Turma Formadores Certform 66

Thursday, August 31, 2017

Intimidades reflexivas - 1071

"A Noite e o Caos são parte de mim. Dato do silêncio das estrelas. Sou o efeito de uma causa do tempo do Universo [e que o excede, talvez]. Para me encontrar tenho de me procurar nas flores, e nas aves, nos campos e nas cidades, nos actos, nas palavras e pensamentos dos homens, na luz do sol e nos escombros esquecidos de mundos que já pereceram. Quanto mais cresço, menos sou eu. Quanto mais me encontro, mais me perco. Quanto mais me sinto mais vejo que sou flor e ave e estrela e Universo. Quanto mais me defino, menos limites tenho. Transbordo Tudo. No fundo sou o mesmo que Deus." - Fernando Pessoa (1888-1935) in 'Anarquismo'.

Wednesday, August 30, 2017

Aí está o Repinhas!...

Voltei hoje ao abrigo, mas antes, fui fazer uma visita ao Repinhas que logo que me viu saltou o muro e veio a correr para mim. Não parece que ande com fome. Depois do xixi habitual no pneu do carro, veio ver a comida cheirou e foi-se embora. Só quando o chamei de novo com outro tipo de paté é que ele se dignou vir para trás e comer. (Ver foto). Não quis comer mais nada da muita comida que tinha comigo e foi-se embora, logo saltando o muro de novo e indo para junto dum seu outro companheiro. É mais do que evidente que o Repinhas não anda esfomeado. Depois dirigi-me ao abrigo. Ainda havia um resto de ração de cão e alguma de gato. Abasteci as taças. Deixei pouca ração de cão porque não sei se o Repinhas lá vai comer. Quanto à de gato, deixei muito pouca, a última que tinha, porque alguma dela já tinha ficado pelo caminho, na ajuda a outras situações aqui mais próximas do sítio onde resido. De qualquer modo, têm lá bastante comida, porque não é só ração que deixo. O siamês não apareceu, ou estaria escondido algures à espera que eu me viesse embora. Por hoje foi assim.

A Europa aculturada e vulnerável

Não é a primeira vez que trago aqui o tema. Seriamente que me sinto preocupado porque acho que é nele que reside os problemas que a Europa enfrenta nos nossos dias e que se irão agravar no futuro. Mas para melhor ilustrar o meu pensamento, quero aqui trazer uma experiência pessoal como gosto de fazer. Visito Paris desde à muitos anos e, como a França tem uma grande tradição na cultura mundial, não deixo de estar atento ao que nela vejo. Há cerca de trinta ou quarenta anos, era frequente visitar Paris e ver jovens - muito jovens ainda - nas suas visitas escolares aos museus e a outros espaços de cultura e, depois da visita, sentarem-se nas escadas e, cada um com o seu caderno, registar o que viu e como viu. Num desses dias, quando descia as escadas interiores do museu militar, deparei-me com um grupo desses jovens que não tinham mais que sete ou oito anos. Abordei-me dum deles e questionei-o sobre o que estava a fazer. Ele disse-me que estava em visita escolar e que agora, (depois de finda a mesma), tinha que escrever sobre esse tema. Disse-me também que visitas daquelas eram frequentes na sua escola. Achei interessante como a cultura era tão levada a sério naquele país e fiquei bastante agradado com isso. Até dei esse exemplo em vários fóruns em que participei. Mas as visitas foram-se sucedendo e foi vendo cada vez menos jovens nesses espaços. Já não os via à saída com os seus famosos cadernos a refletir sobre o que tinham visto. E essa visão tão edificante foi-se esfumando visita após visita. Fui percebendo que a França estava a abdicar dessa famosa maneira de transmitir cultura às novas gerações que tanto a tinham celebrizado. Foi-me deixando triste porque parecia que a Europa em geral estava a abdicar de valores que eram (são) importantes para a sua identidade. Há cerca de dois meses, passou um documentário na RTP2 sobre o aniversário da torre Eiffel e fiquei siderado com o que vi. Se aos estrangeiros o perguntar quem fez a torre Eiffel poderia levar a algumas confusões - que na verdade não aceito - quando se tratou de jovens franceses, então foi o descalabro. Ouvi os maiores disparates que poderia imaginar. Aqueles jovens não sabiam nada sobre algo tão emblemático do seu próprio país. O próprio narrador a isso fazia referência. Concluí rapidamente que aquela geração era, nada mais, nada menos, que a dos filhos cujos pais deixaram de ser levados pelas escolas aos centros culturais do seu país. E isso deixou-me preocupado. Porque este fenómeno é transversal às sociedades europeias em geral. A Europa está a abdicar dos seus valores culturais e identitários que fará dela preza fácil para outras correntes de pensamento. A ignorância cada vez maior do ocidente - disfarçada atrás da tecnologia, dos ipads e ipodes, escudada no seu estar económico e social -, fará com que se venha a desagregar fruto duma identidade perdida. Quando se fala de outros valores ou ideologias e nos acantonamos, - cheios de receio sobre o futuro -, isso tem que ser assacado a uma política despersonalizada, aculturada, que a Europa em geral está a seguir. A Europa está a sacrificar os seus valores ao seu bem estar, esquecendo que, se por trás disso não existir uma coesão social identitária e, mais cedo ou mais tarde, será confrontada com a despersonalização. E uma Europa despersonalizada é uma Europa vulnerável. Queiramos ou não, a cultura duma nação, dum continente, é a argamassa de coesão, duma série de tijolos que vão sendo empilhadas pelo tempo. Cada vez à menos tempo para se corrigir o tiro. Não sei é se existe força, determinação e vontade para isso.

Tuesday, August 29, 2017

Novas do Nicolau

Já vai para um par de dias que não vos trago notícias do Nicolau. Após cerca de dois meses após a sua enfermidade, é cada vez mais claro as sequelas que ficarão. A cabeça um pouco inclinada - que ainda poderá vir corrigir-se com o tempo, mas não é certeza -, a vista afetada - sobretudo a esquerda, do mesmo lado que ele paralisou durante algum tempo -, a audição mais débil, um torpor ao caminhar, que ele tenta corrigir, mas que é visível, o cérebro vai dando sinais, aqui e além, de ter sido seriamente afetado - coisa que também nos foi dito logo pelos veterinários. O meu velho companheiro de tantos anos nunca mais será o mesmo, mas isso já era mais que previsível. A somar a tudo isto, os anos que vão pesando, e muito. Mas o Nicolau não se dá por vencido. Se cai logo se levanta e continua como se nada fosse. Sobe e desce escadas imensas vezes por dia e, a somar a tudo isto, está um mimalho incrível. Se o escovamos, logo rezinga, se queremos limpar-lhe as orelhas, mostra logo o seu mau feitio, se nos deslocamos para ali ou acolá, basta olhar e ele logo está atrás de nós como uma sombra. Agora que se habituou a ter os donos por perto, não abdica deles. No sábado passado, (e contrariando as indicações dos veterinários) ele teve que ficar sozinho cerca de três horas. Um problema de saúde grave aconteceu e não tínhamos outra hipótese. Quando chegamos foi uma festa tremenda. Mas creio que ele estava pior do que no dia anterior. Talvez fruto dos nervos acumulados por se sentir sozinho. O Nicolau agora está muito diferente. Quando um de nós sai, outro tem que ficar. Porque, por vezes, tem as suas crises e precisa de alguém por perto. A nossa vida mudou bastante e assim continuará enquanto ele existir. Mas a isso fazemos face com todo o à vontade porque o importante é contar com ele na nossa vida por mais algum tempo. Este velho companheiro de tantos anos é muito importante para nós. E ele sente-o e, creio até, que explora a situação. Que a saúde não lhe falte nos próximos tempos é o que mais desejo. A sua presença nas nossas vidas é por demais relevante.

Intimidades reflexivas - 1070

"Nada é para sempre... Nem mesmo os nossos problemas." - Charlie Chaplin (1889-1977)

Monday, August 28, 2017

Polémicas à parte!...

