócrates a Drácula, - e este até devia ter mais bom senso, depois do disparate que disse na SIC Notícias, quando opinou que "a TSU não tem nada a ver com a Segurança Social"(!), suprema ignorância - transformado a campanha do PSD numa espécie de baile de máscaras. Até parece que só existe Sócrates e não um partido que o elegeu para seu líder. Esta é uma campanha menor, logo quando se pedia aos partidos políticos que tivessem elevação e que não fechassem as portas a entendimentos futuros, como o fez realçar Cavaco Silva. Numa altura em que é preciso serrar fileiras, os nossos políticos dão este degradante espectáculo. É ver o que se passa para além fronteiras e que muito condiciona Portugal. É interessante verificar que os juros estão em alta em toda a zona periférica do euro, e será tudo isto, só obra da má gestão? Para além da Irlanda , Grécia (que apesar da ajuda externa, está na iminência da bancarrota) e Portugal, agora é a Itália que está sob a mira dos especuladores, bem como a Bélgica, que ainda ontem viu o seu "rating" diminuído. Como já aqui afirmamos por diversas vezes, esta situação é muito mais ampla do que a simples má gestão. Este ataque desenfreado contra a Europa e contra o euro não tem precedentes, e a crise não justifica tudo. Mas fora da Europa as coisas não estão melhor. Só para termos uma ideia, os EUA têm um déficit de 14 biliões de dólares! (Para aqueles não tão familiarizados com esta ordem de grandeza dizemos que é 14 seguido de doze zeros à direita!!!). Mas voltando à campanha, vemos que o PSD é o único partido que está a fazer uma campanha de casos, para ver se assim consegue mobilizar os portugueses. Ou são as nomeações, ou as dotações, ou seja lá o que for - hoje veremos o que virá - numa campanha sem brilho fazendo do ataque pessoal o seu móbil, talvez porque não tenham outro... Bem tem andado Paulo Portas que tem conseguido fazer - até agora - aquilo que se costuma chamar de "campanha limpa". No domingo passado, criticou-se o grupo de estrangeiros num comício do PS. Confessamos que foi lamentável ver pessoas que nem sabiam falar português, mas aquilo que se chama de "estrutura de voluntários" - que até estão integrados em empresas do género - são transversais a todos os partidos, nomeadamente os maiores que têm mais disponibilidades financeiras. Nós que já participamos em campanhas eleitorais sabemos bem o que por aí se faz. Mas, neste caso, pensamos que só os pequenos partidos estão inocentes, porque todos os outros, a empresas do género recorrem, para compôr os seus comícios. Mas mais lamentável do que isto, é o facto de vermos jornalistas - que deviam ser isentos - a tomar partido contra este e a favor daquele. Isto é nítido em Mário Crespo, jornalista que até admiramos, mas não deixamos de criticar a sua falta de isenção que chega a ser obsessiva. O que faz falta é o esclarecimento dos portugueses, que é para isso que se fazem as campanhas eleitorais. E já que falamos em esclarecimento, achamos por bem trazer aqui a famosa TSU de que tanto se fala e nada se diz. Convém explicar que a redução da TSU funciona em dois mecanismo: a) altera a favor dos primeiros o preço relativo entre o sector transaccionável (ST) e o não transaccionável (SNT), pois que a desvalorização da moeda inflaciona o preço do ST em moeda nacional; b) embaretece o custo laboral, em termos reais, uma vez que a inflação gerada "come" parte do salário nominal. Uma coisa tão simples e parece que os políticos não querem dizê-lo às populações. Sabemos que isto não dá votos, mas já que trouxeram o assunto para a campanha, esclareçam-no. No fundamental, o importante não é dito, e daí recordarmos as palavras de Agustina-Bessa Luis quando afirmou: "Não nos interessa quem diga o que está mal, mas sim, quem compreenda o que está bem". A ideologia da escritora é bem conhecida, - logo insuspeita -, o que dá mais força ao comentário. Nesta campanha de casos diários - que parece ser a aposta do PSD - lá se vão delapidando mais algum dinheiro dos contribuintes, que mais não serve do que, para passar vaidades, ódios e maledicências, que nada têm a ver com o esclarecimento dos portugueses que, no final, são os que os elegem.

Monday, May 23, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 101

Vamos assistir nestas próximas duas semanas a uma campanha eleitoral onde vai valer tudo (infelizmente) em detrimento do esclarecimento das populações. Em boa verdade, também é certo que não à muito para esclarecer. É aplicar o programa da "troika", fingir que nele se altera isto ou aquilo, e nada mais. Nos próximos três anos, Portugal será governado por uma entidade estrangeira, (uma espécie de Filipes de Espanha), e quanto a isso não podem, nem devem, existir dúvidas. Contudo, há coisas - os detalhes - que não podem ser descurados e que são importantes para a nossa democracia. Como sejam, a educação, a saúde e o emprego. A educação porque um país não é verdadeiramente livre se não tiver conhecimento, e aqui, o PSD parece que tem outras ideias, bem perdidas no tempo, conduzindo-nos ao regime anterior. A ideia peregrina de criar condições de equidade entre o ensino público e privado mais não é do que criar situações de transfuga de fundos do ensino público para o privado. E isso é inadmissível, visto a maioria dos portugueses não disporem de meios para irem para o privado, conduzindo o público a uma situação residual, onde o insucesso escolar e a desmotivação dos professores serão palavras de ordem. Depois a saúde, onde a centralidade está no nosso SNS - conquista importante do 25 de Abril criado, é bom lembrar, por António Arnault quando foi ministro da saúde de Mário Soares - que parece que é intenção do PSD desmantelá-lo em detrimento da política privada de saúde. A última novidade do PSD soubesse no debate que Passos Coelho teve com Sócrates a semana passada, que é a questão dos co-pagamentos, isto é, os cidadãos para além de pagarem para o SNS através dos seus impostos, ainda terão que pagar pelos serviços que dele receberem. Isto sim, é gravoso e é preciso que os portugueses tenham em mente esta questão, por vezes diluída no calor duma campanha, como se de uma disputa futebolística se tratasse. Todos sabemos, - e já o afirmamos em anterior crónica -, que o SNS como os restantes apoios sociais, dentro daquilo que se chama "Estado Social" não poderão continuar como até aqui, simplesmente, porque o país não tem dinheiro para isso. Mas daí até destruírem tudo aquilo que de bom a democracia nos trouxe é demais. Quando Obama nos EUA tenta criar um serviço de saúde para todos, baseado naquilo que ele considera, e bem, como o modelo europeu, o PSD parece querer ir em sentido contrário, onde só aqueles que têm seguros de saúde é que podem ter acesso aos tratamentos médicos. Todos sabemos da vertente ultra-liberal de Passos Coelho, mas nunca imaginamos ver este partido a ir em sentido contrário à História e aos interesses da população que diz defender e a quem anda a pedir o voto. A questão do emprego é crucial, mas para isso, e apesar das dificuldades, o Estado deve continuar com o seu programa público - embora racionalizado -, porque só assim, terá condições para o criar. É uma ilusão pensar que só os privados criam emprego. Numa altura em que tanto se fala de Keynes, - e Passos Coelho deve conhecê-lo bem, afinal é economista -, parece não haver vontade política para ir nesse sentido, ou então, o compromisso com os privados é mais forte. Depois veio a polémica em torno das "Novas Oportunidades". Todos sabemos que há muito a corrigir, e que nem tudo são rosas neste processo, mas convenhamos que este programa foi um salto qualitativo para a qualificação dos portugueses e disso não tenhamos dúvidas. Qualquer um de nós, tem conhecimento de alguém que frequentou este programa, e da auto-estima que ele trouxe às pessoas, por isso, não se compreende o ataque suez que é feito a esta iniciativa. Até Marcelo Rebelo de Sousa - o insuspeitado comentador da área do PSD - achou de mais, qualificando a atitude de "erro do PSD". E vai mais longe, achando que se tratou dum "erro na substância" que encerra em si dois outros erros "um erro da generalização e considero, também, um erro dizer que não tem interesse por ser diferente do tradicional". Dando até o exemplo do que aconteceu com o seu pai - ex-ministro de Salazar - "quando se criou um programa de alfabetização que, embora não sendo a escola primária oficial, não deixava de ter interesse na qualificação dos portugueses e bons serviços prestou à nação". Aqui está a visão dum académico que, embora sendo do PSD, tem uma leitura mais abrangente do que é a qualificação académica que Passos Coelho parece não ter, ou não lhe interessa ter. Mas se o PSD foi lesto a criticar uma medida de qualificação dos portugueses, parece já não o ser, quando se trata da redução dos municípios e das freguesias - aliás, inscrito no programa da "troika". Passos Coelho apressou-se a afirmar aos seus autarcas que não seria assim, depois de algumas críticas que lhe foram feitos num dos comícios onde participou. Ele que tanto tem criticado os "boys" dos outros, não deixou de dar cobertura aos seus, sabendo da tradição municipalista do PSD. Afinal em que ficamos? Mais uma vez recorremos a Marcelo Rebelo de Sousa, "devia-se reduzir os municípios e as freguesias, e estas, até deveriam ser as primeiras. Esta será uma oportunidade de racionalizar o poder local". Mas Passos Coelho vai em sentido contrário, porque não quer perder votos. Afinal, ele que se apresenta ao país como o homem de "mãos limpas" que nunca governou, parece que está a aprender depressa a lição. Na política ninguém tem "mãos limpas" porque os interesses, mesmo que pontuais se sobrepõem a tudo o resto. E Passos Coelho não é diferente. Pensamos que seria diferente, - já aqui o dissemos por mais de uma vez -, mas confessamos a nossa desilusão, afinal, é mais um como os outros. E é com estas imagens degradantes que vamos dando para o exterior, que pedimos a ajuda dos outros, que devem estar, verdadeiramente, perplexos com "aqueles irredutíveis lusitanos" para usar uma expressão de Astérix. Isto será tanto mais incompreensível, quanto o de sabermos que quem nos vai emprestar dinheiro não será a Europa ou a América, mas sim, o Oriente, porque nenhum europeu vai querer ficar com a nossa dívida, e vai vendê-la, por sua vez, à China, Singapura e sabemos lá a quem mais, países em que os seus cidadãos poupam 30% a 40% do seu salário para ter assistência médica - se não bem morrem - e para terem algum no resto da vida - para não morrerem na indigência. Não é como no Ocidente. Lá não existe SNS. Afinal, parece ser aquilo a que Passos Coelho nos quer conduzir. E, já agora, esta simples questão: E porque será?