Confesso que é com alguma tristeza que assisti ontem a uma polémica por gente que, de uma forma ou outra, apoia a causa animal. Não vou entrar nessa polémica e apenas aqui venho para esclarecer algumas situações que penso são pertinentes, dada alguma informação e contra informação que por aí andou. (Não que não tenha opinião sobre o que se tem passado nestes anos, mas essa opinião não é para aqui chamada). Como já disse várias vezes neste espaço, tornei pública a matilha de Rio Tinto vai para seis ou sete anos, embora já a apoiasse anteriormente à mais duma década. (E nunca mais voltei a fazê-lo com nenhum outro caso, nem voltarei. Chegou-me este para experiência). Conheci esse caso quando trabalhei nesse local vai para um par de anos. Foi-me pedido por uma funcionária que trabalhava na minha equipa e uma sua familiar que, - quando saíram da empresa e sabendo que eu gosto muito de animais -, se podia continuar a apoiar essa situação. Assim fiz até hoje e já lá vão quase duas décadas. Nessa matilha vi acontecerem muitos factos desagradáveis, mas uma pessoa só, sem apoios de ninguém é sempre difícil fazer seja o que for. Assim, e depois de me ter lamentado a uns amigos, estes me incentivaram a colocar publicamente o caso, porque haveria sempre alguém que ajudasse, e se fosse da zona, tanto melhor, visto eu morar bastante longe desse local. Assim aconteceu com o Bruno que conheci nessa altura, bem como com a Fernanda que vim a conhecer algum tempo depois. Mas isso agora não interessa. O que me proponho é esclarecer - dentro daquilo que julgo saber - algumas situações que me pareceram ontem um pouco embrulhadas. Começo pela Sheila - a mãe do Repinhas - que foi resgatada para ser castrada e foi para um hotel para possível adoção. Quem coordenou isso foi o Bruno mais um grupo de amigos que então apareceram. O resgate do Repas - pai do Repinhas - também ocorreu e posteriormente foi adotado. Sobre este, quero dizer que criei algumas reservas à sua adoção que me pareceu um tanto ou quanto precipitada. (E disso dei conta ao Bruno. Ainda à dias falei com ele sobre isso). Foi-me dito que conheciam o adotante que era um amigo dum amigo. Não me tranquilizou, mas achei que se fosse para mal do animal, não o fariam. Mais tarde vim a saber do insólito caso e o mau adotante que tinha sido a pessoa em causa. Parece que os meus receios não eram de todo infundados. Soube depois que o Repas tinha sido adotado por outra pessoa e que se encontrava bem. À dias, num encontro casual com o Bruno no abrigo, ele disse-me que sabe que ele está bem, porque tem contactos regulares com a pessoa que o adotou. Quanto à Sheila, depois de castrada foi devolvida ao local onde nasceu e viveu e, possivelmente, viria a morrer. Não fui informado do caso, apenas fiquei surpreendido quando um dia fui ao abrigo levar comida e ela veio ter comigo a chorar e a mostrar a cicatriz. Não sei se tinha dores ou por outra razão qualquer, a Sheila nunca mais foi a mesma. Ela que sempre vinha ter comigo, passou a evitar-me e só, algum tempo mais tarde - não posso precisar mas talvez um ou dois anos - ela me procurou muito triste e se veio deitar junto de mim. Afaguei-a algum tempo, mas quando saí do espaço, tive a sensação de que ela se tinha vindo despedir de mim. E assim foi. Nunca mais a vi. Não sei o que lhe aconteceu. (Apenas sei que ela desde a castração até ao seu desaparecimento se mostrou sempre muito triste e sofrida). Se morreu de morte natural ou não, não sei, mas se de facto morreu, espero que não tenha sofrido, já tinha sofrido o suficiente em vida. A Nina que eu também conheci, soube pelo Bruno que tinha sido apanhada por um comboio, mas que a adotante gostava muito dela. A senhora teria ido para Coimbra mas a Nina estaria com ela e até teria um 'dog car' para se deslocar. Penso que está bem porque nunca mais tive notícias. Quanto ao Repinhas - o último dessa matilha - e depois de muito histerismo em torno dele, encontra-se bem. Salta muros bem altos com uma agilidade enorme para um cão que já não é jovem e disso dou testemunho. Estive com ele no passado sábado e até publiquei duas fotos com as suas famosas acrobacias. Ele sempre teve uma relação comigo ótima e quando me vê logo vem para mim. Até em plena rua come o que lhe levo. Entretanto, e desde à cerca de um ano, tenho contado com a prestimosa colaboração da Paula Maia que tem sido muito útil e a quem aqui saúdo pelo sucesso de ontem ao resgatar a gata que lá andava. Como disse atrás, não quero criar aqui polémica alguma em torno do que li ontem, mas apenas pretendo esclarecer algumas questões. As informações que aqui trago foram-me transmitidas pelo Bruno ao longo do tempo. Não tenho conhecimento direto, mas nada me leva a pensar que podem não ser reais. Nem havia razão para isso. Quanto ao Repinhas, esse dou aqui nota porque contacto com ele amiúde. A última vez que com ele estive foi no passado sábado como atrás referi. Julgo que neste caso como noutros, o diálogo ainda é o melhor remédio. Isso não significa que abdiquemos dos nossos pontos de vista, naturalmente. Já somos mais do que éramos uns anos atrás, mas ainda assim somos poucos. Por isso, a divisão só serve para que a causa dos animais seja cada vez mais ostracizada. Um dia, em Londres - já lá vão alguns anos - falei com um membro da Greenpeace que estava a manifestar-se na capital britânica. E era mesmo isso que ele me dizia. Não dispersar forças com o que nos divide, mas buscar as pontes que nos unem. Porque no fim da linha, os beneficiários não são - ou não devem ser - as pessoas, mas sim os animais que são o objeto da nossa causa.

Intimidades reflexivas - 1069

"Nada prejudica tanto uma nação, quanto gente astuta passar por inteligente." - Francis Bacon (1561-1626)

Sunday, August 27, 2017

Intimidades reflexivas - 1068

“A mágica da fotografia é metafísica. O que você vê não é o que foi visto no momento. A verdadeira habilidade da fotografia é a mentira visual organizada.” - Terence Donovan (1936-1996)

Saturday, August 26, 2017

Eis, o Repinhas!...

Quando estava a chegar ao abrigo, recebi uma mensagem do Bruno Alves Ferreira a dizer para não deixar comida porque ele ia tentar capturar a gata. (Peço-lhe mais uma vez que me dê essa informação no dia anterior para eu agilizar a situação e assim evitar uma viagem em vão). Achei estranho a mensagem do Bruno porque a Paula Maia ficou de capturá-la na segunda feira e até, - ao que julgo saber -, tem a clínica já reservada! Penso que há uma forte desarticulação que só prejudica a ação. Mas já que não ia ao abrigo, fui ao lavrador. Estava a pensar que ia encontrar um Repinhas escanzelado, ferido por um Pitbulll a escorrer sangue pelas ruas. Nada disso. O Repinhas viu-me, logo veio ter comigo saltando um muro com mais de um metro de altura. Nem sinais de feridas. (Ver foto). Depois cheirou a comida e foi-se embora. Não estava com fome apenas me veio cumprimentar. Fez o seu xixi no pneu da frente do meu carro e foi-se embora. Saltou de novo o muro com uma agilidade ímpar e foi para dentro ladrar a um pónei e aos porcos que logo apareceram. Tinha muita comida para ele e deixei em dois sítios dentro da propriedade do lavrador. Logo o pónei e os porcos foram comer e o Repinhas que não quis a comida veio logo discutir com eles. Lá ficaram a falar uns com os outros. Mas como deixei muita comida em dois sítios, com certeza que acabará por comer algo. Afinal tudo não passou de mais uns boatos, coisa fértil em torno do Repinhas. Mas fiquei contente. Afinal era rebate falso, felizmente. Eis aqui o Repinhas no seu melhor! 

Vilar de Mouros - Um festival de memórias

Está a decorrer o festival de Vilar de Mouros. E vêem-me à memória recordações dum tempo outro, perdido algures na minha imberbe juventude, já tão longínqua. E é a este festival que teve lugar em 1971 que me quero referir. Para muitos o primeiro, mas de facto, era o terceiro, o primeiro teve lugar em 1965. E foi importante para mim porque foi uma espécie de emancipação. Contava então 15 anos, -  já bem a caminho dos 16 -, que para lá fui com os meus amigos. Nessa época a música gravada demorava a chegar ao nosso país. As novidades quando cá apareciam já estavam mais do que ultrapassadas nos seus países de origem. E nesse festival vinham artistas importantes da época que inebriavam qualquer jovem desse tempo. Desde logo o famoso Elton John, que ainda hoje anda por aí a dar cartas, e os Manfred Mann. Artistas míticos que eram um sinal de mudança que era abafada pelo autoritarismo vigente no nosso país nessa época. Lembro-me que havia mais polícia política espalhada pelo recinto do que jovens a ver o festival. Sempre o medo que as ditaduras têm de serem postas em causa mesmo em manifestações de cariz mais juvenil. Foi o tempo dos banhos nus no rio Minho, (nudismo que depois viria a praticar por cá e, sobretudo, no estrangeiro onde as barreiras morais eram bem menores e o espírito de tolerância quase total). Mas esses eram pequenos gestos de rebeldia duma juventude que olhava para o mundo com olhos de deslumbre. Mais tarde vim a aprofundar o conceito com as inúmeras viagens que fiz pelo mundo onde constatei que, se estava certo face a certos países, havia outros que não era bem assim e que representaram para mim uma tremenda deceção. Este festival apenas veio avivar memórias já cobertas pela poeira do tempo. Nem sequer sei qual o cartaz deste ano e, muito provavelmente, nem conheceria a maioria dos artistas que por lá estão a passar. Mas nessa altura tudo era bem diferente. Era uma certa sensação de liberdade, mesmo que condicionada, num país em que o simples facto de pronunciar essa palavra já era considerado um delito. Depois da atitude rebelde da juventude norte americana face à guerra do Vietnam que viria a organizar o mítico festival de Woodstock em 69, os jovens portugueses de então quiseram imitar-lhes a condição. Assim, este festival de 71 passou a chamar-se de Woodstock português. Muita coisa mudou entretanto. O país mudou. Nós também mudamos. Todos fomos envelhecendo e passamos a olhar o mundo com outros olhos. Mas as memórias, essas ficam para sempre.

Friday, August 25, 2017

Apenas por desabafo!...

Como é do conhecimento de muitos, dedico-me ao apoio a animais de rua vai para mais de duas décadas. (Só um desses grupos conta com o meu apoio vai para mais de década e meia). Nunca utilizei as redes sociais para o evento. Apenas uma vez, já lá vão cerca de seis anos, porque uma só matilha tinha mais de trinta cachorros, fruto de muitas ninhadas simultâneas de várias das cadelas então existentes. Face à minha impotência perante a situação, amigos aconselharam-me a utilizar as redes sociais para o efeito. Iludido perante aquilo que me diziam assim o fiz. Embora a medo e, com certeza, com muita inabilidade. (Embora tivesse conta há já algum tempo em várias plataformas, delas não fazia uso e nem sabia bem como delas fazer uso). Fosse como fosse, cedo percebi que as coisas não eram tão simples como me diziam. Depois de muitas e variadas tentativas, foram aparecendo alguns 'defensores' que utilizam as redes sociais para sua promoção pessoal, e que tão depressa vinham como logo desapareciam sem deixar rasto. 'Treinadores de bancada' esses sim, havia-os aos molhos! Até que um veio e se fixou desde essa altura. O Bruno respondeu ao meu apelo, logo me forneceu o seu contato e mostrou a disponibilidade para ajudar. Pensei que era mais um que vinha para logo se ir, mas não. O Bruno ficou todos estes anos. Logo com os seus amigos construíu abrigos para eles e para a comida, - embora os cachorros nunca os utilizassem -, mas a disponibilidade aí estava porque esta tarefa não poderia ser levada em frente só por uma pessoa. Tentou-se minimizar as situações. O alimento aparecia - esse nunca faltou mesmo comigo só no terreno - mas outras situações foram acontecendo. Alguns foram adotados, outros morreram, outros simplesmente desapareceram. Mas a situação começou a ficar mais controlada. As cadelas foram esterilizadas e, pelo menos, as ninhadas foram acabando. Mas durante anos, apenas o Bruno e eu permanecemos e continuamos. Justiça lhe seja feita. Mais recentemente, cerca de um ano, a Paula juntou-se a nós e, desde aí, - como já por diversas vezes aqui afirmei -, foi visível o toque feminino que melhorou bastante a situação mesmo e, sobretudo, a nível de higiene, porque é uma pessoa muito empenhada e que por lá passa diariamente. (Aqui também cumpre nomear uma senhora duma das empresas do local que sempre apoiou dentro do que lhe era possível esta situação). Assim, sempre me sinto dividido quando aqui chego porque se as redes sociais me trouxeram apoio também me têm trazido aos amargos de boca. Mas, e até por isso, nunca mais divulguei situações nas redes sociais, coisa que até hoje cumpri, face aos outros grupos que apoio e de que ninguém tem conhecimento nesses espaços. Mas uma coisa tem sido recorrente. É que de tempos a tempos - talvez seja uma atividade sazonal - aparecem alguns 'defensores' que nunca ninguém viu durante todos estes anos, com os seus doutos comentários e as estratégias as mais diversas. Não que isso me incomode porque já há muito que vejo como tudo isso se desenrola e tal só deveria incomodar quem dessas atitudes faz expediente. Sei desde à muito que a causa animal tem muitas vertentes e nem todas são as mais nobres. Mas isso fica para quem assim o entende porque por mim, continuarei a apoiar os animais de rua com as armas que posso ter ao dispor bem longe dos holofotes que parecem inebriar alguns mas que em nada acrescentam ao bem estar dos animais e eu, felizmente, delas não preciso. Cada um faz o que pode e como pode. Sei que em frente a um ecrã de computador é bem mais fácil do que andar de noite ou de madrugada, ao frio e à chuva a ajudar quem precisa. Mas cada um faz as suas opções e eu, à muito tempo, já fiz as minhas.

Intimidades reflexivas - 1067

"Ser humilde não é ser menos que alguém. É saber que não somos mais que ninguém..." - Carlos Hilsdorf

Thursday, August 24, 2017

No romper da madrugada

Lá vou continuando com as minhas habituais estiradas diárias para ir mantendo alguma forma física. (E ainda com tempo para fazer uma foto). Mas quando se anda pela madrugada por vezes vemos coisas e gentes estranhas. Hoje quando saí vi aqui bem perto um grupo de jovens que se divertiam - se se pode chamar diversão a um chorrilhos de palavrões que trocavam entre si fruto da débil ou nenhuma educação que tiveram em casa, onde na maioria dos casos se fala da mesma maneira - mas eles lá ficaram com as suas vozes estridentes a cortar a noite. (5,30 horas da madrugada e ainda é noite cerrada. As noites, nitidamente, estão a ficar mais longas). Mais adiante era a carrinha que vem recolher o lixo digamos, não convencional, que passa normalmente fora de horas para causar o mínimo transtorno ao trânsito. Uns quilómetros mais à frente pessoas que, sós ou acompanhadas, apenas querem desfrutar da noite e ver o amanhecer. Um pouco mais abaixo, um homem de meia idade vociferava à porta duma farmácia. Foi ver o que se passava. A razão era das mais prosaicas. Ele queria comprar um preservativo mas não tinha dinheiro trocado. Falou ao farmacêutica que estava de serviço e ele ter-lhe-á dado uma forte reprimenda. A 'lady of the night' aguardava mais à frente, certamente divertida. (Quando se rompe a noite a horas tão esconsas, por vezes, deparámo-nos com pessoas as mais bizarras e as situações menos ortodoxas). A noite é propícia a isto tudo! E hoje estava uma daquelas madrugadas propícias ao exercício. Temperatura fresca, nevoeiro cerrado, aquela cassimbada que vai caindo com cheio a maresia. Um tempo bem agradável para aquilo que me propunha fazer. Nos auscultadores a sempre música clássica soava. Desde a veemência da música de Richard Strauss, até ao embalar da música etéria de J.S. Bach, já para não falar, nessa peça magnífica, e tão apropriada ao momento, o 'Amanhecer' de Sibelius. Música que me deleita e me ajuda a fazer mais e mais estrada. Fui cortando a noite e sempre aquela sensação de humidade no rosto e no corpo que tanto me delicia e ajuda ao esforço. Cheguei cerca de uma hora e vinte depois e ainda a noite não se tinha despedido de todo. Mas, mesmo com dificuldade, o dia lá ia fazendo a sua apresentação. Mais um apenas dos que restam na vida de um homem.

À memória da Tuxa

Três anos passaram e parece que foi ontem que a Tuxa nos deixou. (Ela foi a mãe adotiva do Nicolau). Abandonada numa urbanização em frente à casa onde vivíamos, por ali andou cerca de dois meses, até que um dia decidimos levá-la para casa. Porque a deixamos andar por ali tanto tempo? Porque já tínhamos uma outra cadela em casa e vivíamos num prédio. E nos prédios nem sempre é fácil ter animais. Mas ela lá veio. Doente de várias maleitas, lá a fomos tratando. Ela, apesar de chorar sempre que sabia que íamos fazer o tratamento, ia aceitando. Aos poucos melhorou. Mesmo assim, demorou um ano. Tornou-se uma cadela muito bonita, forte e determinada. Resistente como o aço. Uma guerreira. Adotou o Nicolau com o carinho duma mãe extremosa. Aceitava-lhe todas as brincadeiras, mesmo as mais agressivas - o Nicolau sempre abusou muito dela - mas ela, com a sua paciência maternal, lá lhe perdoava tudo. Acabou por ter uma morte muito desagradável, com cancro mamário e um tumor na vista que a cegou dum dos olhos. Mas ela continuava. Depois de os veterinários lhe terem dado não mais do que dois meses de vida, ela ainda durou mais dois anos. Sempre forte e determinada, mesmo na doença. Um domingo ela pareceu mais frágil. Estávamos no jardim e ela, a muito custo desceu as escadas e veio para a nossa beira. Quis ir para um sítio no relvado onde tanto gostava de estar. Ali expiraria horas depois. O Nicolau assistiu a tudo. No dia seguinte viu ela ser sepultado nesse mesmo espaço onde foi feliz. Durante meses, o Nicolau mal se levantava, ia numa espécie de romagem à sua sepultura. Por ali ficava pensativo, farejando. Por vezes, deitava-se ali algum tempo. Depois foi-se libertando aos poucos. Talvez dela já nem tenha memória. Mas essa memória perdurará sempre na nossa vida e no nosso coração. Nunca te esqueceremos como não esqueceremos todos os outros que tanta alegria trouxeram à nossa vida. Descansa em paz, Tuxa!