Sunday, May 22, 2011

Conversas comigo mesmo - XIII

Muitas vezes dizemos que somos cristãos, que frequentamos a Igreja - daí dizermos que somos "praticantes", designação que só os católicos têm - mas muitas vezes não sabemos o que é ser cristão, nem as implicações que isso induz. Deste modo tão simples, traça-se o perfil do cristão, dizendo que cristão é aquele que procura compreender e viver toda a sua vida a partir da escuta sincera de Jesus Cristo e da sua mensagem, dessa escuta sincera e contínua nasce o conhecimento que se traduz numa relação, de amizade, de comunicação recíproca e de confiança inabalável. Mas não basta escutar Jesus ou admirar a sua mensagem é preciso segui-Lo, deixar-se conduzir por Ele. Só esse seguimento nos torna seus discípulos e testemunhas, sinais e instrumentos da sua paz e da sua misericórdia. Daqui se deduz que não basta ser "praticante", por vezes aqueles que aparentemente nem a igreja frequentam, têm mais proximidade com Ele do que os outros. Sobretudo, quando respeitamos o próximo e o auxiliamos na sua caminhada na vida, quando respeitamos os animais, esses seres sem voz e sem direitos que por vezes achamos entes menores, quando respeitamos a natureza que tão vilipendiada é por nós diariamente, quando respeitamos o planeta, nossa casa comum, que vamos destruindo paulatinamente, em suma, quando respeitamos tudo o que nos cerca e que - segundo a teologia cristã - é obra de Deus. Mas falamos muito em igreja, mas o que é a Igreja? O apóstolo S. Pedro fala-nos dela como de um edifício espiritual em construção sobre Pedra Viva e fundamental que é Jesus Cristo. Esta imagem da igreja como templo em construção é particularmente sugestiva, dizendo-nos, claramente, que cada um de nós tem nela um lugar e uma função; que todos somos responsáveis pela sua imagem, pela sua vida e pela sua missão, ainda que de modo diferente, cada um segundo a sua vocação, as suas aptidões e circunstâncias. E, já agora, o que é a paróquia? É uma concretização da igreja a nível local. Ou seja, é um povo que anuncia, celebra e testemunha a fé, tornando-se, aqui e agora, sinal de uma presença e acção através dos serviços que assume e realiza, tais como, o serviço da palavra, o serviço da oração e o serviço da caridade. Não basta dizer que somos cristãos se desconhecemos o espaço em que o cristianismo se espalha, sem compreendermos o tempo que foi o de Jesus Cristo e aquele que é o nosso - e, por vezes, a igreja católica tem dificuldade em se adaptar aos novos tempos afastando assim, muitas pessoas que não se revêem na doutrina - mas, fundamentalmente, nos ensinamentos e no conforto moral que nos trás, sobretudo, quando estamos perto da morte. Podemos não ser católicos "praticantes" - um eufemismo particular do catolicismo -, podemos até o dispensar em outras alturas fundamentais da nossa vida, mas, quando pressentimos que estamos a chegar ao fim da nossa vida, não deixamos de recorrer a ele, para nos confortar e, muitas vezes, na tentativa de "adquirir um bilhete" para a nova viagem, "bilhete" que fomos recusando ao longo da nossa vida. Por vezes, o destino faz com que nos deparemos com testemunhos de fé. É o caso da foto que acompanha este texto. Foi por mim tirada em Fátima, já lá vão vários anos, mas nunca me deixou de impressionar. A fé dum homem, que estava só, com uma devoção imensa - quase transcendental - num recolhimento que nem sempre vemos nesse local. Uma imagem punjente, dum homem só - tal como Jesus Cristo -, na grandeza, na humildade, na serenidade que me transmitiu naquele momento quando, por mero acaso, me cruzei com ele. Esta imagem tem-me acompanhado ao longo dos anos. Não sei porquê, mas parece que ela encerra algo de notável, algo de místico que me tocou profundamente.

Saturday, May 21, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 100

Hélas! Finalmente o grande debate! Como tudo o que é mediatizada, assistimos, mais uma vez, à montanha que pariu um rato. Ontem o debate entre Sócrates e Passos Coelho foi anunciado como o decisivo para as eleições, depois dele talvez não houvesse necessidade de o povinho ir votar. Afinal para quê? No fim, como quase sempre acontece quando as coisas são muito antecipadas, assistimos a mais uma troca de insultos entre os dois - nada a que não estejamos já todos habituados - mas as ideias, essas ninguém as revelou. E bastou ver o desconforto que Passos Coelho teve quando confrontado com o seu programa eleitoral e Sócrates com a sua responsabilidade. Afinal, no programa do PSD existem muitas ideias que põem em causa o estado social, disso não restou dúvidas, e se elas existissem, nada melhor que analisar o programa do PSD que está na internet. Mas isso já nós todos sabíamos, também, as questões que gostaríamos de ver discutidas, essas nenhum deles teve coragem para as pôr perante os portugueses. Como por exemplo, gostaríamos de ter ouvido o que cada um pensa sobre a evolução do país e os sacrifícios que todos vamos ter que passar, e sobre isto nada; depois, gostaríamos de saber como se vai proceder ao nível autárquico para a redução de câmaras e juntas de freguesia - como impõe o programa da "troika" - e o que vai acontecer aos muitos funcionários que nelas trabalham, - porque a simples deslocalização não irá absorver todos eles -, e sobre isto nada; depois gostaríamos de saber como vai ser o novo ordenamento do território face às medidas exigidas, e sobre isto nada; gostaríamos de saber o que vai acontecer ao SNS, porque muitos não sabem que temos um SNS dos melhores da Europa e do mundo - nós que sempre dizemos mal de tudo que é nosso nem sempre temos a percepção do que de bom existe por cá - e que não se poderá manter no futuro, porque o Estado não terá dinheiro para o continuar a subsidiar, e sobre isto nada; gostaríamos de saber, no limite, o que vai acontecer ao nosso sistema democrático - que não ficará igual ao que actualmente temos - e o que cada um pensa disso, e sobre isto nada. Afinal, o grande debate não respondeu a nada de fundamental, o resto já todos nós sabemos. Passos Coelho tem um programa liberal, Sócrates tem um programa igual aos das eleições anteriores, com alguns retoques, mas ambos, - ganhe quem ganhar - têm um programa bem mais abrangente e disciplinador como é o programa da "troika". Mas isto, já todos sabemos, os detalhes que era aquilo que interessava nem uma palavra. O jornalista também não fez melhor, para quem dizia que neste debate não existiam perguntas "tabú", convenhamos que ficou muito aquém das expectativas. Claro que no fim, e como é habitual, vêem sempre uns tantos dizer que venceu o A e outros que o B foi mais convincente, transformando o debate numa espécie de pugilismo político que é sempre degradante, que foi importado dos EUA, e que se pretende aplicar num espaço diferente com uma cultura política diversa. Neste espectáculo não entramos. Tudo ficou adiado para a campanha eleitoral - que em boa verdade já começou à muito - onde se vão continuar a ouvir as agressões, os insultos, as birras, - como tem acontecido nos últimos meses - mas as ideias, o bem-estar dos portugueses, isso nunca saberemos, porque não interessa que se dê opinião sobre estes temas antes das eleições, porque não dão votos e, quiçá, até podem vir a desbaratar alguns. Esse calculismo político que levou a esta crise política e a novas eleições, pegou-se a nós como sarna, ao fim e ao cabo, muito bem ilustrado na eloquente frase de Passos Coelho, "ir ao pote"! A partir de amanhã, começa oficialmente a campanha, para além dela é tempo de começarmos a pensar por nós próprios, naquilo que queremos para nós, para os nossos filhos e netos, exercendo a cidadania sem rodeios. Vejam o exemplo aqui ao lado na vizinha Espanha, com as manifestações patrocinadas por jovens sem esperança. Não pensem que não vai chegar aqui, em breve a teremos por cá, porque cada vez mais as populações percebem que têm que ter um papel mais interventivo na sociedade e no seu futuro, e não basta que de quatro em quatro anos, o deleguemos através dum voto, muitas vezes em quem não está interessado em nós. Como à dias notamos, o aviso da SEDES é muito importante e oportuno. "As condições políticas que existem em Portugal", diziam, "são cada vez mais parecidas com as que eram na I República e que conduziram à ditadura". Reflictamos sobre isto. Esta também é uma questão que os políticos não respondem, preferem andar entretidos a insultarem-se uns aos outros, porque para eles, fora da "classe política" não existe mais mundo.