Intimidades reflexivas - 1066

"O campo é onde não estamos. Ali, só ali, há sombras verdadeiras e verdadeiro arvoredo. A vida é a hesitação entre uma exclamação e uma interrogação. Na dúvida, há um ponto final. O milagre é a preguiça de Deus, ou, antes, a preguiça que Lhe atribuímos, inventando o milagre. Os Deuses são a encarnação do que nunca poderemos ser. O cansaço de todas as hipóteses." - Bernando Soares heterónimo de Fernando Pessoa (1888-1935) in 'O campo é onde não estamos'.

Wednesday, August 23, 2017

Tudo quase normal!...

Fui ao abrigo, mas antes ainda passei no lavrador para ver se via o Repinhas. Não apareceu mas os porcos, sim. Não se esqueceram de mim e logo apareceram para ver se comiam alguma coisa. Parece que gostaram do que lhes dei no sábado. Quando cheguei ao abrigo já a gata por lá andava. Afinal não foi resgatada! Afastou-se logo, e só se aproximou depois de eu ter deixado a comida. Anda assustada e sabe que a querem apanhar. Não havia nenhuma ração de cão, só de gato. (Ver foto). Abasteci as taças. Logo a gata veio comer. Estive lá todo o tempo em que ela se banqueteava. Comeu muito paté. Depois ainda foi à ração. E, por fim, lá bebeu imensa água. Esta, por hoje, tem a barriga cheia. Ela parece-me bastante bem, até gordinha. Ou talvez esteja de novo grávida. E a ser assim, os filhotes terão o mesmo destino dos outros, infelizmente. Quando saí ainda voltei ao lavrador na vã esperança de ver o Repinhas. Ainda tinha alguma coisa para ele. Mas não, não apareceu. Espero que passe no abrigo porque deixei lá muita da comida que ele tanto gosta. As gaivotas desapareceram por completo. Os pedaços de pão de que vos falei à um par de semanas, deviam estar envenenados, como então aqui denunciei. Talvez fosse o caso. Nem uma por lá vi. Não são vistas por lá desde então. O siamês não apareceu. Pelo menos não o vi.

"O Caminho do Peregrino" - John Bunyan

Já aqui vos falei de livros que me chegam à mão em momentos cruciais da minha vida, sejam eles bons ou menos bons. (Não tenho explicação para isso, mas voltou a acontecer). E com um livro que desconhecia de todo, bem como, o seu autor. Trata-se de 'O Caminho do Peregrino' (The Pilgrim's Progress) da autoria de John Bunyan. Estava a passar por uma provação enorme - como bem sabem - com a doença do meu velho companheiro Nicolau, quando este livro me entrou portas adentro. 'O Caminho do Peregrino' fala-nos de muitas coisas. Do segredo da felicidade. Do poder da Fé. Da força libertadora do amor. Este livro é 'uma viagem espiritual' para utilizar o subtítulo do mesmo. Não pensem que é um livro religioso. Não o é de todo. É um livro que nos fala da viagem que cada um de nós faz ao longo da vida a caminho da eternidade. O jornal britânico 'The Guardian' escrevia na sua página de cultura que ' "O Caminho do Peregrino" é, depois da Bíblia, o livro mais vendido de sempre e aquele que mais leitores inspirou em todo o mundo'. Outros afirmam que é 'a obra de ficção mais importante na história do Cristianismo'. Seja como for, e exageros à parte, este é sem sombra de dúvida um livro muito interessante. Desde logo porque nos faz refletir, meditar, pensar, coisas que nem sempre fazemos no nosso quotidiano, e que são tão importantes num mundo tão desalinhado quanto este que nos é dado viver, cheio de escolhos e distrações que, quase sempre, nos desfocam do essencial. Um livro muito interessante para que nos reencontremos com o sentido da vida, num momento em que ela parece valer tão pouco. Vem-me à memória esta frase do livro: "Então, peregrino? O que te move? Para onde te leva o coração? Dispões-te a admitir que nada sabes? Entra no Caminho. Mantém-te firme e com coragem, e terás toda a ajuda necessária, até ao fim da tua viagem". John Bunyan (1628-1688), o seu autor, nasceu em Elstow, perto de Bedford, Inglaterra. A sua vida nem sempre conheceu a felicidade. Num tempo de intolerância, - onde falar destes temas levava inevitavelmente à prisão -, ele também dela não escapou e foi lá que escreveu este livro. Um livro muito interessante a descobrir por todos aqueles que pensando que tudo dominam, - e somos praticamente todos -, nem sempre nos apercebemos das nossas fragilidades e da nossa ignorância. Sem ser um livro sobre religião ou auto ajuda, ele pode conduzir-nos a uma reflexão profunda sobre o sentido da vida, da nossa centralidade face a ela, mas também, do muito que desconhecemos face a valores maiores. Um livro que recomendo vivamente com a chancela da 'Alma dos Livros'.

Tuesday, August 22, 2017

Intimidades reflexivas - 1065

"O amor começa quando uma pessoa se sente só e termina quando uma pessoa deseja estar só." - Liev Tolstói (1828-1910)

Monday, August 21, 2017

Intimidades reflexivas - 1064

"O mundo ficou cruel na mesma época em que as pessoas esqueceram o significado de "SER" Humano." - Lucas Köche

Sunday, August 20, 2017

Intimidades reflexivas - 1063

"A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos, não é o que vemos, senão o que somos." - Bernardo Soares heterónimo de Fernando Pessoa (1888-1935) in 'Viajar? Para viajar basta existir'.

Estive com o Repinhas!...


Acabei por ir e ainda bem. No abrigo tudo normal. Não deixei comida conforme o Bruno pediu. Mas tive um 'feeling' e passei pelo lavrador. Andei por ali a ver se via algo, e quando já vinha embora, eis que o inesperado aconteceu. O Repinhas apareceu! A princípio ainda hesitante. Chamei-o mas ele não veio logo. Insisti  e ele, finalmente, reconheceu-me. Dei-lhe de comer ali em plena rua. (Ver foto). Comeu o que quis. Ainda lhe dei água mas não quis. Afastou-se lentamente e foram os porcos do lavrador que ainda se banquetearam com o que sobrou. Quando ele veio comer aproximei-me dele e reparei no seu olhar porque achei estranho a sua hesitação. Pareceu-me que o Repinhas tem umas grandes cataratas, tal qual o meu cão. São ambos velhos e com idades semelhantes. Depois de ele ir embora, ainda estive a dar o resto aos porcos e quando me vim embora nunca mais vi o Repinhas. Hoje estou feliz por ele. Parecia que algo me dizia para lá passar. Apenas a gata e o siamês me preenchem o pensamento. Mesmo que a gata seja capturada, o siamês hoje talvez possa não ter refeição.

Saturday, August 19, 2017

Um falhanço de novo!...

Confesso que a captura da gata mais parece assemelhar-se a um 'flop'! Hoje voltou a acontecer. Fui contactado pelo Bruno cerca das 6,15 horas da madrugada, a pedir-me para não ir deitar de comer à gata porque ia tentar capturá-la. Como já vi esta estória contada em vários episódios, disse que ia ter com ele, e depois da captura, deixava a comida para o cão e para o outro gato. Concordou e lá fui. Cheguei ao local cerca das 7,05 horas e ele já lá estava com a armadilha. A gata rondou mas não entrou. Ela estava com fome, nitidamente. O Bruno disse-me que tinha avisado ontem a Paula para não ir lá deitar de comer. De facto, nada existia no local. Mas a gata rondou mas, mais uma vez, não se deixou capturar. O curioso é que cerca de 10 minutos depois da minha chegada, o Bruno estava com pressa para ir embora, coisa já habitual, e logo pegou na armadilha e foi-se. Deixou apenas alguma ração de cão, muito pouca, e nada mais. Se eu não tivesse ido, a gata continuava sem comer. Deixei água fresca, e comida em abundância. Depois de ele ir embora, a gata logo foi comer. Comeu bastante e durante muito tempo. Ainda lá fiquei até ela se saciar. Acabei por me vir embora e ela ainda continuava o repasto. Hoje tem a barriga cheia. O gato siamês também lá rondava. Não o vi, mas o Bruno disse que o tinha afastado para capturar a gata. Segundo ele, a gata depois de ser castrada, será devolvida ao local. A razão é, mais uma vez, a falta de dinheiro. O Repinhas parece que continua no lavrador, mas a ideia é castrá-lo e devolvê-lo ao local, também. Contudo, e pela conversa que tive com o Bruno sobre o cachorro, parece que a sua captura está adiada, senão mesmo, afastada. Como ele voltou ao lavrador parece que tudo está bem. O dinheiro parecer ser a razão. Vamos a ver o que virá por aí. Amanhã, não se irá tentar capturar a gata porque ele não tem onde a colocar segundo me disse. Talvez para a semana, segundo o próprio. Confesso que acho isto tudo um pouco estranho, para não dizer outra coisa, e por aqui me fico.

Friday, August 18, 2017

Intimidades reflexivas - 1062

"Saber é poder." - Francis Bacon (1561-1626)

Thursday, August 17, 2017

Isto é terrorismo!...

"É terrorismo, politiquice e interesse económico" dizia alguém numa excelente reportagem emitida ontem pela SIC Notícias. E é preciso não ter medo das palavras. Portugal está debaixo duma onda terrorista sem rosto (como todos os terrorismos) de fino quilates, que alberga situações que merecem ser - e espero que estejam a ser - devidamente investigadas. Sempre que há fogos de grandes proporções, foram sempre associados - abusivamente ou não - a interesses políticos. Os menos jovens devem-se lembrar que nos anos 60 do século passado, sempre que existiam grandes fogos, - que também os havia nessa altura -, logo se dizia que tal tinha a ver com o ataque ao Estado Novo. Depois de 75, dizia-se que era contra a democracia. Mais recentemente, dizem que é contra o governo. Não me surpreende isto. Todos vimos o ataque que a direita bafienta tem feito à ministra do Administração Interna. Depois eram os suicídios que afinal não existiam. Depois os fundos aos atingidos pela tragédia, como se essa direita sem vergonha tivesse alguma legitimidade para falar. Depois a culpa era da ministra. Agora é a descoordenação entre o governo e a Proteção Civil. Meus amigos, há muitos interesses escondidos que não foram ainda revelados, ou porque não foi possível ainda trazê-los a lume, ou por outras razões que me recuso a aceitar. (E não me venham falar da seca extrema e severa que atinge Portugal, que é verdade existir mas não justifica tudo). Ontem foi revelado pelas autoridades que cerca de mil incêndios começaram entre as 22,00 horas e as 7,00 horas da manhã! Como é isto possível? Que se está a passar. Falava-se dos interesses dos madeireiros, mas penso que isso - a existir - é residual dada a dimensão da tragédia. Mas outros haverá certamente. Imobiliários? Quem sabe. Políticos? Talvez. Todos sabemos que é ano de eleições e, quando tal acontece, normalmente, acontecem sempre coisas bizarras para desviar as atenções. Sabemos que o governo atual não goza da graça de muitos, mas está a fazer um excelente trabalho, como ainda ontem aconteceu, com a divulgação das taxas negativas recordes para a compra da dívida pública portuguesa. Isto é, para os menos conhecedores da matéria, significa que os investidores estão a pagar (!) para comprar dívida portuguesa. E isso só acontece quando estas entidades sentem que um país está a evoluir muito favoravelmente. Há dois anos atrás, seria impensável isso como todos sabem. Mas também do défice que diminui ou do crescimento recorde da economia. (E não pensem que estou a dar laudas à governação atual porque, como já por diversas vezes afirmei, nem sequer tem a minha simpatia, mas a verdade tem que ser dita). Tudo isto são demasiadas interrogações para tão poucas respostas. As autoridades prenderam este ano um número recorde de incendiários, mas também é verdade, que alguns foram para casa! Coisa estranha para o cidadão comum que vê o seu país a arder. Como ontem uma habitante de Mação dizia, "o concelho está a ser destruído, já pouco falta. A quem interessa isso?" A alguém certamente, respondo eu. Temos que ter a consciência de que Portugal está debaixo duma onda de terrorismo sem precedentes. E não é islâmico! Só resta apelar às autoridades que estejam atentas, aos políticos que, - sempre tão atentos a corrigir leis para benefícios pessoais -, pois que alterem a lei e permitam penas pesadas para que ateia fogos e, 'last but not the least' aos bombeiros - esses heróis anónimos - que são aqueles que enfrentam esta barbárie sem fim. Para eles o meu agradecimento que, estou certo, será o agradecimento de Portugal.

Intimidades reflexivas - 1061

"Os sábios herdarão a glória; a vergonha será o prémio dos insensatos." - Salomão (1050 a.C.-931 a.C.)

Wednesday, August 16, 2017

Intimidades reflexivas - 1060

"Na vida, nada se resolve, tudo continua. Permanecemos na incerteza; e chegaremos ao fim sem sabermos com o que podemos contar." - André Gide (1869-1951) - Nobel da literatura

Tuesday, August 15, 2017

Em torno das memórias passadas

Hoje passei por Águas Santas. Estão a decorrer as festas em honra de Nossa Senhora do Ó. Não me motiva a festa. Era minha intenção visitar o mosteiro. Um antigo mosteiro da Ordem de Cristo carregado de História. Dele guardo gratas recordações. É sempre bom voltar. Aqui fica uma das fotos.

Intimidades reflexivas - 1059

O valor do silêncio. O ruído é uma das pragas mais perniciosas do mundo moderno. O ruído distrai-nos e dispersa-nos. O silêncio, pelo contrário, convida-nos à concentração e ao recolhimento. O ruído e o silêncio são dois mundo opostos. No ruído fugimos de nós próprios. No silêncio encontramo-nos, e ao encontrarmo-nos podemos crescer e amadurecer como pessoas. Os frutos do silêncio. No silêncio descobrimos as razões mais importantes que movem a nossa vida, contemplamos com mais lucidez o nosso passado, com seus aspetos positivos e negativos, com suas realidades e limitações, analisamos com precisão o presente e preparamo-nos com nova ilusão para o futuro. No silêncio escutamos com mais nitidez a voz de Deus, a voz dos irmãos e a da nossa própria consciência. No silêncio preparamo-nos para um diálogo mais calmo e frutuoso com os outros e para uma oração mais profunda com Deus, pois o silêncio é o 'monte' onde Deus sempre nos espera para um encontro amigo e renovador. Espaços de silêncio... Ao começar o dia ou ao finalizar a jornada, construamos um espaço de silêncio interior e aí, sem dúvida, encontramos o sossego necessário para entrarmos e mergulharmos em nós mesmos, e então, descobriremos também o autêntico significado que Deus e o próximo têm para as nossas vidas. Destes 'espaços' sairemos sempre com mais lucidez, paz e determinação.

Surpresa!...

Foi uma surpresa. Quando cheguei ao abrigo encontrei já lá o Bruno a deitar de comer à gata! Disse-me que a está a habituar a ele porque pretende capturá-la no próximo sábado. Afinal já não tem armadilha, apenas uma manual, mas uma tal Laurinda 'qualquer coisa', vai emprestar-lhe uma automática. O siamês afinal é um gato, segundo ele, que já capturou, ao que parece, mas deixou-o ir embora porque acha que ele tem dono. Disse-me que o Repinhas continua no lavrador para onde foi depois do desaparecimento da mãe. Fiz-lhe sentir que a castração na idade dele é perigosa, e até lhe dei o exemplo dos veterinários que estão a acompanhar o Nicolau, a quem coloquei o problema e que acharam que não deveria ser feito nessa idade. Eles não o fariam. Lembrei-lhe, que tal deveria ser feito noutra altura, quando ele era mais novo. Também lhe avivei a memória que ele apenas achava que se deveriam castrar as cadelas, e por isso ele não foi castrado em novo. Disse-me que não tinha dinheiro para isso. Lembrei-lhe que afinal ele tinha e que vinha muito de fora através de mim. Mas não quis responder. A gata estava com fome porque veio comer o que ele lhe levou. O siamês não apareceu ou estaria escondido à espera que nos viéssemos embora. Achei curioso que saímos ao mesmo tempo mas ele foi atrasando a marcha do carro. Saí do local e parei um pouco mais à frente. Ele não saiu. Penso que voltou para trás! Não sei porquê. Talvez tenha esquecido algo.

Monday, August 14, 2017

Intimidades reflexivas - 1058

"A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos." - Charles Chaplin (1889-1977)

Sunday, August 13, 2017

Ando desconfiado!...