Friday, May 20, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 99

De acordo com uma das leis da física, a seguir ao caos (político) há-de vir uma outra coisa qualquer. E essa coisa, pode não ser tão simpática assim. A SEDES apresentou, esta semana, uma análise à situação política em Portugal e concluiu que é idêntica à que existia na primeira República e que conduziu à ditadura. De facto, temos vindo a assistir a um cortejo de irresponsabilidade (política) que é, no mínimo, confrangedor. O líder do PSD tem vindo a afirmar nos últimos dias, que mesmo que tenha uma maioria com o CDS/PP mas não fique em primeiro não será primeiro-ministro(!). Temos vindo a assistir a um degradar da imagem e das palavras de Passos Coelho, mas afirmações deste tipo são verdadeiramente irresponsáveis. Paulo Portas já veio dizer que é melhor que Passos Coelho pense bem no que anda a dizer e Francisco Assis vem-no alertando para não usar uma linguagem crispada que inviabilize acordos futuros. Como já aqui referimos por várias vezes, tínhamos simpatia por Passos Coelho, simpatia que se vai esvanecendo à medida que o tempo vai passando. É nítida a impreparação política deste, e isso é preocupante, sobretudo, num momento em que Portugal está sujeito às mais variadas e fortes pressões por parte do exterior, necessitando assim, dum primeiro-ministro firme e decidido. Hoje, temos dúvidas de que Passos Coelho seja essa pessoa que Portugal necessita neste momento. Contrariamente a Paulo Portas que, desde que assumiu a postura de candidato a PM, tem vindo a assumir uma prudência e uma sensatez que não é comum na política portuguesa. E neste momento difícil para Portugal temos que ter isso em conta, a sensatez, a capacidade de diálogo, a capacidade de entendimento são fundamentais. Como ontem foi afirmado pelo Banco de Portugal, a situação será muito difícil para os portugueses, sobretudo, para aqueles com menores posses, daí o convite a poupar. Mas poupar como? Em primeiro lugar os portugueses - a sua maioria - não têm capacidade de poupança, visto nada lhes sobrar ao fim do mês, faltando até, - na maioria dos casos - orçamento para os trinta dias. Depois, porque esta ideia - embora sensata - conduz a um ciclo de empobrecimento ainda maior. Porque se poupar-mos, iremos afectar o consumo que também diminuirá, logo as empresas perderão mercado - e muitas delas fecharão - aumentando, assim, o desemprego. E este, é o verdadeiro "calcanhar de Aquiles" para o nosso país. Só na Madeira o desemprego atingiu já os 14% - muitos não têm a noção disso - e no Algarve, por exemplo, já atingiu os 18% - a que a sazonalidade não é estranha. E é preciso não esquecer que 84% das PME's em Portugal têm menos de dez trabalhadores, o que só por si, dá a ideia da sua fragilidade e vulnerabilidade. As pensões são baixíssimas, colocando um franja significativa dos portugueses no limiar da pobreza. (Só para termos uma ideia, as pensões mais baixas representam um milhão de portugueses)! Mas isso, não quer dizer que estejamos de acordo com a ideia peregrina de Paulo Portas de querer distribuir, aos mais pobres, vales para a compra de alimentos. Isto reprensentaria um estígma social enorme que geraria mais revolta. Se Paulo Portas estivesse, por ventura, nessa situação, com certeza que, não gostaria que lhe fizessem isso. É certo que a transformação do rendimento mínimo - que foi criado por Ferro Rodrigues -, e que veio a ser transformado posteriormente - por Bagão Félix -, quando criou o rendimento de inserção, nunca foi tão longe. Esta ideia é semelhante com a que foi importada do Brasil de Fernando Henrique Cardoso - "Pobreza não" - e, depois foi adaptado por Lula da Silva - com o famoso cartão "Fome zero". É curioso como a geometria política por vezes dá saltos epistemológicos consoante se esteja num continente ou noutro. Já aqui, o tínhamos referido, este é o seu melhor exemplo. Esta ideia da esquerda brasileira é recuperada pela direita portuguesa mas, - e é importante notar isto -, num contexto bem diferente e num continente que nada tem a ver com a América Latina. Esta é a situação em que nos encontramos, e em que a UE - nossos parceiros - não têm tido em atenção. Desde logo, pelos juros incomportáveis que nos impõem para a "ajuda externa" - que nos irão delapidar os recursos ainda mais, talvez, como vai acontecer com a Grécia, a reestruturar a dívida -, que seria o que pior nos poderia acontecer, mas que não estamos certos de que nos livraremos disso. Entretanto, Angela Merkel - sempre ela - arvorando-se na "dona da Europa" vem dizer aos portugueses, gregos e espanhóis que deveriam trabalhar mais e ter menos férias. (Asserção logo defendida pelos nossos empresários sempre ávidos de explorar tudo e todos com aquela postura de patrões do terceiro mundo muito típica entre nós. Posição mais séria e correcta teve a CIP quando veio a terreiro dizer que "Merkel está enganada sobre a realidade portuguesa". Ainda bem que, na esfera dos patrões ainda existem pessoas com bom-senso). Ela não sabe, ou não quer saber, aquilo que diz. Será que Merkel desconhece que existem empresas alemãs que dão mais férias aos seus trabalhadores do que as portuguesas? Será que ela não sabe que em Portugal se trabalham mais horas do que na Alemanha? Assim, não vamos lá, assim o projecto europeu vai desmoronar-se rapidamente. Porque é que a sempre activa Merkel ainda não pensou na criação de vários níveis dentro da zona euro? Porque se qualquer país sair da zona euro - seja lá ele qual for - o euro poderá estar em causa e, por maioria de razão, a própria UE. Não é possível que economias mais débeis como a nossa, a grega, e mesmo, a espanhola estejam dependentes dum euro forte, com economias tão débeis como as destes países. Já para não falar da Bélgica e da Itália. Todos sabemos que Merkel de economia não sabe nada, mas é estranho que, não tenha assessores que lhe dêem algumas ideias para ver se ela deixa de dizer disparates sempre que fala. Para terminar, apenas uma palavra sobre as "Parceiras Público-Privadas" (PPP's), que tão diabolizadas têm sido nos últimos tempos. Todos sabemos que existe muita coisa para corrigir, mas não estamos ao lado daqueles que acham que elas são o mal em Portugal. Para os que não sabem, as PPP's foram criadas no tempo de Cavaco Silva, quando foi PM, e foi com elas que se conseguiu construir a nova ponte sobre o Tejo (a ponte Vasco da Gama) ou o CCB - obra emblemática de Cavaco - a que hoje chamariam "faroónica". Mas sem elas, o país não teria desenvolvido tanto assim, pelos simples facto de que, o Estado não tinha capacidade financeira para levar a cabo estas obras. Portugal muito deve às PPP's embora não escondamos que necessitam de maior controle e rigor. E desenganem-se aqueles que pensam que se vão discutir as PPP's numa reunião e fica tudo resolvido. Esta situação levará ainda muitos anos a ser resolvida e se elas acabarem em tribunal, estamos convencidos que nem numa legislatura o assunto esteja terminado. À que falar sério às populações e não embrulhar tudo em papel dourado. Sabemos que em campanha eleitoral tudo vale (infelizmente) mas não pode haver espaço para a irresponsabilidade e para a ilusão, sobretudo, em momento tão difícil para o nosso país.

Wednesday, May 18, 2011

No centenário de Gustav Mahler

Cumprem-se hoje cem anos da morte do grande compositor e regente de orquestra Gustav Mahler. Mahler nasceu na Boémia a 7 de Julho de 1860 e viria a falecer a 18 de Maio de 1911 em Viena. Gustav Mahler foi um compositor controverso, - um tanto neurótico - e nem sempre compreendido. As suas extensas sinfonias eram consideradas impossíveis de executar duma só vez - o que só muito recentemente se fez - extraindo-se parte das mesmas para apresentar nas salas de concerto. Das dez sinfomias que compôs, o "adaggietto" da sua quinta sinfonia viria a tornar-se uma peça sobejamente conhecida e, curiosamente, através do cinema. Foi o tema principal de "Morte em Veneza" do franco-italiano Luchino Visconte. Filme, também ele, controverso viria a contar com esta famosa música de Mahler que lhe granjearia a popularidade. Mas para além das sinfonias, Mahler viria a compôr canções, algumas delas de rara beleza, como é o ciclo das "Canções da Terra" (Das Lied von der Erde). É considerado o compositor que melhores combinações fez de instrumentos nas suas peças, e como exemplo deixo-vos a terceira sinfonia que merece uma audição muito atenta. (Já agora, se tiverem acesso à interpretação que dela foi feita nos concertos promenade de 2010, ficam com um excelente registo da mesma). Este percursor dum outro estilo de música, que se viria a enquadrar naquilo que habitualmente se chama de "período moderno", teve um impacto no seu tempo, como Leonard Bernstein teve nos anos 50 e 60 do século passado. Mahler é um dos meus compositores preferidos, e aproveitando a comemoração do centenário da sua morte, não deixemos de lhe consagrar algum do nosso tempo. Escutem essa obra fabulosa que é a segunda sinfonia, mais conhecida por "Ressureição", ou então, a oitava, também conhecida pela "Sinfonia dos mil", obra fantástica que me serviu de iniciação ao fantástico mundo de Mahler. Como sugestão, e caso tenham oportunidade, poderão ouvir na Antena 2, - durante todo o dia de hoje -, a celebração deste compositor e da sua música. Como nota final e para aqueles que gostam de ver filmes inspirados nestas figuras, recomendo-vos o filme "Mahler" de Ken Russel, rodado em 1974.

Equivocos da democracia portuguesa - 98

Como se não bastasse o mundo de confusão e de insultos em que a corrida eleitoral se tornou, fez com que viesse a lume mais uma trapalhada a envolver o partido de Passos Coelho. Agora, trata-se da cultura. Uma das figuras próximas do líder laranja veio afirmar que se o PSD ganhar as eleições o ministério da cultura acaba. Num país onde a cultura tão maltratada tem sido, acabar com um ministério que a ela se dedique é algo de impensável. Gabriela Canavilhas já veio a terreiro dizer que se "trata dum retrocesso civilizacional", frase bem aplicada, na nossa opinião. Todos sabemos que à que efectuar cortes para a redução dos encargos do Estado, mas porque é que a cultura há-de sempre ser a sacrificada. Aliás, pensamos até, que a cultura deveria ser reforçada, porque o país bem carente dela está, basta ver o triste espectáculo que os políticos têm dado por esse país fora. Talvez por isso, é que alguém ache por bem extinguir o ministério da cultura, assim já não têm que se justificar. Mas nem só de política se fez esta semana. Tivemos a surpreendente revelação da prisão de vários elementos da PSP, acusados de extorção, tráfico de droga, etc. Foram presentes à justiça que determinou, para dois deles, a prisão preventiva. Se foi surpreendente a prisão destes agentes, foi mais surpreendente que alguns deles sejam graduados da instituição. Mas o mais preocupante foi ver alguns colegas à porta do tribunal a dar apoio as seus colegas presos. Afinal que polícia é esta? Que confiança podem ter as populações nesta instituição e nestes agentes? Perguntas que ficam para a reflexão de cada um. Mas ainda voltando àquilo que a todos nós aflige - a situação do país - pensamos que muito se tem exagerado. Provavelmente para que quando as medidas vierem - por mais graves que sejam - ficarem áquem daquilo que todos nós esperavamos. Isso já foi feito no passado recente e, agora, parece que se torna a repetir. A situação do país é grave - pensamos que ninguém tem dúvidas disso -, mas também pensamos que as coisas não são tão negras assim. Se fizermos a comparação com aquilo que se passa nos EUA, verificamos que, por exemplo, a Califórnia tem uma dívida pública que ultrapassa os 400% do PIB (!), e ainda devemos saber que, um terço dos estados americanos estão falidos. Só para uma breve comparação diremos que, a situação da Grécia é menos grave do que a do estado da Califórnia. Daí o não pensarmos naquilo que os americanos defendem para o FMI, dizendo que se um país está à beira da bancarrota é deixá-lo falir. Isto a propósito da visão futura desta instituição, depois do seu director se ver envolvido num escândalo sexual. Angela Merkel já veio afirmar, - e bem quanto a nós -, que quer um europeu à frente do FMI. É sabido que Dominique Strauss-Kahn sempre defendeu os interesses europeus e o euro, - e a ajuda à Grécia, Irlanda e Portugal, são disso exemplo -, com taxa bem inferior à da UE. Aliás, os EUA que têm um elevado valor da sua dívida subscrito pela China (!) deveria ter alguma cautela sobre aquilo que diz e, sobretudo, sobre aquilo que faz. Já que falamos em taxas, foi conhecida, no início da semana, a taxa para Portugal depois da reunião do Ecofin, que será de 5,1% durante sete anos e meio. (Já agora, convém dizer que nas próximas duas semanas, virá a primeira tranche de 18 mil milhões de euros, valor mínimo que é concedido antes de saberem o que resultará das eleições). Beneficiando dos ajustamentos feitos à Grécia e à Irlanda, mesmo assim, continuamos a achar esta taxa muito elevada, e de difícil compromisso. A economia portuguesa não tem crescido tanto assim e, agora que a recessão voltou e vai por cá ficar até ao final de 2012, pelo menos, será difícil perceber como poderemos cumprir estas obrigações, com a economia em contracção. É evidente que a UE não tem dado a maior ajuda, como lhe competia - e à dias Helmut Kohl, o antigo chanceler alemão afirmava que "a Europa tem que se precaver com o regresso dos nacionalismos à Europa". Nada mais sensato e oportuno no momento que atravessamos. Mais uma vez, o "touro da Baviera" - como era conhecido Kohl - pôs o dedo na ferida. Ele que foi um grande estadista europeu, numa altura em que a Europa se podia orgulhar do nível dos seus estadistas, e não como agora, onde estes amanuenses da política não têm sequer sentido de Estado, a começar por Angela Merkel, que tudo faz em favor da Alemanha e da sua sobrevivência política, em detrimento do projecto europeu. As palavras de Kohl assentam-lhe bem e, seguramente, devem ter-lhe dado algum desconforto. Mas não é só na Europa que se nota a falta de estadistas, por cá, sofremos do mesmo mal. E voltando àquilo que de pior tem a política portuguesa, vemos um Passos Coelho a criticar duma forma despudorada as "novas oportunidades". Já aqui neste espaço, tivemos oportunidade de alertar para alguns desvios face àquilo que achavamos ser a linha coerente das "novas oportunidades". Mas criticá-las desta maneira, parece uma farsa do mais baixo quilate. Muita gente beneficiou deste projecto, pessoas que queriam reforçar as suas competências e que, no tempo oportuno, não poderam concluir os seus estudos. Sabemos que alguns sectores empresariais também o criticaram - que coincidência - mas não podemos esquecer que muita gente beneficiou e continua a beneficiar desta iniciativa. Todos nós conhecemos alguém que está ou esteve ligado a este projecto de valorização profissional, e isso é importante, porque nem todos tiveram oportunidade de estudar, muito menos em colégios privados. Acresce ainda que, as "novas oportunidades" foram certificadas pela Universidade Católica, num projecto dirigido pelo Prof. Roberto Carneiro, um ex-ministro da educação num governo... PSD!!! A UNESCO achou-o um exemplo a ser seguido no mundo, mas Passos Coelho não acha assim. Ele, de cima da sua sapiência, acha que é "um certificado à ignorância"!!! Foi-se Catroga mais as suas afirmações, mas parece que Passos lhe quer seguir as pisadas. Como diz um provérbio árabe: "Não abras a boca se não tens a certeza de que aquilo que vais dizer é mais belo do que o silêncio". Passos Coelho, seguramente, não conhece o provérbio... Num país onde a oferta cultural ainda é deficitária parece que Passos Coelho quer manter os portugueses na ignorância, numa atitude muito próxima do regime anterior. Mas as confusões do jovem líder laranja não ficam por aqui. Agora acha que a taxa que Portugl vai pagar pela ajuda externa "é um castigo para Portugal", contudo, foi o homem que assinou de cruz o acordo sem colocar questões ou reservas. E agora, quer renegociá-la!!! É certo que a taxa de 5,1% é exagerada, e que dificilmente vamos conseguir assumir os nossos compromissos. Como bem disse Bagão Félix "esta ajuda é envenenada. A Europa não pode ser agiota". Esta taxa é fixada por uma "bench mark" acrescida dum "spread" fixados pelos vários países da UE, tendo como referência a Grécia e a Irlanda. Mas mesmo assim, não deixa de ser agiota, mesmo comparada com a que o FMI cobra. Mas como disse Francisco Louçã: "Passos Coelho muda muito de opinião". Todos já tínhamos percebido isso, por mais distraídos que andemos. Na política - infelizmente - vale quase tudo, sobretudo, quando temos políticos que estão longe de ser estadistas, buscando apenas "o pote" por circunstancialismo e mera ambição de poder.

Tuesday, May 17, 2011

Ginette Reno - Uma artista excepcional

Para muitos o nome de Ginette Reno nada diz. Contudo, no mundo francófono é uma das estrelas que mais brilham. Artista consagrada, cantora excepcional, Ginette Reno é possuidora duma voz fantástica, cantando temas de grande beleza e profundidade poética. Nomeada Cavaleira das Artes e das Letras pelo ministro da cultura francês, Frédéric Mitterand, em Abril passado, só veio sublinhar, ainda mais, a grandeza desta cantora, chamando para ela a atenção, se ainda fosse preciso. Ginette Reno vive no Québec, no Canada francófono, e tem vasta obra editada. Trago-vos este nome, por ainda não é muito conhecido entre nós, onde a música de expressão anglo-saxónica abafa todas as outras formas de expressão artística. Contudo, por vezes temos que mergulhar noutros ambientes para não cristalizarmos e sermos objectos de arte menor sem que para isso nos tenhamos apercebido. Tudo isto, porque este ano Ginette Reno apresentou ao público um excelente registo de nome "La Musique En Moi", disco de elevada qualidade, com orquestrações fantásticas, uma linha poética brilhante - muito para além das simples "letras" para canções -, com uma produção notável. Há momentos que nos sentimos transportados para um outro lugar de mais paz e harmonia, com as palavras quentes - timbradas por uma bela voz - com que Ginette Reno nos brinda. Música de muita qualidade, daquelas que lembram bem a tradição da "chanson française", mas dentro duma linha poética que faz lembrar, Brel, Brassens, Ferré, etc. Um disco a ouvir com atenção, admiração e profundidade. Este disco já é número um de vendas e o primeiro avanço é o excepcional tema "La même adresse", um bom começo para iniciar a descoberta. Se não conhecem a artista - o que será o mais provável - vejam alguns vídeos que se encontram disponíveis no YouTube, que servirão apenas como indicador e preparador para a audição deste fantástico CD que vos recomendo. Música superior em qualidade, em interpretação, em apresentação. Não deixem de escutar verão que vale a pena.