Ando um pouco desconfiado mas sem certezas de nada. Quando cheguei ao abrigo, apenas havia uns restos de ração de gato, a de cão nem o pó existia. (Ver foto). Confesso que me sinto um pouco confuso. Não tenho a certeza de que a comida é roubada, mas também não tenho a certeza de que não o é. Os recipientes muito arrumados, deixam-me desconfiado porque os animais, normalmente, arrastam-nos enquanto comem. Não tenho respostas para tantas interrogações. Abasteci as taças mas deixei pouca ração de cão visto o Repinhas por lá não andar ao que parece. Deixei mais de gato embora hoje, mais uma vez, nem a gata nem o siamês apareceram. Já há dois dias que não os vejo. Não sei se lhes aconteceu algo, tal como se verificou com os outros que desapareceram do dia para a noite. Era bom que viessem depressa para aproveitarem a refeição que lhes deixei. Para a captura dos gatos seria bom aproveitar-se o período de férias do pessoal. Ao que me dizem há pessoas que alimentam os gatos e a ser verdade, será difícil a captura nessa altura. Como agora não está lá ninguém talvez fosse a situação ideal para isso. Estou a pensar voltar ao abrigo na próxima terça feira, dia feriado.

Saturday, August 12, 2017

Estranho!...

Quando cheguei ao abrigo não havia comida alguma, apenas água. Uma das taças até estava bem fora do abrigo. (Ver foto). Não sei se voltamos ao roubo da comida, ou se são outros animais, ou mesmo as gaivotas. Abasteci as taças e ainda fiquei lá um pouco. Mas, nem a gata, nem o siamês, apareceram. Espero que apareçam para comer porque, se andam a roubar a comida de novo, não terão refeição. Tudo isto volta-me a parecer muito estranho!...

Friday, August 11, 2017

Intimidades reflexivas - 1057


«Quando é importunada com perguntas, a recordação assemelha-se a uma cebola, que quer ser descascada, para que possa vir à luz aquilo que é legível, letra a letra: raramente de forma unívoca, muitas vezes como escrita em espelho. A cebola tem muitas camadas. Mal é descascada, renova-se. Cortada, provoca lágrimas. Só ao descascá-la fala verdade. O que aconteceu antes e depois do fim da minha infância, bate à porta com factos e decorreu pior do que o desejado, quer ser contado às vezes assim, outras de maneira diferente e desencaminha para histórias de mentira.»Günter Grass (1927-2015) -   Nobel da Literatura

Thursday, August 10, 2017

Intimidades reflexivas - 1056

“Quando se ama alguém, ama-se, e quando não se tem nada mais para lhe dar, ainda se lhe dá amor.” - George Orwell (1903-1950)

Wednesday, August 09, 2017

Intimidades reflexivas - 1055

"Para começar, gosto das mulheres. Acho que elas são mais fortes, mais sensíveis e que têm mais bom senso que os homens. Nem todas as mulheres do mundo são assim, mas digamos que é mais fácil encontrar qualidades humanas nelas do que no género masculino. Todos os poderes políticos, económicos, militares são assunto de homens. Durante séculos, a mulher teve de pedir autorização ao seu marido ou ao seu pai para fazer fosse o que fosse. Como é que pudemos viver assim tanto tempo condenando metade da humanidade à subordinação e à humilhação?" - José Saramago (1922-2010)  in 'As Mulheres São Mais Fortes'.

Tuesday, August 08, 2017

Intimidades reflexivas - 1054

"A saudade é uma tatuagem na alma: só nos livramos dela perdendo um pedaço de nós." - Mia Couto

Monday, August 07, 2017

Uma boa semana, amigos!...

A luz que rasga a escuridão. Que essa luz te ilumine nos momentos escuros da vida. Que das trevas se faça luz. Que aquilo que está oculto te seja revelado...

The Rio Tinto pack is over

The Rio Tinto pack is over! Here I wanted to thank all the people who helped to support these animals. I especially want to thank Ing-Britt IB Henriksen for all the material help she has given for all these years. She was not the only person who helped, but she was the one who helped more. From the bottom of my heart I thank you for all your support. I'm sure you will receive in return all the good you have done. Now this has all come to an end, I will never forget everything that has happened. Thank you, Ing-Britt, Gunnar, Gerda and Greta. You are wonderful. You are the best. We will still remain friends forever. Thank you.

Intimidades reflexivas - 1053

"É preciso que os grandes homens se finem, para que das suas cinzas nasça verdejante a palma formosíssima da glória." - Latino Coelho (1825-1891)

Um infeliz chamado Repinhas!...

A estória da matilha de Rio Tinto parece, infelizmente, uma daquelas sagas tipo 'Guerra dos Tronos'. Quem deu conhecimento desta matilha, vai para um par de anos, fui eu e disso bem me tenho arrependido. Alimento esta matilha vai para 17 anos e nunca vim pedir nada a ninguém em nenhum dos vários ciberespaços que frequento. Fi-lo e continuo a fazê-lo a expensas próprias. Mas então porquê publicitá-la, estarão alguns a  perguntar. Nessa altura três das cadelas da matilha deram à luz e vi-me confrontado com cerca de 30 cães e estava completamente sozinho, tirando um apoio ou outro, pontual, de alguns funcionários duma das empresas que labora no local. Ainda resisti, mas acabei por fazer esse apelo, até duma forma dramática, quando um dia cheguei ao local e vi imenso sangue espalhado pelo chão. Tentei saber o que se tinha passado - até pensei que fosse um desses rituais satânicos que, por vezes, também lá se vêm - mas não. Apenas algumas pessoas entraram num jogo macabro de saber quem mais bebés matava com os seus carros. (Não vi nada disto apenas foi esta a informação que me deram alguns funcionários que laboravam no local nessa altura). Face à minha impotência, tinha que fazer algo, daí a publicação que, curiosamente, nem foi feita por mim, - ainda novato nestas coisas das redes sociais -, mas por uma amiga e colega de trabalho. Apareceram algumas pessoas, umas que foram ficando e outras que logo se afastaram. Das que foram ficando, registo aqui o caso do Bruno, pessoa que me ajudou muito no processo e a quem aqui quero deixar o meu público agradecimento. Começou-se a pensar na captura, nas adoções, etc., processo que o Bruno liderou por ter mais pessoas no meio que poderiam ajudar, - e até mais experiência -, enquanto eu, com o já antes referi, estava totalmente sozinho. Na ânsia de resolver, cometeram-se algum erros, embora  eu tivesse dado o alerta, apenas e só por sensibilidade. O caso do pai do Repinhas - o Repas - foi um paradigma. Quando apareceu alguém para o adotar eu achei que se deveria ver primeiro quem era a pessoa. Diziam-me que não, que era pessoa ideal para o Repas, amigo de amigo, blá, blá, blá. Sempre fiquei um pouco desconfiado da situação, mas não me restava mais do que aceitar. Passados cerca de 3/4 anos a verdade veio ao de cima. O 'dono' parece que não queria saber muito dele. O animal um dia fugiu, o 'dono' lançou um alerta para o procurar nas redes sociais, dizendo que ele tinha desaparecido à um mês (!), mas se isso já era preocupante, veio a verificar-se que afinal, ele mentiu e o Repas já tinha fugido à 3 ou 4 meses. Posteriormente, fui informado que um senhor na zona do Monte dos Burgos o terá encontrado num estado lastimável e o terá adotado. (Mais uma vez, esta informação foi-me fornecida pelo Bruno que não sei se a confirmou ou se apenas a ouviu a terceiros). Confesso que não sei se está bem ou mal, dizem-me que sim, mas já me tinham dito o mesmo anos atrás. Depois foi a castração da Sheila, a mãe do Repinhas. Quando se avançou para isso, eu fui de opinião que se castrassem os dois. Foi-me dito que se castrava apenas as cadelas porque era nelas que resida o problema. De novo, e para não criar confusões que não interessam a ninguém, anui. Aliás, nem sequer me pediram opinião, para ser mais exato. Nessa altura fez-se uma coleta de dinheiro para isso. Haviam muitas doações nacionais e internacionais para o caso. (As internacionais conhecias bem porque foi através de mim que elas vieram). A ideia era arranjar adotante para a cadela. Passado algum tempo, e sem que nada me tivessem dito, ela foi devolvida ao local. Soube da maneira mais insólita. Fui dar de comer ao Repinhas, que nessa época me esperava sempre de manhã cedo, e ela veio ter comigo a chorar e pôs-se de patas para o ar como a dizer, 'olha o que me fizeram'. Foi assim que tive conhecimento do facto. O certo é que ela por lá andou ainda alguns anos, até que começou a dar sinais de estar velha e doente. Começou a desinteressar-se da comida, mas o Repinhas sempre esteve junto dela até ao fim. Um belo dia, ela veio ter comigo, - já com alguma dificuldade em andar -, e eu tive a sensação se que se vinha despedir de mim. Afaguei-a ainda algum tempo e ela lá se foi embora. Foi a última vez que a vi e espero que tenha morrido com o menor sofrimento possível e com alguma dignidade. O Repinhas que se viu sozinho, acabou por abandonar o local. Juntou-se a um outro grupo que, ao que me disseram, habitava num lavrador lá perto. (Várias vezes lá fui, mas nunca o vi). Apenas sei que ele aparecia para comer no abrigo com um outro amigo que sempre o acompanhava. No entretanto, e mais recentemente, vi chegar mais uma amiga para ajudar, a Paula. (Quero aqui agradecer publicamente, também, à Paula, o seu carinho entrega e amor, que tem dedicado a esta causa. Basta dizer que ela, - a expensas próprias, é bom lembrar -, lá vai diariamente. Aliás, foi através dela que tive nota de fotos e vídeos do Repinhas que já não vejo à muito tempo e com quem ela se cruzou algumas vezes). Mais recentemente, tive a notícia que o Repinhas tinha evoluído para outra zona - que nem sei se fica perto ou longe do abrigo - e que tem ocupado algumas páginas nas redes sociais. (Embora ao que parece ele volta ao abrigo para comer. Dizem-me que este lá na passada segunda feira). Como é habitual, logo aparecem os pedidos de ajuda que eu compreendo. Foi-me pedido por mensagem privada, hoje mesmo, que divulgasse inclusive uma página de apoio ao Repinhas. Divulguei-a com todo o gosto e espero que se atinjam os objetivos que não se atingiram à cinco ou seis anos atrás. Contudo, - e sem querer entrar em polémica que jamais alimentarei -, quero deixar a minha nota de interesses na matéria. Não apoiarei financeiramente o Repinhas porque em tempo oportuno dei o meu contributo - apesar dos vários donativos de que falei atrás - e apenas se decidiu castrar a sua mãe. Foi uma opção, naturalmente. Mas o meu contributo está feito. Porque o contributo efetivo é dado há 15 anos a essa matilha, com comida, água, gasolina - não se esqueçam que moro bastante longe do local - e, para isso, nunca pedi nada a ninguém. Para além da matilha de Rio Tinto - de que o Repinhas é o último abencerragem - ainda apoio outros casos, aqui bem mais perto do local onde habito e, mais uma vez, a expensas próprias. (Não voltarei a cair no mesmo erro de divulgar estes casos nas redes sociais. Bastou-me este como lição para o futuro). Assim, peço a todos as pessoas - amigos reais ou virtuais - a quem enviei a nota para apoiarem o Repinhas, que o façam de coração aberto. Porque ele merece ter um fim de vida digno já que a sua vida foi um inferno e disso dou testemunho. E não entendam as minhas palavras como qualquer ideia de conflito contra quem quer que seja. Repito: estou grato a todos o que me apoiaram, - e ainda apoiam -, até hoje sem exceções, mas acho que o meu contributo já foi feito em devido tempo, acrescido daquele outro que venho fazendo, dia após dia, quando tento ajudar, o melhor que posso e sei, a minorar o sofrimento destes seres. O Repinhas estará sempre no meu coração. Ele é o paradigma do lutador, do cão sofredor mas resiliente e, só por isso, merece ter um resto de vida digno. Desculpem a extensão do texto, mas penso que era necessário explicar algumas coisas, para não ficarem quaisquer mal entendidos. Obrigado a todos os que me ajudaram e ainda me ajudam neste processo.