Sunday, May 15, 2011

A dívida soberana - Sete mandamentos para ultrapassar a crise

Nestes momentos de crise, crise económica e financeira - que é a que mais se fala - mas também crise de valores, crise de identidade, é bom olharmos para a tão falada crise com um olhar um pouco irónico, e tentar tirar dela os ensinamentos que antes descuramos. Uma outra visão da crise, uma visão mais humana - ou humanista - para tirarmos os valores que sempre esquecemos. Assim, aqui vos deixo os sete mandamentos para a ultrapassar: 1º - a primeira de todas as dívidas soberanas, e certamente a mais fundamental, é aquela que cada um de nós mantém para com a Vida. Essa dívida nunca a pagaremos, nem ela pretende ser cobrada. Reconhecer isso em todos os momentos, sobretudo naqueles mais exigentes e confusos, é o primeiro dos mandamentos. 2º - Se a maior de todas as dívidas soberanas é para com um dom sem preço como a vida, cada pessoa nasce (e cresce, e ama, luta, sonha e morre) hipotecada ao infinito e criativo da gratidão. A dívida soberana que a vida jamais se transforma em ameaça. Ela é, sim, ponto de partida para a descoberta de que viemos do dom e só seremos felizes caminhando para ele. É o segundo mandamento. 3º - O terceiro mandamento lembra-nos aquilo que cada um sabe já, no fundo da sua alma. Isto de que não somos apenas o receptáculo estático da Vida, mas cúmplices, veículos e protagonistas da sua transmissão. 4º - O quarto mandamento compromete-nos na construção. Aquilo que une a diversidade das profissões e as amplas modalidades do viver só pode ser o seguinte: sentimo-nos honrados por poder servir a Vida. Que cada um a sirva, então, investindo aí toda a lealdade, toda a capacidade de entrega, toda a energia da sua criatividade. 5º - A imagem mais poderosa da Vida é uma roda fraterna, e é nela que todos estamos, dadas as nossas mãos. A inclusão representa, por isso, não apenas um valor, mas a condição necessária. O quinto mandamento desafia-nos à consciência e à prática permanente da inclusão. 6º - As mãos parecem quase florescer quando se abrem. Os braços como que se alongam quando partem para um abraço. O pão multiplica-se quando aceita ser repartido. A gramática da Vida é a condivisão. Esse é o mandamento sexto. 7º - O sétimo mandamento resume todos os outros, pois lembra-nos o dever (ou melhor, o poder) da esperança. A esperança reanima e revitaliza. A esperança vence o descrédito que se abate sobre o Homem. A esperança insufla de Espírito o presente da história. Só a esperança, e uma Esperança Maior, faz justiça à Vida.

Saturday, May 14, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 97

Finalmente parece que alguém mandou calar Eduardo Catroga que, segundo o próprio, "não falo mais, vou de férias". E isso é o melhor que poderia ter acontecido ao PSD, depois do ex-ministro das finanças ter vindo fazer afirmações no mínimo desconexas e impróprias. Desde a famosa TSU que agora subia não 4% mas 8% (!), - o que Carlos Moedas se apressou a desmentir -, até à linguagem imprópria como aquela que utilizou na SIC Notícias: "Os jornalistas passam a vida a discutir pentelhos em vez de discutir o que interessa". Enfim, para um ex-ministro de Cavaco não deixa de ser demais, e pensamos que até o próprio Cavaco terá ficado surpreendido - tal como nós - com afirmações despudoradas, brejeiras, mal-educadas do seu correlegionário. Mas parece que o silenciaram, talvez tenha sido o melhor. Mas as contradições do programa eleitoral do PSD não ficam por aqui. Agora é a privatização da RTP - um absurdo - que fez Marcelo Rebelo de Sousa vir a terreiro, e bem, dizer que isso era difícil porque viria diminuir a qualidade do canal e até, poderia ter um efeito preverso nos canais privados. Depois foi a estratégia para a Educação, que levou a fortes críticas de Santana Castilho, que acusou o PSD de ter um programa desajustado, tendo inclusivé copiado partes do livro que ele estava a apresentar com... Passos Coelho e, para cúmulo, terem-nas colado mal. Tal crítica desassombrosa e retumbante levou a que Passos Coelho tivesse admitido, em público, que iria rever essa matéria. Como disse Paulo Portas, - e não só -, o programa do PSD dá a sensação de que foi feito sobre o joelho, mas com pouca ou nenhuma consistência. Na tentativa de querer mostrar serviço, de querer ir mais longe do que a "troika", o PSD enreda-se nas suas próprias malhas. Como dizia Almada Negreiros: "Todas as palavras para salvar o mundo já tinham sido ditas, faltava apenas salvá-lo". Vieram a lume as últimas notícias que davam a informação de que Portugal entrou de novo em recessão, informação veículada com grande aparato nos meios de comunicação social, sempre alarmista. Essa "caixa" não faz sentido, porque tal já era conhecido. O efeito das medidas de ajustamento do défice a isso já tinham conduzido - Portugal está em recessão desde Janeiro deste ano (embora tecnicamente só tal se considere quando existem dois trimestres negativos) - e as medidas que se vão aplicar no âmbito do acordo com a "troika" continuarão a manter o país em recessão. Como já aqui dissemos, só em 2013 é que as coisas se inverterão, caso o plano seja bem aplicado. Tal como o desemprego que se vai fixar nos 13% - informação dada na conferência de imprensa pelo minstro das finanças à vários dias atrás - e que só em 2013 é que irá evoluir, não se justificando assim, mais uma vez, as "caixas" jornalísticas, embora saibamos que em campanha eleitoral todas as armas são utilizadas. Depois foi a informação de que a dívida tinha ultrapassado os 100% do PIB - facto, também, já esperado - que significa que a produção total dum ano, não existindo consumo, iria para pagar a dívida. Isto prende-se com uma diminuição da produção, que conduz a um menor rendimento, que implica uma contracção no consumo, que a verificar-se leva a uma queda no investimento e, logo, no emprego. O factor de compensação tem sido o aumento das exportações, que esperamos se continue a verificar. Mas o que falta é consistência nas propostas e na sua explicação junto dos portugueses. Paulo Portas no debate com Passos Coelho veio afirmar que "o PSD altera as suas próprias opiniões a todo o momento", o que é um facto, como já atrás demonstramos, e isso não é bom para esclarecer o eleitorado, mesmo aquele que aposta no PSD que, ou lhe passam um cheque em branco, ou não conseguem saber aquilo que o partido defende para Portugal. E agora que tanto se fala da TSU, e do seu abaixamento para as empresas, é bom dizer como se vai controlar tudo isto, para que a folga que as empresas vão ter sirva para as tornar mais competitivas e não para aumentarem os lucros. Portugal, como é sabido, tem muitas empresas com posição dominante, assim, é de esperar que, num mercado português tão desregulado, a folga que estas empresas vão ter seja desviada, seguramente, para o lucro. Daí o afirmarmos que não basta apresentar propostas, mas devem esclarecer com as vão implementar e controlar, caso contrário, o esforço será em vão, beneficiando apenas um punhado de pessoas que, em boa verdade, não precisam desse apoio. Neste arrazoado de informação desconexa, assim vai a nossa política, e os portugueses sem saberem ao certo o que cada partido defende, porque parece que tal, eles não querem revelar. O PSD tem uma agenda escondida - todos o sabemos - mas será que os outros também não a têm? Todos sabemos que estamos a ser vítimas da especulação dos mercados financeiros, e os juros que as instituições que estão a subscrever o empréstimo são disso o exemplo. A taxa acima de 5,5% que é expectável, está muito para além da nossa capacidade de solver a dívida. Basta dizer que a economia portuguesa não cresce 5% à mais de 10 anos... Daí o espectro da reestruturação da dívida tomar corpo, como está a acontecer na Grécia. Porque se a economia não alavancar nos próximos dois a três anos, estaremos a pedir novo empréstimo logo de seguida. Mas se a reestruturação da dívida é má para o país, ppara os especuladores não será tanto assim. Estes têm sempre a cobertura dos CDS - não confundir com o partido de Portas - (CDS é a sigla de "Credit Default Swap"), isto é, se um país não cumprir os credores têm este seguro de risco, que lhes dá cobretura, servindo até para apostar se o país vai cumprir ou não. Este é o nível a que o capitalismo (selvagem) chegou. Isto é preciso ser denunciado, para que todos saibam a armadilha em que estamos metidos. O problema é que não temos outra alternativa. Mas estas questões deveriam ser discutidas nos debates e nos comícios que se avisinham, contudo, os políticos preferem seguir a via do insulto rasteiro, da insinuação torpe, o confronto, em suma, aquilo que menos interessa aos portugueses. É preciso que saibamos que a campanha eleitoral não é um combate de boxe, mas um esclarecimento a que todos os portugueses têm direito. Mas os políticos não parecem pensar assim, duma ponta à outra do espectro político. Eles lá saberão porquê.