Sunday, August 06, 2017

Intimidades reflexivas - 1052

"Amo a pobreza porque ele (Cristo) a amou: e amo os bens, porque eles me dão o meio de assistir os miseráveis." - Blaise Pascal (1623-1662)

Tudo na mesma!...

Quando cheguei ao abrigo logo a gata fez a sua aparição. (Ver foto). Ainda havia ração de gato e alguma comida da nossa que também levo. A gata quase que não me deixava abastecer as taças, tal era a sofreguidão para comer. Pareceu-me que estaria com fome, apesar da ração que ainda lá existia. Curiosamente, a gata não me pareceu que fosse comer a ração. A taça estava na mesma posição que ontem deixei. Acabei por colocar mais alguma ração de gato que tinha comigo e, para meu espanto, a gata foi logo comê-la. Não percebo porque não comia a outra, mas enfim! Coisa de gatos! O siamês hoje não veio, ou estaria a ver quando eu e a gata nos ia-mos embora. Não consegui identificá-lo em lugar algum. Uma das gaivotas esperava num telhado à espera do repasto. Acho estranho que, havendo por lá tantas gaivotas, apenas uma ou duas por lá andem. O pão, de que ontem vos falei, quase que tinha desaparecido na totalidade. Não sei se seria veneno para as gaivotas. O certo é que apenas uma ou duas por lá andam e que também usufruem da comida que levo. 

Saturday, August 05, 2017

Tudo normal!...

Quando cheguei ao abrigo tudo estava normal. Havia ainda ração de cão e de gato. A gata não apareceu como é habitual, mas o siamês fez a sua aparição, mas ficou à distância. Abasteci as taças, deitei água fresca e ele observava-me bem afastado. (Ver foto). Como eu tinha que esperar por uma outra pessoa, afastei o carro um pouco do local onde colocamos a comida, e logo ele veio comer. A pessoa com quem estive disse-me que o cão não tem andado por lá - já sabemos por onde ele anda - mas que na segunda feira passada por lá passou. (Não sei se a distância entre o local onde ele anda e o abrigo, é grande ou não, mas ele foi lá. Ou em busca de comida ou seguindo outro qualquer. Embora ele tenha aparecido sozinho, ao que me disseram). Havia imensos bocados de pão no local. Nunca por lá tinha visto isso. Espero que não sejam com veneno. Desta vez, nem as gaivotas por lá andavam. Achei curioso porque elas seguem-me à muito tempo quando lá vou deitar de comer. Por hoje o siamês ficou com uma refeição. Foi a primeira vez que o vi comer no abrigo, mas a uma distância considerável, caso contrário, ele não se aproxima. Aproveito a oportunidade para informar as pessoas que vão ao abrigo que as férias do pessoal da empresa que lá existe, começam na próxima sexta feira, dia 11 (inclusive) e prolongam-se até dia 4 de Setembro.

Questões de semântica mas não só

Tenho vindo a assistir ao que se passa na Venezuela com muita preocupação. Não conheço o país, mas desde muito pequeno, me habituei a ouvir falar das suas maravilhas naturais e da amabilidade das suas gentes. (O meu pai por lá andou vários anos e foi arauto destas minhas memórias. Os meus padrinhos de casamento eram oriundos dessa terra que tanto amavam). Mas esta minha preocupação com o que se passa na Venezuela, não pode deixar passar ao lado alguma hipocrisia que esconde, algo tão complexo quanto o que representa Maduro. Acho curioso - ou talvez não - que os EUA de Trump (mas poderia ser doutro qualquer) se apresse a impor sanções à Venezuela. Isto até pode ter o apoio de todos, mas eu não me esqueço da complacência dos EUA para com Pinochet que reduziu à miséria o Chile depois de o ter transformado num imenso cemitério, como a benevolência face à junta militar argentina ou à ditadura militar no Brasil. Já para não falar no Panamá ou mesmo na Cuba de Batista. Parece que para os EUA há ditaduras más e outras boas! O mesmo se dirá da UE que afina pelo mesmo diapasão. Sei que a confusão ideológica é por vezes benéfica para os ditadores que, ou obtém a concordância dos seus povos, ou a tortura e a morte arbitrárias farão o resto. Os extremismos serão sempre extremismos tenham eles o sinal que tiverem. Sei que as ruturas de regimes nunca são pacíficas, e mesmo quando o são, - como foi o caso português em 25 de Abril -, logo aparecem forças que pretendiam evitar que isso perdurasse como aconteceu com os movimentos de extrema direita que mergulharam o país no caos, mataram inocentes, tudo em nome de teorias já sem aderência, que contaram com apoios de alguma gente que, ainda hoje, se senta na nossa AR. Mas a minha geração ainda viveu muito o conflito da guerra fria, e também aqui, a distorção de teorias era evidente, para que dessem jeito para justificar as situações. Muitos jovens da minha geração aderiram ao marxismo e outros tantos rejeitaram-no. Só que nunca pararam para pensar o que afinal encerravam essas teorias. Marx, quer se goste quer não, trouxe um enorme contributo à sociologia e à economia, dentro dum outro arranjo fruto da escalada galopante da revolução industrial. Qualquer economista sério sabe disso. Mas uma coisa é falar de marxismo, outra é falar de marxismo-leninismo. São coisas diferentes embora pareçam iguais. Distorce-se aqui, remenda-se acolá, o importante é que, de novo, sirvam os interesses de quem os manipula. E aquilo que era uma teoria muito evolucionista do social e da economia, passou a ser a vestimenta dum regime ainda pior do que o de Maduro. E se isto poderá ser visto como incómodo para uma certa esquerda, se olharmos para a direita, tal não se afigura melhor. Foi um regime totalitário que arrastou o mundo para dois conflitos que arrasaram a Europa, e aqui, até foi mais complicado porque essas forças chegaram ao poder pela força do voto. Se foi uma eleição limpa ou não, não sei, mas nestas coisas talvez até nem seja o mais importante. (Curiosamente, ou tal vez não, o 'Mein Kempf' começa a ser um dos livros mais vendidos atualmente e não será, porventura, para defender a democracia). O que aqui pretendo relevar é esta questão semântica que, quase sempre, inquina o pensamento político-económico através dos tempos. Não pode haver regimes totalitários bons e maus. Há regimes totalitários e ponto. Porque não é assim, assistimos a coisas que tocam o surreal como a tentativa de não agressão efetiva com a Coreia do Norte - apesar da verborreia que indicia o contrário -, ou com a China - que se prefigura como a superpotência num futuro próximo -, ou mesmo com uma Rússia que de democrática apenas tem o nome. A semântica em política ou em economia, nunca foi o melhor dos mundos, e dessa ambiguidade saíram sempre regimes torcionários que esmagaram os seus povos, sem que ninguém se importasse com isso para além dos interesses imediatos. São questões de semântica mas não só. Por trás existe sempre uma espécie de cortina de fumo que esconde sempre outros desígnios bem longe do entendimento dos povos.