Thursday, May 12, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 96

Ficamos à dias a saber que a taxa que Portugal irá pagar pela ajuda externa ficará algures entre os 5,5% e os 6%. Quem o disse foi o comissário europeu para a economia Olli Rehn. Embora já espera-se-mos isso, não deixa de ser surpreendente que a UE nos leve uma taxa bem superior ao FMI, UE que devia ser solidária com os estados-membros que, ao que parece, não é. Daí a afirmação de muitos que diziam que Portugal precisava mais do FMI do que da UE. Não deixa de ser estranho, não deixa de ser bizarro, mas é assim mesmo. Agora coloca-se-nos um problema muito importante, como é que Portugal vai pagar esta dívida e os seus encargos. É do mais básico da teoria económica que, um país para pagar este juro, terá que ver a sua economia a crescer ao mesmo rítmo, isto é, a economia portuguesa deveria crescer entre os 5,5% e os 6% para fazer face à dívida sem hipotecar o futuro. Mas, a economia portuguesa não cresce a este rítmo à mais de dez anos. Como vamos sair disto? Talvez, agora se compreenda melhor o que está a acontecer com a Grécia. O encargo da dívida é muito elevado, a economia não consegue alavancar, e a Grécia está a negociar um novo pacote e, talvez, venha a ter que reestruturar a sua dívida - informação veículada pelo Wall Street Journal. Embora as autoridades gregas o neguem, - já negaram, a semana passada, a eventual saída do euro -, vão admitindo que "a Grécia está numa encruzilhada", quem o afirmou foi o PM grego. Temos que ter em atenção tudo isto, porque não estamos livres de nos vermos na mesma situação. Portugal, tal como aconteceu com a Grécia, está a ser vítima do aproveitamento das instituições que estão a tentar, duma forma perfeitamente agiota, sugar ainda mais, os parcos recursos que nos restam. Angela Merkle já afirmou que "Portugal está num caminho razoável para sair da crise". Isto significa que, a chanceler alemã ainda acha que se devia ter ido mais longe. A Sra. Merkel já esqueceu a ajuda que teve da UE quando a Alemanha tinha uma balança deficitária, talvez se devesse enviar-lhe um vídeo semelhante ao que se fez para a Finlândia, por vezes, é bom lembrar que aquilo que criticamos aos outros era a nossa realidade à alguns anos atrás. E Merkel esqueceu-se disso, ou não se quer lembrar. Enquanto estas questões nos deviam estar a preocupar a todos, aqueles que mais deviam estar atentos - os políticos - vão-se prestando a um circo mediático que até os pode beneficiar, mas seguramente que, não beneficia os portugueses. Mais uma vez, Passos coelho vem falar na privatização da CGD - embora agora vá dizendo que" não é para já" - quando todos os especialistas afirmam o contrário. Afinal talvez inda seja uma matéria em estudo, como parece ser tudo aquilo que apresenta e logo vem a terreiro corrigir. Depois foi a privatização de parte de RTP. O curioso é que se diz que, "se vai priviatizar um dos canais comerciais da RTP" o que não deixa de ser estranho. Porque canal comercial só tem a RTP1, porque a RTP2 não pode ser considerado comercial porque não tem sequer publicidade. Passos Coelho afirma que a estaçãp deve ter um serviço público, logo, ficamos sem saber o que ele quer. Se é a priviatização da RTP2, não é correcto afirmar que seja um canal comercial, quanto à RTP1 será, talvez, o serviço público de que fala. Ficamos sem saber, e talvez ele também não tenha bem a certeza. Deve ser mais uma matéria "para estudo"! Depois, como vem sendo recorrente, fala-se do TGV. Não escondemos que, como aqui já por diversas vezes defendemos, que somos uns defensores do TGV, mas parece que alguns políticos ainda não perceberam que, como disse alguém à dias, "o assunto do TGV já não é uma questão de Sócrates os Zapatero, é uma questão da UE, que o quer e já o afirmou". O TGV é determinante para a UE num processo de escoamento de produtos, como o foram as auto-estradas a quando da nossa adesão. Não esqueçamos o que foi dito, pelas instâncias internacionais, sobre o TGV quando Portugal apresentou a sua candidatura conjunta com a Espanha, à realização do mundial de futebol. Se ainda dúvidas ouvesse, ... basta consultar os registos da época. Agora, e como já abordamos na crónica anterior, vem mais um novo tema, o da famosa TSU que deve ser reduzida. Aquilo a que tecnicamente de chama de "desvalorização fiscal interna" pode até ter razão de ser, mas temos que pensar na actual situação do país. É certo que se baixarmos o imposto sobre o factor trabalho e aumentarmos sobre o consumo, estamos a tornar a economia mais competitiva, isto vem nos manais de economia, e já dele falamos anteriormente, mas à que pensar na real situação do país, e como se pode - restringindo ainda mais o consumo - fazer crescer a economia, quando estamos em recessão, e ela irá acentuar-se, como já é público? As exportações, só por si, não chegam, embora sejam uma boa ajuda. Julgo que andamos todos a dizer o que nos vem à cabeça, não parando sequer para pensar naquilo que dizemos. Até parece que vivemos num "país das maravilhas" qual Alice deslumbrada pelas insólitas situações que se nos deparam. Para terminar, gostavamos de fazer aqui uma breve análise sobre um documento que Passos Coelho apresentou no seu debate com Jerónimo de Sousa, sobre as privatizações feitas pelo PSD versus PS. Pensamos que isto, só por si, já é confrangedor, mas que se chegue ao despudor de iludir as pessoas é que não. Afinal chamaram de mentiroso a Sócrates e agora utilizam as mesmas armas que lhe criticaram. Isto tem a ver com o famoso gráfico. É certo que visto assim, no imediato, até pode parecer que o PS privatizou mais do que o PSD, mas tal não pode ser visto assim, porque o PSD governou durante cerca de nove anos e o PS durante cerca de doze anos. Logo, é natural que o PS tenha privatizado mais, visto ter estado mais tempo no poder. Assim, para se ser correcto e sério, deveria apresentar-se a média anual de privatizações nesse período, caso contrário, estamos a mentir aos portugueses. Não fizemos as contas, até pode ser que Passos Coelho tenha razão, mas a maneira como apresentou o documento é capciosa e falsa. Não será seguramente assim que, Passos Coelho refutará as acusações de ultra-liberal, porque se assim pensa, é porque não tem a consciência muito tranquila. Enfim, continuamos num circo político que a ninguém interessa, porque os problemas de Portugal são bem mais sérios. É pena é que ninguém se preocupe com eles, bem sequer os discutam, como se esses graves problemas que temos, simplesmente, não existam.

Tuesday, May 10, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 95

Agora que se aproximam as eleições, o circo mediático dos políticos entra no seu apogeu. Passos Coelho, no domingo passado, finalmente, lá apresentou o seu programa eleitoral, com imensas interrogações que todos nós colocamos e para as quais ainda não veio resposta. Desde logo, a tão polémica redução da TSU para as empresas, essencialmente as exportadoras. É certo que, a diminuição do imposto sobre o factor trabalho conduz, inevitavelmente, ao aumento do imposto sobre o consumo, como factor de compensação, e isso, segundo os manuais de economia, conduz a uma economia mais competitiva. Isto quando o país não tem moeda própria como é o nosso caso e o dos restantes países da zona euro. Isso é um facto, que até o PR enunciou - lá para dar uma mãozinha ao programa do seu partido (atenção à isenção em período eleitoral!) - mas o que ele não disse foi que o imposto sobre o consumo mais cego e mais rápido para o Estado obter receita é o IVA. Se a economia está como está, se é necessário crescimento - e desde logo, mais consumo das famílias -, como se vai compatibilizar tudo isto. Mesmo salvaguardando um cabaz básico de bens essenciais - coisa que o PSD ainda não assumiu frontalmente - não vemos como se vão criar condições para o crescimento, a menos que se ponha, em definitivo, os portugueses a pão e água, visto ser difícil ter dinheiro para mais qualquer coisa. Propostas ligeiras que parecem não ter em conta a maioria da população tão carenciada e esprimida. Sabemos que para os líder políticos essas realidades não passam de ficção porque os chorudos ordenados impede-os de passar pelo calvário que cada português está a passar hoje em dia e irá ver agravado nos próximos meses. Quando se fala do IVA não podemos escamotear alguma perplexidade por algumas taxas em vigor, como por exemplo, no futebol que é de 6%!!! Algo está muito mal e todos sabemos disso. Mas o PSD parece que entrou numa linha próxima dos ex-líder cubano que falava durante horas nos seus famosos discursos. Agora temos Eduardo Catroga que faz conferências de imprensa de duas horas (!) que são inexplicáveis para todos nós. (Não sei se assistiram à conferência de imprensa da "troika" à dias, mas nós que lá estivemos, assistimos a algo que não é comum entre nós, depois de concederem 45 minutos, a conferência durou... 46! Com perguntas directas onde não eram admitidos comentários. Temos muito a aprender com esta gente, e não é só no plano económico-financeiro). Mas esta atitude de Catroga até recebeu uns "mimos" de Marcelo Rebelo de Sousa, porque inexplicável. Aliás, a própria linguagem de Catroga nos tem parecido estranha, bem difente, do economista competente e ponderado que é, embora temos que ter em conta que ele tem que alinhar pelo diapasão do seu partido. Mas, nem tudo é mau, ainda existem vozes acervas na nossa sociedade como o responsável da Universidade de Coimbra quando falou com seriedade sobre a questão laboral, sobretudo, ao nível salarial, afirmando que, "no actual contexto, ou vamos ter uma mão-de-obra barata - e aí perdemos em competição com os chineses -, ou então vamos ter uma mão-de-obra qualificada". Visão muito acertiva e realista que gostaríamos de ver nos representantes dos patrões ou no líderes políticos. Por isso, temos que ter cuidado com aquilo que fazemos e, sobretudo, com aquilo que dizemos, sobretudo, se temos responsabilidades políticas. Daí o ser incompreensível - pelo menos para nós - que Passos Coelho tenha afirmado que "o programa do PSD é mais grave do o da "troika"(!)". Afirmações incompreensíveis para os portugueses, que tantos sacrifícios estão a fazer e vão continuar a fazer. (Como afirmou um jornalista, o programa do PSD assemelha-se a um avião em queda, e para aliviar o peso, deitam-se fora os... páraquedas!!!) Até parece que o programa da "troika" é uma coisa excelente. Não é, e já o dissemos na anterior crónica, e a maioria dos portugueses ainda não o leu ou não o compreendeu, para saber o que por aí vem. Daí a disputa entre os vários partidos - do arco governamental - para saber quem contribuiu mais para o plano, tentando cada um deles, dizer que o plano é uma coisa magnífica. É incompreensível e absurdo. Basta ver o que está a acontecer na Grécia, onde as taxas de juro não param de crescer, o que levou, no passado fim-de-semana, a que o "Der Spiegel" - revista alemã conceituada - a afirmar que a Grécia ponderava abandonar o euro. Embora prontamente desmentida a informação por todos os intervenientes é caso para dizer que não há fumo sem fogo, sobretudo, face ao evoluir da situação naquele país, e não esqueçamos, que tal pode vir a acontecer-nos também. A reestruturação da dívida grega é quase inevitável e poderá ser o nosso caso daqui a três anos se as coisas não correrem bem, sobretudo, se a economia não começar a crescer, o que nos afigura difícil com o plano da "troika". E caso se venha a verificar a saída da Grécia do euro, é quase inevitável que o mesmo nos venha a acontecer, o que também - estamos certos - será o fim do projecto europeu conforme o conhecemos hoje. A Europa está em crise - e Portugal não é excepção - mas no nosso caso, a sua ampliação fruto duma crise política, poderia ter sido evitada. No fundo, como é que os partidos que levaram à queda do governo justificam o apoio ao plano da "troika" baseado no PEC 4, que foi o pomo da discórdia? E para aqueles que negam as evidências, convidamos os interessados a analisar o PEC 4, ponto por ponto, e a analisar o plano da "troika" e depois tirem as vossas conclusões. A irresponsabilidade tem sempre um elevado preço, preço esse, que é pago por todos nós, não o esqueçamos...

Monday, May 09, 2011

Conversas comigo mesmo - XII

Depois da Páscoa o encontro com Cristo ressuscitado é um acontecimento que transforma os discípulos, ressuscitando a sua fé e reanimando toda a sua vida. A primeira comunidade sem o Ressuscitado era um grupo dobrado sobre si mesmo, de portas fechadas, sem objectivos nem missão alguma, cheios de medo e na defensiva. É o encontro com o Ressuscitado que os transforma e reanima, os enche de paz e alegria, os liberta do medo e do remorso e lhes abre novos horizontes, impulsionando-os para uma missão evengelizadora. Tomam, então, a consciência fundamental de que são o prolongamento vivo de Cristo e de que a sua missão e função é anunciar e, de algum modo, realizar o Reino de Deus no meio dos homens, sob os véus da fé, do amor, da esperança e do mistério. Missão que nasce da convicção de que o Ressuscitado é agora o Senhor de todas as coisas, fonte de paz e de reconciliação do homem consigo mesmo, dos homens entre si e com o mundo. "Como o Pai me enviou também Eu vos envio a vós". Como teria sido sentida a ressureição à dois mil anos atrás. Hoje entende-mo-la, seguramente, dum modo bem diferente, mas naquela época, algo que teria que acontecer no fim dos tempos, estava a acontecer ali e agora, seria que os tempos já tinham terminado? Seria que estavam vivos ou mortos? Não sei se podemos imaginar a confusão que, então, terá percorrido os seus espíritos de seguidores fiéis e devotos, que tinham abdicado de tudo, até da possibilidade de perderem a sua própria vida, como viria a acontecer com muitos. Isto é o centro da Fé cristã. O Cristianismo não vive da saudade de um facto feliz do passado, surgiu como um anúncio e celebração de uma presença, a presença de Jesus Cristo. Celebrar a Fé, crer na Ressureição é crer na possibilidade um encontro com Ele. É crer que Ele se tornou capaz de entrar em relação viva e real com cada um de nós e que tem o poder de reproduzir, hoje, para cada homem, as palavras e os gestos de outrora. Crer no Ressuscitado, como nos sugere o belo episódio dos discípulos de Emaús, é abrir-nos à sua presença: na palavra que nos fala, ilumina e aquece o coração; na eucaristia ou partir o pão, memorial da sua vida que se dá em gesto de amor para sempre; no próximo onde, em qualquer situação, quer ser reconhecido, respeitado e amado, também com gestos de partilha. Encontro fundamental e irrenunciável. Mas , também, na tolerância que ele nos ensinou e em que tanto insistiu. Na última crónica falei-vos do budismo, mas outras existem, como o islamismo ou o judaísmo. Os grandes pensadores que iluminaram os homens são tão iguais e os homens fazem-nos tão diferentes. Se lerem a Bíblia cristã, o Alcorão islâmico ou a Talmude judaico, verão que afinal as diferenças não são tantas assim, e os episódios de uns e de outros são semelhantes e, por vezes, até iguais. Daí o apelo sempre repetido da tolerância, que começa em nós, para com aquele que está próximo, na tolerância das nações tão dividivas, tão diabolizadas sem razão. No fundo, somos todos diferentes e, simultâneamente, tão iguais. E isto não é só um "slogan" é muito mais do que isso. Reflictam sobre isto, talvez nos ajude a sermos melhores e a passarmos ao outro esta nossa tolerância, numa cadeia que se quer infinita para que definitivamente a Paz reine num mundo tão cheio de divisão e de ódio. Mas, também, para aqueles que se encontram longe, longe no espaço, mas perto na nossa memória, presentes no espírito com o agridoce profundo dum amor que a distância fortalece em vez de esmorecer. Também para estes, que se encontram mais afastados, a nossa compreensão, a nossa paixão, o nosso amor na expectativa de que ele será retribuído no sentimento de partilha que nos foi legado pelos grandes guias da humanidade. Sem que esqueçamos que cada um tem que "cumprir a sua lenda pessoal" como diz Paulo Coelho, mas sem ódios porque cientes da mística que a todos envolve, para além de credos, raças, cor de pele ou ideias políticas. No respeito pela natureza, pelos animais - que por vezes nos dão verdadeiras lições de vida -, no planeta sempre maltratado, no cosmos no Universo, esse mar que abraça esta nave onde vivemos.

Saturday, May 07, 2011

"Buda" - Karen Armstrong

Tudo o que se sabe sobre Buda, o homem que revolucionou a mentalidade religiosa do seu tempo e defendeu um novo modo de vida. Chega até nós através duma colecção de textos antigos, que consistem numa fusão de história, biografia e mito. A partir deles, Karen Armstrong destaca os principais acontecimentos na vida de Buda e apresenta os princípios seminais do Budismo, numa introdução à biografia e ao pensamento de um dos mais influentes pensadores de sempre. Livro dedicado a sua irmã Lindsey Armstrong que é budista, nele se pode ver o mesmo sentimento de tolerância e de abertura que conhecemos no Cristianismo. No fundo, algumas das histórias que lá encontramos, não são muito diferentes das que encontramos na Bíblia. Parece que a adoração do Ente Supremo, afinal, é a mesma - com o colorido diferenciado do tempo e espaço onde estas manifestações têm lugar - unido-se num único hino uno e não dividido como os homens os transformaram. "Tal como uma chama apagada pelo vento entra em repouso e não pode ser definida, também o homem iluminado livre do egoísmo entra em repouso e não pode ser definido. Para lá de todas as imagens... para lá do poder das palavras". (In Sutra-Nipata, 5:7). A autora Karen Armstrong uma das mais importantes historiadoras da religião, é autora de numerosos livros, incluindo "Uma História de Deus" e "Grandes Tradições Religiosas" (este último já objecto de comentário neste espaço), é professora universitária, autora de documentários para televisão e também comentadora de assuntos religiosos na imprensa nos Estados Unidos e em Inglaterra. Em 2005, foi convidada a integrar a Aliança das Civilizações, uma iniciativa das Nações Unidas. Em 2008 foi galardoada com o TED Prize. As suas obras estão traduzidas em quarenta e cinco línguas. Actualmente reside em Londres. Um livro a ter em conta para os que gostam de alargar o seu pensamento sobre estas matérias.