Friday, August 04, 2017

Intimidades reflexivas - 1051

"Orgulho, vaidade, despeito, rancor, tudo passa, se verdadeiramente o homem tem dentro de si um autêntico sonho de amor. Essas pequenas misérias são fatais apenas no começo, na puberdade, quando se olha uma janela e se desflora quem está lá dentro. Depois, não. Depois, sofre-se é pelo homem, é pela estupidez colectiva, é por não se poder continuar alegremente num mundo povoado, e se desejar um deserto de asceta." - Miguel Torga in 'Um Autêntico Sonho de Amor'

Thursday, August 03, 2017

Em torno dos preconceitos

Sempre me sinto incomodado quando vejo o destilar de ódio que circula no cyberespaço relativamente a questões como a raça, o género, opção sexual, religiosa ou política. Sempre achei que essas atitudes têm no seu âmago uma certa deformação educacional, embora por vezes apareça embrulhada em papel brilhante e laço colorido, que até pode seduzir os mais incautos. Nunca pensei assim, porque na educação que tive nunca ouve espaço para olhar a diferença com suspeição. Se, por vezes, se fala disto e daquilo só porque é diferente de nós, talvez fosse bom que, mesmo por momentos, nos coloca-se-mos no lugar do outro, e talvez logo mudássemos de opinião. Penso que nem é uma questão de cultura ou de literacia porque, infelizmente, se vê pretensas pessoas 'bem formadas' e 'educadas' a atuarem pelo mesmo diapasão. Será que pensam assim, ou têm medo de ficar isolados perante os outros? Se calhar nunca o saberemos. Mas confesso que me incomoda a maneira como um ser trata outro, - seu semelhante -, baseado em critérios que apenas existem porque a sociedade os estabeleceu. Se achamos o outro mau, inculto, marginal, terrorista até, só porque pertence a uma outra latitude, talvez nos sentíssemos incomodados se parássemos um pouco e olhássemos para os que nos estão próximos, onde também existem pessoas de igual jaez que nós amenizamos apenas e só porque são da nossa raça. Tive a sorte de, desde bastante jovem, viajar pelo mundo. Por lazer, mas também por trabalho, e até como estudante. E vi muita coisa. Vi como, em nome da tal diferença, portugueses como eu, serem achincalhados em países para onde forem buscar melhores condições de vida. Vi o que é ser ocidental em países onde a cor da pele, a língua, a religião, a formatação político-ideológica é bem diferente da nossa, e a maneira como era olhado. Percebi rapidamente que é assim que, na minha Pátria, um natural dessas paragens se sentirá quando é olhado pelos outros de maneira enviesada, sem razão para isso, do apenas que a mera convenção social determina. Mas também vi, - nos da minha raça como noutras raças -, eram tratados quando eles vinham aureolados dum poder que, muitas das vezes, era apenas fictício. (Mas aí estavam, de novo, as convenções sociais a dizerem-nos o contrário). Talvez porque isto tudo, - pelo confronto de culturas porque sempre me senti atraído -, acho um tremendo disparate algumas baboseiras que vejo por aí, mesmo vindas, como atrás referi, muitas das vezes, de pessoas ditas 'bem pensantes'. Por vezes, temos que desmontar aquelas convenções que nos são ensinadas desde o berço, de que somos um povo diferente, - para melhor está claro -, do que os outros, que fomos colonialistas bons face aos outros que eram péssimos, que sem nós não haveria mundo conhecido, que, até no futebol, se não fossemos nós, talvez esse jogo nem existisse. E logo se fala, do exemplo colonial, dos descobrimentos, ou dum tal Cristiano que a única coisa que sabe fazer bem é dar pontapés numa bola. Pobre povo que assim pensa. Que reduz a sua ideologia e os seus ídolos, ao banal. E ficamos com o ego alimentado por mais um tempo. Consideramos que o mundo gira à nossa volta, - mas que digo eu, não o mundo, mas o universo -, não querendo ver a nossa posição marginal na Europa e residual do mundo que pretendemos impressionar. É preciso desmistificar essas posições. Porque quando tratamos com sobranceria alguém, que aparentemente é diferente de nós, talvez estejamos a ostracizar quem é, de facto, mais do que nós. Ninguém trás rótulos de capacidade e muito menos de estupidez. Penso que o que falta é darmos aquele passo na direção do outro, conhecê-lo melhor e aos seus desígnios, e não ficar naquela posição imbecil de viver de rótulos que não passam disso mesmo. O desconhecimento do outro, gera o medo e a desconfiança, que, na maioria das vezes, se esvaece à medida que vamos conhecendo melhor o nosso interlocutor. Esta atitude fechada e preconceituosa é, e será sempre, a génese das diferenças, dos ódios, das guerras sem fim. (A História recente da Humanidade é disso o melhor dos exemplos). Sei que é mais fácil empurrar um homem para o chão do que lhe dar a mão para o ajudar a erguer. O conflito civilizacional está aí. Sempre esteve embora não o quiséssemos ver. Mas isso não pode impedir a nossa abertura de espírito para que em vez de muros, lancemos pontes, de conhecimento, de diálogo, de paz, em suma, de amor. 

Intimidades reflexivas - 1050

"Os olhos não servem de nada para um cérebro cego." - Provérbio árabe

Wednesday, August 02, 2017

Intimidades reflexivas - 1049

"Algo que é amado nunca é perdido." - Toni Morrison

Um infeliz chamado Repinhas...

Ontem foi um dia angustiante. Havia quem disse que o Repinhas tinha desaparecido, que talvez o canil o tivesse levado, já que alguém do local onde ele anda atualmente, teria chamado o canil. Mais tarde, confirmou-se que não. Ainda estava no mesmo sítio. Depois prefigurou-se no horizonte uma possível adoção. Fiquei expectante porque era isso que já se tinha tentado há muitos anos, ainda ele era jovem e com um aspeto bem melhor do que ostenta atualmente. Já ao fim do dia veio-me a informação que afinal a pessoa que queria adotar o Repinhas tinha desistido dele. Algo que já aconteceu por diversas vezes. Enfim, este pobre infeliz veio ao mundo para sofrer. Palmilha estrada vai para 14 anos em busca dum futuro que nunca chegou. Só espero que agora, já próximo do fim da sua vida, ele tenha um términos com mais dignidade do que aquela que teve ao longo desta sua já longa vida. Há momentos de impotência e este é um deles. Este cão anda fora do seu habitat natural. É alimentado há muitos anos. Porque não conheço a região, nem sei se onde ele anda é longe do local do abrigo, onde o alimentamos e onde ele nasceu e viveu a maior parte da sua vida. É um cão errante. Um caminhante da vida sem futuro. Talvez sem amanhã. Sem conhecer o amor, o carinho, o afago de ninguém. Há seres assim que parece que vieram para espiar as anormalidades do mundo. O Repinhas é um deles. Estou muito triste por ele. P.S.: Esta foto foi tirada pela Bárbara Helder St e divulgada já ao fim da tarde de ontem.