Friday, May 06, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 94

Afinal, como já tinha dito o governo, o acordo com a "troika" tem por base o PEC 4, reformulado. (Até a "troika" o reconheceu). Se algumas das intenções do PEC 4 foram suavisadas, outras há que foram acrescentadas e mais gravosas. Daí o considerarmos que, depois do conhecimento do documento, continuamos a achar que talvez não tenha sido bom a não aprovação do documento em Março. A base do PEC 4 não pode escandalizar ninguém, porque se este já tinha sido acordado com as instituições europeias, seria natural que muito do que nele está inscrito fosse aproveitado. Se se questionou o PEC 4, teremos alguma dificudade em aceitar que, os partidos - ou pelo menos, alguns deles - que rejeitaram o documento, o venham a aceitar sob uma outra forma - até mais gravosa - embora proposto e subscrito por outras entidades. Basicamente, o plano é mau, - na nossa opinião - , vindo a criar um sério problema para a classe média, que veremos como vai enfrentar as dificuldades e se, inclusivé, virá a recuperar de tão duro golpe. A questão interessante é que este plano não põe demasiado em causa o estado social, embora o reformule, mas não o penaliza tanto quanto pensávamos que viesse a acontecer. Contudo, um dos sérios problemas que saltam desde logo à vista é a falta de iniciativas para criar condições para o crescimento da economia, e sem crescimento, dificilmente sairemos da situação em que nos encontramos. O escalonamento para o emagrecimento do Estado não são tão visíveis assim, e a carga fiscal que se anuncia será um factor de grande estrangulamento das PME's. Há quem questione se esta estratégia não terá a ver com os problemas que internamente a UE está a enfrentar, e este período de três anos - duração do plano - poderão servir para tentarem arrumar as economias internas dos países membros. Porque se não é assim, com o mau tratamento que se está a dar aos países periféricos do sul, poderá ser o canto do cisne do próprio modelo europeu, como lembrou e bem, Nouriel Roubini. Porque, se analisarmos bem o documento, não se vislumbra qualquer hipótese de crescimento - ou este será muito débil - para os próximos três anos. Se não houver crescimento, haverá seguramente recessão - já anunciada -, e isso, poderá implicar que após este período, Portugal possa estar na iminência de ir pedir novo empréstimo. Não deixa de ser curioso que um em cada sete euros vá para a banca, o que vem demonstrar aquilo que já aqui afirmamos várias vezes, que a banca sendo a causadora de parte do problema, não se assume como solução, vindo sugar, (ou pelo menos, têm esse dinheiro como reserva), uma parte importante do empréstimo para se financiar. (Basta ver a satisfação de Fernando Ulrich (BES) sobre o acordo que se conseguiu, embora expressadas duma maneira deselegante muito típica dos banqueiros que sempre falaram de barriga cheia). Poderá ser imoral, mas é assim mesmo. E embora o documento não faça menção à privatização da CGD, Passos Coelho, em entrevista à RTP1 na passada quarta-feira, insiste na sua privatização. Se há assim, tantas questões de divergência entre a "troika" e o PSD, porque será que eles vão assinar o documento? Não será só por patriotismo. Analisando superficialmente este acordo, verificamos que este documento indicia aquilo que já se esperava. Haverá uma forte restrição ao consumo, o que implicará uma forte contracção do sector terciário da economia - comércio e serviços - que conduzirá inevitavelmente a mais desemprego. Desempregados que, em termos fiscais, poderão vir a pagar mais IRS! É verdade, como faz parte do acordo, uma família que tem um desempregado poderá ter que pagar mais IRS, pelo facto de ter que declarar o subsídio que recebe e este vir a ser incluído através do englobamento de rendimentos. É inexplicável que os desempregados sejam penalizados desta maneira. Já o PSD achava que deveria ser deduzida na reforma, os valores dos subsídios que recebessem. Se um desempregado já sofre pela situação em que se encontra, como aceitar esta penalização? Até parece que uma pessoa que fica desempregada, por mais respeitável que seja, vira criminoso e suspeito por um facto de que não tem - na maioria dos casos - culpa alguma. Outra questão prende-se com o ensino. Temos assistido a uma estratégia sindical sem precedentes contra a avaliação dos professores. Já aqui expusemos a nossa opinião. Mas agora, para além disso, vão continuar - e duma forma mais decidida - o encerramento de escolas criando novos agrupamentos, o que levará a uma diminuição dos professores. Para quem tanto lutou para não ser avaliado, parece que obteve fraca compensação. Já aqui afirmamos em anterior crónica que, o FMI está mais empenhado em suavizar a estratégia para Portugal do que a UE, pelo menos, assim parece. Hoje o Financial Times acaba por afirmar o mesmo por outras palavras. Diz o periódico inglês que "Portugal precisa mais do FMI do que da Europa". Baseando o seu raciocínio - e na nossa opinião bem - no comportamento da economia portuguesa que se aproxima mais da de uma economia emergente. Ainda continuando com a análise do acordo, vemos uma imposição que nos agrada muito que é sobre a política do medicamento, nomeadamente, dos genéricos. Estes têm que ser mais baixos em 60% relativamente aos outros, e não os actuais 35%. Medida que saudamos. Este plano é, na nossa opinião, mau, "muito exigente" como afirmou em conferência de imprensa Poul Thompson do FMI. Mas esta pode ser, paradoxalmente, a nossa oportunidade de reestruturarmos o Estado e aproveitar esta oportunidade para reconverter o nosso modo de viver. Em chinês, a palavra "crise" também significa "oportunidade", saibamos pois colher os ensinamentos desta cultura milenar. Este acordo, teve - ao que tudo indica - uma forte componente de apoio do actual governo (de gestão) - e isso foi afirmado quer pelo ministro da finanças, quer pelos elementos da "troika", que foram mais longe, dizendo que algumas medidas já estavam a ser implementadas por acção do PEC 4 em que se baseou, embora parece que alguns andem aí a dizer que não. Assim, este acordo acaba por ter a aceitação e até já alguma implementação do governo, aquilo a que se designa por "ownership" do programa. Depois da rejeição do PEC e da queda do governo, assistiu-se a um "downgrade" da República, que conduziu a uma deterioração da liquidez. Daí a degradação do PIB em 2% em 2011 e 2012. No acordo também vem anunciado o fim das "golden shares" - EDP, PT, REN - embora seja uma medida interessante, deve ser acautelado o interesse público através da regulação. Veremos se vai ser assim. Existe um plano ambicioso de privatizações que deverá vir a diminuir a despesa do Estado. O mais preocupante será o nível do desemprego que atingirá os 13% em 2013, vindo depois a diminuir, assim se espera. Quanto ao financiamento virá numa primeira tranche - dois terços do valor - muito rapidamente, isto é, durante o primeiro ano, sob a forma dum financiamento à cabeça ("front loading"), até porque, segundo afirmações do ministro das finanças - Portugal só terá dinheiro até ao fim deste mês de Maio. O valor é, como se sabe, de 78 mil milhões de euros que, quanto a nós, é insuficiente. Daí talvez a afirmação de Teixeira dos Santos que disse que "em 2012 Portugal estará em condições de ir aos mercados". Não será só porque é mau para um país estar dele afastado durante muito tempo, mas porque haverá necessidade de dinheiro que este empréstimo não cobre na totalidade. Veremos se o futuro nos dá ou não razão. A taxa de juro é fruto duma fórmula que inclue o valor dos financiadores que também têm que ir ao mercado buscar o dinheiro, mas parece ser previsível de que será aproximadamente de 3,25% durante os primeiros 3 anos e de 4,25% a partir do 4º ano. Taxas interessantes, mas é preciso dizer que, a economia tem que crescer na mesma dimensão, e é preciso pensarmos que a economia portuguesa não cresce ao ritmo de 4% à mais de dez anos! (Também tem que se esclarecer que esta taxa tem a ver com o que cobra o FMI, a UE costuma cobrar 5%, por isso, à que aguardar para ver o que vem por aí). O período de resgate deste empréstimo prolongar-se-á por treze anos. Mas o importante é que o acordo tenha o consenso alargado das principais forças políticas - o que parece ser o caso - até porque se assim não for as sanções aí estarão para nos lembrar o compromisso. O PSD parece que vai viabilizar o acordo, embora Passos Coelho o não tenha afirmado definitivamente em entrevista à RTP1. Preferiu fazê-lo na RTP2 no programa humorístico "5 para meia-noite"!!! Até aqui, parece que Passos Coelho acha que não deve dar esclarecimento em horário nobre, ou acha que o programa de jovens é o mais adequado ao tema, ou não tem sequer consciência da sua atitude. Paulo Portas, convenhamos, já anunciou o seu apoio, e é de justiça afirmar, que foi aquele que melhor postura teve em todo este processo. Embora achemos estranho que - PSD e CDS/PP - assinem um acordo baseado no PEC 4 - por mais escapatórias que utilizem para o negar - que conduziu à criação da crise política em que estamos mergulhados. Mas, como a vergonha não é um sentimento que abunde na política, ainda lutam por reinvidicar a sua paternidade, - e o programa não é dos melhores - e o mais ridículo é que, aqueles que o fazem, não participaram nas negociações. Souberam tarde e más horas, depois de terem estado um dia inteiro à espera da "troika" que não foi, nem mandou recado. O simples facto duma luta pela reinvidicação dum documento que achamos mau é bem o sentido do desaforo a que chegamos onde tudo vale até a falta de vergonha. Mas ele aí está e é para ser cumprido. Só lamentamos que seja preciso virem entidades externas para por as partes de acordo, coisa que até aqui não tinha sido possível. Quanto a nós, só nos resta aceitá-lo, porque achamos que ele, apesar de tudo, é necessário. Saibamos pois, como atrás dissemos, saber tranformá-lo numa janela de oportunidade.